Antigo planeta se esconde dentro da Terra há 4 bilhões de anos
Você decola da Terra e estaciona sua espaçonave em algum lugar perto da lua. Você está agora a quase trezentos e oitenta mil quilômetros de distância do seu planeta natal.
Isso é quase cem vezes o Brasil de ponta a ponta. Agora, você retira um martelo gigante e um cinzel enorme usando os braços robóticos da sua nave espacial. Você coloca o cinzel no Polo Norte da Terra e golpeia a cabeça dele com o martelo. A Terra se abre como uma casca de ovo e você vê... Outro planeta.
Se chama Theia. E ele está se escondendo dentro do nosso planeta como uma gema em um ovo. Você precisaria voltar no tempo quatro vírgula cinco bilhões de anos para descobrir como isso aconteceu.
Essa bela nebulosa logo se tornará nosso Sistema Solar. Poeira colorida e vários detritos espaciais estão lentamente se aproximando do centro comum. Logo esse quebra-cabeça de entulho fica muito pesado e denso. A temperatura dentro do gigante está aumentando. Em seguida, fica tão alta que desencadeia uma reação nuclear em cadeia.
Mais outro segundo e... Bam! Acontece uma explosão tão poderosa que as ondas de choque viajam para longe no espaço escuro. E o clarão ofuscante dessa explosão pode ser visto do outro lado da Via Láctea. Quando a poeira baixa um pouco, você consegue ver que uma luz ainda está brilhando bem no centro da explosão.
Esta estrela recém-nascida é o Sol. Ele pesa tanto quanto trezentas e trinta e três mil Terras. Se o Sol fosse um balde, você precisaria de um vírgula três milhão de planetas do tamanho da Terra para preenchê-lo.
Você está interessado em um pequeno objeto ali, a cento e cinquenta milhões de quilômetros de distância do sol. Este monte de rochas e lava quente é a Terra.
No momento, o planeta está ocupado formando seu núcleo, enquanto os oceanos de lava estão gradualmente esfriando. Mas algumas dezenas de milhões de anos após o nascimento do Sol, você percebe um estranho objeto voando em direção à Terra. É Theia. Este pequeno planeta nasceu quase ao mesmo tempo que a Terra. E agora, ele está seguindo uma louca trajetória espiral em uma velocidade enorme!
Os cientistas acreditam que Theia era uma espécie de bola com a qual Júpiter e Vênus jogavam. Vênus estava puxando Theia em uma direção. Então o irmão mais velho Júpiter o puxava de volta.
Mas o Sol representa noventa e nove vírgula oito porcento da massa de todo o Sistema Solar. É por isso que a estrela estabelece suas próprias regras.
Isso faz Theia se mover quase na mesma órbita terrestre. Então, eles inevitavelmente se aproximam cada vez mais um do outro até se tornarem vizinhos. Vemos que Theia tem o tamanho de Marte e é tão largo quanto a distância do Oceano Atlântico de Nova York a Portugal.
Uma colisão não pode ser evitada. Theia está viajando em direção à Terra a quase quatorze mil e quinhentos quilômetros por hora. Isso é onze vezes mais rápido que a velocidade do som.
Se o planeta menor colidir com a Terra em um ângulo específico, a Terra provavelmente será dilacerada, assim como o próprio Theia.
A colisão causará uma grande explosão visível em outros planetas, mesmo em um dia claro. Não vai sobrar nada além de um pouco de poeira e detritos em chamas. Mesmo que Theia toque a Terra apenas levemente, ainda vai acabar com um pedaço do nosso planeta do tamanho da Austrália.
Mas a colisão com Theia acontece em um ângulo perfeito de quarenta e cinco graus. Ele atinge a Terra a uma velocidade tremenda. A explosão vaporiza literalmente grandes quantidades de rocha. E a onda de choque envia os destroços restantes para a órbita terrestre. Uma enorme cratera é formada no local do impacto. Logo ela se enche de lava fervente.
Os restos de Theia e os fragmentos ejetados da Terra começam a orbitar nosso planeta. De acordo com uma versão, esses fragmentos formam duas luas.
No início, elas viajam juntas. Mas um dia, ficam muito próximas uma da outra e colidem, formando um grande corpo espacial.
A outra teoria afirma que todos os fragmentos começam a ser puxados pelos restos de Theia. Algum tempo depois, eles formam a Lua como a conhecemos agora. Naquela altura do passado, porém, era apenas rocha incandescente e lava.
A colisão neste ângulo inclina ligeiramente nosso planeta e acelera sua rotação. É por causa de Theia que temos diferentes estações e vinte e quatro horas por dia.
A Terra tem placas litosféricas, que são peças enormes e sólidas que constituem a crosta do nosso planeta. Após a colisão com Theia, elas começam a quebrar e rachar. Isso faz com que o carbono, um componente primário de toda a vida conhecida na Terra, comece a se mover por todo o nosso planeta. Então, a Terra adquire um tipo de metabolismo.
Depois de algumas centenas de milhões de anos, as primeiras criaturas vivas começam a aparecer no nosso planeta. Por quase quatro bilhões de anos, organismos unicelulares simples têm evoluído para a vida que você vê hoje.
De acordo com os cientistas, esse tipo de colisão é um evento muito raro. A probabilidade de que em algum lugar no espaço haja um planeta como o nosso que sobreviveu à mesma catástrofe é extremamente pequena. Essa pode ser a razão pela qual ainda não encontramos vestígios de outras civilizações no espaço.
Enquanto isso, os restos de Theia ainda estão aqui na Terra. É claro que não parece como um planeta inteiro que ficou preso dentro do nosso. A maioria dos fragmentos derreteu e se misturou à crosta terrestre.
Se você retirar a camada superior do nosso planeta, verá duas enormes bolhas de lava do tamanho de continentes inteiros. Elas ficam logo abaixo da África e do Oceano Pacífico. Presumivelmente, estes são os restos de Theia, que não se misturaram com o manto da Terra por causa das diferentes densidades.
É como misturar água e óleo em um copo. O óleo sempre flutuará sobre a água e criará uma camada uniforme sobre dela. Mas se você erguesse essas manchas de lava até a superfície, elas seriam cem vezes mais altas do que o Monte Everest.
Outros restos de Theia podem estar na lua. As missões espaciais Apollo trouxeram muitas amostras de solo para análise. Os cientistas concluíram que a estrutura da Lua é muito semelhante à da Terra.
As pessoas poderiam perfurar profundamente e coletar amostras lá. Em seguida, as bolhas da Terra poderiam ser a analisadas. Se a estrutura fosse compatível, seria uma prova 100% de que Theia atingiu a Terra há quatro vírgula cinco bilhões de anos. E de que foi assim que obtivemos a Lua.
Mas por enquanto, Theia permanece um tanto misterioso. Os cientistas ainda não têm certeza de que o planeta realmente existiu. A ideia toda se encaixa perfeitamente no modelo de criação da Lua. Mas, na verdade, essa incrível colisão pode nunca ter acontecido.
Agora você viaja quarenta e um anos-luz de distância da Terra até o planeta 55 Cancri e.
Ele tem cerca de duas vezes o tamanho da Terra e é oito vezes mais pesado. Você pega seu martelo gigante novamente e o usa para acertar o cinzel.
O planeta racha... E você vê que é um diamante gigante! A temperatura neste planeta é dezenas de vezes mais alta do que na Terra. E seu solo é rico em carbono.
O calor coloca muita pressão neste carbono. Sua estrutura muda. Primeiro, ele se transforma em grafite. Um pouco mais de pressão, e o grafite se transforma em diamante.
Na Terra, os diamantes se formam em profundidades abaixo de cem quilômetros, onde a pressão é cinquenta mil vezes maior do que na superfície.
As temperaturas ali alcançam mais de mil graus, o que é tão quente quanto o fogo. Os diamantes são ejetados mais perto da superfície em erupções vulcânicas. Ainda assim, é preciso cavar minas a quinhentos metros de profundidade para encontrar essas belas joias.
O diamante Golden Jubilee é o maior diamante lapidado e facetado da Terra. Ele pesa tanto quanto uma barra de chocolate e é do tamanho de um hamster. Seu preço é de cerca de doze milhões de dólares. Agora imagine um diamante do tamanho de um planeta inteiro!
Você decide voar de volta para o Sistema Solar. Seu destino é a lua de Júpiter, Europa. Ela é tão grande quanto a distância entre Seattle e Houston, nos Estados Unidos. E sua massa é inferior a um porcento da massa da Terra.
Sua superfície é envolta por uma crosta de gelo, com cerca de trinta quilômetros de espessura.
Mas e se você quebrar essa crosta com seu martelo gigante? Nossa, Europa é completamente coberta de água! Está congelando aqui! É três vezes mais frio do que no Polo Norte da Terra. A água se transforma em gelo quase que instantaneamente. Mas o oceano abaixo da superfície ainda é líquido.
Europa interage com Júpiter gravitacionalmente, assim como a Lua com a Terra. Isso cria forças de maré e aquece o núcleo dela. O núcleo derrete o gelo ao seu redor. O resultado é um oceano enorme, duas a três vezes maior do que todos os oceanos da Terra combinados.
Os cientistas acreditam que a água é a base da vida. Isso pode significar que pode haver vida em Europa. Pode haver fontes termais, assim como no fundo dos nossos oceanos. A água lá provavelmente é muito mais quente. E mesmo que a pressão e a temperatura em tais lugares sejam extremas, bactérias simples podem viver lá.
Europa tem quase a mesma idade da Terra. Isso significa que houve tempo suficiente para os organismos vivos aparecerem e evoluírem. Quem sabe, talvez alguma civilização avançada já esteja florescendo sob essa crosta de gelo.
Eles podem estar construindo grandes cidades e sonhando em conquistar o espaço agora. Mas a única coisa que os humanos podem fazer no momento é enviar uma sonda para Europa e descobrir se a vida é possível lá.