Sofri com a depressão pós-parto e vou contar como saí dela

Psicologia
há 5 anos

Quando nasce um bebê, também nasce uma mãe. Eu deixei ser somente a Mariana para me transformar em mãe da Helena. É claro que ninguém me preparou para isso, nem mesmo os cursos mais avançados de maternidade que eu fiz ou a quantidade absurda de livros que li sobre o tema. A maternidade chega e começam as verdadeiras mudanças, o que pode ser muito difícil. Quando nasceu minha filha, minha vida se transformou por completo: eu me sentia uma mulher absolutamente diferente da que eu era antes. Não só estava cansada e desorientada, como também entrei em um profundo quadro depressivo. Por quê? O que estava acontecendo? Por que não estava sendo plenamente feliz por ter realizado o sonho de ser mãe?

Então, especialmente para a equipe do Incrível.club, compartilho minha história sobre como consegui superar a temida depressão pós-parto.

1. Aceitei o que estava acontecendo comigo

O nascimento de um filho é uma experiência tão maravilhosa quanto apavorante. Depois de um parto relativamente tranquilo e de saber que minha filha estava bem de saúde, fomos liberadas e voltamos para casa. Então, começamos a receber visitas de familiares e amigos ansiosos por conhecer nossa pequena filha. Todo mundo me dizia que ela era linda e me parabenizava. Muitos inclusive diziam que eu parecia ótima em meu novo papel de mãe. Mas era só irem embora que eu desatava a chorar, estava muito cansada, dolorida e me sentia pressionada. Minha mãe me consolava e dizia que esses dias iriam passar e rapidamente eu voltaria à normalidade, mas eu estava certa de que minha vida nunca mais seria a mesma de novo. Meu esposo também tentou me deixar mais alegre e pesquisou sobre todos os sintomas que eu estava passando: irritabilidade, tristeza, angústia, desorientação e ansiedade. Então me disse que eu possivelmente estaria passando por uma depressão pós parto. No início, não quis aceitar essa realidade, apenas coloquei na cabeça que era só uma fase, seja lá do que fosse. No entanto, uma noite, enquanto a bebê chorava horrores e eu não era capaz de atendê-la, percebi que realmente estava acontecendo algo sério comigo.

2. Precisava de ajuda, então pedi

Quando viramos mães, imediatamente se ativa algo em nosso interior que nos faz sentir e pensar que já não somos prioridade, nem mesmo para nós mesmas: agora temos um filho e é preciso cuidar dele e protegê-lo de tudo. Por isso, nos primeiros dias do nascimento da Helena, apenas foquei em doar-me totalmente para ela, ignorando minhas necessidades. Meu esposo tentava o tempo todo controlar melhor a situação e fazer seu papel de pai, mas eu me sentia a peça central. “Eu tenho de fazer isso, eu que sou a mãe”, repetia cada vez que ele tentava simplesmente trocar uma fralda ou niná-la um pouco. O mesmo acontecia quando chegavam meus pais de visita: eu não permitia que ninguém me ajudasse. Porém, quando eu não pude mais, entendi que não poderia afrontar a maternidade sozinha. Precisava de ajuda e devia pedir. Quando aceitei, comecei a receber todo o apoio necessário. Assim consegui descansar um pouco mais, dormir durante os cochilos da Helena, tomar um bom banho quando minha mãe ou meu esposo estavam com ela e a comer de maneira mais relaxada. Isso realmente fez toda a diferença no meu estado de ânimo.

3. Me dei tempo para conhecer melhor minha filha

Entender que eu mesma era importante e que sem meu equilíbrio físico e mental minha filha não estaria bem me ajudou a dar o primeiro passo. Conforme passaram os dias, fui conhecendo minha filha. Era certo que havíamos tido uma conexão especial e profunda durante seus 9 meses em meu ventre, mas também era verdade que, assim que nos separamos em seu nascimento, ela era uma pessoa bem diferente de mim. Eu acreditava saber tudo de bebês porque lia muito sobre educação. Mas cada um é diferente um do outro e tem seu próprio temperamento. ‘Esqueci’ um pouco de seguir as regras dos livros e comecei a tentar entender quem era minha filha; do que ela gostava; o que a incomodava; quando sentia fome... examinava seus movimentos, seus sons e me concentrava em seu olhar. Aquilo era emocionante para mim. E então compreendi que eu poderia ser uma boa mãe de verdade, simplesmente porque passei a conhecê-la muito além das teorias dos livros.

4. Diminuí minhas expectativas sobre a maternidade

Uma das coisas que mais me angustiaram quando sofri depressão pós-parto foi pensar na ideia da maternidade como uma responsabilidade muito séria, quase sagrada. E é, disso não há dúvida. Porém, esse pensamento complicou um pouco as coisas. Tinha medo do futuro, o que eu ainda teria de enfrentar. Pensava na mulher que havia sido antes, a mesma que esquecia as chaves dentro de casa, que perdia documentos importantes, ou que deixava as plantas de casa morrerem porque esquecia de colocar água nelas, e dizia a mim mesma que eu deveria ser perfeita ao me tornar mãe. Mas, definitivamente, fui descobrindo com o passar do tempo que não se tratava de resolver a troca de fralda, a hora do soninho ou a educação universitária da minha filha no futuro. Não. A maternidade é um dia de cada vez e perceber isso me permitia desfrutá-la por meio do aprendizado. É claro, houve dias em que a minha filha só queria dormir agarrada ao meu peito, mas em outros tantos dias ela conseguiu dormir sozinha e eu pude ler um livro. Nem todos os dias eram iguais, e eu não tinha a mesma energia de sempre. Por isso, resolvi enfrentar a maternidade do jeito que ela é, lentamente, sem me apressar ou tentar ser uma super-mãe da noite para o dia.

5. Me permiti

Uma vez que decidi que poderia ser uma mãe tranquila e passei a permitir que outros me ajudassem, comecei a me dar pequenos luxos. Resolvi que, todos os dias, mesmo que fosse por uns 20 minutos, destinaria um momento apenas para mim. Deixava meu esposo passar mais tempo com a Helena e ia para a cozinha ou para a sala ver o capítulo de alguma série, ler um livro, ligar para alguma amiga ou comer um chocolate. Um bebê demanda muito, e suas necessidades são inadiáveis. Devido a isso, esse momento comigo mesma era muito importante. Era a oportunidade de me desconectar comigo mesma.

6. Comecei a me cuidar e a me amar

Comecei a entender a lógica as máscaras de oxigênio nos aviões. Se você já viu as instruções de segurança antes de um voo, deve ter entendido que, se acontece uma descompressão na aeronave, a orientação é a de que, antes de colocarem a máscara em uma criança, os adultos devem coloca-las em si mesmos. Afinal, se você não coloca a máscara em si mesmo, não tem como ajudar a criança. Acontece o mesmo com a maternidade. Se uma mãe não está plenamente bem consigo mesma, não poderá fazer um bom papel. Quando compreendi que essa sensação de asfixia que senti nos primeiros dias de atenção à minha recém-nascida vinha da minha falta de cuidado, pude me preparar melhor. Comecei por me arrumar bem, mesmo que não saísse muito: me penteava mais e me maquiava de maneira casual. Também aboli permanentemente o pijama. Aceitei que meu corpo havia mudado, sim... havia criado vida! E a volta à normalidade pré maternidade levaria tempo. Então, fiz um esforço para me alimentar de maneira mais saudável, fazer um pouco de caminhada dentro de casa e para inundar meus pensamentos com coisas positivas. Descobri uma nova forma de me amar através dos meus próprios cuidados. Todas as mães merecem.

7. Compartilhei meu sentimento com outras mães

Sentir-se compreendida e apoiada por outras mulheres que atravessam a maternidade é muito importante. Comecei esse processo com minha própria mãe. Recorri a ela em meus momentos de tristeza e lhe fazia uma grande quantidade de perguntas. Graças aos seus conselhos, pude me libertar de algumas dúvidas. Mães são fontes inesgotáveis de ajuda e de dicas para enfrentar esse momento. O mesmo aconteceu quando me aproximei das minhas amigas que já eram mães. Descobri que todas elas tinham algo a me dizer, algo a desabafar e muito a ouvir. Algumas delas até mesmo passavam pelo mesmo que eu e eu não sabia até então.

8. Me libertei do medo de dizer o que sentia

Lembro-me de que, quanto mais me sentia triste e desanimada, menos queria me abrir. Tinha medo de ser julgada, de que me chamassem ou de “mãe desnaturada” pelo simples fato de ter uma mudança hormonal avassaladora. Porém, quando entendi que o que acontecia era normal e que acontece com 80% das mulheres no mundo, me senti compreendida e menos sozinha. Então, me animei a dizer ao meu esposo, pais e amigos como eu verdadeiramente me sentia. Assim, recebi a ajuda e o apoio necessários. Até fui a algumas sessões de terapia para falar sobre isso, e foi quando eu descobri que havia sofrido o chamado “baby blues”, um tipo leve de depressão pós-parto que se manifesta na forma de uma profunda tristeza ou melancolia após o nascimento de um bebê. Esse estado durou somente 2 semanas e logo consegui (com algumas dificuldades, é bom que se diga) seguir em frente. É importante que toda mãe de primeira viagem que não saiba o que ocorre com seus sentimentos fale deles e busque ajuda o mais rápido possível, pois pode ser que a tristeza seja algo passageiro, como no meu caso, ou seja algo mais delicado, que deve ser tratado com a ajuda de profissionais.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),depressão pós-parto afeta uma de cada 6 mulheres mães. Portanto, se você acabou de ter um bebê e sente uma tristeza pertinente, falta de interesse por alguma atividade que antes tinha interesse, perda de apetite, culpabilidade ou desesperança, saiba que esses estados são absolutamente normais após o nascimento de um filho, mas podem ser amenizados. A ajuda profissional é sempre necessária.

Agora que a Helena está perto de completar 2 anos, lembro dessa época quase como um sonho, mas também admiro a força que tive por sair dessa. Além disso, o tremendo amor que sentia pela minha filha me inspirou a atravessar essa fase com mais tranquilidade.

Você é mãe? Passou pela depressão pós-parto? Conhece alguém que tenha passado? Gostaria de compartilhar conosco sua experiência? Conte para a gente! Talvez o seu relato ajude outras mães a saírem dessa etapa difícil.

Comentários

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Admiração! É bem complicado admitir e conseguir sair

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