“Verdadeiras prioridades”, um texto que explica o que realmente importa

Histórias
há 3 anos

Um cara chegou à casa de sua amiga e sentou-se na cama dela. Para contextualizar: o homem tinha viajado de carona e estava vestindo jeans surrados, que não eram lavados há muito tempo.

A mulher ficou gritando como um pássaro ferido.

Em um primeiro momento, ele não entendeu o que fez de errado, porque eles tinham um bom relacionamento, a princípio. Depois de descobrir o motivo de tal reação, exclamou: “Para você, as coisas são mais importantes do que as pessoas!”

Outro homem decidiu dar uma mão para sua amiga que fazia uma reforma em casa e pintar suas janelas. Ele não pensou em colocar, por exemplo, alguns jornais para proteger o chão da tinta nem ouviu falar de fita crepe. Obviamente, a dona ficou insatisfeita com as marcas coloridas no vidro e com o chão borrado.

O sujeito ficou magoado: ele fez um favor e trabalhou duro, mas ouviu apenas a mulher resmungando sobre a sujeira, ao invés de agradecê-lo pelo trabalho. Ou seja, ela também é alguém que se importa mais com as coisas do que com as pessoas.

O terceiro homem também foi fazer uma visita e jogou sua mala pesada, com um martelo ou uma picareta que estava levando do trabalho, em uma mesa antiga, de laca preta com entalhes sofisticados.

A dona não ficou nem um pouco feliz com sua atitude. Parece que ela também valoriza mais as coisas do que as pessoas.

Uma esposa estava dando uma dura em seu marido, pois ele tinha ajudado a empurrar o carro de um desconhecido, atolado na lama, mas sem tirar seu sobretudo de cashmere. A mulher não era capaz de compreender o ato de seu parceiro. Ela também não sabe definir as prioridades da maneira certa, cuidando das coisas e não dando a mínima para as pessoas.

Na hora de trocar de roupa, uma adolescente de 16 anos deixou cair no chão todas as peças que estava vestindo (ela tinha visto uma cena parecida em um filme e achou muito interessante). Desapontada, sua mãe pegou uma blusa de seda preta do chão empoeirado. Ela mostrou ser indiferente às crises existenciais e à preocupação patológica com objetos. Obviamente, as coisas são mais importantes para ela do que as pessoas.

“São apenas objetos”, dizem alguns. “Você não pode ser tão apegada às coisas.”

Não, queridos, todas essas “coisas” não são apenas bens materiais. Cada uma delas vale mais do que sua própria vida. Quer dizer, muito mais do que vocês podem imaginar.

Por exemplo, o personagem no início do texto se sentou no primeiro lugar que encontrou. Mas depois, a dona provavelmente teve de lavar a roupa de cama, deixá-la secando e colocar outra roupa limpa. Ela pretendia passar o resto da tarde lendo um livro, mas o sujeito “deu de presente” uma bagunça e uma dor de cabeça que custarão suas forças e seu tempo.

O segundo cara demorou cerca de uma hora para pintar as janelas, mas fez a dona passar seis horas removendo a tinta dos vidros e das paredes depois, o que não é uma tarefa fácil. No fim, mais ajuda quem não atrapalha.

O homem que estragou o revestimento antigo da mesa nem pode imaginar quanto esse móvel valia, quanto custa agora, todo riscado, e quanto custará sua restauração. Ele praticamente tirou o dinheiro da dona. E eu nem vou falar que a mesa pode ser uma herança ou ter um valor sentimental.

O marido que acabou com o sobretudo de cashmere jogou fora o dinheiro gasto com a peça. Esse valor poderia ter sido usado para ajudar sua esposa, mas depois disso ele teria de comprar um casaco novo. Ou seja, sua mulher foi prejudicada outra vez à custa de uma roupa.

Suponho que a mãe que teve de recolher as roupas de sua filha do chão sujo tenha comprado os itens à custa de muito esforço. Ela tinha trabalhado muito para consegui-las e pagou por elas, inclusive, com uma parte de seu tempo. Mas agora, ela terá de se sacrificar novamente para arrumar tudo.

Há uma música antiga que conta sobre uma mulher vulgar, vazia e materialista, que parece ser ridícula na perspectiva dos outros — que pensam mais nas pessoas e se importam com o próximo.

Não, queridos. Quem não valoriza as coisas não valoriza as pessoas. É a lei da natureza humana.

Incrível.club publica a tradução deste texto
com autorização da autora, a blogueira Malka Lorenz.

Imagem de capa depositphotos

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