Um voo de roer as unhas que poderia ter terminado sem sobreviventes, mas não

Histórias
há 7 meses

O vôo 6 da Pan American estava terminando uma viagem ao redor do mundo com várias paradas no caminho. Em 16 de outubro de 1956, o Boeing 377 Stratocruiser, apelidado de Sovereign Of The Skies, ou soberano dos céus, em português, deixou Honolulu com destino a San Francisco. Era a última etapa da viagem — mas ninguém poderia prever que essa frase acabaria sendo não apenas uma figura de linguagem!

O avião deveria iniciar sua viagem às 19h30, mas alguns problemas de manutenção atrasaram o embarque por quase uma hora. Os passageiros estavam ficando um pouco impacientes. A decolagem finalmente ocorreu às 8:26 da noite e logo atingiu a altitude de 4.000 metros. Por algum tempo, a aeronave passou por uma área de turbulência, o que impossibilitou o serviço de bordo. Várias horas depois, as luzes foram apagadas e os passageiros se espreguiçaram nos assentos vazios, preparando-se para ter um sono tranquilo. Mal sabiam eles que dormir era a última coisa que conseguiriam naquela noite.

Por volta da 1 da manhã, a tripulação obteve permissão para subir até 6.400 metros. Mas assim que o Stratocruiser atingiu a altura necessária, uma coisa terrível aconteceu. À 1h20, um dos motores acusou excesso de velocidade. George Haaker, o primeiro oficial no comando, tentou resolver o problema reduzindo a velocidade. Não deu certo. Isso fez com que o capitão Richard Ogg cortasse totalmente o suprimento de óleo do motor. Depois de um tempo, o motor apagou, mas a hélice continuou girando com a corrente de ar! Isso fez com que a aeronave começasse a perder seu precioso combustível e diminuiu seriamente a velocidade.

Ela estava se movendo muito devagar agora — a apenas 280 km/h por hora. E também perdendo altitude em um ritmo alarmante — a uma taxa de 300 metros por minuto. Os três motores restantes estavam sofrendo, tentando diminuir a velocidade vertiginosa da descida. Pelo menos, ainda estavam funcionando. Isso fez com que os pilotos se sentissem um tanto esperançosos. Mas, de repente, o capitão percebeu que o quarto motor começou a falhar! Estava produzindo apenas um pouco de potência, embora funcionasse a todo vapor! Às 2h45, o inevitável aconteceu: o quarto motor começou a pifar e os pilotos tiveram que desligá-lo.

Agora, o avião tinha apenas dois motores funcionando e estava se movendo cada vez mais lentamente. A tripulação calculou quanto combustível ele estava consumindo e um silêncio pesado encheu a cabine. Os pilotos não tinham nada a fazer a não ser enfrentar a terrível verdade — não havia combustível suficiente para chegar em São Francisco. Nem poderia retornar a Honolulu. O capitão Ogg enviou uma mensagem de rádio para a Guarda Costeira dos Estados Unidos, “Pan Am 90943, voo 6, declara emergência no Pacífico”.

Naquela época, uma lancha da Guarda Costeira estava sempre patrulhando entre o Havaí e a costa da Califórnia. Essas embarcações transmitiam mensagens de rádio para os aviões mais próximos e forneciam informações meteorológicas. Elas eram geralmente colocadas próximas aos “pontos sem volta”, ou seja, áreas onde uma aeronave já teria queimado tanto combustível que não teria chance de voltar se algo desse errado. Naquela noite, o navio armador da Guarda Costeira era o Pontchartrain, de 78 metros, comandado por William Earle. O avião dirigiu-se à embarcação e nivelou a uma altitude de 600 metros. Então, ele começou a voar acima do navio em círculos de 13 quilômetros, esperando o amanhecer.

Era fundamental ter uma visão dos arredores porque os pilotos tinham que manter as asas da aeronave niveladas com o oceano — e isso seria impossível no escuro. Durante o dia, também seria mais fácil resgatar todas as pessoas a bordo. A decisão do capitão de pousar com 24 passageiros e 7 tripulantes não foi fácil nem apressada. Ele teve de pesar vários fatores. “Devo me livrar do combustível para deixar o avião mais leve? Devo pousar agora ou esperar até o amanhecer e ter melhor visibilidade?”

Mas uma coisa estava absolutamente clara: tendo perdido dois motores, a aeronave estava queimando o combustível rápido demais. Não havia outra solução a não ser mergulhar no oceano. Enquanto o Stratocruiser circulava o navio armador da Guarda Costeira, ele conseguiu subir de 600 para 1.500 metros. Isso fez com que o avião consumisse mais combustível e ficasse mais leve, o que era uma coisa boa. Quanto mais leve, mais tempo flutuaria na superfície. Além disso, reduzia o risco de incêndio após uma aterrissagem forçada.

O capitão sabia de um acidente ocorrido com outro PanAm Stratocruiser, no qual a cauda quebrou. Por isso o capitão Ogg pediu aos passageiros na parte de trás que se mudassem para a dianteira do avião. Aqueles que estavam sentados perto dos motores também tiveram que se mudar. Os comissários de bordo removeram todos os objetos soltos da cabine e explicaram aos passageiros o que deveriam esperar.

Desde o início dos problemas, os membros da tripulação vinham fazendo o possível para acalmar as pessoas aterrorizadas. Quando os passageiros descobriram que o avião voaria em círculos e não pousaria no escuro, ficaram extremamente aliviados. Outro pensamento reconfortante era que o navio da Guarda Costeira estava lá, pronto para fornecer o máximo de ajuda possível.

Felizmente, o tempo estava bom e o oceano muito calmo. Às 5h40, o capitão Ogg informou a embarcação que estava pronto para pousar. O navio deixou um caminho de espuma espessa na água para ajudar os pilotos a perceberem a altura acima da superfície com mais clareza. Às 6h15, o avião pousou. Ele ainda estava se movendo a uma velocidade de 170 km/h. Já havia viajado várias centenas de metros ao longo da superfície e começou a diminuir a velocidade quando a pior coisa possível aconteceu.

Uma das asas atingiu uma onda, a aeronave girou quase 180 graus e a cauda se quebrou. Depois disso, em questão de segundos o nariz afundou. Uma das pessoas que estavam a bordo do avião disse mais tarde que tudo o que podia ver naquele momento terrível era água — que parecia estar por toda parte. Mas depois de menos de um minuto, ela começou a recuar! E a frente do Stratocruiser ressurgiu.

Os tripulantes no Pontchartrain olhavam para o desastre que se desenrolava diante de seus olhos, sentindo-se entorpecidos. Estavam devastados — ninguém poderia sobreviver a tal aterrissagem forçada. Mas estavam muito, muito errados. Todas as 31 pessoas a bordo do avião estavam vivas! Ainda mais surpreendente, os ferimentos foram todos leves!

Quando os tripulantes do Pontchartrain perceberam que os passageiros e a tripulação haviam sobrevivido, vários barcos de resgate correram em direção aos destroços. Enquanto isso, o capitão e os passageiros designados para ajudar na evacuação inflaram três botes salva-vidas. Mas quando as pessoas começaram a subir em um deles, ficou óbvio que não tinha sido inflado corretamente. E começou a afundar. Felizmente, os barcos de resgate chegaram na hora certa. E prontamente transferiram os passageiros doa embarcação danificada para o navio armador.

Às 6h35, o último pedaço dos destroços desapareceu nas ondas. Naquele momento, todo o pessoal da aeronave já estava em segurança no navio da Guarda Costeira. Eles permaneceram nos aposentos dos oficiais e chegaram a São Francisco vários dias depois. O pouso forçado do Vôo Pan American 6 foi o primeiro acidente em que um avião caiu no oceano, mas conseguiu manter todos a bordo em segurança. E todo o acidente horripilante foi capturado por câmera: botes salva-vidas balançando ao lado do Stratocruiser; sobreviventes sendo transferidos para os barcos de resgate; a aeronave afundando rapidamente e desaparecendo entre as ondas.

Algum tempo depois, todos os membros da tripulação receberam prêmios por lidar com a emergência e manter os passageiros em segurança. O capitão Richard Ogg foi o primeiro a receber o Civilian Airmanship Award, concedido por suas habilidades e heroísmo mais notáveis.

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