A história da artista finlandesa que criou uma marca que arrecada 1,7 bilhão de reais por ano (e tudo começou com um desenho feito no banheiro)

Histórias
há 4 anos

É improvável que existam pessoas que nunca tenham ouvido falar das aventuras dos Mumins — ou Moomins. E sua criadora é conhecida muito além das fronteiras de sua terra natal, a Finlândia. Mas Tove Jansson não só foi a mais famosa contadora de histórias finlandesa, como também uma ilustradora de sucesso, artista gráfica, figurinista, dramaturga, poetisa e autora de desenhos animadosquadrinhos.

Incrível.club admira essa grande mulher e quer compartilhar com você a história de sua vida.

Tove nasceu em 1914, na família do escultor finlandês Viktor Jansson e da artista sueca Signe Hammarsten-Jansson. A situação financeira dos Jansson era precária e a família vivia modestamente. No entanto, Signe conseguiu manter a atmosfera calorosa e de conforto no lar e Tove literalmente aprendeu a desenhar nos braços de sua mãe.

O relacionamento com o pai estava longe de ser tão pacífico quanto com sua mãe. Viktor e Tove discutiam constantemente, já que tinham opiniões políticas diferentes, e muitas vezes era impossível aceitar e entender os valores um do outro. Apesar disso, eles nunca deixaram de se comunicar.

Tendo crescido em uma família criativa, a menina começou a desenhar muito cedo e um desenho de Tove foi publicado pela primeira vez, quando estava com apenas 14 anos. Um ano depois, a jovem ilustrou várias outras publicações e, no final da década de 1930, se tornou a principal ilustradora da revista Garm. Tove estudou Educação Artística em Estocolmo e continuou seus estudos na Finlândia.

Tove Jansson, “Paisagem mística”, 1930

Em meados da década de 1930, Tove tornou-se uma artista reconhecida e até participou de exposições na Academia de Artes. Sua carreira parecia mais do que promissora e a própria Tove declarava: “Achava engraçado, quando alguém dizia que era difícil ser feliz”. No entanto, o mundo mudou de repente, quando a guerra começou.

A renda de Tove durante a guerra vinha de suas ilustrações. Entre 1941 e 1942, a pedido do Centro de Postais Artísticos, criou cartões de Natal, Ano Novo e Páscoa. Em 1943, realizou sua primeira exposição individual no prestigiado Art Salon.

Os anos de guerra afetaram gravemente a população da Finlândia. O futuro parecia sombrio e sem esperanças, e foi durante esse período difícil que Tove criou os Mumins, trabalho no qual ela mesma, como escritora, poderia se esconder do que acontecia ao seu redor.

Quando ainda era pequena, em resposta a uma discussão com seu irmão sobre Immanuel Kant, Tove havia desenhado na parede do banheiro de uma casa de campo a primeira imagem parecida com um Mumin. Seu noivo, Atos Wirtanen, que se tornou o protótipo de Snusmumrik e Muskrat, ajudou Tove a publicar o primeiro livro sobre os Mumins.

O livro The Little Trolls and Great Flood foi publicado em 1945 e imediatamente causou muita controvérsia sobre a forma como os trolls bebiam vinho de palma, fumavam e às vezes até mesmo diziam insultos, sem se encaixar no modelo de educação dos futuros cidadãos dignos de seu país. Tove foi obrigada a repetir em diversas ocasiões que escrevia seus livros para entreter, não para educar.

A guerra também cobriu com uma sombra escura o segundo livro, Comet in Moominland, que Tove terminou de escrever em 1945. Já no livro Moomin-troll and the Wizard Hat, lançado em 1948, os heróis não eram mais ameaçados por qualquer catástrofe e não tinham necessidade de fugir. No mesmo livro há 3 novos personagens: Tofsla e Bifsla, assim como Morra.

Tove escreveu Moomin-troll and the Wizard Hat durante um período difícil de sua vida: o relacionamento com Atos terminou e surgiu um novo amor na vida da escritora, a diretora de teatro Vivica Bandler, que se tornou o protótipo de Bifsla.

Naquele tempo, as relações entre as pessoas do mesmo sexo na Finlândia eram fortemente condenadas pela sociedade e proibidas por lei. Portanto, no livro, Tofsla — cujo protótipo era a própria Tove — e Bifsla falam em uma língua estranha e transportam por todos os lugares uma mala em que escondem um enorme rubi, que é a representação do amor entre Tove e Vivica. O personagem Morra simbolizava a mão ameaçadora da lei, que estava prestes a atingir as pequenas Tofsla e Bifsla e lhes roubar o rubi.

Apesar de trabalhar em livros sobre os Mumins, Tove sempre se considerou uma pintora em primeiro lugar e, em 1947, começou a trabalhar em uma obra artística no restaurante da Prefeitura de Helsinque. Depois de completar o trabalho, iniciou os preparativos para o primeiro trabalho sobre os Mumins no palco do Teatro Sueco, em Helsinque. Em 1949, já havia uma verdadeira indústria dos Mumins.

Tove passou a ter problemas para administrar sua fama repentina, mas sua situação financeira permanecia instável, então concordou em fazer desenhos animados sobre os Mumins para a publicação Evening News, o que lhe garantia uma renda regular.

Um fragmento dos quadrinhos baseado no livro Mumins: loucura de verão. A senhora Snork faz um penteado para Misa e dá seus conselhos: “Agora, lembre-se! Confiante, feliz, despreocupada. De vez em quando você precisa fingir”.

Quando o contrato de 7 anos chegou ao fim, Tove deixou o jornal. Ela via seu relacionamento com os Mumins como um casamento exaustivo e dizia que queria se divorciar. Felizmente, foi durante esse período que a artista conheceu Tuulikki Pietilä, que a inspirou a escrever novas histórias sobre os Mumins e então nasceu o Moominland Midwinter, no qual o leitor conheceu Too-Ticky, cujo protótipo era Tuulikki (na foto abaixo).

Tuulikki Pietilä e Tove Jansson

Mais uma vez, Tove decidiu dedicar-se à sua carreira como pintora, embora não conseguisse concentrar-se apenas nessa atividade por causa das encomendas de ilustrações e narrativas de livros sobre os Mumins, entre outros textos. Em 1958, o pai de Tove morreu. Ela lhe escreveu uma espécie de obituário: o livro Moominpappa at Sea. A história, ambientada em lembranças de sua infância, respira melancolia, fala sobre os anseios do pai, sobre a tristeza da filha pela perda. Logo, Tove escreveria The sculptor’s daughter, seu primeiro livro exclusivamente para adultos.

As tragédias na vida de Tove não terminaram aí: em 1970 sua mãe morreu e, assim, ela perdeu a pessoa que mais amava no mundo. Moominvalley in November foi seu último livro sobre os trolls Mumins, um adeus ao vale de Mumin e seus habitantes, mas antes de tudo, uma despedida de sua mãe.

Após a morte da mãe, Tove parou com todos os trabalhos, exceto com a pintura e, junto com Tuulikki, se mudou para a ilha de Klovharun. Mas a popularidade dos trolls Mumins não a deixava em paz. Juntamente com Tuulikki, Jansson viajou muito para outros países, onde era recebida como uma estrela de Hollywood. Começaram a surgir adaptações sobre os Mumins para o rádio e foram feitas as primeiras séries de televisão. Além disso, Tove respondia pessoalmente a todas as cartas dos fãs, o que lhe consumia muito tempo.

Tove não perdeu a capacidade de criar até o final da vida. A mais recente coleção de seus romances foi publicada em 1998. Na época da publicação, a escritora estava com 84 anos de idade. Sua carreira criativa durou 70 anos. Pouco tempo depois, Tove foi diagnosticada com câncer. Em um encontro com um pastor, este lhe perguntou: “Você já pensou na eternidade?” Ao que Tove respondeu com seu estilo característico: “Sim. Estou curiosa sobre isso e espero que seja uma surpresa divertida”.

A personalidade multifacetada dessa contadora de histórias, que sonhava em ser apenas uma pintora, continua a cativar as pessoas até hoje. Em sua terra natal, há um museu e um parque dedicado aos trolls Mumins. As telas da artista podem ser vistas em vários museus de Helsinque. Além disso, seus afrescos adornam várias escolas, jardins e igrejas da capital da Finlândia.

Você conhecia o trabalho de Tove Jansson? O que acha de seus personagens? Deixe sua opinião nos comentários.

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