Como um homem salvou 20 pessoas presas em um elevador subterrâneo

23 de março de 1993. Vinte horas e quinze minutos. Vinte e um mineradoress estão descendo no elevador carinhosamente chamado de “Mary Ann”, se preparando para o turno da noite. A viagem corre bem até que, de repente, o chão começa a tremer e o elevador para. Os homens se olham. Rassie Erasmus, o minerador mais velho de cabelos grisalhos, diz aos outros para não se preocuparem, pois o Mary Ann começaria a se mover em breve.

No entanto, Mario Cockrell, seu colega mais jovem, não estava tão otimista. Ele não apenas ouviu algum som estranho, como se... Ah não, a enorme corda de aço estava se acumulando no teto da gaiola do elevador, bem acima de suas cabeças! E o guincho que baixava a gaiola... Espere, por que ele ainda está funcionando? Algo estava bloqueando a descida. Os cabos no teto não eram fortes o suficiente para segurá-los. Mesmo as mais leves vibrações de dentro poderiam levá-los à queda livre! A gaiola estava a seiscentos e dez metros acima do fundo, o que é a altura de duas Torres Eiffel! E não havia nada que pudesse impedi-los de cair...

Mario empurrou Rassie para o lado e usou a força para abrir a porta do Mary Ann. Mario era forte e habilidoso. Ele perdeu o pai quando tinha apenas doze anos e teve que aprender como sobreviver e cuidar de dez irmãos e irmãs — assim como de si mesmo. Durante a adolescência, ele costumava caçar com seus amigos bosquímanos, usando apenas arcos e flechas caseiros. Mais tarde, Mario se tornou preparador físico, dedicado ao boxe amador. Não muito depois disso, ele conheceu Connie, uma moça belga e sua futura esposa.

Tudo o que Mario sempre quis foi conseguir alguns hectares de terra onde pudesse morar com Connie e seus dois filhos. Ele começou a economizar para a vida dos seus sonhos logo após conseguir um emprego na mina. E olhe para ele agora, parado e olhando pelas portas abertas do elevador. Havia um abismo terrível de um metro e meio entre o Mary Ann e a parede de concreto na frente deles. À esquerda, ele viu um espaço vazio com uma linha de seis eixos adjacentes. Eles eram usados ​​por outros elevadores.

Os mineradores tiveram sorte, pois o elevador parou no nível exato de uma viga de reforço horizontal onde uma pessoa poderia ficar em pé.

Ainda assim, havia esse poço escuro e assustador que eles precisavam cruzar. Mario saiu. Na metade do caminho ao redor do elevador, ele chutou alguns cascalhos de cima da beirada. Silêncio. Nenhum som deles batendo no fundo. Ele viu tubos verticais do lado de fora da viga. O poço parecia sem fundo, mas era cercado por conjuntos de vigas transversais a cada três metros. A cada sessenta metros, havia uma plataforma com um túnel iluminado que levava a uma mina... Mas era noite, e não havia ninguém lá para ajudar, então os mineiros estavam sozinhos.

De repente, tudo começou a tremer. Parecia um trem distante! Algo estava se aproximando e o que quer que fosse, ficava cada vez mais alto. Mario então percebeu: a gaiola número seis, que carregava grandes quantidades de cascalho para misturar o cimento, estava caindo no poço!

Provavelmente, ela enroscaria nas voltas do cabo de cima do elevador e arrastaria o Mary Ann para baixo! Mario estava apavorado, mas não havia tempo para pânico.

Ele olhou em volta novamente. Cerca de dez metros abaixo do elevador, havia a estação para o... “Nível trinta e sete”? Isso significava mil cento e vinte metros abaixo da superfície. “Lá tem um telefone e um botão de emergência. Podemos pedir ajuda!” Os pensamentos corriam pela cabeça de Mario. “Mas como chegar lá?”

E aqueles tubos verticais? Eram um pouco grandes demais para se segurar, mas havia um cano d’água de aço galvanizado mais fino. Ele o agarrou, respirou fundo e desceu. O tubo de repente começou a se inclinar para longe da parede. Mario ficou apavorado, mas logo se deixou escorregar para o ponto em que o cano era mais seguro. Finalmente, ele acertou o ponto, mas ainda havia mais um metro e meio entre ele e o telefone. Ele saltou e agarrou um cano de esgoto do outro lado. Ele conseguiu, se impulsionando para a frente!

Ele ouvia os mineradores gritando. A gaiola seis estava se aproximando. Rápido, o alarme, bem ali, na caixa vermelha! Mario quebrou o vidro com o punho e apertou o botão. Ele pegou o telefone. Agora está falando com o supervisor do elevador, dizendo-lhe para não mover nada. “Apenas mantenha os freios acionados!” Ele gritou e rapidamente voltou para o elevador da mesma forma que desceu. Seus colegas ficaram apavorados e surpresos ao vê-lo. “Está tudo bem, vocês podem descer, está tudo parado”, disse ele, mas eles ainda estavam paralisados de medo.

Mario pegou a sacola dos sanduíches e pediu aos homens que o seguissem enquanto descia pelo cano mais uma vez. Então ele parou. Os trilhos-guia verticais do elevador estavam torcidos! Ah não, todos eles estavam sendo mantidos por apenas alguns parafusos e somente alguns centímetros de um metal fino e instável.

Daquele momento em diante, era arriscado até mesmo respirar. Os homens ainda estavam com muito medo de se movimentar, então Mario pegou um dos mineradores menores e o empurrou em direção ao cano. É uma emergência, todos precisam sair o mais rápido possível!

Ele puxou o homem da borda. Ele estava apavorado, mas depois que quase caíram, ele agarrou nos canos. Quando aterrissaram, Mario teve que pensar em como cruzar o abismo. O minerador estava com muito medo de pular, então Mario o agarrou, gritando instruções para ele. “Solte o cano!”

Quando eles passaram pelo fosso, Mario jogou o minerador na plataforma. Ao mesmo tempo, usou o ímpeto para se lançar e voltar para resgatar o resto dos colegas.

As mãos dele estavam empoeiradas e doendo, mas eles tinham que seguir em frente. O minerador seguinte era um pouco mais pesado, então Mario precisava pensar em uma nova maneira de levá-lo para o lado seguro. Um truque de bar! Ele colocaria os calcanhares em uma cadeira e os ombros em outra e esticaria o corpo como se fosse uma ponte. As pessoas ficariam em pé sobre a barriga dele. Isso iria lhe render alguns pequenos prêmios! Bem, não tão divertido neste momento, além disso, em vez de cadeiras, há um abismo infinito abaixo deles, mas eles têm que seguir em frente, não há outra opção.

Ele se espichou sobre o poço e literalmente se tornou uma ponte humana. O mineiro não queria atravessar no início, mas não era lugar nem hora para pensar muito. Ele deu dois passos inseguros e depois correu para cima de Mario. Havia duas pessoas do lado seguro!

Quando os outros mineradores que essa ideia de ’bar’ estava funcionando, foi mais fácil para eles irem em frente. Um por um, eles estavam descendo e cruzando sobre o corpo incrivelmente forte do seu amigo para chegar ao lado seguro. Depois de um tempo, 13 deles estavam seguros! Mario subiu e desceu 16 vezes e estava ficando sem forças. Seus braços doíam e tremiam, ele fechou os olhos e quis parar e recuperar o fôlego. Mas seus colegas precisavam dele.

Ele reuniu o resto da sua força de vontade e escalou mais algumas vezes para ajudar os outros a cruzarem. Rassie foi o último. Ele estava apavorado, mas ainda se forçou a pisar nos ombros de Mario. Eles estavam descendo e, de repente, Mario escorregou pela primeira vez naquela noite. Ah não! Sua empunhadura diminuiu, mas, felizmente, suas botas bateram na viga mestra e eles desceram com segurança. Rassie estava olhando para Mario fazendo a ponte de seu corpo pela última vez naquela noite. Ele foi reto firmemente, enquanto outros mineradores estavam esperando. Eles puxaram ele e Mario para o chão e começaram a chorar e gritar. Eles sobreviveram! O pesadelo acabou, graças a Mario, eles fizeram o impossível!

E Mario estava aflito. Quando quebrou a caixa vermelha para pressionar o botão do alarme, quebrou um osso da mão, mas por causa de tudo, não deu tempo nem para pensar na dor.

De alguma forma, ele pegou o telefone mais uma vez e disse ao supervisor que eles estavam seguros. Os engenheiros e gerentes da mina estavam a caminho para ajudá-los. Parecia que o Mary Ann havia parado semanas atrás, mas toda essa agonia durara apenas duas horas.

Foi uma experiência de pesadelo, os piores cenários ainda estavam diante de seus olhos. Mas eles estavam finalmente seguros agora. Mario pegou sua sacola de sanduíches e tirou a garrafa térmica. “Um pouco de chá, pessoal?”