A origem de 10 delícias que amamos e comemos no dia a dia (tem hambúrguer, batata frita e brigadeiro!)

Receitas
há 1 ano

Quem resiste a um pão de queijo quentinho no meio da tarde? Ou a um estrogonofe preparado com todo amor? Bife à milanesa crocante? Hmmm... pintou domingão à noite? Tem de ter pizza!

Essas e outras comidas gostosas que amamos não são apenas cheias de sabor. Têm histórias incríveis e nem nos damos conta delas quando pedimos um pudim de leite de sobremesa ou roubamos um brigadeiro na festinha antes da hora do parabéns.

Nós, aqui no Incrível.club, também ficamos curiosos e fomos pesquisar a origem de várias delícias sem as quais não podemos viver. E no final, um bônus especial sobre um prato que tem preparos bem diferentes em várias regiões do Brasil.

10. Estrogonofe

O estrogonofe é russo e sua primeira receita aparece no livro Um Presente para Jovens Donas de Casa, da chef Elena Molokhovets, lançado em 1871. O preparo original, criado em homenagem à rica família Stroganov, leva cubos de carne empanados na farinha, molho de mostarda, caldo de legumes e creme azedo (leite batido com limão).

A receita foi sendo modificada até chegar aos dias de hoje e à versão brasileira, com a adição de molho de tomate (ou ketchup), de champignons e do prático creme de leite, além da cebola no refogado. Os brasileiros também não dispensam uma porção de batata-palha para acompanhar.

Quem introduziu o estrogonofe no Brasil foi o austríaco Barão von Stuckard, que servia o prato na boate Vogue, inaugurada no Rio de Janeiro em 1947. Na época, era uma comida sofisticada e cara. Hoje, qualquer um prepara um delicioso estrogonofe em um piscar de olhos.

9. Bife à milanesa

O nome já diz tudo: o bife à milanesa é relacionado à cidade de Milão, na Itália. Mas há controvérsias sobre sua origem. Os austríacos dizem que a invenção é deles, da cidade de Viena, onde nasceu o wiener schnitzel, de preparo similar: carne empanada com farinha de trigo, farinha de rosca e ovo.

Alguns historiadores acreditam que esse tipo de bife empanado seja de origem bizantina e tenha sido levado primeiro para a Península Ibérica, antes de ficar famoso na Itália. Mas os italianos parecem mesmo levar a melhor na disputa. O historiador Pierro Verri, autor de História de Milão, cita um documento de 1148 em que aparece a vitela empanada, descrita como lombus cum panitio.

A receita tradicionalíssima é preparada com vitela, mas com a chegada dos imigrantes italianos ao Brasil, no século 20, improvisou-se à vontade. Hoje fazemos milanesas com uma variedade de carnes, com frango, com camarão e até com banana e queijo provolone.

8. Batata frita

Existe uma disputa entre Bélgica e Holanda sobre a criação das batatas fritas. Uma das histórias é a de que os pescadores do rio Meuse (que passa pelos dois países) tinham o costume de fritar peixes. No inverno, quando as águas estavam congeladas e a pesca ficava escassa, cortavam batatas em forma de peixinhos, para quebrar o galho. Isso lá pelos idos do século 17.

Mas o historiador Paul Ilegems, curador do Museu da Batata Frita em Bruges, na Bélgica, acredita que os espanhóis é que levam a melhor nessa briga. Ele assegura que a primeira mulher que fritou batatas foi Santa Teresa D’Avila (1515-1582). Faz sentido: a Espanha foi o primeiro país a cultivar batatas, descobertas na América do Sul, justamente na época de Santa Teresa.

Faltam documentos que comprovem quem foi a primeira pessoa que jogou batatas frescas no óleo quente para, em seguida, delirar com tanta crocância. Mas temos de concordar em uma coisa: essa foi uma “santa” ideia!

7. Hambúrguer

Acredita-se que o hambúrguer tenha origem no steak tartar, iguaria à base de carne crua, levada a regiões do sul da Rússia invadidas pelos mongóis nômades no século 13. A carne era mantida sob a cela dos cavalos do exército do conquistador Gengis Khan e acabava virando uma pasta depois de tanto trote. Apesar de subjugados, os russos gostaram e adotaram o prato.

A relação do nome do lanche com Hamburgo não é casual. Essa cidade da Alemanha foi um dos principais portos europeus a partir do século 17, recebendo uma grande quantidade de navios russos, que teriam levado para lá a receita do steak tartar. No final do século 18, a cozinheira inglesa Hannah Glasse descreveu em seu livro o hamburgh sausage, carne moída temperada com várias especiarias, porém assada e servida sobre uma fatia de pão torrado.

De Hamburgo também saiu a maior parte dos imigrantes europeus para os Estados Unidos, no final do século 19, tendo Nova York como primeiro destino. Rapidamente o hamburger steak tornou-se um prato bem popular nos restaurantes da cidade americana. A referência mais antiga que se conhece é a do Delmonico’s Restaurant, que incluiu o hambúrguer no cardápio em 1873.

Saboroso, barato, rápido e prático, o hambúrguer não demorou a ganhar todos os Estados Unidos e, no século 20, espalhou-se pelo mundo. No Brasil, quem introduziu essa delícia foi o tenista e empresário americano Robert Falkenburg. Ele abriu a primeira loja da rede Bob’s em 1952 no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro. Na época, teve gente dizendo que aquela moda não ia pegar...

6. Pão de queijo

Da história do pão de queijo, infelizmente, não se sabe muita coisa. Porém, quase todo brasileiro concorda: essa delícia, que vai tão bem com café, nasceu em Minas Gerais. Historiadores da nossa gastronomia acreditam que a receita exista desde o século 18.

Você pode se perguntar: “Por que pão de queijo, se ele não é exatamente um pão?” A carência de ingredientes no Brasil colonial explica essa charada. Como o trigo ainda era bem raro por aqui naquela época, usavam-se como substitutos os derivados da mandioca, que os índios sabiam muito bem processar.

A criatura que teve a ideia de misturar o polvilho de mandioca ao queijo e levar ao forno, no entanto, esqueceu de escrever o feito no seu diário. Séculos mais tarde, quem popularizou para valer essa maravilha foram os filhos da mineira Arthêmia Chaves Carneiro, a senhora de óculos que aparece no logotipo da Casa do Pão de Queijo. Eles abriram a primeira loja em São Paulo, em 1967, e hoje a rede está espalhada por todos os Estados do Brasil.

5. Pizza

Italiana? Nem tanto... Está certo que foi na Itália que a pizza ganhou o estilo que conquistou o mundo, mas outros povos já preparavam a receita há muito mais tempo. No século 6 antes de Cristo, soldados persas faziam suas “pizzas” sobre os escudos, cobrindo-as com queijo e tâmaras. Há evidências arqueológicas de iguarias similares em vários cantos do mundo.

Em Nápoles, na Itália do século 16, comia-se nas ruas um pão redondo já conhecido por pizza. Mas foi com a chegada na Europa do tomate, típico da América, que tudo mudou de figura. Os italianos ficaram loucos com a novidade, levada do México pelos conquistadores espanhóis, e aperfeiçoaram seu uso. Incluindo o molho da pizza, claro. O mais antigo livro com receitas à base de tomate foi publicado em Nápoles, em 1692.

Nápoles segue sendo a grande referência da pizza — foi onde nasceu a receita da margherita, por exemplo, com muçarela, tomate e manjericão, criada em 1889 em homenagem à rainha da Itália. No começo do século 20, os imigrantes trouxeram a pizza ao Brasil. Depois de se tornar popular no Estado de São Paulo, ela ganhou o País, nas mais diversas adaptações de ingredientes e temperos.

4. Feijoada

É comum ouvir a história de que os escravos criaram a feijoada brasileira misturando ao feijão pedaços menos nobres da carne de porco (pés, focinho, patas, orelhas), que seriam dispensados pelos senhores. Os estudiosos da alimentação no Brasil discordam dessa tese, pois no período colonial havia escassez de carne e mesmo os senhores das terras não se davam ao luxo de dispensar qualquer parte do animal.

A hipótese mais aceita é a de que a feijoada é uma adaptação dos cozidos tradicionais de Portugal, que misturavam feijão branco aos ingredientes disponíveis em cada região. Os portugueses que aqui chegaram encontraram o feijão preto, original do nosso continente, e com ele tiveram de se virar.

O primeiro documento que cita o prato é um anúncio publicado em 1827 no Diário de Pernambuco, em Recife, informando que quinta-feira era dia de comer feijoada na Locanda D’Águia de Ouro. Hoje, em algumas regiões do país, o costume é servi-la às quartas e aos sábados. Mas um bom prato de “feijuca” cai bem a qualquer hora em que aquela fome bater!

3. Pudim de leite

Estamos acostumados a pensar em pudim como um prato doce, mas existem as versões salgadas. Tem até pudim de rins ou feito à base de sangue animal. Os ingleses adoram e foi deles que “roubamos” a palavra pudding, que teria origem no francês, boudin. É uma denominação genérica para várias receitas, mas uma coisa é certa: o pudim precisa ser molinho, fácil de morder.

É muito provável que o pudim de leite, aquele que mais amamos, tenha origem portuguesa. A iguaria é popular na terra de Cabral desde o século 16, quando a Infanta D. Maria relacionou sete tipos de pudins em seus manuscritos culinários. No Brasil, a receita de pudim de nata aparece oficialmente em O Cozinheiro Imperial, primeiro livro gastronômico aqui lançado, em 1840.

No século 20, o leite condensado impôs-se como ingrediente principal do nosso pudim, por sua praticidade e pelo sabor que leva os fãs do açúcar ao delírio. É uma bomba calórica: uma lata de leite condensado “engorda” tanto quanto 12 coxas de frango assadas com a pele. Mas quem resiste a abocanhar um pudim reluzente, ainda mais com calda de açúcar queimado por cima?

2. Quindim

O quindim é outro doce com origem em Portugal, onde os preparos com muitas gemas eram comuns nos conventos. Lá até hoje chama-se Brisas do Lis, típico da região de Leiria. Foi criado pelas freiras do Convento de Santana e viajou para terras de possessão portuguesa, como Angola e Brasil.

receita original pede amêndoas picadas para formar a base crocante, que contrasta com a massa macia formada pelas gemas. Cá no Brasil, cadê que os portugueses coloniais achavam amêndoas? Crê-se que, por influência dos povos africanos, o coco foi definido como o melhor substituto.

A palavra quindim tem origem africana. Até hoje, na Bahia, quer dizer meiguice, carinho, dengo... Quer melhor maneira de expressar esses sentimentos do que oferecendo um quindim?

1. Brigadeiro

O brigadeiro é nosso! Não tem origem portuguesa, russa ou alemã. Ele nasceu na cidade de São Paulo em 1946, criado por apoiadoras do brigadeiro Eduardo Gomes, candidato à presidência nas eleições daquele ano pela União Democrática Nacional, que se opunha ao governo de Getúlio Vargas.

Foi um período político especialmente animado para as mulheres, que pela primeira vez podiam votar sem restrições. Desde 1936, o voto era limitado às casadas que tivessem permissão do marido, às solteiras que trabalhavam e às viúvas. Nos comícios do brigadeiro Gomes, suas fãs vendiam o doce feito com leite condensado, chocolate e manteiga para colaborar com a campanha.

Na época acontecia a Segunda Guerra Mundial, vários alimentos estavam escassos e as importações ficaram comprometidas, por isso produtos processados e enlatados, que duravam mais, tornaram-se uma alternativa. Foi justamente nessa época que a Nestlé começou a produzir o leite condensado no Brasil. E aproveitou a popularidade instantânea que o docinho ganhou para promover a novidade.

A receita evoluiu e ganhou várias versões: branca, de limão, de Ovomaltine, de banana, o bicho de pé (com gelatina no lugar do chocolate) e tem até brigadeiro frito. Seja qual for sua preferência, concordamos: festinha infantil sem brigadeiro não existe!

Curiosidade: o Rio Grande do Sul, que apoiava fortemente Getúlio Vargas, recusou-se a homenagear o brigadeiro Eduardo Gomes. Apelidou o doce de negrinho.

Bônus: Cuscuz, o mesmo nome para várias receitas com diversos sotaques brasileiros

Um dos pratos que geram mais discussão entre pessoas de diferentes Estados brasileiros é o cuscuz. Originalmente, no norte da África, o cuscuz marroquino é um prato feito de sêmola de trigo cozida, acompanhada de carnes (cordeiro, frango, boi, linguiças), legumes ou grãos (abobrinha, repolho, grão de bico, cenouras). Enfim, o que houver à mão.

Foi trazido para o Brasil pelos povos africanos, mas em cada região tomou uma forma e um sabor diferentes. Veja só:

  • São Paulo:cuzcuz paulista (foto acima) é uma espécie de “bolo” salgado cozido no vapor, à base de farinha de milho e molho de tomate, com muitos temperos. Na hora de escolher os adereços, sua imaginação pode viajar à vontade. O cuscuz fica bem com sardinhas, atum, frango, camarão, milho, ervilhas, ovos cozidos, azeitonas e até banana.
  • Nordeste: em vários Estados nordestinos, o cuscuz de flocos de milho (foto abaixo) é menorzinho, geralmente feito em porções individuais. Não tem todo o aparato do paulista, mas fica bem cozinhá-lo com recheio de queijo coalho e carne seca desfiada. Quentinho, com manteiga derretendo por cima, é a pura delícia no café da manhã.
  • Piauí e Maranhão: nesses Estados vizinhos, é comum saborear o cuscuz feito de flocos de arroz no café da manhã ou no almoço, como acompanhamento dos outros pratos. Ele é simples e branco, sem muita invenção, porém bem versátil.
  • Santa Catarina: Santa Catarina: os catarinenses têm um cuzcuz doce, a bijajica, feito com massa de mandioca e amendoim. É popular na cidade litorânea de Garopaba.
  • Bahia e Rio de Janeiro: nesses Estados, o cuscuz também é doce, feito com tapioca e leite de coco. Estará completo se tiver coco ralado por cima e, dependendo do gosto do freguês, uma generosa camada de leite condensado (foto abaixo). É bem comum encontrá-lo na praia, vendido por ambulantes.

Deu água na boca, não deu? Então conte para nós, nos comentários, qual dessas delícias você não pode viver sem!

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