5 Razões pelas quais eu não quero mais ser uma “boa menina”, e não aconselho as outras a serem

Mulher
há 2 anos

Muitas de nós fomos criadas para sermos “boas meninas”. Éramos as crianças que não sobem em árvores, sempre fazem as camas, estudam muito e não contradizem os mais velhos. Não são gananciosas, suportam obedientemente que puxem suas marias-chiquinhas sem reclamar, porque tudo isso é uma vergonha. Meninas muito educadas, prontas para ajudar qualquer pessoa, mas nunca a si mesmas.

Por longos 30 anos eu tentei ser uma “boa menina”, e agora eu a expulso de mim, gota a gota, para finalmente ser feliz. Meu nome é Masha e contarei aos leitores do Incrível.club como me curo dessa síndrome, e por que nunca a passarei para meus filhos.

Como eu era uma “boa menina” e o que resultou disso

Sempre fui uma criança sem problemas: ajudava minha mãe nas tarefas de casa, não fazia birra nas lojas gritando “Compre!”, evitava as poças para não manchar minha roupa. Desde criança me ensinaram que “a modéstia é a qualidade principal”, que “você tem que ser diligente” e que “não deve pedir muito”. Mas eu queria tanto aquela boneca, como a da minha amiga; ou subir à cerejeira para pegar os frutos mais maduros; e defender-me do menino que estava me beliscando. Mas as “boas meninas” não se comportavam assim.

Por que era tão importante viver de acordo com esse título? Muito simples: se eu me comportasse de alguma forma errada do ponto de vista dos adultos, eles me diziam que eu desonrava meus entes queridos, e às vezes até paravam de falar comigo, de forma totalmente desafiadora. Nesses momentos, eu me sentia desnecessária e rejeitada. Ficou muito claro para mim que havia muito pouco amor e aprovação no mundo, os quais deviam ser conquistados a qualquer custo.

Aos 30 anos, eu tinha no meu armário uma pilha de cartas de honra ao mérito, uma montanha de troféus, um diploma de graduação com louvor e um pacote de antidepressivos. Eu ia trabalhar sem remuneração nos finais de semana e feriados, ajudava meus pais no jardim, resolvia problemas de amigos o tempo todo e me sentia como um limão espremido. Quem me ajudou a perceber que o caminho da “boa menina” havia me conduzido a um beco sem saída foi uma nova colega.

Qual é a diferença entre uma “boa menina” e uma menina comum

A novata, Lídia, e eu fomos colocadas no mesmo escritório. Ela era uma guru da contabilidade: fazia tudo com clareza e rapidez, sem errar nunca. “A mesma ’boa menina’ que eu”, pensei, mas não era o caso. Quando a contadora-chefe jogou na mesa dela uma montanha de documentos antigos para ela verificar, Lídia pegou essa pilha e a devolveu com as palavras: “Isso não faz parte das minhas funções de trabalho.” Eu tinha certeza de que ela seria demitida, mas esse trabalho foi simplesmente confiado a um especialista mais complacente.

Lídia permitia-se fazer o que eu até mesmo temia pensar. Ela não compareceu ao dia da limpeza porque tinha um dia de folga, recusou-se a dançar o cancã com todo o departamento de contabilidade na festa corporativa de Ano-Novo e nunca atendeu ao telefone do trabalho após o expediente. Lídia sabia não só “parar”, mas também relaxar: ia aos shows, andava de bicicleta com os amigos, era feliz e amada, embora não procurasse agradar a ninguém.

Esta é a diferença entre as meninas “comuns” e as “boas”: elas também podem ser as melhores em sua área de atuação, alcançar grandes resultados e ser respeitadas. Mas elas têm uma motivação diferente: elas fazem isso não por uma questão de aprovação universal, mas porque querem ou consideram isso importante. Elas veem claramente seus limites e não permitem que ninguém os viole. Desde que a “boa menina” corresponda às expectativas dos outros, a comum atinge seus objetivos e realiza seus desejos.

5 razões para deixar de ser uma “boa menina”

Depois de conhecer Lídia, reavaliei muitas coisas na minha vida e comecei a expulsar essa “boa menina” de mim. O processo acelerou-se quando eu tive um filho: entendi claramente que não desejava tal destino a ele. Formulei cinco razões pelas quais não quero mais corresponder a esse título, o qual não aconselho a ninguém.

1. A Lei do Boomerang não funciona

Costumava ter a certeza de que, se me comportar de forma exemplar e sempre ajudar aos outros, em troca terei a mesma coisa. Mas esse não é o caso. A vida me provou exatamente o contrário: as pessoas acostumam-se ao fato de que é possível literalmente escravizar uma “boa menina”, e usar isso de forma imprudente, sem oferecer nada em troca.

Cuidar dos filhos da sua irmã enquanto ela está no salão de beleza? Facilmente! Ajudar a um colega com um relatório? Sem problema!. Dar ao seu irmão dinheiro para as férias? Aqui está! Mas quando precisei de ajuda, descobri que outras pessoas não resolveriam meus problemas: elas tinham um monte assuntos e tarefas próprios. O bem nem sempre volta e você não deve contar com isso.

2. Não saber dizer “não” cria problemas

Coisas ruins costumam acontecer com as “boas meninas” porque elas não sabem recusar. Elas obedientemente deixam os outros copiarem o dever de casa, embora possam ter a pior nota por isso. Elas encolhem nervosamente, mas ficam em silêncio quando um colega começa a mostrar sinais inequívocos de atenção. Elas têm medo de ofender os outros, mas permitem que outros as machuquem.

Às vezes, a incapacidade de dizer um “não” leva a situações perigosas. Eu me lembro bem, eu tinha 7 anos e estava brincando sozinha na rua de casa. De repente, um homem com uma caixa nas mãos aproximou-se e disse: “Ajude-me a abrir a garagem e eu lhe mostro os coelhos.” Tive medo, mas como uma “boa menina”, obedeci. Peguei a chave dele, abri a garagem e fiquei pasma: eram cerca de 20 gaiolas com coelhos dentro. Eu acariciei o primeiro que encontrei e saí correndo. Até hoje acredito que tive sorte.

3. Esforçar-se por ideais inatingíveis ameaça colapsos nervosos

“Boas meninas” fazem tudo “perfeitamente impecável”: desde lavar a louça até escrever uma dissertação. Caso contrário, elas serão roídas por um sentimento de culpa por não ter feito o seu melhor. Mas tentar ser a filha, mãe, esposa, colega e namorada perfeitas ao mesmo tempo é extremamente exaustivo.

Demorou muito para eu perceber que não sou uma nota de $100 para todo mundo gostar, nem um robô para não cometer erros. Lembro-me de como chorei quando não me tornei a melhor funcionária do ano, quando o nosso artesanato para um concurso no jardim de infância ficou em segundo lugar e quando meu marido uma vez concluiu que alguns pratos de sua mãe eram mais saborosos do que os meus. Naquela época foi uma tragédia para mim, e agora estou aprendendo a me relacionar com tudo mais facilmente.

4. As “Boas meninas” têm dificuldades em construir relacionamentos fortes

Desde a infância, ficou claro para mim que o amor deve ser conquistado. É que não sou digna dele: nem do parental, nem de qualquer outro. Portanto, tendo amadurecido, mergulhei de cabeça em relacionamentos complexos, onde o homem devia ser conquistado, salvo, perdoado, e eu devia mostrar todas aquelas qualidades que desenvolvidas ao longo dos anos.

Eu me lembro do meu primeiro amor. Tínhamos 22 anos. Eu alugava um apartamento, trabalhava, carregava sacolas com comida do supermercado, cozinhava, e ele facilmente aparecia às duas da manhã na companhia de amigos e amigas, gritando: “Masha, sirva a mesa pra gente!” E eu ficava em silêncio, aguentava, esperava que ele me apreciasse e mudasse. Tal relação não me parecia algo ultrajante, porque o amor deve ser conquistado, sofrido — como poderia ser de outra forma?

5. Ninguém valoriza aquelas que subestimam suas habilidades

Sempre foi difícil para mim avaliar adequadamente meu próprio trabalho. Costurei uma blusa, parece caber bem. Mas até que ninguém a elogie, parece que algo está errado. Mas se, de repente, me pedirem para fazer uma igual, direi “Fácil!”, passarei algumas noites sem dormir e depois ainda terei vergonha de aceitar dinheiro pelo meu trabalho, porque não fiz nada demais.

Pedir aumento do salário também é constrangedor. Eu sempre esperava que o próprio chefe notasse e apreciasse o quanto eu faço pela empresa, concedesse a mim um bônus, mas por algum motivo isso nunca aconteceu. E só agora estou aprendendo a olhar para o resultado do meu trabalho com desapego e pensar: “Se outra pessoa fizesse, quanto custaria esse trabalho?”

Como é a vida após a “boa menina”

Claro, não é tão fácil expulsar a “boa menina” de sua visão de mundo já estabelecida. Ela vive em hábitos, em atitudes parentais, em coisas do dia a dia. Mas vários anos de trabalho de autoconhecimento não foram em vão. Agora não é tão difícil para mim dizer “não” como resposta a um pedido para buscar meu primo de segundo grau à noite no aeroporto , de desistir do trabalho aos fins de semana ou não terminar o prato se não tiver vontade.

Eu, lentamente, construo meus limites nos relacionamentos com as pessoas. Muitas delas não gostam, mas há um progresso. A sogra parou de vir sem avisar quando é conveniente para ela, e eu não hesito mais em devolver conselhos não solicitados a quem os dá. O mundo ainda não desabou, mas eu fiquei mais calma e mais confiante em mim mesma.

Você já conheceu “boas meninas”? Ou talvez você mesma seja uma delas?

Imagem de capa Depositphotos.com

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Boas meninas vão pro céu, mas quem disse que eu quero ir pra lá. .. li em um muro uma vez

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