Minha saga com 11 possíveis namorados que conheci na Internet

há 1 ano

Enfiar o pé em um buraco de esgoto? Simples. Bater o carro no estacionamento do supermercado? Tranquilo. Mas este post não trata desse tipo de desastres cotidianos, mas sim dos desastres na busca pelo amor. E parece que fracassar em um encontro é bastante comum... mesmo que, na hora, a gente só queria se esconder em um buraco no chão. O melhor de tudo é que não somos os únicos a passar por isso. Praticamente todos que estão em busca de um amor já passaram por uma situação extremamente constrangedora, mas que gerou muitas risadas depois.

Foi pensando nessas situações engraçadas de encontros amorosos que o Incrível.club escolheu os 10 encontros mais épicos de todos os tempos. O mais louco é que todos eles aconteceram com a mesma pessoa. Mas não se engane: a história acaba muito bem e está lá no bônus, no fim do post.

Como tudo começou

O que eu posso falar de mim? Luísa, pessoa do sexo feminino, neste momento com 26 anos de existência, sem experiência com casamentos nem filhos. Médica por formação, diretora de Recursos Humanos como profissão atual. De meus maus hábitos: tatuagens coloridas, uma grande preguiça e jogar videogame até as 4h da madrugada.

Que tipo de pessoa buscava? Através de simples cálculos em sites de testes de relacionamentos, o parceiro ideal para mim seria o Keanu Reeves. Ok, ok... isso está um pouco longe da realidade, então sejamos realistas. Pois, então, buscava um homem de 25 a 50 anos, solteiro ou casado (tanto faz), preferivelmente sem filhos, trabalhador, com tatuagens ou que aceitasse bem as pessoas tatuadas, que morasse sozinho, educado, sem antecedentes criminais (é o mínimo, né), mais ou menos alfabetizado, de preferência que jogasse videogame, amante do café e que goste de doces.

A idade, currículo e aspectos físicos não teriam muita importância. Queria encontrar um homem que não fosse muito entediante, que visse séries comigo, que fosse a shows de rock e que gostasse de visitar cafeterias. Ao mesmo tempo, criei três perfis em redes sociais para conhecer pessoas. Comprei um chip separado e configurei um novo perfil no WhatsApp para não dar meu número pessoal sem ter certeza se a pessoa vale ou não a pena. Agora contarei aqui como foi a minha saga... Pelo menos acabou bem, mas o caminho foi longo e cheio de surpresas desagradáveis.

1. É surpreendente que existam pessoas tão avarentas!

A julgar pela foto no perfil, o cara parecia um homem de negócios. Odeio esse tipo de pessoa, mas ok, a gente também não pode desperdiçar assim uma possibilidade. O destino aproveitou a oportunidade, riu da minha cara e, então, tudo o que poderia acontecer em um encontro, aconteceu.

Marquei nosso encontro em uma cafeteria. O rapaz chegou 15 minutos mais tarde, o que me incomodou profundamente.

Ao longo de 40 minutos ele simplesmente não calava a boca, falando sobre o quanto ele era incrível, os lugares que ele já conheceu e carros que já teve. Na minha cabeça somente havia um pensamento: “corre, corre!” Pedi então a conta para o garçom. Ele passou outros cinco minutos “admirando apaixonadamente sua própria genialidade” e, infelizmente, não sacava meus sarcasmos. Depois de pedir a conta, ele insistiu em pagar o valor total, incluindo meu pedido. Insistiu tanto que eu simplesmente me irritei e deixei. Porém, levantei para ir embora e deixei um valor em cima da mesa, equivalente ao meu pedido. Atrás de mim eu o escutei dizer, enquanto eu simplesmente saía sem dar muitas explicações: “você vai perder seu dinheirinho, eu não quero”. Posso apostar um pão de queijo que ele pegou, sim, o dinheiro que deixei. Um poço de arrogância!

2. As mulheres são todas iguais, especialmente você!

Parece que nada me permitia prever problemas neste caso: escritas sem erros ortográficos, chamadas previstas uma hora antes do encontro e uma voz agradável. Já havia começado a me iludir com esse encontro. E tudo foi em vão. Durante três horas de interação, soube literalmente tudo sobre a vida da ex-mulher do segundo cara, começando pelos seus lindos peitos e terminando pela forma sem escrúpulos que ela deixou o apartamento que havia sido presente de casamento dos pais dela.

Por que me sentei para escutar essas “encantadoras” histórias? É muito difícil “despedir-se à francesa”, especialmente quando estão literalmente ditando regras de como ser a mulher ideal: estar sempre em casa, criar um monte de crianças, ser companheira do seu marido sempre, suportar as aventuras do homem. Minha inesperada salvação foi dizer a frase de quem ainda não estava suficientemente madura para ter filhos. A conversa começou a mudar de tom, e ele passou a dizer como é que uma mulher geralmente é (e deve ser sempre). Para ele todas nós somos iguais: pensamos em sapatos, em filhos, em casamento apenas por interesses econômicos. Seguiu falando que a população do mundo está se extinguindo porque nenhuma mulher mais está interessada em ser mãe. Olha... nunca fiquei tão feliz em voltar para a minha solidão no meu apartamento com meu gato.

3. Mentor pessoal

Ao perceber que chegaria uns 10 minutos mais tarde, decidi enviar uma mensagem para me desculpar pelo atraso. O cara (o terceiro) respondeu empolgado: “Não tem problema! Já passo na farmácia para comprar aquilo, né? Acho que você sabe o que”. Isso não havia sido simplesmente uma advertência, mas sim um enorme alarme de perigo. Eu tentava me sentir melhor, pensando que talvez esse moço tivesse um ótimo senso de humor. Chegou a hora do encontro. Nos encontramos em um lugar maravilhoso, em uma tarde linda e quente, com músicos na rua em um ambiente muito romântico. Infelizmente, tudo isso durou pouco.

Durante uns 15 minutos ele me encheu de perguntas chatas de caráter muito pessoal. Quando saíamos do lugar até o estacionamento, tivemos a seguinte conversa:

— Bom, vamos para a casa?

— Sim, eu vou. Você eu não sei.

— Entendo. Então não teremos nada hoje?

— Eu estou certa de que não terei nada hoje, mas não posso te proibir de nada.

Ao subir no carro, percebi que ele estava tentando entrar no assento do passageiro. Meus instintos trabalharam na velocidade da luz: em três segundos, acionei as travas do carro, coloquei o cinto e arranquei. Mas eu o entendo, pobrezinho. havia comprado tudo o que precisava e gastou seu tempo, e eu tão mala, nem quis passar a noite com esse cavalheiro que eu recém havia conhecido...

4. Um mal-educado em seu estado original

Ele (o quarto pretendente) havia se atrasado quase uma hora, e ficava me ligando com a mesma pergunta: “Onde você está?” O pobre rapaz estava perdido, mesmo eu tendo enviado a minha localização exata naquele momento. Mentalmente, já havia inventado dezenas de respostas mal educadas à pergunta “Onde você está?”, mas finalmente nos encontramos em uma pequena praça. Depois disso, a decisão foi a de jantar.

Primeiro alerta: havia deixado estacionado seu carro na parada de ônibus. Segundo alerta: jogou uma ponta de cigarro na calçada. Terceiro alerta: cortou a frente de outro carro, quase causando um acidente, gritando e xingando outros motoristas. Depois de quase meia hora de uma conversa chata, ele disse: “Por que você quer ir jantar? Tem tudo na minha casa, tem comidas e bebidas, a casa está sozinha e ficaremos melhor lá. Agora vamos entrar rápido no mercado; que bebida você gosta mais?” Sob o pretexto de “Ok, vamos ao mercado”, não pensei em algo melhor do que rapidamente me perder entre os corredores daquele estabelecimento grande e sair correndo. Nesse dia (mais uma vez), jantei com meu gato, mas estou certa de que foi bem melhor. Nesse encontro eu já comecei a perder minhas expectativas e a aceitar que o relacionamento perfeito é com o meu gato, sem sombra de dúvidas. Não sei porque eu ainda insistia...

5. O encontro mais curto da minha vida

Foi em uma tarde. Era o quinto pretendente. Ficamos de nos encontrarmos no parque, cheguei a tempo. Enquanto escrevia uma mensagem para dizer que estava lá, de algum lugar escutei o som de um carro, dei volta e me aproximei de onde vinha o som, então baixaram o vidro de um automóvel e um homem grita: “Vamos de uma vez!”, abrindo a porta do carro. Na parte de trás havia outros dois homens com aspecto não muito gentil, digamos.

Lembram que eu falei sobre os presságios? Esse era um deles. Dessas vezes em que uma voz em seu interior grita: “Corre!” Não, eu não corri e não respondi com insultos descarados, simplesmente balbuciei algo em resposta e apressei o passo, entrando no meio de uma multidão. Até mesmo em casa, a sensação de estar sendo perseguida não me deixou. Talvez fosse somente minha imaginação, mas algo me diz que você não deve entrar em um carro com três homens, sobretudo se um deles te ordena a entrar no carro com a voz muito agressiva. Fica o alerta, meninas. Quando forem a um encontro, observem se o local tem bastante gente em casos como esse. Estou bem e não aconteceu nada comigo, mas tenho certeza de que as intenções dessas pessoas não eram nada boas.

6.Um cara perfeito demais

Era um moço simples com uma imagem perfeita: uma camisa recém passada, unhas bem cuidadas, voz agradável, um penteado impecável e dentes muito brancos. Literalmente tudo isso me dizia que ele era uma pessoa forte e bem-sucedida. Me apaixonei de cara? Não, parecia que ele exalava uma certa frieza, mas OK. Tudo ia “bem”, até que ele começou a implicar com o garçom. Disse que o copo estava sujo (havia uma gota de água no copo para suco), o suco estava muito ácido, o enfeite da salada não estava correto, os talheres não pareciam limpos... E em todas as minhas tentativas de suavizar a situação e brincar, ele me olhava de uma maneira superior, arrogante, parecendo buscar todas as desvantagens da minha tímida personalidade. Nesse momento eu queria virar um móvel. E você, leitora, também iria querer virar se tivesse passado pela minha situação. Por isso, me escondi atrás do menu e fingi ser uma planta, sem opinião nem reação.

Na hora da sobremesa, quando discutimos sobre todas as desvantagens do mundo, meu companheiro perfeito começou a expressar em voz alta seus pensamentos sobre mim. Eu detesto as pessoas vaidosas. Você já teve essa sensação quando deixa de lado a conversa e seus pensamentos, nesse momento, voam? Pois foi o que aconteceu comigo. Não fui ao segundo encontro. Melhor deixar esses “homens magníficos” para as mulheres impecáveis.

7. Farei de você uma boneca

Quem de nós pode avaliar adequadamente o próprio aspecto físico? Eu não estou muito satisfeita com minha aparência e, tentando ser a mais exata possível, em uma escala de Angelina Jolie até Peppa Pig, eu devo estar mais próxima da Peppa. Não, não sou extremamente gorda, não tenho uma verruga no nariz, por exemplo, nem tenho aversão ao meu reflexo no espelho. Mas, depois desse encontro, minha autoestima baixou até o centro da Terra.

Ele era tão ignorante, mas ao mesmo tempo carismático... Demasiadamente empolgado nas converas e ansioso pelo encontro. No dia que nos encontramos, em pleno julho, ele chegou em uma roupa esportiva. O primeiro que fez foi tirar o casaco, como quem diz: “Olhe, gata, meus músculos, não são lindos?” Pude presumir que ele treinou muito mais na academia do que gramática na escola, por exemplo. Enfim, para mim não fazia diferença se ele tinha os braços musculosos ou não, mas parece que, para ele, os músculos fazem uma enorme diferença na vida de alguém.

Durante duas horas eu escutei ele falar sobre exercícios físicos que eu deveria experimentar, sites de cálculos de calorias, horários e alimentação. Todas as minhas intenções por mudar de assunto para algo que não fosse de temática fitness foram em vão. Não lia livros, nunca havia estado em um teatro, não via filmes e escutava músicas apenas para treinar. Tentei ir embora de forma amigável, mas ele insistia que eu ficasse. E foi nesse momento que eu fiz algo horrível, nada digno de uma mulher aos padrões dele: sim, depois de praticamente uma aula de três horas sobre vida saudável e de tantos conselhos para a saúde, comecei a fumar na frente dele! Que horror! Lembrando que em todos os meus perfis nas redes socias avisava que eu sou fumante; não sinto vergonha e é por isso que preciso me relacionar com alguém que não tenha preconceito com fumantes. Ele literalmente arrancou o cigarro das minhas mãos, dizendo o seguinte: “Na minha frente você não vai fazer isso!” Bingo! “É claro que não farei”, pensei, “na sua frente nunca mais. Vou ficar sem você e fumando o quanto quiser”. Lentamente ele iria me influenciar a ter uma vida como a dele, não como a minha, tendo a aparência que agrade a ele.

Em algum momento, minha paciência se esgotou. E fiz a seguinte pergunta: “Por que você não conseguiu uma mulher ativamente esportiva, sem vícios, aquela que você necessita ao invés de ter convidado logo a mim para um encontro?” Ele respondeu algo incompreensível. De tudo o que ele disse, eu só entendi o seguinte: “Farei de você uma pessoa perfeita, não como você é agora. Será uma boneca”. Eu nunca quis ser uma boneca, e o desejo de me transformar em uma pessoa impecável se foi e nunca voltou depois dessa conversa. O que farei a partir de então? Adotarei muitos gatinhos e viverei tranquilamente, longe dos padrões impostos.

8. O encontro que nunca foi

Combinamos um passeio mais de 10 vezes e, em todas elas, acontecia algum imprevisto. Primeiro eu fiquei doente, depois ele teve um problema com o carro. Daí, precisei viajar a negócios, em seguida ele se mudou... entre outros inúmeros impeditivos. Eu gostava do seu estilo de comunicação: rápido e com um ótimo senso de humor. Nossas conversas eram muito interessantes. Só que havia uma desvantagem: a gente nunca conseguia se encontrar. Um homem fantasma que vivia na mesma cidade, ia aos mesmos lugares e escutava as mesmas músicas que eu. Mas, simplesmente, vivia em um mundo paralelo, e nossas vidas nunca se encontraram. Depois de dois meses de tentativas falhas, decidimos que, talvez, não era para ser. E, então, apenas seguimos nossas conversas pela Internet. Posteriormente ele arranjou uma namorada e, com uma certa tristeza no coração, deixei-o ir. Que fique a imagem tal qual, sem rosto nem voz. Não voltei a insistir nunca mais em um encontro com ele. Talvez seja melhor, mesmo que isso me deixe triste.

9. Casado

Tudo indicava que esse homem era casado. Cara de mau, insegurança ao caminhar e frequentemente olhava para todos os lados da cafeteria, como se estivesse medo de encontrar com algum conhecido. Minhas suspeitas se confirmaram quando ele tirou as luvas — estávamos no inverno. No seu dedo dava para ver a marca característica de uma aliança de casamento. Perguntei diretamente sobre isso e ele respondeu: “estou separado”. Ele não sabia mentir. Nem para mim, nem para sua mulher. Depois de uma hora de conversa fiquei entediada, minhas brincadeiras eram em vão e ele não desgrudava do celular verificando a hora. No dia seguinte, a mulher dele me ligou.

Não, não houve nenhuma agressão nem ameaças por parte de uma mulher louca. Foi uma conversa tranquila; ela somente perguntou como eu o havia conhecido e se eu o havia visto no dia anterior. Eu contei toda a verdade, não tinha vontade ou necessidade de mentir, nem fazia sentido ocultar uma infidelidade alheia, porque presentear a cabeça de uma mulher que eu sequer conhecia com um belo chifre não era comigo. Para falar a verdade, senti um pouco de tristeza por aquela mulher com uma voz tão cansada e calma. Bom, mais uma vez eu prefiro o meu gato...

10. Encontro-entrevista

Durante muito tempo, no meu trabalho, precisei fazer entrevistas com os candidatos. Eu sabia que aqui precisava encontrar um equilíbrio entre a delicadeza e a ética de trabalho. Mas o meu interlocutor não possuía nada de delicadeza: “Você gosta de cozinhar? Gosta de animais? Quanto você ganha? Tem apartamento próprio? Que tipo de carro tem? Quem são seus pais? Por que terminou com seu ex-namorado?...”. A comunicação assim me deixou farta depois da terceira pergunta consecutiva. Mas o que fazer quando não se pode evitar uma conversa desagradável? Vira uma planta, é claro. Por isso, o diálogo passou a ser assim:

— Onde você trabalha?

— No meu trabalho.

— O que aconteceu com seu ex-namorado?

— Quando terminamos eu juro que ele estava vivo!

— De que filmes você gosta?

— Dos bons, dos ruins eu não gosto.

Esse teatro desnecessário continuou por uma hora, ao mesmo tempo que eu também era feita de boba. Todas as minhas intenções de brincar eram percebidas de maneira séria. O rapaz sequer levantou as sobrancelhas com as minhas afirmativas estranhas. Para ele, tanto fazia o que eu dizia. Ele simplesmente consentia com a cabeça e dizia: “Claro”.

No final do jantar, literalmente comecei a ficar histérica, já que evitar a gargalhada era praticamente impossível. O mais surpreendente é que, no fim de semana seguinte, ele novamente me propôs um encontro, provavelmente havia preparado uma nova lista de perguntas. No entanto, eu tinha uma carta na manga, em forma de um pretexto perfeito: “Eu adoraria, mas vou fazer uma cirurgia muito séria no cérebro, e nem sei se vou poder sair para a rua tão cedo”. Pensei que ele desistiria facilmente, mas o cara simplesmente disse: “Ah, Ok! Boa recuperação! Nos falamos em breve!”.

Eu, hein!

O tão esperado bônus: “Seu cabelo é tão lindo. Parece com uma grande medusa”

Ao me decepcionar pela infinidade de encontros, as reclamações da minha amiga, as crises de autoestima e fracassos completos em todos os âmbitos, moralmente tomei a decisão de estar como um paciente em coma para os relacionamentos e encarei com fúria o trabalho. Informes, encontros, chamadas, a abertura de uma nova filial, a contratação de uma enorme quantidade de empregados: literalmente, desisti dos relacionamentos. Durante esse tempo eu desativei meu chip, esqueci as buscas e terminei me rendendo absolutamente.

Aquela tarde estava de mau humor. Eu tinha um jantar do trabalho e, quando estava voltando para casa, lembrei de um encontro que havia marcado há muito tempo. Então meus planos de ficar em casa depois de um dia intenso de trabalho e negócios foram por água abaixo. “Bom, vamos lá... que seja a última vez, aguento um pouco e volto para casa para ver séries”, pensei. Assim eu convenci meu corpo cansado para sair no frio de outono. Precisava colocar um fim nisso tudo. Eu conversava com ele durante várias noites, mas precisava conhecê-lo, descartar mais uma possibilidade. O fantasma de um perfeito desconhecido precisava virar realidade, e eu tinha muita curiosidade em ver essa pessoa com a qual mantinha diálogo, mesmo já tendo desistido de conhecer e ter efetivamente um relacionamento com alguém. Escondi meu cabelo bagunçado em uma touca que sequer tinha forma. Minha maquiagem estava já borrada e eu abri minhas botas. Esperava qualquer coisa, tanto fazia para mim, não tinha a menor expectativa, apenas curiosidade em saber como seria a próxima pessoa a ser riscada da minha lista. Apareceu uma figura toda de preto, solitária no parque vazio. Certamente seria ele. Ao aproximar-me, percebi que ele não poderia me enxergar, pois estava cheia de roupas. Precisávamos de contato visual!

Quando tirei a touca e abri um pouco o casaco, ele pareceu um pouco assustado. Que? Esperava outra coisa? Esta sou eu, com o cabelo bagunçado e restos de maquiagem debaixo dos olhos (além das olheiras causadas pela insônia). Não gostou? Eu entendo, eu também não gosto, inclusive já ouvi muita coisa a respeito da minha aparência, já me acostumei, mas pelo menos meus gatos pensam que sou bonita. O rapaz ficou alguns segundos me encarando enquanto eu tentava arrumar meu cabelo amassado pela touca...

— Teu cabelo é tão lindo, parece com uma enorme medusa negra.

Bom, não podemos dizer que o cara não foi original, né? Seus olhos brilhavam de uma maneira um pouco estranha. Mas eu não estava entendendo se era admiração no sentido positivo ou se ele estava assustado com minha aparência. Uma coisa era certa: ele estava nervosíssimo. Mas, por alguma razão, senti uma coisa boa e fiquei alegre, a tensão se foi. Que diferença faria? De qualquer modo, eu já estava lá, mesmo... Eu ri, fiz caras e bocas, contei sobre meus erros no trabalho e descontraí bastante. Pouco a pouco os assuntos ficaram mais sérios. Ele era, na verdade, engenheiro, tocava em um grupo de rock no seu tempo livre, nunca havia se casado e não estava pronto para ter filhos, ou seja... tudo o que eu procurava!

Nesse dia, tudo o que eu esperei por décadas apareceu na minha frente, por mais estranha que essa pessoa pudesse parecer. Conversamos por toda a noite, sem indiretas ou pressões, sem intenções de parecermos melhores do que realmente somos na verdade, com uma boa parte de brincadeiras e piadinhas. Não houve nenhum inconveniente, nem me senti perdidamente apaixonada. Somente me senti confortável e agradável com ele.

De manhã, tomamos café da manhã e fomos trabalhar. Por alguma razão, me pareceu que ele não me ligaria. E daí? Que diferença teria se todos os meus encontros anteriores terminaram da mesma maneira? Ele simplesmente não ligou, foi direto ao meu trabalho e de lá passamos o fim de semana juntos. Depois, percebi que estava gostando muito dele. Há meses havíamos começado as conversas pela Internet, mas se não fosse a insistência dele, nada disso teria acontecido. O destino pregou uma grande peça.

— Daniel, por que você foi estranho naquele nosso primeiro encontro?

— Mas estranho como?

— Você disse coisas estranhas e parecia um pouco louco.

— Eu não sabia o que dizer, então comecei a falar algumas bobagens só para não ficar quieto. Eu não sei me comportar com mulheres.

— Mas você tem sorte, porque eu não sou uma mulher, sou uma gatinha. :)

Dia 10 de dezembro fez exatamente um ano dessa loucura toda e há seis meses estamos casados oficialmente. E eu entendi uma coisa: o amor não é algo que forçamos para que aconteça. Ele chega sempre quando desistimos, quando estamos com o coração leve e sem expectativas. Não importa quantos encontros fracassados você teve e como tenha sido difícil passar por tantas decepções. Todos nós podemos encontrar a pessoa ideal, mas o importante é entender que isso acontece inesperadamente. E quanto mais inesperado for, mais agradável é a surpresa!

Enfim eu conheci alguém que me admira tanto quanto meus gatinhos. :)

Imagem de capa sKotInU / Pikabu

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