Vivi de acordo com os mandamentos de um famoso psicólogo durante uma semana e parei para não falir

Psicologia
há 3 anos

Nem todo profissional escolhe chamar a atenção do público com discussões acerca de assuntos controversos, mas o psicólogo Mihail Labkovskiy, autor do sensacional livro “Quero e vou: aceitar-me, amar a vida e ser feliz” (em tradução livre), definitivamente pode ser considerado uma pessoa que gosta de levantar debates: suas declarações arrojadas e categóricas costumam causar polêmica entre os interessados ​​em psicologia.

Meu nome é Yúlia, e decidi realizar um experimento, cujos resultados quero compartilhar com os leitores do Incrível.club: durante uma semana tentei seguir as regras elaboradas pelo famoso psicólogo. Embora pareçam surpreendentemente simples, cumpri-las não foi nada fácil.

Regra № 1: faça o que quiser

Sempre sonhei em gastar o meu salário comigo mesma, sem deixar dinheiro para uma emergência, serviços ou comida. Gastei tudo em três dias, mas depois fiquei sabendo que o meu marido estava com o salário atrasado. Foi um momento horrível, fiquei muito nervosa. Para me acalmar, coloquei um dos novos vestidos que havia comprado, passei um batom de 200 reais e fiquei repetindo para mim mesma que merecia novidades na vida, que podia me dar ao luxo de gastar uma grande quantidade de dinheiro com as minhas necessidades pelo menos uma vez. Afinal, tudo daria certo, e acharíamos uma solução.

Admito que tal atitude não ajudou muito. O treinamento autógeno é ótimo, mas o bom senso me disse que havia me empolgado demais. Atormentada, me sentia culpada e estava me questionando por que havia agido de forma tão irresponsável, sabendo que, além de tudo, tenho a minha própria família.

Contudo, continuei tentando adotar a regra no dia a dia e fazer apenas o que queria. Porém, sem dinheiro, isso acabou sendo praticamente impossível. Quando queria comprar um café no caminho do trabalho, imediatamente me lembrava de que estávamos no vermelho. Não consegui nem adquirir um vestido novo de presente para o aniversário da minha filha, porque depois de calcular as finanças, percebi que teria de repaginar o antigo dela. Isso me deixou mal e envergonhada: eu iria aparecer em uma roupa nova na festa dela, mas ela não.

Conclusão: sim, fazer algo para si mesmo é muito agradável, mas essa regra se desfaz diante da dura realidade. No mundo adulto, não estamos por conta própria e temos obrigações com as pessoas queridas, que devem ser levadas em consideração. Além disso, após realizar 2 ou 3 caprichos, a euforia desaparece, e não há muito que queiramos fazer. Tente pensar em pelo menos cinco desejos dentro do seu orçamento e verá que há menos deles do que você pensa.

Regra № 2: não faça o que não quiser

Tenho uma colega de trabalho que me irrita muito. Portanto, disse firmemente que não faria por ela nada que fosse além das minhas responsabilidades. Minha constatação a magoou tão profundamente que ela passou a falar mal de mim pelas costas. Embora eu nunca tivesse divergências com os outros colegas, muitos ficaram ao lado dela: começaram a murmurar e pararam de me chamar para tomar café durante os intervalos.

Em casa, a situação também saiu do controle. Todo ano, no início da primavera, vou para o interior da cidade com o meu marido e sua família, para relaxar por alguns dias. Essas viagens são uma alegria enorme para ele e os nossos filhos, mas para mim são mais alguns dias de trabalho extra na companhia de pessoas de quem, na verdade, não gosto tanto assim. Dessa vez, pedi para irem sem mim. Meu marido ficou ofendido e parou de falar comigo, nossos filhos ficaram chateados, e a família dele quase declarou guerra contra mim. Não tive escolha, a não ser me esconder no banheiro de tanto desespero.

Por fim, eles foram e fiquei sozinha em casa. Pedi sushi e fui assistir a um filme que o meu marido se recusava a ver comigo. Fiz tudo para tirar o máximo proveito da tão esperada solidão e silêncio. O engraçado é que, durante os três dias que passei sem ninguém em casa, me senti como se estivesse matando aulas e os meus pais estivessem prestes a descobrir.

Conclusão: não posso dizer que todos os resultados desse experimento foram igualmente agradáveis. Dói ofender sua família recusando os pedidos dela. Definitivamente não vou repetir. Por outro lado, dizer “não” para a minha colega me fez sentir melhor. Havia um bom tempo que queria fazer isso, mas ficava muito indecisa. Então, passei a aplicar essa regra em relação a todos os que não são próximos de mim.

Regra № 3: se não gostar de algo, fale na hora

Toda a família aprendeu rapidamente que me irrita o fato de ninguém lavar a louça, levar o lixo para fora e tirar o pó. O meu marido ficou muito chocado quando descobriu que tenho uma resposta pronta para cada uma de suas declarações, e que havia guardado tudo por todos esses anos, como uma mulher “sábia”. Sentia-me estranha. Aparentemente, um mar de descontentamento “fervia” dentro de mim, que eu cuidadosamente escondia, inclusive de mim mesma.

No entanto, isso não se limitava ao círculo familiar. Quase todos os dias passeava com uma vizinha: nossos filhos têm a mesma idade, por isso nos encontramos frequentemente no parquinho. Por alguma razão, ela decidiu que éramos amigas, passou a nos visitar quase todos os dias e me fazia ficar acordada até tarde. Sou introvertida por natureza, e esse contato estreito me pressionava. Uma noite, a mulher fez uma visita novamente e mal se aproximou da nossa porta quando eu disse: “Desculpe, mas acho que os nossos encontros me impedem de passar mais tempo com a minha família. Vamos conversar amanhã no parquinho, pode ser?”

No dia seguinte, nos encontramos e conversamos como se nada tivesse acontecido. O relacionamento ficou um pouco tenso, mas ela parou de nos visitar.

Conclusão: na infância, todos éramos honestos quanto aos nossos sentimentos e repreendidos pelos nossos pais: “Você até pode detestar uma roupa, um prato ou um lugar, mas sei melhor do que você precisa!” Portanto, a maioria de nós cresceu tendo em mente que fazer o que não gostamos é normal, enquanto desfrutar do que gostamos é um gesto de egoísmo.

De fato, pensei que todos com quem falaria sinceramente, dizendo abertamente sobre o que gostava, ficariam ofendidos e cortariam contato comigo. Mas acontece que muitos aceitam críticas, e quem é suscetível a uma opinião diferente simplesmente não faz parte da “minha turma”. Portanto, concordo com esse ponto: de fato, precisamos falar sobre o que nos incomoda e não gastar energia com pessoas desnecessárias.

Regra № 4: responda apenas quando lhe perguntarem

O fato de que, quando contava alguma coisa para pessoa querida, ela imediatamente dava um monte de conselhos, sem me perguntar se realmente precisava deles, me deixava furiosa. Uma parente possui essa mania irritante, então eu, no intuito de agir diferente dela, geralmente evitava dar a minha opinião sem ser perguntada. Mas nem sempre foi assim.

Tenho uma velha amiga que sofre constantemente com problemas diferentes, lamentando e sem saber como encontrar uma saída. Suas reclamações me fazem sentir pena dela, tentar ajudá-la e pensar em uma sugestão. Eu lhe dava conselhos, mas ficava irritada depois, quando descobria que ela fazia exatamente o oposto. A mesma coisa durou anos: essa amiga me ligava reclamando, eu reagia de acordo, tentando me colocar no lugar dela e oferecia soluções, mas acabava ficando com raiva, porque ela desmerecia o meu esforço e não ligava para as minhas tentativas de ajudar.

Um dia, quando a minha amiga Helena me deixou perplexa com um novo problema, eu estava prestes a procurar mais um remédio para os seus sofrimentos, mas parei a tempo e respondi em tom desinteressado: “Nem sei o que te dizer.” E ela continuou tagarelando sobre os conselhos sem graça que havia recebido de suas amigas Maria, Cátia e Olga, mas decidiu resolver tudo do seu próprio jeito. Estava lhe escutando e me sentindo como se levasse um balde de água fria: antes, eu também estava nessa lista, ao lado de Cátia, Maria e Olga, com suas propostas bobas.

Conclusão: é terrivelmente difícil parar no tempo e não dizer algo que não nos é perguntado. Mas no fundo, cada um de nós sabe quando os nossos conselhos são realmente bem-vindos e quando as pessoas querem falar com a gente. Aprendi a deixar de lado conversas fúteis. Devo admitir que a Helena perdeu o interesse por mim, pois não havia nada para discutir comigo. Também percebi que não estava interessada em pessoas como ela, por parecerem vampiros — só precisam se alimentar das nossas emoções, em vez de receber conselhos.

Regra № 5: responda apenas ao que lhe for perguntado

Para manter essa regra em mente o tempo todo, coloquei um elástico grande no meu braço, que ficava na minha frente o tempo todo. E por mais inconveniente que fosse, me lembrava constantemente da razão pela qual estava ali: eu devia dar respostas bem pontuais. Mas em apenas alguns dias me peguei viajando na maionese, respondendo às perguntas mais simples. Certa vez, meu marido perguntou se eu iria para o mercado no dia seguinte, então lhe contei em detalhes todos os planos para aquele dia. No meio da história, novamente dei de cara com o elástico, notei o olhar sem graça do meu marido e rapidamente encerrei o assunto.

Foi uma experiência saudável. No entanto, os dias seguintes mostraram que são os homens que têm uma necessidade maior de respostas mais objetivas. As mulheres, por exemplo, não se mostram totalmente avessas a ouvir as minhas reflexões sobre o terrível sistema de educação. Várias vezes tentei responder em poucas palavras e de forma monossilábica perguntas de uma amiga minha, e cada vez ela se ofendia por “eu me recusar a conversar”. E eu até queria, mas me continha, então a nossa comunicação não dava certo.

Conclusão: é um conselho muito controverso. Comecei a aplicá-lo apenas com homens. Para mulheres, ele não funciona com muita frequência: em minha opinião, nós, diferentemente dos homens, somos mais dispostas a desabafar o máximo possível sobre os problemas.

Regra № 6: ao resolver conflitos, fale apenas sobre você

Em teoria, conhecia esse método havia muito tempo. Dessa maneira, não ferimos os sentimentos do nosso interlocutor e o deixamos menos desconfortável. Na prática, é claro, é difícil de ser aplicado. No calor de uma discussão, acabamos colocando a culpa no outro, gritando: “Sim, é você que continua se esquecendo de buscar as crianças na escola! No que você está pensando!?” Além disso, parece que a frase “não sinto que tenho um parceiro confiável ao meu lado” não consegue expressar tudo aquilo que queremos dizer.

Certa vez, meu marido e eu estávamos discutindo sobre um assunto do dia a dia. Como sempre, no meio da discussão, começamos a levantar as vozes um para outro, mas de repente me dei conta de que deveria agir de maneira diferente. Parei de gritar e disse calmamente que fico me sentindo sozinha e confusa cada vez que brigamos e que, na verdade, me sinto mal com isso. No início, ele ficou perplexo e em silêncio. Depois, se sentou perto de mim e conversamos de coração aberto, de uma maneira que não falávamos havia anos.

Conclusão: essa regra definitivamente funciona. Nós brigávamos frequentemente, mas recentemente as nossas polêmicas atingiram um novo patamar: estamos mais propensos a discutir os problemas, em vez de lançar acusações um contra o outro. É claro que, mesmo agora, às vezes exageramos na dose, mas a cada dia que passa fica mais fácil admitir os próprios erros.

Quando iniciei o meu experimento, esperava que fosse divertido, instrutivo e fácil, mas estava errada: foi muito difícil. Queria corrigir alguns aspectos da minha vida e honestamente tentei seguir todos os preceitos do psicólogo. Mas acontece que é preciso ser de ferro para parar na hora certa e se comportar de acordo com as regras.

Além disso, depois que escolhi deliberadamente passar pelo caminho de tentações, não me sentia emocionalmente confortável, pois fui educada de forma diferente — nunca dizer “não” e falar sobre o que não me convém abertamente para os outros. Houve alguns momentos que me deixaram realmente aflita, embora, no início, me sentisse uma vencedora. Por exemplo, o relacionamento com colegas de trabalho nunca mais voltou a melhorar. Agora, preciso procurar um novo emprego, pedir ao meu chefe uma transferência para outro setor ou me acostumar a trabalhar em um ambiente onde me tratam com receio e hostilidade.

Parece que, ao se cumprir todas essas instruções à risca, além de perder o emprego, há uma grande probabilidade de arruinar a família (sim, meu marido e eu tivemos alguns desentendimentos sérios mesmo durante uma semana depois de encerrar o experimento). Talvez eu tenha me empolgado demais, ao invés de proceder gradualmente.

E você, conhecia as famosas regras de Mihail Labkovskiy? Em sua opinião, elas podem servir como saída para os inúmeros problemas pessoais que enfrentamos no dia a dia ou atrapalham mais do que ajudam?

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