EU TENHO AS 0ERNAS TORTAS PORQUE CRESCI ANDANDO DE BURRINHO E MUITA GENTE FICOU MANGANDO EU NEM LIGO
24 Relatos de mulheres que enfrentaram o preconceito e revolucionaram a própria vida
O que acontece quando as mulheres colocam em palavras as suas revoluções? Primeiro elas dizem que não têm nada de muito especial para contar, então quem as entrevista lembra que toda história de vida foi construída pouco a pouco e que algumas decisões, por pequenas que sejam, podem ser revolucionárias. Deixar os pelos livres para crescer, conseguir o trabalho desejado ou permitir que os cabelos brancos venham naturalmente são escolhas que mudam uma vida inteira.
O Incrível.club perguntou a 24 mulheres quais foram as maiores revoluções das suas vidas. Pegue um chá ou um café e venha se emocionar com a gente. Você pode se identificar com uma dessas histórias abaixo.
- Desde pequena tenho pelos nos meus braços e fui motivo de piada na escola até a adolescência. Isso me deixou triste algumas vezes e até pensei em tirá-los por conta do julgamento, por ter escutado que é feio e que as mulheres não devem ter pelos. Mas há pouco tempo descobri que está tudo bem ter pelos, faz parte de quem eu sou e não vou retirá-los para agradar alguém. Ter me aceitado do jeito que sou me ajudou muito (além de muita terapia), e descobri que posso ser feliz dessa forma e a minha pele sensível agradece. Acredito que quando as mulheres se aceitam como são, sem ligar para o julgamento de terceiros, estão revolucionando todo um conceito criado para o universo feminino. — Alana
- Tenho muitos pelos por todo o corpo, ou foi o que pensei durante toda a minha infância, adolescência e, para ser sincera, até os vinte e tantos anos. Lembro que a primeira vez em que minha mãe me levou para que eu me depilasse com cera eu não tinha mais que 11 anos, mas já não suportava que fizessem bullying comigo na escola. Quando chegamos à clínica de estética, a mulher que atendia contou que tinha muitas clientes da minha idade e que era comum que as meninas se depilassem já aos 9 anos! Desde então depilava as pernas sempre que cresciam um pouco de pelo, mas não conseguia esconder os dos braços, então meus pais me compravam produtos abrasivos para clarear pelos e cremes depilatórios que deixavam minha pele irritada e seca. Pensando bem, não lembro de nenhuma menina na infância que tenha rido de mim por conta dos meus pelos. Agora não somente gosto dos meus pelos, mas adoro que possam ser vistos e não tenho nem um pingo de vergonha de ter monocelha, bigode e axilas cheias. — Fabíola
- Sempre tive orelhas muito grandes e pontudas. Durante anos, fui motivo de piadas na escola por conta disso. Eu implorava para fazer uma cirurgia plástica, mas não podia por ainda estar em fase de crescimento. O problema disso é que eu nunca usava penteados e vivia tentando esconder as minhas orelhas com o meu cabelo. Até que, um belo dia, resolvi usar um coque bem no alto da cabeça e mostrar as minhas orelhas para o “mundão” — ouvi várias piadas, mas não liguei. Estava simplesmente adorando o meu novo estilo. Com o tempo, esse coque passou a ser a minha “marca registrada”. Uso quase todos os dias e, sempre que me olho no espelho, lembro que devo ter orgulho das minhas orelhas. Afinal, elas são únicas e deixam os meus penteados mais especiais — Leticia
- Resolvi assumir meus cabelos brancos há alguns anos, pois eu não queria mais usar tintas químicas. Deixei virem meus cabelos brancos, cacheados, lindos. Me amo como sou, mas foi e ainda é complicado. Sempre há alguém dizendo que é falta de cuidado e perguntando se quero que comprem tinta para mim. Outras pessoas me dizem que estou velha. Lamentavelmente nem sempre as pessoas nos aceitam como somos, mas sou muito feliz com minhas escolhas. — Maria
- Com 9 anos fui trabalhar na lavoura. Cresci querendo estudar, mas sem poder. Depois, aos 15 anos viemos morar na cidade e fui trabalhar de cozinheira, babá e copeira. Até que um dia surgiu uma proposta de trabalhar no comércio, então fiz um teste e ganhei uma vaga de vendedora na Mesbla, onde trabalhei por alguns anos. Essa experiência mudou a minha vida, descobri que eu deveria escolher os rumos da minha história. Casei, fui mãe e sempre procurei uma brecha para conseguir estudar, apesar de ter poucas condições econômicas. Já aos 55, trabalhando como empregada doméstica, consegui concluir o ensino médio. — Cleusa
- Começar a estudar medicina depois dos 30 e com uma bebê é minha revolução. Me despertou da função mãe: lembrando que, antes de ser a mãe, eu sou a Mayara que gosta de desafios. E agora que surgiu a oportunidade, estudar medicina tem sido renovador apesar de cansativo. Ativa minha energia e até a minha autoestima. — Mayara
- Eu sempre fui muito tímida, quietinha e discreta. Na sala de aula, o pessoal comentava que só ouvia minha voz para falar “presente” (exagero, mas... kkk). De vez em quando, eu sofria algumas chacotas na escola por conta desse meu comportamento e também pelo fato de o meu cabelo ser muito armado. Aos 18 anos, comecei a fazer luzes nele, gostei do resultado, mas ainda sentia que precisava revolucionar um pouco mais a minha aparência. Foi somente em 2021, em meus quase 30 anos, que decidi fugir do óbvio e não ligar sobre o que as pessoas pensavam de mim, pintei o meu cabelo de rosa! Sim! Agora ele pode continuar com todo o seu volume e rosa (minha cor favorita). Confesso que fui fortemente inspirada por alguns posts do Incrível. Até minha família se surpreendeu com essa minha decisão de pintar os cabelos de uma cor mais chamativa. Inclusive, muitos me desencorajam. No final das contas, o cabelo rosa é apenas um reflexo da decisão que tomei de ouvir a mim mesma. — Dayse
- Desde pequena fui discriminada pelo meu cabelo. Na tão sonhada adolescência, tive a oportunidade de acabar com aqueles apelidos horríveis que me davam e passei a ter cabelos lisos — que estavam longe da minha identidade, mas dentro dos padrões de beleza. Não me identificava como negra de cabelos lisos, mas achava que meus problemas haviam acabado. Na verdade, descobri que meus problemas só haviam começado: perdi volume, o cabelo começou a cair e virei dependente dos produtos de alisamento. Então, o preconceito voltou e percebi que não me encaixaria nos padrões. Fui me descobrindo negra e passei sozinha pela transição capilar. Hoje, acho que buscar sua origem ajuda a aceitar e a amar quem você é. Entender o significado de ser uma mulher negra faz toda a diferença na luta de igualdade social das mulheres. — Isis
- Aprendi recentemente uma lição que revolucionou a minha vida. Em uma noite conversando com um amigo, ele me pegou pela mão e me explicou dois conceitos: o primeiro é consumir vida e o segundo é consumir morte. Ele me disse que nossas vidas evoluem baseadas nesses dois conceitos e quando estamos fazendo algo prejudicial para a nossa saúde, agindo por causa do ego ou por falta de amor-próprio, vamos criando hábitos negativos que nos fazem perder tempo. Naquela mesma noite decidi deixar todas as práticas que me faziam mal. Fui para casa e dormi tranquilamente e, na manhã seguinte, fui correr e ver o amanhecer, escutar os pássaros e comer de forma saudável. Foi naquele momento que entendi que é muito gostoso amar a mim mesma. — Xena
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Depois que a minha mãe partiu e de uma série de lutos, minha saúde mental se transformou em um campo minado. Antes disso, meu corpo já havia aprendido a viver com ansiedade generalizada e borderline, o que não me ajudou muito quando me deparei com uma grande depressão. Depois de chegar ao fundo do poço, não só uma, mas várias vezes, decidi me curar. Essa é minha pequena grande revolução. Durante os últimos dois anos trabalhei e abracei as minhas neurodivergências. Aprendi que elas não me definem como pessoa, o que me permitiu coletivizar ferramentas de autocuidado e cuidado mútuo na companhia de uma maravilhosa rede de apoio. — Nefertari
- Saí com uma menina na adolescência e depois disso só estive com homens porque pensava que isso era o certo o correto. Sempre fui de seguir o que as pessoas ao meu redor faziam e estar cercada de heterossexualidade na universidade, na família, no que eu via na televisão e em absolutamente todos os lados não me dava a oportunidade de questionar por que eu estava ali também. A heterossexualidade obrigatória me acompanhou por muitos anos, até que me dei a oportunidade de voltar a sair com mulheres e me casar com uma! Essa é a minha grande revolução. — Sandra
- A maior revolução da minha vida até agora foi me permitir amar uma mulher. Passei oito anos em relações heterossexuais falidas acreditando que havia algo errado comigo, até que me dei conta do poderoso amor que posso construir com uma mulher e com esta força me reconstruir. — Daniela
- Entendi que a minha identidade sexual passa pela atração, pelo afeto e pela vivência individual, que engloba sim os nossos traumas. E que passar por isso não precisa ser só um estereótipo negativo. Pode ser uma consciência mais profunda do caminho que percorremos. Hoje acho que não é possível identificar-se com clareza e segurança antes que essas ideias estejam alinhadas. — Thaís
- A maior revolução na minha vida acredito que poderia se resumir a me assumir a bissexual, porque ainda há muitos tabus em relação ao tema. Defendo o direito de me relacionar com as pessoas que eu queira, sejam elas mulheres ou homens. Outra coisa que considero uma revolução na minha vida é nunca ter me privado de dar um beijo em lugar público em alguma das minhas namoradas, mesmo vivendo em um lugar tão conservador. — Rady
- Acreditamos que o amor pela mãe é irrompível, insubstituível, e de certa forma acreditamos que é o maior amor que podemos receber. Mas o que acontece quando não é assim? Esperamos que com o nosso amor de filhas possamos combater suas ações, e lutamos tão forte que um dia esse vínculo simplesmente se rompe, se rebenta, como uma corda que não suporta mais o peso. Há pouco, depois de muitos anos pensando no assunto, decidi soltar um pouco a minha mãe. Eu a amo e a agradeço, mas não permito que ela me faça mal, seria injusto comigo mesma. Me amo, me aceito e me dou a permissão de colocar meu amor-próprio em primeiro lugar. Amo minha mãe, mas antes amo a mim. — Dani
- Quando eu tinha 25 anos, fui fazer um mestrado fora do país e uma das minhas melhores amigas daquele momento — que segue sendo uma grande amiga — era muçulmana. Encontramos na nossa total diferença de cultura, família e educação algo muito especial. Algumas vezes falamos de crenças, feminismo e o que pensavam sua cultura e a minha sobre a atração entre pessoas do mesmo gênero. Eu tinha pânico de dizer a ela que eu era lésbica, mas alguns anos depois falamos sobre o assunto e sua resposta foi muito linda. Deixei que meus medos me impedissem de falar com a minha amiga sobre isso, e poder descobrir esse espaço seguro foi uma grande revelação para mim. Minhas amigas são revolucionárias. 💜- Silvia
- Fui criada em uma escola conservadora e em uma família machista, tendo como exemplo uma mãe dependente financeiramente do marido e que sustentava um casamento falido e cheio de traições por parte do meu pai em nome da família e do bem-estar das filhas. Engravidei aos 21 anos em um namoro de quatro meses e, em razão do histórico familiar e da educação que recebi e via sendo reproduzida na sociedade, levei a gestação adiante. Anos depois casei com o pai da minha filha. Tivemos uma segunda filha e nesse segundo puerpério fui percebendo que algumas questões que eram muito importantes para mim eram vistas pelo meu ex-companheiro como bobagem e meus sentimentos em relação ao parto frustrado também não eram validadas. Decidi colocar um fim a esse casamento e a pessoa que mais me apoiou, dizendo que não deixaria nada faltar a mim e às minhas filhas, foi a mesma mulher que vive até hoje em um casamento infeliz. Percebi ali que com apoio e conhecimento de mim mesma e do que era importante para mim, eu poderia bancar as minhas escolhas e viver a minha verdade. Mais alguns anos depois, novamente em um relacionamento complexo, pude decidir conscientemente não gestar novamente. Hoje posso ser a mulher livre e independente que eu sempre quis ser. — Paula
- Minha revolução é ser lésbica e tia em uma família conservadora em que a minha mãe acredita que minha vida não vai por rumos corretos, mas meus sobrinhos acreditam que sou o máximo e que os guio para que pensem diferente e possam aceitar as diversidades. Agora eles pensam que meninas e meninos são iguais mesmo que todos lhes digam que não funciona assim. Mesmo pequenos, eles valorizam a capacidade de ser autênticos e de tomar decisões. — Rossana
- O casamento da minha bisavó, da minha avó e da minha mãe faliram. Se eu permanecesse em um casamento falido, não estaria honrando aquelas que começaram com a nossa revolução. Me separei. Me separei porque manter um casamento em que o homem é o centro do universo é um desrespeito com tanta força feminina que tem dentro de mim. Somos iguais, somos livres, somos fortes, mas por tempo demais tivemos de nos encaixar no papel de coadjuvantes. O casamento do jeito que conhecíamos faliu. Em um momento complexo com meu ex-companheiro, decidi me separar. Naquele dia eu sabia que ele nunca mais me faria mal, não porque ele não tivesse tentado mais fazer, mas porque eu não ia permitir. E a cada vez que uma mulher se dá valor, mesmo sem saber, ela está valorizando todas as mulheres. — Andréia
- Ir embora da cidade, tirar os sapatos, sentir a terra, o ar, a chuva, conviver e ser parte de outras vidas. Deixar de tentar me adaptar às normas convencionais e me permitir explorar, desaprender e reaprender. Questionar tudo e lutar a partir desse lugar, essa foi e é uma grande revolução na minha vida. — Maria Fernanda
- Aos 66 anos são muitas as experiências que levamos nas nossas costas. Com o tempo, ficam para trás as frustrações, as pressões, especialmente durante uma época em que na Espanha tivemos que compartilhar educação e vida com uma repressão contra as mentes abertas e ávidas de liberdade. Os anos que passei na universidade me abriram janelas a outros mundos. Quando terminei de estudar, naquele momento muito nerd e conservadora, tive a oportunidade de passar um tempo fora da Espanha, o que me deu a oportunidade de conhecer outras formas de vida, de compartilhar experiências com outras nacionalidades e de conhecer outras realidades. A Suíça, para onde fui quase sem pensar para cuidar de uma bebê de poucos meses, foi para mim uma passagem a liberdade e a modernidade. Inclusive ali compartilhei com um grupo de mulheres imigrantes, de diferentes países, espaço em uma associação feminista. — Carmen
- Minha maior revolução, o meu maior êxito e mais catastrófico fracasso tem nome próprio: Carla. Ninguém me preparou para ela, mas ela me preparou para enfrentar tudo. Ser sua mãe supôs viver juntas cada momento como se fosse o último, ganhar batalhas com imenso orgulho mesmo sabendo que alguma estava perdida. Guardar para sempre o imenso privilégio que foi ter podido abraçá-la, vesti-la, cheirar sua pele e ter a certeza de ser a mulher mais valente e poderosa quando ao mesmo tempo me afogava em uma dor sobre-humana por ver como a sua vida se apagava. Ela me ensinou que os momentos mais tristes da existência podem esconder uma doçura que jamais esqueceremos. — Nuria
- Deixar a minha filha ir embora duas vezes foi minha grande revolução, primeiro quando me levaram à justiça pela guarda dela. Sentia que não tinha nada a oferecer, não tinha trabalho, nem dinheiro, e minha mãe acabava de partir. Eu estava destruída, mas tinha todo o amor do mundo. A segunda vez foi deixá-la ir para um país mais seguro, cheio de feministas e oportunidades. É minha revolução porque minha maternidade não é como a sociedade espera que seja. Nem eu esperava que fosse assim. Se não usamos a dor, ela nos usa. Meu coração bate forte por ela e para ela. — Amanda
- Minha maior revolução deve ter sido ter nascido de um ventre que não sabe que é revolucionário, mas que mesmo assim gerou uma mulher rebelde. Sendo muito valente, ela me deu um nome que significa Valente. — Valeria
Todas as mulheres em algum momento da vida fizeram escolhas que foram e são revolucionárias, inclusive você. Conte para a gente a sua história!
Comentários
A escola eh um lugar cruel, tinha um cabelo que não conseguia arrumar e tive muitos apelidos, muito triste
O ser humano é isso é por mais que a gente ache que esses últimos acontecimentos mudaram as pessoas, isso não é verdade