Nem sempre o leite desce fácil; como enfrentar essa crise com mais leveza


Muitos problemas discutidos com um terapeuta podem ser, sim, frutos de boas intenções. Na maior parte do tempo, mães e pais desejam o melhor aos seus filhos, mas certas abordagens de educação podem ser mais prejudiciais do que imaginamos. Além disso, muitos “maus hábitos” são transmitidos de geração em geração e perpetuam alguns erros que, na verdade, poderiam ser facilmente corrigidos.
Nós, do Incrível.club, selecionamos algumas das situações que mais incomodavam durante a infância de muitos adultos para tentar entender quais efeitos algumas palavras, a princípio inocentes, poderiam causar no futuro daquelas crianças. Acompanhe!

Certos adultos acreditam que os filhos só se tornam aptos quando podem se sustentar financeiramente. Consequentemente, até esse momento, eles não consideram suas opiniões, seus sentimentos ou suas necessidades particulares. A ideia tóxica de que uma pessoa só tem valor quando ganha dinheiro contribui para o desenvolvimento de uma geração de trabalhadores compulsivos.
Desde pequenas, muitas crianças crescem com a mentalidade de que tudo na casa dos pais não pertence a elas e, assim, não se sentem seguras. Depressão, ansiedade, sentimentos exaustivos de culpa e vergonha e baixa autoestima são apenas algumas das frequentes consequências de tal educação.
Essa abordagem colabora mais para que os adolescentes busquem sair da casa dos pais o mais cedo possível para que possam desfrutar de um mínimo de independência. Mesmo que só um canto em um quarto compartilhado de um alojamento estudantil, mas desde que seja “seu”. Tais pessoas costumam trabalhar muito, pois só assim se veem realmente relevantes.
A verdade é que, para muitos pais os filhos serão suas crianças frágeis para sempre, desde os 5 até os 50 anos. Acreditam que eles são jovens demais para participar de discussões “adultas” e que os seus pontos de vista não têm o mesmo peso. Nem sempre fazem isso com más intenções, mas tais pais podem acabar privando os filhos de desenvolver individualidade.
Ao crescerem, esses jovens podem sentir vergonha de expressar a própria opinião na presença de pessoas mais velhas ou de maior hierarquia (professores, diretores, chefes). Muitas vezes, acham que suas vozes não são dignas de atenção, e isso pode gerar graves consequências futuras nos estudos ou na carreira.

Após a disseminação do termo gaslighting, sabemos que distorcer informações seletivamente pode ser uma forma de agressão psicológica. Embora às vezes sem malícia, muitos de nós já escutamos frases como “Você está inventando! Não houve nada disso” dos nossos pais quando não queriam admitir seus erros.
Como resultado, as crianças começam a duvidar do próprio julgamento e da própria memória. A consequência de tal atitude pode ser muito prejudicial: passam a não confiar em si mesmas e começam a questionar a própria percepção da realidade, visto que “lembram de algo que nunca aconteceu”.
Essa é, de fato, uma mentalidade correta, visto que qualquer pessoa precisa respeitar e tratar bem qualquer outro indivíduo, inclusive mulheres. O problema é que muitos garotos crescem com a ideia de que meninas são “intocáveis” e que eles não podem revidar nenhum desaforo. Enquanto isso, muitas garotas abusam de tal privilégio para insultar ou agredir meninos respeitosos, que aprenderam desde cedo a tolerar tais comportamentos.
Sendo assim, alguns jovens crescem com medo de mulheres, pois sentem que não podem revidar verbalmente mesmo quando os limites já foram ultrapassados. Dessa forma, uma atitude focada em prevenir a violência física contra um determinado grupo se torna uma opressão socialmente aceitável contra outro. Para alguns homens, ainda, é muito difícil — por conta do constrangimento — se queixar e relatar tais abusos abertamente.
Não podemos esperar que aquilo que é feito pela primeira vez, ou até pela segunda, seja realizado perfeitamente, sem erros. Habilidade se ganha com hábito; e faz parte cometer erros, especialmente na infância. Não é, portanto, aceitável transferir a própria responsabilidade pelos erros da criança se nem a mãe ou o pai a ensinaram como fazer determinada tarefa corretamente.
Ouvir essas repreensões constantemente fará com que o pequeno pare de tentar para não correr o risco de errar novamente. Além do mais, ele ou ela pode se sentir como a fonte dos problemas dos pais — alguém insuficiente, que não é digno de amor nem de respeito.

Muitos diriam que a perfeição é inalcançável, mas alguns pais pensam o contrário. Estipulam objetivos tão inatingíveis que, desde os primeiros passos, a criança já se sente em uma maratona. Além disso, muitos não usam ferramentas de incentivo por meio de reforço positivo, pois acreditam que as metas obtidas não devem ser vistas como motivo de orgulho, mas sim como mínimas obrigações.
Viver em uma corrida eterna pelos ideais dos pais não permite aos jovens desfrutar do processo do seu trabalho duro. Relaxar, também, torna-se uma dificuldade, pois há sempre um novo patamar a ser alcançado. Tais crianças adoecem e sucumbem à procrastinação com certa frequência, além de se sentirem estagnadas por estarem à mercê das ambições alheias.
Há outros análogos dessa frase, como “depois você muda de ideia” ou “depois você esquece”. O cerne da questão é que tal abordagem induz a criança a esquecer das próprias vontades, ou dos sonhos, e não por serem inalcançáveis, mas pelos pais não os considerarem válidos o suficiente.
Com o tempo, a criança vai parando de sonhar porque acredita que os seus desejos não se tornarão realidade. Sabe que, em vez da tão sonhada boneca no Natal, receberá aquele suéter, que “é mais útil”; em vez de um almoço no restaurante, a mãe diz que “tem comida suficiente em casa” (mesmo que não haja problema financeiro). Por quê? Porque alguém decidiu assim.
Após o surgimento de novos integrantes na família, os filhos mais velhos muitas vezes precisam amadurecer rapidamente, pois não são os que necessitam de mais ajuda, mesmo que a diferença de idade seja pequena. Ganham, então, a responsabilidade de se tornar mais sábios, mais disciplinados e mais independentes. E, nesse momento, não importa se o pequeno tem apenas 2 ou 3 anos.
Amadurecimento precoce e forçado não beneficia ninguém. Por um lado, tais crianças estarão mais preparadas para a vida adulta, mas o preço pelo sucesso poderá custar toda uma infância perdida e más relações com os pais ou com os irmãos mais novos. Isso não contribui, de forma alguma, para interações familiares saudáveis e, com certa frequência, torna-se um obstáculo psicológico para a criação futura de uma nova família.

Ninguém nasce sabendo cozinhar, lavar e passar camisetas. Aprendemos com anos de experiência, que, geralmente, são acompanhados de muitas tentativas e muitos erros. Alguns pais, no entanto, optam por fazer as tarefas domésticas sozinhos, em vez de ensiná-las aos filhos, pois poderão finalizar mais rápido e não perderão tempo corrigindo os possíveis erros cometidos pelos menores.
Ao afastar as crianças de trabalhos manuais, muitos pais e mães esquecem que tarefas domésticas são uma parte essencial da educação. Essa atividade favorece o desenvolvimento do autocontrole e da disciplina: ao pontuar, por exemplo, que não é bom sujar o chão quando é você que terá de limpá-lo depois. Ambas essas qualidades são muito valiosas para a vida de qualquer pessoa.
Crianças que não recebem oportunidade de aprender com as próprias falhas podem se sentir, na idade adulta, incapazes de realizar tarefas cotidianas; têm medo de assumir a responsabilidade de novos ofícios e não acreditam no próprio potencial.
A falta de confiança dos pais reflete diretamente na autoestima dos filhos: “Por que alguém precisaria de mim se minha própria família não me acha competente para fazer nada?” O estímulo contínuo de pensamentos assim fará com que os jovens assimilem a ideia de que há algo de errado com eles. Muitos, mais tarde, acabam passando por anos de terapia na tentativa de superar esse sentimento.
Essa abordagem, portanto, pode fazer com que os filhos, na vida adulta, adotem comportamentos opostos: ou desistirão antes mesmo de tentar fazer alguma coisa (pois acreditam que irão falhar); ou dedicam suas vidas para provar aos pais que eles estavam errados.
Há pontos positivos e negativos com essa abordagem. Por um lado, ensinar a criança a lidar com os próprios problemas é uma competência preciosa para a vida. Por outro, não podemos esquecer que, por serem inexperientes, elas podem ter muita dificuldade, ou simplesmente não conseguir, resolver certas coisas por conta própria.
Se a mãe ou o pai não der o apoio fundamental à criança nas horas necessárias, há grandes chances de o aprendizado ir por água abaixo. Proteção e confiança são tão importantes quanto independência, por isso é essencial achar um equilíbrio.

Alguns adultos acreditam que os filhos precisam estar sempre ocupados com alguma coisa, seja os estudos, atividades extracurriculares ou a arrumação do quarto. Apenas descansar, ou ler um livro, poderia parecer puro marasmo ou a clássica “falta do que fazer”. Com isso, há toda uma geração de pessoas que, por conta de tal educação, não são capazes de relaxar.
Os pais representam o primeiro “espelho” para que a criança entenda como a aparência dela é vista pela sociedade. Portanto, quando há críticas repetitivas aos “cabelos oleosos”, ao “nariz enorme” ou às “pernas tortas”, é exatamente assim que ela se sentirá. Certamente, essa postura não contribuirá em nada para a autoestima dos pequenos.
Isso não significa que é necessário mentir ou exagerar nos elogios, mas reconhecer e enfatizar os pontos fortes não faria mal a ninguém. Conhecer seus traços positivos pode elevar a autoconfiança, assim como receber críticas constantes à aparência pode gerar complexos com o corpo.
Muitos pais fazem de tudo para que seus descendentes tenham uma vida melhor do que a que eles tiveram. Para alguns, os filhos são o centro do universo, ao redor do qual gira o mundo. Mas a criança não escolheu essa posição e não deve ser obrigada a dedicar a vida aos pais por tudo o que fizeram por ela. A escolha foi deles, não dela.
Aqueles que, desde pequenos, escutaram que são o “motivo da existência” dos pais carregam nos ombros não apenas o fardo da responsabilidade pelo bem-estar dos seus genitores, mas também o sentimento de culpa quando não correspondem às expectativas deles. É como se nascessem já com uma “dívida”.

Muitas crianças são proibidas de certas ações e certos comportamentos por conta dos estereótipos de gênero. Meninos não podem chorar, demonstrar afeto ou brincar com bonecas. Meninas não podem subir em árvores, brincar com os meninos ou jogar futebol. Tais limitações impedem as crianças de explorar livremente o mundo e expressar abertamente suas emoções.
Além disso, frases análogas corroboram para difundir falsos conceitos. Garotos crescem pensando que o gênero oposto é realmente frágil, pois “agir como menina” é um termo pejorativo e vergonhoso. Por outro lado, garotas desenvolvem a ideia de que homens são naturalmente agressivos e, por isso, é importante manter certa distância.
O que os seus pais já disseram durante a sua infância e que você nunca conseguiu esquecer? Conseguiu superar e contornar algum trauma ou ainda se pega cometendo os mesmos erros? Comente!











