A história do veterinário que salvou um tigre doente apesar de ser especializado em animais domésticos

há 4 anos

Karen Dallakyan é um veterinário que vive e trabalha na Rússia, mas seu nome ficou conhecido também em outras partes do mundo. Ele já foi convidado para trabalhar em países como Grécia e Estados Unidos. Além de ser capaz de estabelecer uma conexão toda especial com os animais, Karen também trata de casos muito difíceis, cuidando de bichos exóticos e potencialmente perigosos.

O veterinário compartilhou a própria história e sua postura em relação ao trabalho com o Incrível.club. Acompanhe:

Karen começou a carreira de veterinário de forma comum. Ele nasceu na Armênia, mas fez os estudos universitários na Rússia, e acabou ficando no país. Mais tarde, sem conseguir aceitar o fato de o tratamento dado a animais em estabelecimentos privados ser, sobretudo, um negócio desalmado, abriu sua própria clínica, que continua em funcionamento após mais de 30 anos.

O primeiro paciente diferente tratado por Karen foi um filhote de leopardo nascido em um zoológico. O animal foi trazido com paralisia, decorrente de um excesso de proteínas no organismo, provocado, por sua vez, por uma alimentação inadequada. Todo mundo achava que o pequeno felino morreria, mas Karen conseguiu recuperá-lo. E o curioso é que gatos domésticos foram muito úteis no tratamento do leopardo. Os pets massageavam o filhote usando as patas, além de mordiscarem o doente, fazendo com que seu corpo estivesse sendo constantemente estimulado.

Na clínica do veterinário, era frequente encontrar animais que não apenas expressavam gratidão por terem sido curados, mas que pareciam desenvolver um amor por Karen. Por exemplo, a macaca Marusya foi salva de uma hipotermia. Como o animal era muito exótico, o veterinário precisou pesquisar sobre o tratamento adequado, chegando a trocar informações com um pediatra. Ele resolveu cuidar da macaca dando a ela um pouco de vinho quente e hematogênicos. Quando a paciente melhorou, passou a “conversar” com o veterinário em seu próprio idioma, acariciando as mãos do homem. Por outro lado, a macaca demonstrou agressividade em relação à equipe feminina da clínica: era como se ela estivesse com ciúmes do seu salvador.

A história profissional de Karen é cheia de casos parecidos envolvendo os bichos que passaram pela clínica, desde um ouriço até um cisne, um lobo e um leão.

Porém, uma história mudaria totalmente a vida do veterinário. Certa noite, um colega ligou para Karen, e parecia confuso e nervoso, contando que estava atendendo um tigre com uma febre de 42 °C, mas que simplesmente não sabia como ajudar o pobre felino.

Naquela mesma noite, o grande animal foi levado para a clínica de Karen. O bicho tinha uma enorme ferida do focinho, que já cheirava à decomposição. O processo patológico já havia atingido o tecido ósseo. Segundo as pessoas que levaram o tigre (que ti1nha 5 meses de idade), ele teve o focinho perfurado por um osso ao comer um frango cru. Um veterinário local extraiu um dente do felino, o que só piorou a situação.

Karen fez tudo o que podia para salvar o animal. O tigre ficou entre a vida a e a morte durante quase seis meses. Conforme o predador recuperava a consciência, passou a destruir o local onde estava, quebrando tudo ao seu redor. Às vezes, tirava os curativos. Mas ainda assim, seguia melhorando. Uma vez, após mais uma cirurgia, o tigre começou a ronronar. Desde então, Karen e o grande felino não se separaram. Os dois chegam a tomar café da manhã e passear juntos.

Quando o filhote finalmente se recuperou, o veterinário entrou em contato com os donos do zoológico para dizer que podiam levar o animal. Mas, quando as pessoas chegaram à clínica e perceberam que o tigre estava sem uma parte do focinho, prometeram voltar dali a seis meses para sacrificá-lo. Karen não suportou a ideia e deu início a uma vaquinha para arrecadar dinheiro e comprar seu paciente. Ele mobilizou gente até mesmo de sua cidade natal para atingir o objetivo.

Além de salvar o felino, o veterinário teve condições de enviá-lo a um centro de reabilitação de animais selvagens situado em uma floresta. Assim, graças aos esforços de Karen, o tigre sobreviveu e deixou para trás uma jaula de zoológico, passando a viver em seu habitat natural. A história acabou caindo nas graças do público.

De forma geral, é difícil encontrar informações sobre tratamento veterinário voltado a animais tidos como exóticos. E a situação era ainda pior nos anos 1990, quando não existia Google e as ligações internacionais para consulta com veterinários de outros países tinham preços proibitivos. Naquela época, Karen se baseava na própria experiência profissional, participava de conferências e seminários e lia literatura específica (às vezes estrangeira, com ajuda de dicionários).

Uma das lições mais importantes que Karen diz ter aprendido com seus pacientes foi confiar mais na voz interior. “O coração não mente. Ele nunca me mostraria o caminho errado”, diz o veterinário, praticamente repetindo as palavras da Raposa de O Pequeno Príncipe.

Muito possivelmente, foi essa maneira de ver as coisas que permitiu que o profissional ajudasse não apenas cães e gatos, mas também tigres, ursos, cobras e outros animais selvagens considerados perigosos. A esposa de Karen, Alvina, tem certeza de que os bichos nunca machucariam seu marido, pois sentem que o homem está ali para ajudá-los.

Por falar em esposa, o apoio da família é muito importante para Karen. Paciência, amor, compreensão e cuidado por parte de sua companheira, dos filhos e do pai: tudo isso serve como uma fonte de energia para o famoso doutor dos animais. “Meus dois filhos são meus principais ajudantes”, conta Karen. Quando ele ainda não possuía um espaço para animais em recuperação, seu apartamento acabava se tornando uma espécie de alojamento para vários bichos, exigindo que o local fosse limpo com frequência. E a família encarava junta as tarefas.

Com o passar do tempo (após o incidente envolvendo o tigre), Karen fundou a “Salve-me”, entidade de proteção para animais vítimas de maus-tratos. E apesar de a organização contar com o apoio de muita gente, o veterinário precisa estar à disposição dos pacientes, muitas vezes 24 horas por dia, chegando a dormir no trabalho com frequência.

O profissional ainda reserva parte de seu tempo para participar de programas educativos junto com seus companheiros. Eles ministram conferências, seminários, participam de exposições e reuniões em bibliotecas. Segundo Karen, muita gente não sabe como lidar com um animal por não possuir os conhecimentos necessários. Em muitos casos, isso resulta em sofrimento tanto para os bichos quanto para os humanos.

A fundação colabora com um centro de reabilitação infantil, já que os animais têm um efeito muito positivo na saúde psíquica humana.

“Quero viver para ver o dia em que deixarei de receber tantos animais vítimas de maus-tratos”, afirma Karen. Quando perguntado se acha que isso será possível, ele responde, de maneira sábia e tranquila, que acredita no melhor. Porque sem pensamento positivo, nada é possível.

Você já encontrou gente tão dedicada à profissão quanto Karen? O que achou da história do veterinário? Comente!

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