A Lua tem cheiro de pólvora, mas por quê?
Quando as missões Apollo foram lançadas, os astronautas que retornaram da Lua alegaram que a poeira lunar, que é cinza e semelhante à que cobre grande parte da superfície do satélite, tinha cheiro e gosto de pólvora (sim, eles realmente a provavam). Mas o material de que a poeira lunar é feita não é semelhante à pólvora: cerca de metade de sua composição é vidro de dióxido de silício resultantes de impactos com meteoritos. Eles atingem a superfície da Lua a velocidades incríveis, então a alta temperatura faz com que o solo superficial se transforme em vidro e o impacto o quebra logo depois, criando a poeira cinza e pegajosa. O resto dos ingredientes do pó lunar é formado por minerais como ferro, cálcio e magnésio, enquanto a pólvora à moda antiga consiste principalmente de salitre, carvão e enxofre — em outras palavras, o pó lunar não deveria ter cheiro de pólvora, mas tem. Além disso, quando os astronautas trouxeram amostras dele para a Terra, não havia mais cheiro.
Uma explicação possível é que a Lua é semelhante, de certa forma, aos desertos de areia da Terra, como o Saara: é extremamente seca e árida. Quando você cheira o ar em um deserto, não sente cheiro de nada. Mas se estiver lá na chuva, a umidade levantará todos os tipos de odores do solo que anteriormente estavam presos na areia seca. Com o pó lunar, pode ser semelhante: na superfície da Lua não tem cheiro de nada (não que os astronautas possam cheirar usando seus trajes espaciais). Mas quando levado para dentro do módulo de pouso, entrou em contato com a umidade no ar e começou a emitir o seu odor estranho.
Outra razão para isso pode ser uma reação de poeira lunar ao vento solar: partículas ionizadas do Sol atingem a superfície nua da Lua e ficam lá. Não há uma atmosfera espessa para protegê-las desses íons, então eles viajam livremente até o chão. E são muito leves, então podem voar e evaporar com o menor dos empurrões. E quando os astronautas levaram as amostras de pó lunar para o módulo de pouso, essas partículas poderiam ter começado a se mover e emitido um cheiro específico. Isso também pode explicar por que as amostras não mantiveram seu odor quando trazidas de volta à Terra. Como as partículas são tão leves, podem ter voado das amostras já no módulo de pouso e, quando foram colocadas em recipientes herméticos, havia pouco ou nenhum desses íons nelas.
Mais uma explicação é que esses recipientes herméticos não eram tão herméticos assim: a poeira lunar é basicamente feita de cristais muito pequenos com bordas extremamente afiadas. Então inesperadamente foram feitos pequenos cortes nas vedações, deixando entrar ar e umidade, e assim as partículas ionizadas vazaram dos recipientes. Os cientistas acreditam que devem estudar o pó lunar na superfície da própria Lua para descobrir tudo sobre as suas propriedades. Existem centenas de milhares de crateras nela feitas por asteroides que caíram, mas uma delas chamou muita atenção: acabou sendo não apenas uma cratera de impacto, mas um tubo, que parecia uma entrada para um sistema de cavernas. Os cientistas encontraram um padrão de eco específico que sugeria que havia uma área oca abaixo. Eles descobriram mais padrões de eco em alguns lugares perto do buraco, então poderia haver mais tubos lunares lá. Mas neste grande tubo seria possível colocar um campo inteiro de futebol.
Os pesquisadores acreditam que pode haver todo um país das maravilhas geológicas sob a superfície. Poderia ser um bom abrigo para astronautas que pousam na Lua ou até mesmo um porto para uma colônia lunar. Ninguém jamais conseguiu ficar na Lua por mais de três dias devido às condições no satélite. Alta amplitude de temperaturas, atmosfera quase inexistente, sem campo magnético que proteja a vida na superfície de coisas como radiação ou vento solar. Os astronautas usam trajes espaciais, que não podem protegê-los por longos períodos de tempo — mas um tubo de lava poderia. Quando um fluxo de lava esfria, gera uma crosta dura que depois engrossa e cria um telhado sobre a própria lava. Continua a fluir, mas quando pára o canal pode drenar, e é assim que se forma um tubo vazio. O nosso planeta também tem tubos de lava, mas eles não são tão grandes quanto o encontrado na Lua.
Em 1178 — eu não estava por aqui naquele tempo — pelo menos cinco pessoas na Inglaterra afirmaram ter visto a Lua dividida em duas de sua ponta superior. Ela estava na forma crescente no momento do evento. Quando a rachadura se ampliou, o fogo começou a brilhar, o que o único monge que registrou o acontecimento descreveu como “uma tocha flamejante surgiu, vomitando fogo, brasas e faíscas”. Então, a Lua começou a mudar e pulsar, mas logo parou e ficou com um tom um pouco mais escuro. No entanto, o fato não recebeu muita atenção dos cientistas até a segunda metade do século XX. Eles estudaram a crônica e descobriram haver uma enorme cratera de 22 km de largura na superfície da Lua no local descrito no livro. Apenas um asteroide muito grande poderia ter deixado tal cicatriz. E quando os pesquisadores se aprofundaram no assunto, descobriram que era bastante recente para padrões astronômicos — na verdade, realmente poderia ter acontecido há cerca de 800 anos.
Mas, nesse caso, milhões de fragmentos do asteroide e da Lua também teriam atingido a Terra. E então as pessoas teriam visto uma incrível chuva de meteoros. Teria sido muito brilhante, e as memórias do monge definitivamente estariam nos arquivos. Mas isso não aconteceu. Além disso, muitos cientistas argumentam que a cratera não é tão jovem quanto pode parecer. A teoria mais popular e justificada é que tem entre um e dez milhões de anos. Se tivesse surgido há apenas 800 anos, partes da superfície lunar dentro e ao redor da cratera ainda estariam quentes devido ao impacto.
A explicação mais provável do que realmente aconteceu em 1178 é que os observadores tiveram muita sorte de ver um asteroide caindo em direção à Terra e queimando na atmosfera do nosso planeta. O espetáculo teria sido incrível e, visto de um ângulo adequado, a explosão do objeto espacial poderia ter realmente parecido a Lua explodindo. Isso explicaria por que houve tão poucas testemunhas do fenômeno: o lugar certo para ver o show seria de apenas alguns quilômetros de largura.
Quanto aos eventos reais na Lua, a água e o oxigênio foram inesperadamente descobertos nela há pouco tempo. A água pode ter sido levada para o satélite por asteroides atingindo sua superfície — muitos deles carregam moléculas de H2O, que são deixadas em pequenas quantidades após o impacto. No entanto, há pouca água preciosa lá: em comparação, até mesmo o Deserto do Saara tem mais dela do que a Lua inteira.
O oxigênio também está presente em forma de moléculas separadas flutuando por ali, então ainda não se consegue respirar na Lua. O vento solar as levou para lá: ondas de energia do Sol viajam em velocidades extremamente altas pelo espaço, raspam o oxigênio das partes superiores da nossa atmosfera e o transportam ainda mais longe. Eventualmente, o vento com as moléculas de oxigênio atinge a Lua. E é aí que algo incrível acontece: ela começa a enferrujar. Há muito ferro no solo lunar e, quando exposto ao oxigênio e à água, enferruja naturalmente. Algumas partes do nosso satélite já se tornaram ligeiramente avermelhadas — são regiões onde há a maior concentração de moléculas.
Se esse processo continuar por tempo suficiente, em um futuro distante a Lua se parecerá com Marte. Vai ficar vermelha-alaranjada. Sim, a cor exclusiva de Marte vem exatamente da corrosão que começou lá milhares e milhares de anos atrás, quando havia rios e mares com água e uma atmosfera com oxigênio. Outro fenômeno incomum são as luzes azuis e vermelhas na Lua. Elas podem ser vistas quando está na forma crescente. Os flashes vêm e vão muito rapidamente, quase como um raio. E, na verdade, é isso que são basicamente: explosões elétricas. As forças das marés são as culpadas por isso. Elas causam acúmulo de estresse mecânico nas rochas. Isso pode produzir um campo elétrico, que cria os flashes azuis que surpreenderam muitos astrônomos amadores. Mas ainda assim, até agora não foi encontrado queijo por ali. Ou tortas de lua, por sinal. Decepcionante, eu sei.