Uma Mulher que Consegue se Lembrar de Cada Segundo de sua Vida

Curiosidades
há 9 meses

Você gostaria de ter uma supermemória? E se pudesse se lembrar de qualquer parte de sua vida em detalhes? Por exemplo, você está andando na rua com alguém e ouve uma música. E se recorda de ter escutado um fragmento dela há dez anos na TV, durante as férias de inverno nos Alpes.
Você se lembra de todas as comemorações de seu aniversário, de todas as festas de sua vida. Parece legal, mas será que é tão bom em rememorar toda a sua vida? Vamos descobrir isso com o exemplo de uma pessoa real.

Conheça Rebecca Sharrock, de Brisbane, na Austrália, que se recorda de toda a vida dela. Literalmente, toda. Todos os eventos são armazenados em sua mente quase desde o nascimento, e a mulher tem acesso imediato a eles. Ela se lembra de que os pais a colocaram no banco do motorista de um carro para uma foto apenas alguns dias após seu nascimento. E de como a capa do banco e o volante despertaram sua curiosidade.

Conheça Rebecca Sharrock, de Brisbane, na Austrália, que se recorda de toda a vida dela. Literalmente, toda. Todos os eventos são armazenados em sua mente quase desde o nascimento, e a mulher tem acesso imediato a eles. Ela se lembra de que os pais a colocaram no banco do motorista de um carro para uma foto apenas alguns dias após seu nascimento. E de como a capa do banco e o volante despertaram sua curiosidade.
A mulher consegue rememorar facilmente de como se deitou na cama, olhou para os brinquedos ao redor e de como a mãe se aproximou dela para alimentá-la quando ela não conseguia nem falar e andar. E vê tudo tão claramente como se tivesse acontecido ontem. Se recorda não apenas de imagens visuais, mas também de cheiros e até mesmo de sentimentos e sensações que experimentou em alguns momentos do passado.

Durante muito tempo, Rebecca viveu confiante de que todos no mundo eram assim. Então, na adolescência, começou a suspeitar que havia algo errado. Ela percebeu que se fixava em algumas coisas do passado muito mais do que em seu entorno. Parecia que tinha um distúrbio mental e, por isso, sentia-se insegura. Mas não fazia ideia do quanto era especial. A mulher ficou sabendo de sua singularidade aos 21 anos, quando os pais lhe mostraram uma reportagem sobre pessoas com uma memória fenomenal. Rebecca ficou surpresa com o fato de ser algo quase único. E percebeu que estava entre os 60 humanos no mundo inteiro com Memória Autobiográfica Altamente Superior, ou HSAM, na sigla em inglês.

Essa é uma condição neurológica do cérebro na qual a pessoa pode reproduzir na mente, de forma rápida e sem esforço, qualquer fragmento anterior da vida. Podem ser alguns eventos sociais ou experiências próprias. E todos surgem na mente tão claramente quanto se você estivesse assistindo a uma gravação de vídeo de alta qualidade. Os cientistas ainda estão estudando o fenômeno HSAM. Ele foi descoberto no início deste século, e há poucos objetos para analisá-lo, apenas cerca de 60 pessoas. A falta de informações e de observação retarda o processo de pesquisa, mas os médicos já aprenderam alguma coisa.

Essa é a parte do cérebro que ajuda a processar a memória. Alguém com uma mente normal se lembra muito bem dos momentos brilhantes da vida. De certa forma, o cérebro de quem tem HSAM registra todos como brilhantes. É por motivo que o acesso a eles é tão fácil. Foi importante para Rebecca obter um diagnóstico médico oficial, porque queria uma resposta clara à pergunta sobre o que havia de errado com ela e também para melhorar sua autoestima. Para confirmar o diagnóstico, a mulher teve de passar por um estudo de vários anos. Fez várias análises e passou em uma série de testes. Alguns anos depois, voltou e contou aos cientistas o que havia acontecido dois anos antes. Quando seu caso ficou famoso, ela revelou os lados sombrios de seu dom, que também chama de maldição.

Então, o HSAM parece ser um superpoder legal, mas tem um lado ruim. Sabe aquele momento em que você está deitado na cama e de repente se lembra de algo embaraçoso que aconteceu há alguns anos? Por exemplo, se envergonhou durante uma apresentação ou não conseguiu encontrar a frase certa em uma discussão, ou ainda se comportou de forma muito estúpida em um encontro. Portanto, as pessoas com HSAM têm acesso constante a todos esses momentos embaraçosos. Podem se lembrar de cada detalhe de cada momento errado da vida. E, é claro, é muito difícil controlar esses pensamentos.

Imagine como será complicado adormecer se começar a recordar e reviver momentos ruins da vida. Seria difícil não enlouquecer depois de anos de uma vida assim. E o problema não está nem mesmo nos menores detalhes visuais, mas na reprodução repetida de sentimentos e emoções. Alguém lhe disse algo que o magoou ou você viu imagens assustadoras na TV há muitos anos — tudo pode aparecer na sua memória muitos anos depois se tiver HSAM e retornar as mesmas emoções. Caso lembre de um fato estressante de quando tinha três anos, na fase adulta vivenciará esse episódio como alguém de três anos. Essas oscilações emocionais contribuem para o aparecimento de depressão, ansiedade e estresse.
E quanto mais emoções negativas você acumular, mais difícil será para adormecer à noite. É por esse motivo que Rebecca toma muito cuidado na vida. Ela entende que qualquer coisa desagradável pode permanecer em sua memória para sempre. E toma medicamentos para controlar a entrada de informações e faz terapia, o que a ajuda a evitar situações ruins.

Imagine que precisa pensar com antecedência em cada passo de sua vida. “Devo assistir a esse filme ou não? Ir para casa pelo outro lado? Ler o tópico do Twitter desse cara?” Isso o torna muito cauteloso e restringe muito sua vida, porque você sabe que esses momentos ficarão para sempre. Talvez evite riscos para não fracassar. E uma vida assim reduz as chances de sucesso em todos os sentidos.

Sim, é legal ter HSAM se você nasceu em uma família rica, viaja muito, não tem problemas de saúde, mentais ou sociais, tudo dá certo e está sempre feliz. Mas vamos ser honestos, quase ninguém leva uma vida assim. E mesmo os ricos e bem-sucedidos têm problemas. Algumas pessoas com HSAM dizem que suas memórias são bem organizadas no cérebro, como livros em uma estante em ordem alfabética. Mas a de Rebecca é caótica. O cérebro dela está cheio de preocupações. Isso geralmente lhe causa insônia e dores de cabeça, o que talvez se deva ao fato de ela também ter um diagnóstico confirmado de autismo.

Mas sua vida não se transformou em um pesadelo. Felizmente, a mulher aprendeu a superar as lembranças ruins como positivas. Se algum momento infeliz começa a invadir sua mente, ela o cobre com uma parte alegre de sua vida. E isso é o mais bonito do HSAM. Esse recurso do cérebro ajuda a resolver provas, aprender algo rapidamente e recordar-se de todos os livros e filmes, mas o mais legal é a oportunidade de experimentar a felicidade novamente. Mesmo que esteja de mau-humor, você se lembra de como se divertiu naquele dia no parque aquático, e seu cérebro aproveita esse instante. Isso permite vivenciar a felicidade todos os dias, a cada minuto.
No início de cada mês, Rebecca seleciona os melhores momentos desse mês nos últimos anos. Quando volta a eles, é capaz de combater as lembranças ruins. Outro recurso interessante que aprendeu é a de transformar qualquer pesadelo em um sonho feliz e bonito. Ela pode construir e criar o que quiser durante o sono e se lembrar de todos os sonhos. Nem todas as pessoas com HSAM contam com essa capacidade, mas algumas também relataram ter tido sonhos lúcidos que podiam controlar.

A propósito, a única memória que Rebecca não tem é a do dia de seu nascimento. Ela não sabe como se sentiu dentro da barriga de sua mãe e diz que não gostaria de recordar disso. Hoje, leva uma vida comum, não quer grandes mudanças e gosta de pensar e sentir como está acostumada à situação. Ela espera que seu caso ajude muitas pessoas em todo o mundo, por essa razão participa de dois estudos científicos que podem auxiliar no tratamento de certas doenças cerebrais.

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