A trágica história de Jumbo, elefante que inspirou o filme “Dumbo”

Animais
há 4 anos

Muita gente traz na memória a lembrança do simpático elefantinho conhecido pelas orelhas enormes e pela capacidade de voar que nos deixou de coração partido ao ser separado da mãe. Contudo, a história real do animal que inspirou o clássico da Disney (que acaba de voltar aos cinemas) é ainda mais triste e bem menos infantil do que você pode imaginar.

O Incrível.club pesquisou a fatídica vida de Jumbo, o famoso elefante que serviu de inspiração para a recente superprodução.

A privação de liberdade

Jumbo era um pequeno elefante de cerca de dois anos e meio de vida que vivia ao lado da mãe na Abissínia, hoje Etiópia. Infelizmente, foi capturado em 1862 por caçadores que mataram sua mãe. A mãe de Jumbo foi assassinada simplesmente por ter realizado um ato de amor ao tentar proteger sua cria, algo que qualquer outra mãe faria. À época, o elefantinho foi batizado de Jumbo, que significa “olá” em suaíli, uma das línguas oficiais de países africanos como Quênia e Uganda. Já no filme, o nome foi alterado para Dumbo, que quer dizer algo como “bobo”, em inglês.

Apesar de muita gente não acreditar que o animal suportaria uma longa viagem, ele foi levado da África para Paris em condições deploráveis. Lá, houve uma tentativa de trocar Jumbo, ainda em estado lamentável, por um rinoceronte, no zoológico de Londres.

Chegada ao zoológico

Diferentemente do Dumbo das histórias da Disney, a peculiaridade de Jumbo não eram as orelhas, e sim sua raça africana, ou seja, seu grande tamanho. Além disso, acreditava-se que esses animais, em comparação com os elefantes asiáticos, eram muito violentos e rebeldes e, portanto, mais difíceis de serem domesticados.

Foram essas características que interessaram o diretor do zoológico, Abraham Bartlett, que resolveu ficar com Jumbo apesar de o elefante estar doente e com poucas chances de sobreviver. “Nunca uma criatura mais deplorável e doente havia andando por estes caminhos de Deus”, escreveu o diretor, que possivelmente inspirou o personagem Max Medici, vivido no novo filme pelo ator Danny DeVito. Então, um funcionário foi designado para cuidar do animal.

Holt Farrier / Matthew Scott

Na vida real, quem cuidou do elefante foi Matthew Scott, uma pessoa difícil de ser classificada, por ter protagonizado momentos de bondade e de maldade durante a vida de Jumbo. Scott passou seis meses dormindo junto com o animal em sua jaula. O tempo foi suficiente para que surgisse um vínculo emocional entre os dois, tão forte que nos atrevemos a dizer que só foi rompido com a morte.

Scott conseguiu fazer com que Jumbo recuperasse a saúde. O elefante cresceu, assim como sua fama e o amor do animal por seu cuidador. A situação nos lembra a conexão entre o Dumbo do cinema e a família Farrier: o ex-astro de circo Holt Farrier (Colin Farrell) e seus dois filhos, na versão dirigida por Tim Burton. Jumbo era o elefante dócil e amistoso que todo mundo queria conhecer: as pessoas adoravam visitá-lo no Regent’s Park. Lá, o animal interagia com crianças e as carregava no próprio corpo. Essa experiência foi vivida por Winston Churchill quando era criança, e também por outros filhos na nobreza europeia.

O transtorno de personalidade de Jumbo

Durante 15 anos, Jumbo foi a mais conhecida celebridade nacional. Porém, o elefante começou a sofrer com um transtorno que alterava sua personalidade. Durante o dia, ele convivia tranquilamente com crianças e adultos, o que só colaborava para aumentar sua popularidade. Porém, durante as noites, Jumbo virava um animal agressivo, com rompantes de violência que só eram controlados por Scott. Porém, a dolorosa realidade é que Scott controlava os ataques de ira de Jumbo recorrendo ao whisky. O homem fazia com que o elefante ingerisse a bebida a ponto de deixá-lo embriagado, fato que nos remete a uma das mais emblemáticas cenas do desenho animado.

Bartlett atribuiu o transtorno de Jumbo à idade e aos hormônios do animal, mas a verdade é que o elefante ficava agitado após comer guloseimas dadas pelos visitantes durante o dia. Isso estava provocando danos à dentição, fazendo com que, em várias ocasiões, ele quebrasse as próprias presas. Não é difícil imaginar a dor provocada por esses episódios.

Jumbo, a nova aquisição do circo

Antes que acontecesse uma tragédia provocada pelo comportamento de Jumbo, Bartlett decidiu vendê-lo ao magnata e empresário P.T. Barnum, que pagou pelo animal 2 mil libras esterlinas. Esse é um fato que nos faz lembrar o personagem interpretado por Michael Keaton, que deseja comprar Dumbo e faturar alto com as habilidades do elefante.

A decisão provocou a indignação dos londrinos, que enxergaram no fato uma ofensa nacional. O público queria se despedir do elefante, e algumas pessoas chegaram a arrecadar fundos para recomprar Jumbo. E, quando o animal se negou a embarcar no transporte que o levaria aos Estados Unidos, o simbolismo patriótico atingiu seu auge entre os britânicos, que se consideravam “donos” do bicho.

Os últimos anos

Quando Jumbo chegou aos EUA, Barnum o exibiu pelas ruas da Broadway, causando alvoroço entre a população local. O elefante chegou a cruzar a famosa ponte do Brooklyn junto a outros 20 animais da mesma espécie, com o objetivo de comprovar a segurança daquela grande obra.

A partir daquele momento, Jumbo deixou de ser afetado pela constante depressão que o atormentava em Londres em decorrência da solidão. Nos EUA, ele fazia parte de um circo itinerante que ia de cidade em cidade, o que dava ao animal a chance de socializar com outros elefantes. Jumbo era apresentado como o maior animal do mundo e grande amigo das crianças. Mas a bela e comovente história chegou ao fim quando uma locomotiva acabou com a vida do famoso elefante.

Attenborough and the Giant Elephant (Attenborough e o elefante gigante), documentário sobre Jumbo

Barnum recorreu a vários artifícios para criar uma história fictícia envolvendo a morte de Jumbo e, assim, seguir lucrando com o animal. Ele chegou a vender os ossos e a dissecar o corpo do elefante com o intuito de continuar exibindo-o. Segundo a versão fantasiosa, Jumbo tinha morrido em um ato de bravura ao se colocar na frente da locomotiva, que estava indo em direção a um filhote de elefante chamado Tom Thumb. Porém, em 2017, a BBC produziu um documentário desmentindo essa história.

O documentário revelou ainda os resultados de uma investigação que mostrou que Jumbo tinha ingerido muitas moedas, que eram jogadas em sua direção e que o animal aspirava com a tromba. Além disso, os ossos de Jumbo eram tão desgastados quanto os de um elefante idoso, já que durante sua estadia em Londres, o animal carregava mais peso do que deveria. Jumbo morreu aos 24 anos, enquanto a expectativa de vida de um elefante é de pelo menos 70 anos.

Apesar de o elefante ter tido uma vida triste e fatídica, sua história serve como uma reflexão sobre as atitudes cruéis que muitos humanos tomam com relação a outros animais.

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