Com uma limpeza à moda japonesa, o que descartei valia 2.000 dólares

“Limpeza à moda japonesa” é um termo que muitas vezes ouvimos nos dias de hoje, e muito de sua popularidade se deve ao livro de Kon Marie, “A magia da ordem”, e ao de Yukiko Kaneko, “Life free from dream” (“A vida livre do sonho”, em tradução livre). O princípio sobre o qual as autoras escrevem é simples: você tem que se livrar de qualquer objeto na casa que não traga alegria.

Dizem que a limpeza ajuda a todos e não apenas remove o lixo, mas também muda a pessoa, seus pontos de vista e sua abordagem da vida. Será assim realmente?

Hoje vou contar exclusivamente para o Invrível.club como apliquei o método japonês de limpeza em minha casa e qual foi o resultado.

Quando ouvi falar da limpeza japonesa pela primeira vez, pensei: “Ah, conheço pessoas às quais essa ideia definitivamente seria útil!” Por exemplo, uma amiga que ainda guarda seu vestido de formatura por precaução. Em minha própria casa, para limpar minha consciência, fiz uma revisão superficial e não encontrei lixo.

A segunda vez que me lembrei dos japoneses foi quando me mudei para um novo apartamento. Eu não tenho meu próprio mobiliário, apenas uma xícara de café e taças de vinho, além de eletrônicos como um notebook e um celular. Ainda assim, levei muito tempo e dinheiro para embalar e transportar as coisas que estavam em minha casa. Então decidi fazer uma análise mais aprofundada.

• Para tornar mais efetivo o processo de descarte do lixo, os japoneses recomendam que a revisão não seja feita por cômodos (cozinha, dormitório, banheiro), mas por categorias de itens: roupas, calçados, etc.

A roupa

Como no caso de muitas mulheres, todas as minhas roupas podem ser divididas em categorias: a de todos os dias, a das saídas e a de se por acaso eu enlouquecer (tenho certeza que muitas de vocês também têm coisas assim), entre outras.

É claro que as coisas só são divididas em grupos na minha cabeça, enquanto no armário elas se encontram em estado de caos permanente e anarquia, isto é, misturadas numa grande pilha. Então eu abri o armário com as roupas de primavera-verão e joguei todo o seu conteúdo no sofá.

Esta foi a primeira etapa da limpeza à moda japonesa (de repente percebi que tinha uma relação especial com o amarelo).

De acordo com o conselho dos japoneses, era hora de decidir quais coisas naquele grupo me davam alegria. Mas na minha opinião, a felicidade é viajar, conhecer pessoas interessantes e abraçar gatinhos, é claro. Não há roupas nessa lista. Então fui por outro caminho: primeiro, avaliei o conforto de cada peça (tive que remover umas blusas bonitas, mas sintéticas), e depois como eu ficava com essa ou aquela roupa.

Este é o resultado da revisão do armário de roupas primavera-verão.

Fiquei com um macacão jeans, uma saia, um vestido e algumas camisas. A escolha não foi rápida nem fácil. Foi difícil liberar muitas coisas, eu tinha um milhão de desculpas: poderei usar isso quando perder peso, posso lavar essa mancha, isso não é bom pra mim e eu não tenho nada pra combinar, mas posso pensar em alguma coisa.

• Muito me ajudou uma dica de Yukiko Kaneko. As roupas com as quais podemos ficar bem no futuro (se perdermos peso, se nos livrarmos de uma mancha, quando aparecer uma ocasião especial e uma série de outas desculpas) nos impedem de ter roupas com as quais podemos ficar bonitas no presente.

O processo de classificar o armário com coisas de primavera e verão levou um mês, mas depois, com as roupas de inverno, roupas íntimas e sapatos, as coisas foram muito mais rápidas.

Maquiagem

À esquerda: coisas que encontrei nas prateleiras, no estojo de cosméticos e até na geladeira. À direita: o que eu realmente uso.

Os produtos mais desnecessários foram comprados por motivos econômicos. Por exemplo, já faz um bom tempo que tenho usado com sucesso um creme de rosácea que custa cerca de 20 dólares. Mas, às vezes, tentei substituí-lo por um produto mais barato. Como resultado, durante o processo de limpeza, encontrei 5 loções com um custo total de 25 dólares, mas que não as usei mais de 2 ou 3 vezes.

Outras categorias

Este é o resultado da revisão da bijuteria, da qual guardei apenas o elefante vermelho.

Depois de terminar com os acessórios, passei para outras categorias, onde muitas surpresas me aguardavam. Por exemplo, uma torradeira, uma cafeteira de filtro e uma chaleira elétrica, cuja existência eu havia esquecido, pois eu não usava esses aparelhos há 5 anos. Em outros grupos eu também encontrei muito lixo:

• Lembrancinhas e decoração para a casa. Ímãs, pratos decorativos, brinquedos, estatuetas e outros coletores de poeira.
• Têxteis. Roupa de cama e toalhas desconfortáveis, algumas toalhas de mesa, tule, alguns cobertores sintéticos horríveis.
• Artefatos: Fones de ouvido com defeito, luminária de mesa terrivelmente incômoda, modelador de cachos, depilador elétrico.

O que fazer com tudo isso?

É melhor encontrar a resposta para essa pergunta antes de começar a revisão. Caso contrário, coisas desnecessárias irão para uma sala em desuso ou para a varanda e então, sem você perceber, pouco a pouco elas retornarão ao seu lugar anterior. Eu tinha 4 canais de distribuição principais:

• Abrigos de animais. Para lá eu levei minhas roupas, a roupa de cama e tudo que pode ser usado como cobertor.
• Grupos de ajuda. Enviei todas as coisas que poderiam ser vendidas em feiras de caridade para as organizações sem fins lucrativos que encontrei no Facebook. Quase todas as roupas foram entregues a uma grande família que ficou sem teto por causa de um incêndio.
• Presentes. No Facebook também encontrei vários grupos onde os participantes dão seus presentes para aqueles que querem. Desta forma eu entreguei quase todas as minhas bijuterias, cosméticos novos, algumas roupas e sapatos.
• Cestos de lixo. O que eu não pude jogar fora pelos três primeiros métodos, foi parar no lixo.

Além dos métodos anteriores, há outro: vender ou trocar algo desnecessário por algo mais útil. Algum problema interno me impediu de tentar essa opção, mas minha amiga usa essa recomendação com grande sucesso e isso a motiva bastante.

O que fazer para evitar que volte a acontecer?

Um dos exemplos das roupas que eu tive que descartar.

Yukiko Kaneko compara o processo de se livrar do lixo com o da perda de peso: se você simplesmente joga coisas fora, sem mudar hábitos, como os quilos extras depois de uma dieta exaustiva, objetos desnecessários logo retornarão. Então eu analisei as principais razões do aparecimento dessas coisas para evitar que elas voltem no futuro.

• Ofertas, liquidações. A ideia de que um produto, mesmo de qualidade duvidosa ou uso desconhecido, custa “apenas 10 dólares”, muitas vezes me fez comprar coisas realmente inúteis. Por exemplo, o vestido vermelho na foto. Não é meu tamanho, não é meu estilo e definitivamente não é minha cor. Por que o comprei?
• Economia. “Eu preciso de um produto que custa 25 dólares, mas agora eu não tenho, então vou comprar algo parecido por 5 dólares.” Como o exemplo de cremes mostrou, esse esquema simplesmente não funciona.
• Coisas que perderam seu valor. Elas foram úteis em algum momento, e não é tão fácil se livrar do pensamento de que isso acontecerá novamente. É por isso que adotei a regra de comprar qualquer coisa nova somente depois de me livrar da antiga.

Os resultados

No total, o processo de limpeza durou seis meses, e foi isso que mudou após sua conclusão:

• Como o apartamento agora tem muito menos coisas, fazer a limpeza e a manutenção leva bem menos tempo e esforço. Imagine: agora eu passo um pano em qualquer superfície horizontal sem ter que mover de um lugar para outro as coisas que estão em cima, porque não estão mais lá.
• Graças ao armário meio vazio, a tradicional pergunta matinal sobre o que vestir desapareceu. Agora tenho tempo de preparar um café da manhã normal em vez de engolir pão e salsichas caminhando, como antes. Além disso, tendo mantido apenas as coisas que realmente me servem, comecei a me sentir mais confiante em relação a mim mesma.
• O resultado eloquente da limpeza foi uma quantia de 2.000 dólares, o valor aproximado das coisas doadas ou descartadas (roupas novas ou quase, eletrodomésticos, etc.). Se você acha que esse número está longe da realidade, vá para qualquer um dos seus armários e divida o conteúdo em duas categorias: o que é realmente necessário e o que você poderia fazer sem. Mas seja honesta consigo mesma. Calcule o preço das coisas na segunda categoria. Claro que você vai se surpreender. Este é um excelente antídoto para os truques dos fornecedores e outros fatores que nos fazem encher a casa de coisas que não precisamos. Nos últimos 3 meses, comprei apenas um par de sapatos. E o importante é que minha escolha é consciente, e não uma proibição estrita para fins de economia.
• A mulher a quem dei minhas calças disse que foram os primeiros jeans de sua vida. Não é que tenha me sentido como uma fada realizando desejos, mas comecei a entender melhor os filantropos. Ajudar as pessoas preenche o coração do vazio que às vezes muitos de nós sentimos.

E o que acontece com a suposta mudança de personalidade?

Os japoneses não mentem: eu realmente mudei. A limpeza me tornou mais livre em termos morais e físicos. As preocupações sobre compras que devem ser feitas ou que já foram feitas são deixadas para trás. Desapareceu o autoflagelo por causa de despesas inúteis. Sobrou mais tempo e dinheiro. O que é isso, senão a liberdade?

Eu recomendo a todos os que já cruzaram com a ideia do minimalismo para prestar mais atenção a este tipo de limpeza. A conexão entre o estado de uma pessoa e as coisas que a cercam é insignificante, e você conseguirá perceber isso assim que se livrar dos primeiros 2 ou 3 pacotes de objetos desnecessários.