Perdeu um olho, mas ganhou confiança: a trajetória inspiradora de uma jovem que sofreu bullying e hoje é modelo
Você já imaginou como seria perder um dos seus olhos? E se isso acontecesse aos quatro anos? Uma jovem da Escócia chamada Katie Elliot passou exatamente por essa situação, devido a uma doença rara. Após o tratamento, seu olho direito precisou ser removido e uma nova vida se iniciou, com muito mais obstáculos. Mas Kate soube fazer uma bela limonada com os limões que a vida lhe deu. Continue lendo, se quiser conhecer melhor essa história inspiradora.
A primeira pessoa a perceber que havia algo de errado com o olho de Katie Elliot foi sua mãe, Gillian, em 2007. Ela começou a achar que ele parecia estar se deformando. Antes que ficasse pior, ela levou a filha ao hospital para uma consulta. Katie, que tinha apenas quatro anos, passou por alguns exames e os médicos chegaram ao diagnóstico de retinoblastoma. A garotinha tinha um tumor de um centímetro no olho direito.
Além dessa triste notícia, os médicos informaram Gillian que não havia como salvar o olho de Katie. Por isso, ela passou por uma cirurgia no mesmo mês em que descobriu a enfermidade, onde precisou remover o olho direito. “O tumor estava pressionando muito o meu olho, e isso me dava uma dor enorme”, conta Katie. Após a cirurgia, as sessões de quimioterapia começaram, para tratar as células afetadas. Um ano depois, Katie se viu, finalmente, livre da doença.
Mas, voltando à pequena Katie, agora com a falta de um olho e passando por uma terapia muito difícil. Nem todos suportam essa nova condição com facilidade, mas nossa heroína não se deixou abater. Bem cedo, ela precisou se adaptar à sua situação e superar os obstáculos que foram surgindo com a visão monocular. Um deles foi que ela perdeu a noção de profundidade — o que acontece até mesmo conosco, se tamparmos um olho.
Ainda bem que Katie pôde contar com o apoio da sua família, principalmente sua mãe, já que ela ainda tinha muitos sonhos para realizar. Um deles era o de praticar equitação profissionalmente, já que ela já fazia isso mesmo antes da cirurgia. “Eu cavalgo desde que nasci, eu acho”, explicou Katie que, além dos cavalos, adora todos os animais. “Mas todos estavam preocupados de que eu não fosse capaz disso de novo, porque a minha noção de profundidade havia mudado”.
Mas Katie persistiu e voltou a cavalgar um ano após começar a quimioterapia. “Eu acabei vencendo um monte de competições de equitação”, diz ela, orgulhosa. “No meu quarto tinha uma parede cheia de medalhas e insígnias que conquistei”.
De fato, o fato de perder um dos olhos não impediu Katie de realizar nenhuma das coisas que ela quis. Além de dominar a cavalgada, outra conquista de Katie foi a carteira de habilitação, apesar de ela ser um pouco atrapalhada nesse quesito. “Eu costumo andar diretamente ao encontro das coisas que estão no meu lado direito. Sou meio desastrada, às vezes”. Para completar, ela tem um emprego de meio período como supervisora em um clube de golfe.
Mas nem tudo foi um conto de fadas na vida de Katie. Além da visão afetada e dos intensos tratamentos, ela precisou lidar com uma situação muito difícil, que muitos jovens também passam. “Quando eu era criança na escola”, ela conta, “eu era chamada de apelidos”. Alguns alunos praticavam bullying com Katie, caçoando da sua deficiência de formas muito cruéis. “Eu costumava chorar sozinha no banheiro”, ela completa.
No entanto, Katie afirma que os comentários, apesar de difíceis de suportar, deixaram-na mais forte, mesmo que ela não saiba de onde veio essa força toda. “Sinceramente, não imaginava que eu faria todas as coisas que fiz. Mas agora estou mais confiante”. Desde que passou pela cirurgia, Katie usava uma prótese ocular, mas, 15 anos depois, ela encontrou confiança e autoestima para começar a deixá-la de lado.
Além disso, a jovem contou que chegou a arrumar os longos cabelos castanhos de modo a disfarçar seu olho. “Com os comentários cruéis que eu ouvia, deixei meus cabelos crescerem para cobrir o lado direito do meu rosto, assim as pessoas não percebiam tanto”.
A aceitação que Katie não recebeu na escola, ela encontrou nas redes sociais, ao conhecer outras pessoas como ela. Foi falando sobre as suas experiências e dificuldades e ouvindo as dos outros, que ela começou a fortalecer a sua autoestima. Até que Katie se sentiu confiante o suficiente para postar uma selfie sem a prótese ocular. “Eu estava muito nervosa, mas recebi tanto amor como resposta. Me senti muito mais bonita”, ela completa.
Katie foi aprendendo, com o tempo, a aceitar a sua deficiência e agradece a essa comunidade de apoio online que ela encontrou. Agora, ela se sente mais confortável em seu próprio corpo e não se incomoda em mostrar o seu rosto todo. Aliás, ela tem até um canal no TikTok, onde fala do seu dia a dia e das coisas que ela gosta.
Todo o esforço de Katie alcançou o seu maior resultado em fevereiro de 2023, quando ela assinou um contrato com uma agência para integrar o seu elenco de modelos. A agência que a escolheu, Zebedee, tem como missão mudar como as pessoas enxergam a beleza em pessoas com deficiências e com diferentes identidades de gênero.
Não apenas essa agência como diversas outras buscam diversificar mais os seus modelos, apresentando pessoas com formas e tamanhos diferentes. O movimento é chamado de positividade corporal e fortalece a aceitação de todos os corpos. Mesmo que nem todas as marcas tenham abraçado essa forma de pensar, o movimento continua crescendo e beneficiando muitas pessoas nesse mercado. Sem falar no público que eles acabam influenciando positivamente.
Para Katie, ser modelo para uma agência como essa é uma oportunidade de ajudar a prevenir as pessoas contra o bullying. É mais uma fonte de força para a nossa heroína vencer as dificuldades. De quebra, ainda pode servir como inspiração para tantas outras meninas e meninos como ela, que precisam encontrar a beleza em si. “O que te faz diferente, te torna única”, ela acrescenta.
Para comemorar a contratação, Katie postou a foto acima no seu Instagram com a seguinte legenda: “Tão abençoada! Tão feliz! De lutar contra um câncer raro nos olhos desde pequena a ser contratada pela agência mais incrível é realmente demais. Depois de anos me sentindo insegura sobre o meu olho e tentando me esconder do mundo, agora amo quem sou em meu próprio corpo. Seja você, seja única”. No fim, ela incluiu uma hashtag que significa “revolução da inclusão”.
Até mesmo no Brasil, o movimento da positividade corporal já está sendo propagado. Temos muitas influenciadoras e modelos com belezas únicas, como a Katie, que já estão confortáveis com seu corpo e lutam por mais espaço no mercado. As gêmeas albinas Lara e Mara Bawar, a modelo transgênero Valentina Sampaio, a Ana Victória Lago, com microcefalia, e muitas outras brasileiras que valem a pena conhecer melhor. Vamos celebrar a beleza das diferenças!