O que acontecerá com as marés do oceano quando a Lua se afastar da Terra?

Curiosidades
há 7 meses

É 2065, e você está na superfície empoeirada da Lua, trabalhando na mais recente instalação de painéis solares para ajudar a alimentar a rede de energia da cidade. De repente, a superfície começa a tremer. É um lunamoto? Ou aqueles adolescentes nascidos na lua estão fazendo uma festa na prefeitura de novo? Você olha para a Terra. Está tão acostumado com isso, que nem percebe mais, mas agora ela parece diferente. Você leva alguns segundos para descobrir o porquê. Ela parece estar diminuindo! Você começa a entrar em pânico. A Terra está se afastando! O chão treme novamente, e você descobre o que está acontecendo. A Terra não está se movendo. Mas, onde você está pisando, sim! A Lua rompeu sua órbita e está indo para as profundezas do espaço. Destino: desconhecido.

O mais estranho é que isso está acontecendo agora. E tem sido assim por muito tempo. Está afetando até a duração dos nossos dias. Ao final, a Lua se afastará completamente, interferindo de forma drástica nos oceanos do nosso planeta. Para analisar o que ainda vai acontecer, vamos voltar um pouco, para colocar tudo em perspectiva. A Lua está girando ao nosso redor há 4,51 bilhões de anos. Existem algumas teorias sobre como a Lua surgiu. A principal é que ela se formou quando um grande objeto colidiu com a Terra ainda jovem. O sistema solar primitivo era um lugar caótico. Vários corpos estelares foram criados e não chegaram a se tornar um planeta completo. Algum desses corpos, tão grande quanto Marte, colidiu com a Terra, jogando enormes pedaços da crosta terrestre no espaço. Nisso, a gravidade assumiu o controle e uniu esses elementos que estavam separados. Isso explica por que a Lua é feita de partículas mais leves do que as que encontramos aqui na Terra.

Bilhões de anos depois, e nós estamos muito bem-habituados a ter a Lua conosco. E isso afeta muito da nossa vida cotidiana. O efeito mais óbvio é o movimento das marés. A atração gravitacional que a Lua exerce no nosso planeta forma as marés. Essa força faz com que toda a água que está na superfície da Terra mais próxima da Lua se expanda para o lado. Uma explicação mais simples é que esse efeito empurra o líquido do topo do nosso planeta e também do fundo enquanto puxa para fora pelos lados e ao mesmo tempo. Mas a Terra também tem um efeito sobre a Lua, e chegaremos nisso em um minuto. Contudo, parece que a Lua não gosta tanto da nossa companhia quanto imaginamos. Ela está lentamente se afastando de nós, inclusive agora enquanto falamos! Bem, eu estou falando e você está ouvindo, mas estamos juntos nesta parada, uma grande família humana.

A Lua pode parecer pequena ou grande dependendo do ciclo lunar, mas na verdade ela tem pouco mais de um quarto (ou 27%) do tamanho da Terra. O diâmetro da órbita da Lua ao nosso redor é de quase 768.000 km, mas ele está aumentando cerca de 3,8 cm a cada ano. O que, é claro, significa que ela está se afastando por um fator de 3,8 cm a cada ano. Para ajudar a explicar o motivo, temos que analisar nossa relação com a Lua um pouco mais de perto. Ambos os corpos celestes estão presos pelas marés. Estamos sincronizados de tal forma, que sempre vemos o mesmo lado da Lua. O hemisfério que nunca vemos é muitas vezes citado como o lado escuro, mas isso não está 100% correto. À medida que a Lua orbita a Terra, diferentes partes estão sob a luz do sol ou na escuridão total em momentos variados. Essa alteração na iluminação é a Lua passando por suas várias fases.

A força das marés não afeta apenas os oceanos, mas também o corpo da Terra. Como a Terra é mais rígida em sua estrutura do que a água, as marés têm um efeito muito menor em matéria mais sólida, como a crosta terrestre. As forças das marés são interdependentes. O campo gravitacional da Terra também aplica forças de marés no corpo da Lua. E, como não estamos falando de fluido, o efeito é muito pequeno, mas existe. Essa troca de marés é bastante complexa. Os interiores de ambos os corpos são aquecidos por essas marés, assim como a força aplicada a qualquer objeto pode criar atrito ou gerar calor. Olhemos para o planeta Júpiter, por exemplo, e sua lua, Io. As forças das marés do planeta gigante são tão grandes, que a superfície de Io, que é sólida, sobe e desce várias centenas de metros em cada período de rotação. A quantidade de calor gerado é tão alta, que o interior de Io está provavelmente derretido. Como resultado disso, a superfície de Io é coberta de vulcões muito ativos. Esse é um dos lugares geologicamente mais caóticos do nosso sistema solar. Apesar do calor, definitivamente não é a melhor escolha para levar a família nas férias de verão.

Voltemos à Terra. Nosso planeta gira em torno de seu eixo uma vez a cada 24 horas. E a Lua realiza uma volta completa ao nosso redor em 27,3 dias. O arqueamento da Terra na verdade acelera a Lua. A Terra puxa a Lua para frente na sua órbita. Em outras palavras, o arqueamento das marés da Terra aumenta o raio da órbita da Lua ao nosso redor. Enquanto isso está acontecendo, a Lua puxa de volta o arqueamento das marés da Terra, diminuindo sua velocidade de rotação, mesmo que seja apenas uma fração. Uma fração muito pequena. Isso significa que daqui a 100 anos, um dia na Terra será [+] 2 milissegundos mais longo do que é agora. Pisque e você terá perdido o lance. Literalmente. Além disso, como a Terra é maior, a atração gravitacional é mais forte, fazendo com que a Lua acelere lentamente. Com o passar do tempo, sua órbita se tornará cada vez maior. Isso nos leva de volta àquela medida de 3,8 cm. Pode não parecer muito, mas, com o passar do tempo, essa medida se torna significativa.

Vamos avançar bilhões de anos a partir de agora. Veremos que a órbita da Lua estará tão grande, que não terá mais o prazer de nossa companhia. Permanentemente. O que acontecerá com nossos oceanos, então? Você já adivinhou. As marés não existirão mais. Isso fará com que os oceanos fiquem muito calmos para qualquer passeio de barco. Isto é, se ainda houver humanos em, an, 50 bilhões de anos. Antes disso, por conta das marés serem presas entre si, diminuindo a velocidade de rotação da Terra, é possível que a Terra desacelere o suficiente para ficar de frente para a Lua permanentemente. O que por sua vez, pode impedir que a Lua se afaste de nós. Imagine o efeito no nosso planeta se pararmos de girar. Uma metade estará sempre na escuridão e, a outra, na luz. Isso vai atrapalhar nossas estações e a vida natural. Embora pareça dramático, e a perda das marés seja um fenômeno significativo, há outras coisas mais sérias para se preocupar antes disso.

Em um décimo desse tempo, 5 bilhões de anos, nosso Sol provavelmente consumirá tanto a Lua quanto a Terra. Sim, nosso Sol vai dar uma festa do tamanho da galáxia, do tipo que nosso sistema solar nunca viu. E todos estão convidados. O Sol está continuamente queimando o hidrogênio no seu núcleo e transformando-o em hélio. No momento, ele está aproximadamente na metade do seu ciclo de vida. No final, ficará sem hidrogênio no seu núcleo. O Sol acabará se tornando uma estrela gigante vermelha. Sua superfície está prevista para chegar até Marte. E é aí que as forças gravitacionais assumirão o controle. A Terra será arrastada para esse novo Sol e se desintegrará. O Sol fica 10% mais brilhante a cada bilhão de anos, então, muito antes de o planeta ser totalmente destruído, o calor terá derretido qualquer gelo e cozinhado quase tudo que vive aqui. Todos os nossos oceanos também terão secado. Assim, enquanto o planeta ainda tem um ciclo de vida de 5 bilhões de anos, tudo que vive nele pode ter apenas um bilhão de anos.

Vamos recapitular: a Lua pode se afastar da Terra, mas o Sol terá exterminado ambos muito antes que as marés deixem de existir. Vamos nos afastar desse assunto quente e retornar ao relacionamento de irmãos da Lua com a Terra. O fato de a Lua ter o mesmo período de rotação que o período orbital da Terra e da Lua não é coincidência. Ao longo de bilhões de anos, o pareamento das marés das duas levou à sincronização que vemos hoje. E, no entanto, ainda está evoluindo. A Terra está diminuindo seu período de rotação. Finalmente, ele vai corresponder ao da Lua, e eles serão exatos. E, como mencionei, os dias na Terra também se tornarão mais longos. Em 2 milissegundos a cada século. Para haver um impacto significativo, levará muitos milhares de anos. No entanto, é bom pensar que tanto a Terra quanto a Lua afetam uma à outra de muitas maneiras poderosas e benéficas. É quase como se elas estivessem simplesmente saindo juntas, como uma dupla de velhas amigas intergalácticas.

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