Uma mãe compartilhou abertamente sobre as dificuldades por quais teve de passar na maternidade

Psicologia
há 1 ano

Após ter um bebê, muitas mães se esquecem de se cuidar e passam a dedicar suas vidas inteiramente a cuidar do bebê e do lar. A sociedade, muitas vezes, aprova tal atitude altruísta por parte das mulheres, considerando que não há nada de errado nisso. Após alguns meses, tomar um banho se torna um evento inéditao, e sair de carro para comprar fraldas sem a criança é como tirar férias. A verdade é que as mães precisam de descanso, caso contrário o esgotamento é inevitável. Eu aprendi isso da maneira mais difícil.

Do que as mães modernas estão cansadas

Tenho certeza de que a maioria das mães de hoje está mais cansada da desvalorização e da tentativa de ser ideal. Para elas (ou melhor, nós), não é aceitável reclamar de cansaço, porque, em vez de palavras de apoio, podemos ouvir comentários do tipo “eu passei por coisa muito pior antigamente” ou “nós não tínhamos nem máquina de lavar”. Tudo bem, é verdade, mas o fato de que nossas mães passaram por dificuldades em gerações passadas não nega o fato de que as mães de hoje também passam outras.

Sim, nossas mães e avós não tinham máquina de lavar louça nem robôs aspiradores de pó, mas elas quase não ficavam sozinhas com uma criança chorando. Por exemplo, ajudavam a cuidar de mim as duas irmãs mais velhas da minha mãe, assim como uma tia solteira e minha avó, que limpava a casa. Eu fui cuidada não só pelos meus pais, mas por tias, tios, vizinhos e até por minha irmã seis anos mais velha. Hoje, os pais tentam não deixar a criança aos cuidados dos outros, mas há 40 anos, essa era uma prática comum.

Em gerações passadas, as pessoas não exigiam das mães que os seus filhos correspondessem exatamente aos padrões de cada idade: ninguém, por exemplo, culpava uma mãe pelo fato de o bebê dela, de um ano de idade, não ser capaz ainda de falar 10 palavras, como “se espera” nessa idade, mas 8. As coisas eram mais simples: “Está com alergia? Vai passar. Bateu a cabeça? Daqui a pouco sara. Está chorando? Vai chorar mais um pouco, depois para”.

A situação com as mães de hoje é um pouco diferente — elas se sentem na obrigação de cuidar da criança 24/7, reagir ao primeiro choro e ser responsável por cada inchaço, espinha e uma fralda mal colocada. É mentalmente exaustivo.

Eu me preparei para o nascimento do meu filho: li livros, participei de cursos para grávidas. Mas ninguém me avisou que a criança poderia passar um mês inteiro sem dormir mais de 30 minutos seguidos — e, consequentemente, eu também. Não acreditei que o pediatra poderia não dar atenção às minhas perguntas sobre por que o bebê perdeu peso, dizendo: “Ai, mamãe, não se preocupe!” E depois descobrir que ele perdeu muito peso, de fato, e ter de correr para o hospital na ambulância. Ninguém me avisou que a melhor consultora de lactação da cidade não teria nenhum efeito contra a minha carência de leite — e foi tanto doloroso quanto caro para descobrir isso.

Minha maternidade acabou sendo uma total solidão (meu marido estava sempre trabalhando, meus pais moravam longe, minha amiga tinha a vida dela), medo (não sabia o que fazer com meu filho, por que ele chorava e como o ajudar) e falta de sono (após o parto, consegui dormir mais de cinco horas seguidas somente quando meu filho completou 1 ano e 8 meses).

No aniversário de 2 anos do meu filho, eu podia competir com o panda da festa para ver quem tinha olheiras maiores. Mas meus parentes, a quem tentei pedir ajuda, não me entendiam: “Nossa, mas por que está tão cansada? Você fica em casa o dia inteiro! Ficou cansada, é só deitar e dormir. Não precisa fazer esse drama todo! Olha só a Ana/Cátia/Maria, elas também tem filhos, conseguem ter tempo para tudo e não reclamam”.

As redes sociais também tiveram um grande efeito. Lá, sempre encontro as mulheres-maravilha, que deram à luz duas horas atrás, colocaram o bebê no sling e, pronto, já foram para a aula de yoga; com uma mão, mexem a sopa, com a outra, colocam maquiagem para sair à noite. Meu marido e meus parentes não entendem por que essas mulheres conseguem fazer tudo, e eu, não. Mas eu sei a resposta: se uma jovem mãe parece alegre, animada e energética, isso significa que ela tem ajudantes: babás, pessoas que cuidam da casa, avós e parentes; enfim, pessoas que resolvem os problemas dela de graça ou por dinheiro.

Lembro de entrar num mercado com meu filho (quando ele tinha 1 ano) quando encontrei uma ex-colega de trabalho. Eu parecia um zumbi com um bob na cabeça e com roupas largas esportivas, e a Cátia estava linda no salto alto, com cabelo feito e maquiagem. Aí, ela me disse: “Nossa, amiga, deixou de se cuidar. Eu já comecei a academia e estou indo a uma clínica maravilhosa de estética, e minha filha só tem 6 meses”.

Eu a admirei por uns 10 minutos até descobrir que ela estava morando com a sogra, que também cuidava da netinha, e a própria mãe dela passava os finais de semana com a criança. É fácil não “sujar as mãos” quando as tarefas da casa e da criança são divididas entre diversas pessoas. Porém, tomar todas essas tarefas exclusivamente para si é um trabalho muito duro e exaustivo, mesmo que haja fraldas e máquina de lavar louça na casa. E não sou a única pessoa que pensa dessa forma.

  • Tenho duas crianças: uma de 2 anos e 3 meses, a outra, 7 meses. Estou sem dormir, sem comer direito e sem muitas outras coisas. O que fiz o verão inteiro? Fui a mercados, a hospitais. Nossa! Um sonho, não é? Meu marido mudou para pior após o nascimento do nosso segundo filho, embora ele o quisesse tanto quanto eu. “Mas por que você está tão cansada o tempo todo?”, ele me pergunta. Ah, imagina, são só duas crianças, limpar a casa, fazer comida, lavar as roupas, passar as roupas, limpar o jardim. As crianças vão crescer uma hora ou outra, e tudo isso vai passar, mas agora está muito difícil. © #happymaternity / VK
  • Minha filha mais velha costumava acordar gritando 5-15 vezes por noite até os 3 anos de idade. Agora, ela tem quase 4 anos e dorme mais ou menos bem: umas noites são boas, outras, nem tanto: ela pode acordar 2-3 vezes (ou mais) e chorar interminavelmente. A mais nova tem 1 ano, e é a mesma história: acorda umas 10 vezes por noite, e a partir das 4h da madrugada, não há silêncio, é um verdadeiro inferno. Eu levava a mais velha para o melhor neurologista e o melhor osteopata da cidade, mas nada disso ajudou; já a mais nova, não levei a ninguém, pois sabia que seria inútil. E é isso, estou sem dormir direito há quatro anos. © #happymaternity / VK
  • Uma pequena história sobre uma noite. Cheguei em casa do trabalho, brinquei com meu filho (ele tem 2 anos e 8 meses), comecei a cozinhar e, pronto, começou. Ele queria me “ajudar”! Porém, como você deve imaginar, essa “ajuda” significa trabalho duplo. Todo o processo é acompanhado por berros: “me dá isso”, “não, quero fazer sozinho”, “não, me dá aquilo”. Enfim, após a “ajuda” dele, limpei o chão e a mesa três vezes de toda a água que ele derrubou. Entrei no banheiro: ele mirou errado e fez xixi fora do penico, tudo da pia derrubado no chão, o sabonete espalhado por todo lado. Como ele fez isso, eu não sei. A ração do cachorro estava jogada por toda a cozinha, coberta com a água da tigela. Meus nervos já haviam deixado o meu corpo, eu só queria gritar bem alto, mas não podia — meus terapeutas não deixam. Força para todas nós! Que a gente consiga aguentar isso tudo até o aniversário de 18 anos deles. © #happymaternity / VK

Fazer outra atividade não é, necessariamente, descansar

Após o parto, eu — assim como muitas mães —, por muitos anos, me sentia como no “dia da marmota”, em que eu devia estar de olho na criança 24 horas por dia, passear sob quaisquer condições climáticas, cozinhar e limpar com o bebê nos braços. A primeira vez que fui ao mercado sem meu filho foi quando ele tinha mais de 1 ano. Consegui, então, passar pelas alas um pouco mais devagar do que o normal, sem a preocupação de que a criança ficaria incomodada e começaria a fazer alguma birra ou derrubaria algo das prateleiras. Foi tão bom! Enquanto na fila do caixa, me peguei balançando o carrinho para frente e para trás.

Mas ir ao mercado comprar pão e papel higiênico não é descanso. E passear com o bebê, quando você está constantemente alerta para garantir que nada de ruim aconteça, não é um passeio. Dormir, ao menos, seis horas ininterruptas por noite não deveria ser um luxo, mas uma necessidade. E poder tomar um banho de 30 minutos por semana não deveria ser visto como descaso, como muitos maridos pensam, mas apenas um procedimento de higiene.

Tenho uma amiga que recentemente pediu o divórcio por causa dessa atitude de seu marido, que criticava os momentos de descanso que ela tirava. É uma história comum: a Tânia tem duas crianças, dois meninos de 1 ano. Ela passa o tempo todo com eles, o marido trabalha até tarde, e durante o fim de semana, ele gosta de ir pescar com os amigos, jogar futebol. Certa vez, a Tânia quis ir a um show, e o marido logo se incomodou: “Que show?! Você tem filhos pequenos! E na semana passada, você foi ao mercado sozinha. Não é suficiente?” E se recusou a cuidar dos meninos. A Tânia, então arrumou as malas e se mudou com os meninos para a casa da mãe porque estava cansada de fazer tudo sozinha.

Após o nascimento de um bebê, uma mulher não adquire superpoderes para passar a dormir apenas 30 minutos ou não se cansar, trabalhando como “mãe” o tempo todo. Por isso, é uma tolice pensar que limpar o vaso sanitário (que certas pessoas ainda consideram “responsabilidade da mulher”) e relaxar da rotina do dia a dia são a mesma coisa. Mesmo que a gente se sinta satisfeita por conseguir descansar um pouco, por ter as primeiras horas em muito tempo sem a criança chorando nos braços, isso não significa que conseguimos descansar bem e recuperar as energias.

Infelizmente, ou felizmente, mulheres não são robôs. Não dá para, simplesmente, pegar nossa “bateria” interna e carregá-la na tomada. Para reabastecer os recursos, precisamos nos cuidar: dormir bem, ler um livro interessante (não de contos infantis), nos dedicar a um hobby favorito ou apenas passear pela cidade na direção que nós (não o bebê) escolhemos.

Infelizmente, para muitas mães, essas formas de se “recarregar” causam um sentimento forte de culpa pelo tempo perdido (afinal, esse tempo poderia ser usado para ter limpado o chão que ainda está imundo!), e isso domina sobre todo o efeito positivo que a atividade pode proporcionar. Mas precisamos nos cuidar! Isso não é um capricho, mas uma necessidade vital, caso contrário, o esgotamento e a depressão não demorarão para aparecer.

Que dicas me ajudaram a prevenir o esgotamento

Percebi que estava “esgotada” quando meu filho tinha 2,5 anos. Eu queria dormir o tempo todo, mas não conseguia. Nada me fazia feliz. Parei de me olhar no espelho e de sorrir. No automático, corria pela casa, cuidava do bebê, mas não sentia nada em relação a tudo que eu fazia. Às vezes, podia começar a chorar do nada por coisas bobas. Notei que não estava dando conta somente quando meu filho, de repente, durante uma de suas birras, gritou: “Mamãe, tô com medo de você!”

No primeiro dia de folga do meu marido, entreguei a criança nos braços dele e fui me consultar com um terapeuta. Após chorar bastante, consegui, enfim, formular a frase: “Estou cansada de trabalhar como mãe”! Por um longo tempo, conversamos sobre o esgotamento parental, que frequentemente se reflete na forma de cansaço físico e psicológico; medo constante, autocrítica (“Não sou uma mãe boa o suficiente!”) e até sobre a indiferença que podemos sentir em relação a nós mesmas e às crianças. Ele, então, me deu algumas dicas para organizar melhor o meu tempo, que sigo até hoje:

  • Delegar parte das tarefas domésticas. Meu marido se sentia à vontade comigo assumindo o cuidado integral da casa e da criança, enquanto ele representava o provedor financeiro da família. Mas eu estava exausta, e ele não teve opção. Parei de tentar “proteger” meu parceiro das tarefas domésticas: descobrimos, assim, que ele é capaz de lavar a louva, ir ao mercado e até limpar o chão. Pasmém. Antes, eu tinha vergonha de pedir isso a ele (afinal, eu que ficava em casa!), mas não mais.
  • Deixar de lado coisas que não são necessárias. Finalmente, parei de passar a roupa de cama, a toalha, a roupa de ficar em casa e as roupas infantis dos dois lados. A lavagem diária do chão se tornou uma limpeza de duas vezes na semana. Ficou mais sujo, sim, mas não é nada crítico.
  • Descansar mais. Isso é algo que eu nunca fiz bem, por isso tive de aprender. A filosofia de “tem uma poeira no chão, mas vou me deitar na cama mesmo assim” não foi fácil de absorver. Porém, aos poucos, fui entendendo que as tarefas domésticas nunca iriam acabar, e as minhas energias já estavam se esgotando, por isso precisava pensar primeiro em mim, depois no resto.
  • Adicionar à lista de afazeres o “cuidado consigo mesma”. Se você ainda não tem uma lista de tarefas diárias, talvez seja a hora de criar uma. E certifique-se de reservar uma ou duas horas para o cuidado pessoal. Por exemplo, 30 minutos para ler um livro; 15, tomar um café matinal; mais 15, alongamento. Essas tarefas devem ter a mesma importância que aquelas, como passear com a criança ou fazer o almoço.
  • Faça uma lista de coisas que você tem prazer de fazer e complete, ao menos, um ou dois pontos dela todos os dias. Aqui, você pode escolher coisas que não demandam muito tempo ou dinheiro: “escutar uma música preferida” ou “abraçar sua criança”. Enfim, escolha aquilo que irá te fazer feliz sem muito esforço — esquecendo-se da ideia de que você é “a última pessoa da fila”.
  • Notar as coisas boas. Eu até comprei um caderno, em que escrevia, todas as noites, cinco coisas da série “isto me agradou hoje”: as folhas que caíram das árvores na rua; nosso gato que deitou de forma graciosa no sofá; meu filho que disse “Mamãe, eu te amo!” e outras coisas fofas parecidas. No começo, foi difícil para mim notar as coisas simples e pequenas da vida, que pareciam não ter importância, mas depois isso se tornou um hábito da minha rotina, e agora anoto pelo menos cinco pontos sobre essa felicidade diária.

E como você lida com a maternidade e o cansaço na sua vida familiar? Compartilhe conosco a sua experiência!

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