Brasileiro que viveu no Japão conta 22 fatos sobre o país que normalmente só os “locais” conhecem

Gente
há 2 anos

As curiosidades sobre o Japão costumam atrair os olhares de pessoas de todos os cantos do mundo. Formado por 6.852 ilhas, o país chama a atenção por sua cultura milenar, tecnologia superavançada, gastronomia, paisagens encantadoras e educação disciplinar. É como estar no futuro com tantas inovações. A cultura da “Terra do Sol Nascente”, no entanto, vai muito além do que encontramos em revistas de turismo — e há certas coisas que só quem viveu no país pode contar.

Hoje, o Incrível.club, vai passar a palavra para Massa Taniguchi, um brasileiro que morou no Japão por quase três anos através de um programa de trabalho temporário para descendentes chamado de Arubaito e descobriu fatos bem curiosos sobre o país. Venha se surpreender!

Como fui parar no Japão

Fui para o Japão em dezembro de 2014, através de um programa de trabalho temporário para descendentes, chamado de Arubaito, focado em fábricas. As vagas são abertas no fim do ano para suprir a alta demanda de trabalho e a baixa oferta de mão de obra no Japão. Geralmente, estudantes universitários se candidatam, pois o período coincide com as férias da faculdade e o contrato dura cerca de três meses. Nesse ano, estava passando por um momento de readaptação ao Brasil, após retornar de um período de intercâmbio no qual morei na Austrália. Por isso, não conseguia me recolocar no mercado de trabalho.

Como um amigo comentou que estava indo para o Japão fazer Arubaito e eu não tinha nada a perder, me candidatei também. Desde a época de colégio sempre tive a vontade de morar no Japão e conhecer um pouco das minhas origens e a cultura do país. Aproveitei a oportunidade para adquirir mais fluência no idioma japonês. Como nesse período eu já estava formado na faculdade, consegui estender meu contrato por tempo indeterminado. No fim, morei lá por dois anos e nove meses. Das 47 províncias que compõem o país, consegui visitar 38 durante esse tempo e agora vou contar algumas curiosidades que encontrei pelo caminho.

1. Endereços não têm nome de rua

Os japoneses usam o sistema de blocos, composto por alguns quarteirões. Cada quarteirão tem um número que identifica aproximadamente onde fica a casa. No meu caso, tinha de indicar: província, cidade, bairro, bloco, nome do prédio e número do apartamento. É bem confuso para nós, brasileiros.

2. Para assinar documentos você precisa usar o inkan

inkan é um carimbo contendo os ideogramas em kanji, do sobrenome japonês. Eles sempre são produzidos à mão para evitar o risco de haver dois carimbos iguais. Funciona como uma assinatura em documentos oficiais, como contratos.

3. O transporte público é extremamente pontual

Se está escrito que o trem vai passar às 15h23, ele realmente passa nesse horário. Por sorte os trens são sincronizados; a partida de um ocorre alguns minutos após o outro chegar, quando grande parte dos passageiros precisa fazer a baldeação. O problema é quando você sai do ônibus rodoviário e precisa pegar o último trem. O deslocamento dentro das estações leva em torno de dois a quatro minutos. Por isso, mesmo correndo dentro das estações, nem sempre conseguimos embarcar, pois o transporte não espera, mesmo. Se tiver de pegar um táxi, sai bem mais caro.

Dentro do trem, os japoneses respeitam muito o conforto das pessoas ao redor. Há um silêncio agradável nesses ambientes. Os passageiros ficam imersos no smartphone e usam fone de ouvido. Fazer chamadas telefônicas é considerado falta de respeito. E, se conversam, eles fazem de uma forma baixinha para não incomodar as demais pessoas. Falar alto certamente fará você receber olhares de todo mundo.

4. Nos primeiros dias do ano, as lojas fazem megapromoções de liquidação, chamadas de Lucky Bags

As lojas mais disputadas são as de roupas de marca e geralmente, as melhores Lucky Bags se esgotam nos três primeiros dias do ano. Nunca consegui ir às compras nesse período, pois sempre tive de trabalhar; então no quarto e quinto dia, já não sobrava quase nada de interessante. Acredito que, nessas megaliquidações, a população seja muito educada e respeite as filas. Dificilmente os japoneses criariam tumulto para disputar as sacolas que, aliás são todas padronizadas: vermelhas e com a inscrição Fukubukuro (literalmente “sacola da sorte”).

5. As lojas de conveniência, chamadas de konbini, realmente funcionam 24 horas por dia

Se bater fome às 3h da manhã, você pode ir lá tranquilamente que estará aberta. A maior rede de konbini do Japão é a 7-Eleven, presente, também, em outros países. Nas grandes cidades, há praticamente uma a cada esquina.

6. Só as avenidas possuem calçadas

Como no Japão um dos grandes problemas é a falta de espaço, as ruas são, em geral, bem estreitas mesmo, comportando, muitas vezes, somente um carro por vez. Por isso, as vias não possuem espaço para calçadas, que são no mesmo nível da rua. Aliás, praticamente todas elas possuem pisos táteis para permitir a independência de pessoas cegas.

7. A limpeza das ruas é impecável

Uma coisa extremamente difícil de achar na rua são lixeiras públicas. É preciso comprar um saco de lixo certo no mercado e cada prefeitura possui um padrão específico dessas sacolas. Muitos japoneses possuem o costume de carregar o lixo consigo em um saquinho plástico até encontrar uma lixeira. Outros levam para jogar em casa.

É parte da educação do país cuidar do patrimônio coletivo; isso eles aprendem desde os primeiros anos escolares, limpando a própria escola. Normalmente as lixeiras mais acessíveis são aquelas próximas das já mencionadas lojas de conveniência — konbini.

8. Os japoneses costumam seguir regras à risca

Se o sinal está vermelho para os pedestres, mesmo que a rua esteja deserta, os japoneses costumam esperar o sinal ficar verde para atravessar. Nos cruzamentos onde há semáforos, quando a sinalização mostra que a passagem de pedestres está liberada, é emitido um som para auxiliar deficientes visuais. E, dependendo da direção norte-sul ou leste-oeste, o som ou é de cuco ou de piu-piu.

Se a polícia pegar em flagrante alguém desrespeitando essas regras, é bem provável que a pessoa receba uma multa. Mas dificilmente há policiais nas ruas. E isso por questões morais do povo, mesmo. Os japoneses costumam fiscalizar uns aos outros, para todos fazerem o que é certo; a preocupação maior do povo é não desrespeitar as pessoas. A questão das multas ou da repressão policial fica em segundo plano. O importante é a coletividade.

9. É raro ter fogão como no Brasil

Em casa, é preciso se virar com o cooktop mini de duas bocas por falta de espaço. Aliás, comprar uma casa ou terreno é extremamente caro; por isso, pode acontecer de duas gerações da mesma família terem de ficar pagando para quitar o imóvel. Geralmente, as casas são bem compactas e apertadas. No meu caso, dividi o apartamento de quatro cômodos com seis pessoas. Eram apenas dois quartos, a cozinha era integrada com a sala. O outro cômodo era onde deixávamos as malas, pois, no quarto, só cabiam os futon (colchonetes). Banheiro? Só um para todos.

10. Privadas high-tech

Algumas privadas são tão modernas que, além de terem os botões de aquecer o assento e, obviamente, de descarga, também possuem botões de “bidê”, secagem e até de musiquinha para disfarçar os sons constrangedores. O ápice do que eu vi foi o som de aplausos. Lá, ainda existem dois tipos de privadas: tradicional e ocidental.

11. A separação de lixo é levada muito a sério

Geralmente, perto das residências, sempre há um ponto de coleta de lixo. Os moradores da região são responsáveis por jogar o material nos contêineres certos. Afinal, em frente às casas, geralmente não há espaço para deixar o lixo. O material é separado, basicamente, em dois grupos: queimável e não-queimável. O caminhão de coleta só recolhe o que estiver nos contêineres, no local específico para o descarte.

Como é bem diferente do Brasil, no começo fiquei com muitas dúvidas para saber o que era queimável ou não. Tive de ir até esse local e “estudar” o que cada contêiner recebia; havia um só com caixinhas tipo Tetra Pak; outro era destinado a jornais e revistas; outro, ainda, a lâmpadas e por aí vai: para pilhas e baterias, para papelão, para garrafas PET, para isopor, para vidros, para plásticos e, finalmente, os contêineres de lixo queimável (orgânico) e não-queimável. Ou seja, seja, tudo que não se enquadrava nos outros depósitos.

É difícil de imaginar que alguém vá jogar o lixo fora dos locais de coleta. Você se força, também, a jogar no lugar certo. Não sei o que acontece, mas, provavelmente, se algum japonês descartar o lixo em local indevido, será advertido verbalmente pelo próprio vizinho.

12. A água de torneira é potável

É por isso que os restaurantes no Japão costumam oferecer água de graça. O tratamento de água e esgoto deve ser muito eficiente, pois todos os rios que vi são limpos e com peixes, mesmo em Tóquio.

13. Frutas tropicais são tão caras que bananas são vendidas no supermercado por unidades ao invés de dúzias ou pencas

A maior parte do espaço utilizado para cultivo no Japão é de arroz. Esse é um dos únicos alimentos em cuja produção o Japão é autossuficiente. Acredito que o clima temperado impeça o cultivo de frutas tropicais. A maior parte dessas frutas vem das Filipinas. Na província em que morei, em Yamanashi, a especialidade é a produção de uva e pêssego. Então, essas frutas são famosas no país inteiro.

No mercado, conseguia encontrar quatro unidades de pêssegos em caixas de presentes, custando muito caro! Maçã e melão, dependendo da província, também dava para encontrar em caixas de presentes, por um alto valor.

14. Amam a natureza

Muitos locais foram transformados em pontos turísticos para se apreciar a natureza. Os japoneses gostam bastante de apreciar as flores (essa prática se chama hanami, literalmente “ver flores”) e fazer caminhadas e trilhas pelas montanhas. Em todos os lugares de natureza eu encontrava turistas locais de todas as idades, inclusive idosos e crianças.

15. Praia só no verão

Lá as águas são banhadas pelo Oceano Pacífico, que é “um gelo” e as areias geralmente são de pedras ou vulcânicas. Então, na maior parte do ano, os japoneses vão à praia com roupa normal (calça, camiseta e tênis), pois a água é gelada e não é convidativa ao banho de mar. Já no verão, os homens usam camiseta e bermuda e as mulheres variam entre biquínis largos e maiôs. Muitos também vestem roupas com proteção UV cobrindo toda a pele.

16. No supermercado, é cada vez mais comum ter caixas no sistema self-service

Na primeira vez, não entendi que o caixa automático verificava o peso da cesta antes e depois de passar todos os itens. Mas assim que aprendi a usar a máquina, vi que é muito fácil e prático; além disso, há a opção de colocar o sistema em inglês. As pessoas são muito honestas quanto a passar corretamente todos os itens do carrinho. Seria muito constrangedor querer dar uma de esperto no meio de todos, mesmo que não tenha ninguém fiscalizando. Os japoneses, em geral, confiam na honestidade dos cidadãos.

17. As moedas e cédulas são muito valorizadas

Por isso as carteiras costumam ser muito longas. Afinal, muitos não gostam de dobrar dinheiro. Normalmente, as notas parecem novas e bem cuidadas. E os japoneses também fazem questão de dar corretamente o troco. Se deu 4 ienes, eles vão devolver quatro moedinhas de 1 iene, o que, na prática, não vale nada, mas dinheiro é dinheiro. É preciso ter uma bolsinha para as moedas, já que se usa muito a de 100 ienes (cerca de 4,93 reais). Já a moeda de 500 ienes é considerada uma das que possuem maior valor no mundo (em torno de 24,63 reais).

A nota de 2.000 ienes é muito rara. Por sorte, a recebi de troco uma vez e a guardei como relíquia. Nos templos, existe uma tradição de se jogar uma moeda de 5 ienes para pedir oração. E tem de ser a de 5 ienes, mesmo, pois ela tem a cor dourada.

18. Os japoneses valorizam a cultura de ter a caderneta de papel do banco para acompanhar o saldo bancário

É engraçado ter de ir no caixa eletrônico e colocar a caderneta para a máquina imprimir o saldo nela. É claro que é possível consultar o saldo pela Internet, mas, como eu não entendia nada, era mais fácil ir até o banco para fazer o extrato. A caderneta é mais uma questão cultural para controlar o dinheiro. Acredito que, aos poucos, essa prática cairá em desuso com as gerações mais jovens.

19. As vending-machines são superpopulares

O Japão é fascinado por robôs e tudo que se possa automatizar nas tarefas do dia a dia. Assim como os caixas automáticos no supermercado e os eletrodomésticos tecnológicos, também há as vending machines, que estão espalhadas em todo o canto, até em lugares remotos como no Monte Fuji. Adorava as Jidou-Hanbai-ki de sorvete. No inverno, as latas de café quente serviam mais para esquentar a mão do que realmente para consumir a bebida.

20. No interior, não existe catraca, nem bilheteria para embarcar no trem

No interior do país, o serviço de trem funciona assim: não há catraca, nem funcionários. Só há a plataforma. A pessoa pega um ticket já dentro do trem e paga direto com o maquinista, também chamado de one-man. Caso você desça em uma estação maior, com funcionários, bilheterias e catracas, pode pagar lá. Acredito que nas linhas de trem do interior, não haja a necessidade de um funcionário extra só para fazer a cobrança.

De vez em quando, nos horários de pico, havia uma pessoa encarregada de conferir o ticket de cada passageiro para agilizar o desembarque nas estações principais. No trem-bala também há um funcionário conferindo os tickets, afinal o serviço é bem mais caro. Nos ônibus, o motorista também é o cobrador, pois a única porta de entrada e saída é a da frente.

21. Há três tipos de alfabeto

Esses alfabetos são hiragana, o katakana e o kanji. Os três são usados no dia a dia e ao mesmo tempo, pois cumprem funções diferentes. O mais fácil, útil e que pode ser usado para tudo, principalmente para partículas, conjunções, terminações de verbos e adjetivos é o hiragana. O katakana é para escrever palavras estrangeiras. Já o kanji são ideogramas, ou seja, caracteres que expressam uma ideia. Ele é mais usado para vocábulos (substantivos, adjetivos/verbos).

Ler uma frase só em hiragana “cansa” os olhos, pois você não sabe onde separar as palavras; mas, se estiver usando os três alfabetos misturados, é mais fácil identificar onde cada coisa fica. Só de olhar o kanji, fica mais rápido identificar o sentido (uma vez que já saiba identificá-lo).

Por exemplo:
私はポルトガル語を話します。- Eu falo Português (misturando hiragana, katakana e kanji).
わたしはぽるとがるごをはなします。- Eu falo Português (só usando hiragana).

22. Ninguém entra calçado em casa

A entrada da casa no Japão se chama genkan. Normalmente fica um degrau abaixo do nível da casa e com a superfície igual ao chão da rua. Na preguiça, costumamos deixar o calçado ali mesmo. Os japoneses gostam de tirar os calçados e já deixá-los virados para quando forem calçar de novo. Para o restante dos calçados, geralmente ali mesmo na genkan há um pequeno armário ou estante para colocar.

Você já teve a oportunidade de conhecer o Japão? Qual das curiosidades amaria ver aqui no Brasil? Conte para a gente na seção de comentários e não se esqueça de compartilhar com seus amigos!

Comentários

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O FILHO DO ZÉ DA VENDA FOI PRA O JAPÃO E VOLTOU FALANDO ESQUISITO ACHO QUE EH A LÍNGUA DE LA

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Eu tenho muita vontade de ir lá para passear, na verdade quase me casei com um japones

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Eu não tenho interesse na cultura deles, até tive uma epoça mas vejo o quanto são massacrantes a vida profissional de quem mora lá, bem triste

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Acho que eles são bastante determinados e uma cultura de respeito impressionante, sei que eles tem muitas tradições interessante

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