A esposa russa de um egípcio nos contou como é viver em uma família árabe
Lena é casada com um egípcio e vive em um harém há 10 anos. Ela já quis ser astronauta, atriz e especialista em perfumes, além de ter o sonho de morar em regiões mais quentes perto do mar. Aparentemente, o destino decidiu que apenas o último sonho se tornaria realidade.
O Incrível.club estudou o perfil de Lena para entender como vivem as mulheres no Egito, como seus relacionamentos na família e na sociedade se desenvolvem e quão verdadeiros são os estereótipos sobre a cultura dos muçulmanos.
A minha infância não foi um arco-íris
Na escola, fui espancada e humilhada por estar acima do peso. Aos 11 anos perdi 25 kg no verão e tinha medo de engolir até mesmo saliva, pensando que era calórica. Os meus colegas da escola não me reconheceram. Aos 17 anos, então, entrei na faculdade de psicologia e aos 21 consegui um emprego em uma agência de viagens. Quando completei 25 anos, por fim, me mudei para o Egito.
Quando cheguei aqui pela primeira vez em 2002, me apaixonei pelo país, pela sua história e, principalmente, pelo mar. Em março de 2009, durante uma exposição de turismo conhecida como MITT, eu recebi duas ofertas de emprego para trabalhar na recepção do Hotel Radisson em Sharjah (EAU) e no Golden 5 em Hurghada (Egito). As diferenças de condições e salário eram evidentes: até minha mãe, que era contra a minha partida da Rússia, olhou para as condições de trabalho em Sharjah e disse: “Assine o contrato e vá com Deus!”
Mas eu nunca tinha estado lá antes, e me parecia muito assustador me mudar para um país novo, mesmo que fosse para trabalho. Além disso, meu coração estava mais com o Egito. Por fim, decidi que trabalharia no Egito por um ano no Hotel para ganhar experiência, e depois iria para os Emirados Árabes. Depois de um breve curso de hotelaria, fui enviada para trabalhar no Emerald Golden 5.
Fui imediatamente avisada sobre o perigo
Me disseram para ter cuidado. Dois jovens gestores que trabalhavam no hotel eram conhecidos pelos seus romances com as visitantes turistas. Mas, aparentemente, não tive o devido cuidado, visto que um ano depois um deles se tornou meu marido!
Ele cuidava demais de mim: trazia presentes, me dava flores, comprava comida, me pedia para escrevesse uma mensagem para ele quando chegasse no quarto, que ficava a 5 m da estrada onde ele me deixava. A princípio não gostei dele fisicamente, ele parecia um pouco assustador e com feições muito brutas e masculinas. Até pensei em apresentá-lo para uma amiga de Moscou, pois parecia uma boa pessoa, que sabia cuidar do outro e tinha um belo senso de humor. Mas nunca achei nenhuma amiga para ele, e sua atitude comigo começou a despertar sentimentos e simpatia recíprocos.
No início éramos apenas amigos, passeávamos por Hurghada, fomos para o Cairo. E depois, decidimos nos casar.
E assim meus sonhos se tornaram realidade: estava vivendo em uma região de calor, o mar não estava longe. Tinha uma linda vista da montanha arenosa, não do mar, mas era uma bela vista que alegrava meus olhos diariamente!
Quando nossa primeira filha nasceu, estávamos morando em um Hotel
Meu marido trabalhava nesse Hotel e eu vivia como uma rainha, só não entendia isso na época. O quarto era limpo pelos funcionários, comíamos no próprio restaurante, e todos os dias descansávamos com nossa filha na praia. Lembro-me de colocar o carrinho de bebê perto do mar e abrir um livro para ler, deitada ali, olhando para o mar. E eu pensando que ficaria cansada!
Quando engravidei do meu filho, ainda vivíamos no hotel. Mas depois, meu marido se demitiu e nos mudamos para um apartamento. Desde então, virei uma dona de casa: cozinhava, limpava, cuidava da casa e do bebê. Eu, na verdade, não sabia cozinhar. Minha filha, Jannet, tinha quase 3 anos nessa época e começou a ter ciúme por não ser a única paparicada da casa; além das cólicas, noites sem dormir, e todos os “encantos” da maternidade.
Eu estava pronta, naquele momento, para desistir de tudo e voltar para Moscou. Talvez eu tivesse realmente ido embora se não fosse pelo pequeno Adam, que ainda não tinha cidadania russa. Depois minha mãe adoeceu e decidimos tirar a cidadania para o nosso filho, e fomos todos juntos para a Rússia. A doença da mamãe nos manteve juntos.
Gradualmente, a nossa relação progrediu para uma união de respeito e amizade, e o nascimento da terceira filha só melhorou ainda mais nosso relacionamento. Graças às crianças, passamos a ver a vida de uma forma diferente, e aprendemos a amar e aceitar um ao outro com todas as suas falhas.
Meu marido é, antes de tudo, um pai muito amoroso, pronto para fazer qualquer capricho das crianças, e, às vezes, não só das crianças
Para meu marido só é importante saber quem comeu o quê hoje, e quantas vezes cada um foi ao banheiro (exceto eu, claro). Ele se lembra de tudo no que diz respeito às crianças: sabe quem precisar tomar vacina e quais os tamanhos da roupa de cada um (ele mesmo compra as roupas das crianças). Quando Adam foi admitido no hospital, ele não saiu de seu lado por um minuto, acalmava-o durante as injeções e soros, ajudava-o a tomar banho e se vestir. Eu diria que nem eu tenho tanta preocupação com as crianças quanto ele.
Recentemente, fomos à uma loja comprar roupas. Ele pegou as crianças e me deu a oportunidade de andar sozinha para escolher algo para mim. Andei por 40 minutos, escolhi algumas peças e fui ao provador. Chamei meu marido para ele avaliar. Em resposta, ele e a nossa filha escolheram para mim outros itens, muito diferentes dos meus. No final, quando experimentei o que ele tinha escolhido, as roupas caíram perfeitamente em mim. Ele dizia: “Escolha isso, porque vai combinar com aquela calça que você tem em casa...e o lenço compro depois para você”. Enfim, nós compramos tudo que foi escolhido por ele, e acabei não levando nada das coisas que tinha separado sozinha! Um verdadeiro estilista!
Às vezes me perguntam que tipo de esposa eu sou
Sou uma mulher única! O nosso harém é formado por nossos 3 filhos, 2 gatos e eu. E, provavelmente, vai continuar assim, porque meu marido não é homem de muitas mulheres.
A questão da poligamia é regulada pela nossa religião: o marido deve tratar todas as esposas de forma igual em tudo. Ou seja, se uma recebe um anel, as outras também devem receber um presente; um carro para uma — um carro para cada uma das outras. E cada um deve viver na sua própria casa, ou seja, não é admissível todos viverem juntos embaixo do mesmo teto: muitas brigas podem ser geradas por questões diárias no cuidado da casa. Em geral, é preciso ter uma condição financeira alta para se ter várias esposas.
Você também acha que eu aderi ao Islã por causa do marido?
Aconteceu, na verdade, antes de eu o conhecer. Ninguém pode forçar outra pessoa a adotar uma religião. Como alguém pode fazer o outro acreditar em algo se essa pessoa não tem tal crença? Eu não compreendo as mulheres que dizem aceitar o Islã para o bem do casamento com o futuro marido. Por que essa hipocrisia? Isso é bom para quem? A propósito, um muçulmano tem o direito de se casar não só com uma muçulmana, mas também com uma mulher cristã ou judia.
Não sei se conseguiria viver com a minha sogra o tempo todo
Talvez o cotidiano acabasse com todas as coisas boas entre nós ao longo do tempo: afinal, temos visões diferentes de como a mulher deve se portar na casa. Mas acho que minha sogra é uma mulher de ouro! Ela é aquela sogra que está pronta para alimentar todos e sempre prestativa quando alguém precisa de ajuda.
Quando conheci a família do meu marido, tentei ajudar a mãe dele na cozinha, lavando a louça ou limpando a mesa. Às vezes ela aceitava minha ajuda, mas na maioria delas, sentia pena de mim, e dizia: “Descanse, querida, você pode fazer isso depois”.
Quando engravidei, sentiam ainda mais pena de mim: “sente-se e descanse, coloque as pernas inchadas para o ar”. Depois do parto — “vá e cuide da criança”. Se estivesse dormindo — “sente-se e descanse”. E assim, em um ciclo de 7 anos seguidos. Estava grávida — devia descansar; depois de lar à luz — devia descansar. E todos os afazeres de cozinha era responsabilidade da outra “noiva”, que um dia também engravidou e deu à luz, mas não deve ter sido paparicada dessa maneira.
Penso que a barreira linguística também desempenha aqui um papel importante. Eu falo Árabe, mas não perfeitamente, por isso é mais fácil para eles me deixarem em paz do que explicar algo.
Sou dona de casa, mas não estou “presa” em casa
Muitas vezes saio para passear com amigas russas, visto que há muitas delas morando aqui. Levamos as crianças ao parquinho, vamos a restaurantes para conversar, beber chá, café ou suco fresco. Em geral, aproveitamos da melhor forma nosso tempo livre, bem como todos os outros bilhões de representantes da nossa incrível humanidade.
No Egito não existe tal coisa como manter uma gravidez
Eles não vão para o hospital aqui, a menos que estejam em momento de parto. Se houver algum problema com o decorrer da gravidez, o tratamento é ambulatorial.
Dei à luz a minha primeira filha em Moscou. Na minha chegada, com as pernas inchadas, fui imediatamente colocada nas chamadas “35 semanas de retenção”, e por estar nessa situação acabei entrando em uma outra depressão, depois de já ter tido problema semelhante por discussões com meu marido.
No Egito, fiz o parto num hospital privado. O custo do parto foi cerca de 2.000 libras egípcias (aproximadamente 500 reais). Esse custo incluiu ficar em uma enfermaria com todas as comodidades, um médico à disposição, cuidados neonatais e serviço hospitalar. Eu fazia o que queria: caminhava, dançava e cantava no chuveiro, que ficava dentro do quarto. Havia também uma televisão, uma cama e um sofá para os visitantes.
Aqui eles não interferem no processo de parto, eles deixam a mulher se comportar livremente durante o período de contrações. A meu pedido, eles não interferiram tanto no fluxo natural do parto, ou seja, não fui estimulada ou muito menos forçada a deitar na maca para realizar o CTG (cardiotocografia), como foi feito em Moscou. E, em geral, eles não fazem CTG aqui.
Pelo que sei, isso é possível na Rússia somente se fizer parto por contrato no âmbito do programa “nascimento natural”, quando os médicos não inteferem tanto no processo natural. E isso é relativamente bem caro.
Eu não tive a dor de cabeça de decidir com quem deixar meus filhos enquanto estava no hospital, pois eles estavam no meu quarto comigo. E para mim, como mãe de família, isso foi um ponto extremamente positivo.
Ainda assim, houve um momento na minha vida em que eu estava seriamente pronta para desistir de tudo e ir embora
Tudo me irritava: sujeira, mentalidade dos egípcios, insetos... especialmente os insetos.
Eles são tão irritantes aqui! Dizemos em tom de brincadeira que são tão irritantes como os homens egípcios. Tentei de tudo: cremes, sprays, ácido bórico — nada ajudava. Falo dos insetos, não dos homens!
Outra coisa são as baratas do tamanho de um rato. Provavelmente, a casa inteira ouve meus gritos quando essas criaturas aparecem. Além disso, elas são voadoras! Têm asas e podem voar pelo apartamento e parar no seu ombro.
O Egito é um país de terceiro mundo, ou seja, se vê muita sujeira e pobreza nas ruas. Eu já me acostumei, mas há momentos que ainda não consigo digerir a mentalidade que eles têm. Por exemplo, a abordagem deles é assim: “Eu sou a Beth, prazer” — “E aí, gatinha?!” Eles chamam as mulheres assim... e é normal para eles, mas isso me irrita demais!
Não gosto também de algumas coisas no que diz respeito à limpeza. Por exemplo, podem limpar facilmente a mesa com o mesmo pano que usaram para limpar o chão, ou colocar sapatos sujos nos brinquedos das crianças, ou tirar os sapatos no mesmo lugar que acabaram de limpar. Além disso, o apartamento pode facilmente ficar todo empoeirado depois de uma tempestade de areia.
Se você é uma mulher solteira ou mesmo casada, jovem ou mais velha (especialmente se você é gordinha e branquinha) — tenha certeza de que você é uma estrela!
Sim, você vai se sentir assim. Então, caso você tenha problemas com a autoestima, bem-vinda ao Egito! Você vai receber muitos elogios, e a confiança em si mesma será suficiente para o resto da vida! Você receberá propostas de casamento, mesmo sendo casada. O principal, no entanto, é que seu marido não esteja com você nessa hora.
Claro que, como em todos os outros lugares, há pessoas boas e ruins aqui, mas há coisas que as unem. Em primeiro lugar, os egípcios são pessoas muito hospitaleiras e amigáveis.
Para o hóspede, eles fazem de tudo. Oferecem sempre o melhor que têm em casa, compartilham até mesmo o último pedaço de bolo. Nunca vão te reprimir caso você ou seu filho tenha quebrado alguma coisa ou derramado algo no tapete; dirão com um sorriso: “Maalesh! (“Está tudo bem!”) — e vão continuar a trazer as mais deliciosas guloseimas. Em contraponto, porém, vão se ofender se você recusar alguma coisa ou não comer tudo, e te chamarão “bookra” (“amanhã”) para vir novamente à sua casa.
Se elogiar uma mulher egípcia pelo seu novo anel, ela dirá: “Hudí!” (“Tome!”) É claro que todos sempre se recusam, e eu ainda não tentei tirar vantagem dessa bondade e realmente aceitar o presente.
Se vier para o Egito com uma criança, prepara-se para ele ser cheirado e beijado o tempo todo.
Se você vai às compras e, de repente, nota que não levou dinheiro suficiente, não se preocupe, “Maalesh!” Vão deixar você sair de lá com as compras se você prometer trazer o dinheiro mais tarde ou no dia seguinte. E, por mais estranho que pareça, todos entregam o dinheiro depois.
No Egito, muitas pessoas acreditam que se você mantiver um gato em casa, a mulher não será capaz de engravidar
Eles têm medo da toxoplasmose, que é transmitida por gatos, mas não entendem muito bem como ocorre a transmissão ou que tipo de doença é essa. Portanto, essa lenda dos gatos é passada de geração a geração.
Quando fui a Moscou dar à luz a minha primeira filha, meus parentes egípcios estavam muito preocupados que a minha filha nascesse estéril, porque a minha mãe tinha 5 gatos em casa naquela altura. Não sabia como acalmá-los, visto que eu vivi com gatos minha vida inteira — poderia se dizer que nasci entre eles — e ainda consegui engravidar. Eles também estavam preocupados durante minha segunda gravidez, porque tínhamos 2 gatinhos em nossa casa em Hurghad. “Mas eu já engravidei!” dizia. E mesmo na terceira gravidez falavam a mesma coisa, embora eu fosse uma prova viva da falha na lenda absurda: tínhamos 3 gatos naquela época, e isso não me impediu de engravidar!
Alguns egípcios chamam as crianças carinhosamente de “Ibn el kyalb” (literalmente: “filho de um cão”) ou “bint el kyalb” (“filha de um cão”)
Apenas “kyalba” (“cão”), ou “kyalba sugannana” (“cãozinho”) — ambos são bem amorosos. No meu país, as mães podem chamar seus filhos de apelidos, por vezes um pouco estranhos, mas certamente aceitáveis, como “bunda mole” ou “orelhudinho” se fizerem algo de errado — e isso é perfeitamente normal. Já no Egito, eles usam palavras mais duras para chamar a atenção dos pequenos, como “filho da mãe” ou outros palavrões ainda mais pesados, e isso também é comum. Você pode, é claro, “se vingar” de alguém e chamar o filho deles de algo como “tyz laziza” (traduzido como “bunda doce”), mas tenho medo da reação das mães se dissesse algo do tipo.
Apesar disso, os egípcios são muito gentis com as crianças. Até demais, eu diria. Por vezes, sua bondade pode incomodar um pouco. Por exemplo, quando um estranho se abaixa para beijar meu filho, ou quando apertam as bochechas da minha filha, Judy, ou apertam suas mãos, que depois ela coloca na boca.
Quando nasce uma criança aqui, é comum dar presentes, e principalmente ouro
Quando nasce uma menina, dão a você pulseiras de ouro, brincos e anéis. Bem, brincos ainda podem ser usados no bebê, embora, às vezes, eles sejam enormes para a criança, mas anéis?! Eles são dados a crianças pequenas que não ficam confortáveis com essas bijuterias, e após um ano, o bebê pode facilmente perder o anel. Portanto, todos os anéis que recebemos estão guardados na gaveta.
Os meninos também recebem, às vezes, pulseiras de ouro, com a justificativa de que é porque ainda são crianças. Para quem não sabe, o Islã proíbe os homens de usarem ouro. Isso é exclusivamente um metal feminino.
Os egípcios gostam de comer do mesmo prato, mas com colheres diferentes. Foi um verdadeiro choque para mim no início da minha experiência com a família do meu marido, quando eles se sentaram à mesa, que era rebaixada e rente ao chão, e começaram a comer com as mãos ou com pão, direto da tigela. No início eu só comia até outra pessoa colocar a colher no prato, e então já estava “satisfeita”.
Quando contei ao meu marido sobre minhas preferências, ele pediu à mãe para que me desse um prato separado. Agora colocam comida para mim separada, e eu posso comer até no quarto, em vez de me sentar à mesa com todos lutando por um espaço.
Muitos egípcios pensam que doenças podem ser curadas por milagres
No Egito, há um mito de que você pode se gripar pela barriga. Por isso, quase todos os egípcios usam uma camiseta por baixo da roupa, mesmo que esteja +50°C na rua. Porque “sem ela você pode pegar um resfriado embaixo do ar condicionado”! A minha sogra ficou chocada por eu não vestir as crianças com uma camiseta por baixo “alia lyahma” (“direto na carne”)!
O Inverno no Egito varia em temperaturas entre +20 e +23°C durante o dia, e +10 e +15 °C à noite. Para os locais, isso é bastante frio! Eles se cobrem de jaquetas e casacos, sob os quais há várias camadas de roupas, calças de algodão, chapéus de malha, e em seus pés, continuam usando os tão amados chinelos. E, às vezes, você entra em um táxi no Egito, durante o inverno, e vê o motorista todo agasalhado, quando na rua está +25°C ! Mas, claro, ele fica com calor dentro do carro, e decide ligar o ar condicionado para equilibrar a temperatura. E você, que está sentado no banco de trás, fica “congelado”, pois não estava preparado para essa queda de temperatura.
Tenho a impressão de que para os locais suar é normal. Então, quando a temperatura cai no inverno e eles não suam, eles colocam 10 camadas de roupas para, então, suar e ficar bem. E as crianças estão sempre embrulhadas independentemente do clima.
Quando saio para a rua, os egípcios, muitas vezes, prestam atenção em mim porque carrego minha filha no sling (carregador de bebês). Eles só usam as mãos, as cestas “cangurus” e muito raramente carrinhos. Se nas ruas de Hurghada há uma mãe com um carrinho de bebê, então é quase certo que ela seja nossa compatriota ou alguma estrangeira.
As mulheres no Egito são chamadas pelo nome do filho mais velho
Eu costumava ser chamada de Jannet em locais públicos, e quando meu primeiro filho nasceu, eu passei a ser chamada pelo nome dele. Só me chamam de Lena em casa ou amigas próximas do bairro. Se estamos em algum lugar em público com meu marido ou sogra, meu nome é apenas “Umm Adam” (“mãe de Adam”), e na maioria das vezes, apenas “Adam”. E eu respondo ao chamado. Provavelmente, em breve, tanto eu quanto meu filho viraremos a cabeça quando esse nome for pronunciado.
Não é que o nome de uma mulher seja uma vergonha ou coisa do tipo. No Oriente, acredita-se que o nome de uma mulher deve ser algo pessoal e ninguém tem o direito de chamá-la com tanta “intimidade” na frente de outras pessoas, ou gritar seu nome chamando-lhe a atenção. E a abordagem “mãe daquele” é considerada uma forma de muito respeito e dignidade.
Por favor, note que isso não acontece somente com as mulheres, mas com homens também. Em uma loja, uma vez, minha sogra chamou meu sogro de Amr, que é o nome do meu marido, pois ele é o filho mais velho da família. Até mesmo meu marido, às vezes, chama sua mãe em lugar público de Amr, ou seja, por seu próprio nome.
Os homens se chamam “Yahuad” / “Wola” (“menino”) ou “brynts” (“príncipe”). E, claro, “crianças do capeta” também é uma forma carinhosa de se chamarem! Eles também se chamam de “ahui”, que significa “meu irmão” em árabe.
Tenho saudades da minha pátria? Não sei a resposta exata
Às vezes, tenho vontade de voltar à minha terra natal quando vejo lugares familiares nas fotos e coisas que lembram minha infância e meus pais. Quero ver minha família. Mas quando vou a Moscou, nem sequer lembro das ruas. Depois de viver fora por tantos anos, já nem lembro como chegar na casa dos meus pais.
Além disso, eu mudei. Meus amigos notam que eu não correspondo à memória que eles têm, quando estou usando o "hijab“(pano na cabeça). Quem sabe da minha vida, das piadas que gosto de contar e da liberdade que tenho para me comunicar com todos, fica muito surpreso com esse contraste: como assim? Parece que se estou usando roupas fechadas, quase “monásticas”, sou automaticamente obrigada a me comportar de uma forma específica. Mas se uso um “hijab” por razões religiosas, isso não significa que eu tenha que mudar a pessoa que realmente sou.
Em geral, eu poderia ir visitar por alguns dias: passear em meus lugares de origem, ver meus amigos e, depois, voltar para o Egito! De qualquer forma, sua casa é onde você se sente bem e onde há pessoas queridas que estão felizes e esperando por você!
A história de Lena mais uma vez confirma a verdade mais clichê: o amor e a flexibilidade de ver o mundo abertamente podem desbancar quaisquer obstáculos e estereótipos. Se você já viveu em outro país ou se tem amigos ou conhecidos estrangeiros, conte-nos de sua experiência em se comunicar com eles! O que você mais gosta, e o que mais te surpreende?