Eu não tive um filho para ficar sofrendo sozinha. Mas, por algum motivo, todos ao meu redor acham que essa é uma cruz que as mulheres devem carregar

Histórias
há 8 meses

Outro dia, li uma história interessante na Internet. O marido foi dar banho no bebê à noite e disse à esposa: “Ah, pelo menos coloque a louça na máquina de lavar enquanto isso”. E ela respondeu que não, pois iria descansar um pouco. O cara ficou surpreso: “Pensei que o tempo que você fica com a criança fosse o seu tempo de descanso”. E eu, assim como centenas de outros internautas nos comentários, fiquei furiosa.

A discussão em torno da história, que o autor levou como uma piada, foi levada a sério. Porque o assunto, claro, não é cômico. As mulheres já estão cansadas de explicar por que a licença-maternidade, embora seja considerada “férias” por alguns, não o é, por que ficar com uma criança não é um entretenimento, mas sim um trabalho.

E também sempre há dois pesos e duas medidas: se um homem passa um tempo com o filho, isso é considerado um ato “heroico”, já a esposa, que passa o tempo todo diariamente, ao que parece, está apenas bem acomodada em casa. Eis o que escreveu uma pessoa nos comentários: “Se o tempo com o bebê é um momento de descanso, então deixe o marido, já bastante descansado depois de dar banho no pequeno, lidar com a máquina de lavar louça depois.”

Eu mesma vivenciei essa experiência completa de ser mãe, e também observei outras pessoas. Dei à luz meu primeiro filho não muito cedo, aos 27 anos, e pensei por muito tempo antes de decidir embarcar na maternidade. Eu conheço muito bem a mim mesma — não consigo tolerar desconforto. Não dormia, não descansava — me escondia de tudo e de todos ao meu redor. Ficava irritada, com raiva, resmungando e me continha até sentir minha cabeça doendo, para não descontar nos outros.

Inclusive, conversei sobre isso com meu marido, perguntei: “Vou ter falta de sono, não vou conseguir comer normalmente e, durante o banho, ficarei frenética lendo um livro. Filho pequeno é um estresse contínuo. Você acha que o normal é o bebê ter uma mãe ‘desequilibrada’? É isso que ele merece?”. Bem, eu não sou daquelas fissuradas com o passar dos anos, ainda estou na “flor da idade”. E, no geral, acho que toda mulher deve ponderar seriamente se está pronta para dar à luz, porque são alguns anos de vida de intenso desgaste após a chegada do pequeno. Eu não estava pronta para isso, mas meu marido e meus parentes me convenceram.

O que posso dizer... Os pais do meu marido, que eram os que mais reclamavam de querer ter netos, nunca levaram o bebê para passear no carrinho. Eles só vinham para tomar chá e comer bolo e me dar conselhos vazios. Minha sogra segurava o neto nos braços por dez minutos e pronto — ela ficava cansada. Meu sogro me olhava de longe, ele tem medo de crianças pequenas, sabe? Quando o neto crescer, talvez...

E meu marido? Para todos os meus pedidos de aliviar um pouco minha carga, minhas reclamações sobre o cansaço, eu ouvia em resposta: “Você é mãe! Como pode estar cansada do seu próprio filho?”. E, de todo jeito, ele não podia ajudar. Estava na academia, precisava descansar os músculos. Porém, para mim, que carrego um bebê pesado por dias a fio, o exercício diário era certamente algo positivo.

Tentei falar com minha sogra: talvez ela conversasse com o filho, ele a ouvisse. Obtive em resposta: “Você quer que ele chegue do trabalho e comece a mexer na casa? Ele ganha dinheiro — ele deveria descansar, e você  fica brincando com a criança”. E enquanto eu engolia em seco, incapaz de encontrar palavras para responder, ela disparou: “Você é egoísta. Desafia o rapaz — um homem de 30 anos — que por um minuto vai à academia e pesca com os amigos. E por que ele deveria ficar em casa, se você não é capaz de organizá-la? Você mesma deu à luz — sofra as consequências”.

Quando reclamei com minha própria mãe que meu marido não estava disposto a ficar com o filho, a me deixar pelo menos algumas vezes livre para nadar na piscina, em vez de palavras de apoio, ouvi: “Sim, você está presa! Ele traz dinheiro, não trai — o que mais você quer? Você sabe com que tipo de gente ruim vivem por aí? Você quer acabar sendo uma divorciada sem nada?”

Decidi que uma amiga casada que tem dois bebês mais velhos me entenderia melhor e me daria alguns conselhos. “Os homens realmente não se interessam por bebês”, ela me disse. “Pense bem, o que eles vão fazer com eles? Não sabem brincar com os brinquedos nem atividades educativas, e vestir e alimentar corretamente o bebê para eles é um problema.Fora isso, o pequeno chora e o marido não entende o que há de errado. O meu também não queria passear com os filhos, mas agora eles vivem juntos, vão ao cinema e andar de bicicleta, e eu posso descansar”.

Bem, alegar que cuidar do pequeno “não é interessante” é, sem dúvidas, uma “boa” desculpa. Não seria estranho pensar que a natureza tenha criado um mecanismo especial em nós, mulheres, que faz com que toda fofura ou até mesmo a troca das faldas do bebê seja irresistível. O que falar de quando preparamos a papinha e o pequeno, em seguida, derruba tudo em nós?

Resumindo, nós nos divorciamos. Eu estava esgotada por causa dessa atitude dele, e o casamento desmoronou. Meu marido começou a insinuar que eu costumava ser bem diferente: costumávamos praticar esportes juntos e sempre havia algo para conversar. Não estava indo para frente, dizia ele, todos os meus interesses giravam em torno da criança. Alegava também que me tornei um tipo de pessoa mal cuidada, e estava na hora de perder peso — afinal já tinha se passado um bom tempo após o parto. Eu costumava ser tão bonita e inteligente, mas agora estava completamente desleixada, segundo ele. Contou ainda que um amigo dele viu uma garota nas redes sociais que tinha três filhos, era um doce e tinha tempo para tudo. Foi quando eu finalmente explodi.

Alguns anos depois, eu me casei pela segunda vez e meu companheiro começou a falar sobre ter um filho. Ele também prometeu que ajudaria. Porém, eu já estava na casa dos 30 anos, meu pequeno tinha acabado de terminar o ensino fundamental, já estava começando a fazer as coisas sozinho. Eu não queria voltar àquele pesadelo!

Mas a vida tinha seus próprios planos — eu engravidei. Lembro-me de que chegamos da maternidade e estávamos de pé ao lado do berço. Eu disse ao meu marido: “Eu carreguei e dei à luz, mas entenda que a criança não deve parar a minha vida”. Ele riu: "Ou o quê? Você vai colocá-la de volta? “Ao que respondi calmamente: “Vou deixar você. Ou nós dois somos pais, ou você não é um parceiro para mim, mas apenas um lastro, que também precisa servir para alguma coisa”.

E meu amado se dedicou com força total. No entanto, seu comportamento não foi compreendido por todos. Minha nova sogra começou a bater as mãos e a gritar: “Como você pôde deixar seu marido sozinho com um bebê no colo? Você tinha de ir à manicure?! Você está em casa — quem estará lá para admirar suas mãos?” Não dei desculpas, mas perguntei de forma sarcástica: “Você acha seu próprio filho tolo? Eu, pelo visto, consigo descobrir qual ponta da fralda colocar e como colocar a chupeta, mas ele não consegue?” A mulher cerrou os dentes de raiva, mas não conseguiu pensar em nada para dizer.

Mas foi minha própria mãe quem me deixou chateada novamente. Uma vez, conversei com ela por videochamada enquanto ia encontrar minhas amigas. Disse-lhe que tinha deixado as crianças para passar a noite com meu marido — as meninas e eu iríamos sair da cidade para um spa resort. Estava animada, dizendo que era hora de descansar e tirar a “poeira”. Ouvi: “Que tipo de mãe você é que abandona seus filhos? Você vai levar um homem de ouro à loucura ao ponto dele deixá-la. Ele a escolheu, uma divorciada sem nada na vida, e o que você está fazendo?”

Minha amiga de anos também não me entendeu. Ela disse: “Se você precisa tanto descansar, então pegue as crianças, vá para a praia e tire férias. Como você consegue ir a um spa resort sem elas?”

Aí eu realmente não aguentei. Ela também é mãe, mas não acha que uma criança é um trabalho, e que você deve descansar do trabalho às vezes, e não arrastá-lo com você para a praia. E ela sabe que meus filhos veem o mar com frequência. Isso sem mencionar que meu marido pode ter “férias” maravilhosas sozinho quando quer — ele gosta de esquiar nas montanhas, enquanto eu fico esquecida. Ela sabe, mas ainda assim me condena. Não é apropriado que uma mulher se comporte dessa maneira.

Portanto, não é apenas a geração mais velha que acredita que cuidar de um bebê “em tempo integral” não dá muito trabalho. Como se existisse uma lei da natureza: uma mãe não pode se cansar de seu filho — ele é uma pequena parte de você. Ou como se ela não precisasse descansar. E deixar o pai com os filhos fosse um crime.

Um homem pode ir para qualquer lugar por uma semana e a mulher não vai ter problema nenhum se virando sozinha, mas se for a esposa que sair por esse tempo — será o fim do mundo. Afinal, é como se o pai não conseguisse lidar com o que a mãe consegue facilmente. Se você não ajuda sua esposa, está tudo bem, todos o justificam; se você ajuda, você é apenas um herói, mas sua esposa é digna de censura, e a mãe dela ainda é taxada de não ter sido muito boa e ter dado o exemplo.

E o fato de que, quando a casa e a criança caem inteiramente sob a responsabilidade da mulher, ela acaba ficando esgotada e deixa de ser interessante tanto para si mesma quanto para o marido — aparenta ser algo insignificante. Eu não quero ser assim. Que todas as más línguas do mundo me critiquem, mas eu também tenho o direito de descansar. E não é durante o tempo que passo com meus filhos.

Comentários

Receber notificações
Sorte sua! Este tópico está vazio, o que significa que você poderá ser o primeiro a comentar. Vá em frente!

Artigos relacionados