Minha mãe não queria um animal de estimação (ela já cuida de uma cachorra bem velhinha), então, mesmo sabendo disso, minha irmã e meu cunhado deram uma calopsita para ela! Ela não gostou, mas levou. No segundo dia, minha mãe mexeu na ave que, assustada, agarrou-se ao dedo dela, com o bico, e levou minutos para largar. Resultado: agora quem tem a calopsita são o casal inconveniente, pois minha mãe a devolveu para eles. Bem-feito.
Trabalho em um pet shop e vou contar algumas histórias sobre clientes que nunca mais gostaria de atender
O dia a dia de um pet shop é composto por consultas, discussões sobre problemas e brincadeiras. Porém, alguns clientes não são tão simpáticos e preocupados com os animais e, muitas vezes, deixam uma marca negativa. Julia, autora do blog “Gato e Companhia”, vive isso na pele e já conseguiu atender vários donos, tanto pessoas gentis e atenciosas com seus amigos de quatro patas como gente que tem “garras” mais afiadas do que qualquer gato. Ela é atendente em uma loja de animais.
O Incrível.club adoraria contribuir para que todos nós cuidemos dos nossos bichinhos com mais carinho. Por isso, com a permissão de Julia, publicamos alguns relatos sobre seu trabalho. As declarações e pedidos a seguir vêm do fundo de seu coração.
O que costuma incomodar os atendentes
Em geral, sou uma pessoa paciente. No entanto, quando o assunto são animais domésticos, é fácil me tirar do sério, porque trabalho em um pet shop. De acordo com minhas observações, a maioria dos tutores sabe pouco sobre como cuidar de seus pets. O pior é que poucos tratam de se programar e tomar certas medidas antes de receber um filhote em casa, para que não surjam perguntas do tipo: “Como alimentá-lo?”, “Como acalmá-lo se ele não para de chorar à noite?” ou “Como ensiná-lo a fazer suas necessidades no lugar certo?” Fico furiosa quando conheço alguém que adotou ou comprou seu cachorrinho ou gatinho com cerca de 1 mês de idade. Como um filhote desses, desmamado prematuramente e normalmente nem vacinado ainda, pode ser colocado para adoção? É cedo demais!
Os donos não levam a sério a alimentação de seus pets
Não entendo gente que dá ração de cachorro para gatos e vice-versa, sem se preocupar com a saúde de seus amigos peludos. Frequentemente, isso acontece não por uma questão financeira, mas porque muitos donos de gatos, por exemplo, acreditam que os bichanos são onívoros: “Ele vai comer qualquer coisa que eu der. Que escolha ele tem?” Um dos clientes até afirmou uma vez que o certo era deixar o gato caçar ratos, o que seria sua única fonte de comida. Vale ressaltar que boa parte das rações baratas não têm valor nutricional por sua alta quantidade de farinha, enquanto os gatos precisam de proteínas, taurina, entre várias outras substâncias essenciais. Além disso, pensar que essa é a melhor opção para economizar dinheiro é um grande equívoco. Colocando na ponta do lápis, comprar ração barata sai mais caro: o animal precisa de uma quantidade maior de comida com pouco valor nutritivo para se satisfazer, o que significa que a ração vai acabar mais rápido. É como dar macarrão instantâneo a um ser humano todos os dias.
Há indivíduos que arrumam um animal de estimação não porque querem um companheiro, mas porque é chique
Há quem compre a ração mais barata, comentando de forma arrogante que tem um gato britânico de pelo curto ou um sphynx. Ou seja, uma raça tão exótica e cara, diga-se de passagem, acaba tendo uma alimentação precária. Alguns tutores vão mais longe e escolhem substituir a ração por mingau! Na minha opinião, ter um animal, não importa a raça, sem ter condições para proporcionar uma vida minimamente decente para ele é uma grande irresponsabilidade. Ainda por cima, muitos clientes costumam ficar surpresos quando comento que manter um bichano custa mais caro do que eles imaginam.
Várias atitudes que deveriam ser consideradas maus-tratos tendem a ser vistas pela boa parte da população como um hábito comum. Por exemplo, uma coisa que não cabe na minha cabeça é como um husky siberiano pode passar a vida acorrentado. Outro dia, uma senhora veio comprar uma ração de baixa qualidade para seu husky e parecia estar muito orgulhosa de ter essa raça em casa. Quando questionei a alimentação do coitado bichinho, a desconhecida respondeu que, além da ração, dava mingau para ele. Tentei explicar que os cães precisam, no mínimo, de carne e cartilagens, mas ela não me deu ouvidos. Vale destacar que a nutrição canina deve ser cheia de nutrientes, independentemente da raça do cachorro. No entanto, o que me chateia é que as pessoas compram ou adotam huskies siberianos, dobermanns, boxers e outros cães que exigem cuidados especiais só porque é legal.
Já no caso da dona de um rottweiler, o problema era o cão ter sido criado na corrente. Eles compraram um gato ou um coelho para seu filho, e o marido dela também resolveu ter um cachorro sem um motivo específico. Ele escolheu uma das raças mais exigentes, que adora companhia e precisa de atividades físicas. Agora o bichinho está lá, acorrentado. Ninguém sabe por que a família comprou o pobrezinho, sendo que todos sabiam que não teriam tempo para cuidar dele adequadamente. Infelizmente, essa não foi a única vez que me deparei com tanta ignorância. Um dia, um cliente veio escolher uma coleira para seu boxer para prendê-lo em uma corrente, porque o animal se comportava de forma agressiva durante os passeios. Eu não disse nada além de que seu cão teve muito azar ao ganhar um dono como ele.
Algumas frases de clientes partem o meu coração
Um casal jovem veio comprar um vermífugo porque seu cachorro ficava arrastando o bumbum no chão. Enquanto eu estava procurando o remédio, seu parceiro exclamou do outro lado da loja: “Que tal também comprarmos uma coleira para esse travesso andar na linha?” A moça deu muita risada. Os dois se mereciam. Como uma atendente atenciosa e que ama os animais, me senti no dever de comentar que o cão podia agir daquele jeito não só por causa dos vermes, mas porque provavelmente precisava esvaziar as glândulas anais ou estava com hemorroidas. Porém, recebi apenas uma resposta sarcástica: “Se ele não ficasse esfregando o rabo no chão, nem ia ganhar essas pílulas que a gente vai comprar agora”.
Animais não são brinquedos e precisam de cuidados
No meu ponto de vista, se o tutor cansou de seu pet, abrir mão dele não deveria ser uma saída. Gatos e cachorros são seres vivos, não são brinquedos, e nós somos responsáveis por eles. Certa vez, conversei com um freguês que costumava comprar comida para sua bichana de 10 anos, que ele já achava velha. Tentei convencê-lo de que, com uma alimentação balanceada, um estilo de vida saudável e exames veterinários regulares, ela ainda viveria um bom tempo. O que ele respondeu me deixou de olhos esbugalhados: “Não sei se todas essas preocupações valem a pena. Para mim, o lugar de gato não é dentro de casa, isso é coisa de gente relaxada. É que essa aqui foram os meus amigos que me deram para ela não ficar na rua”. Outro dia, uma cliente veio à procura de algo que aliviasse a dor de estômago de seu gato. O bichano se sentia mal, estava com diarreia e vômito há dois dias. Claro, o melhor seria consultar um veterinário. Todos sabemos que a intoxicação alimentar pode levar a uma forte desidratação do corpo. As palavras que se seguiram me chocaram: “Ele mora comigo há muito tempo. Quero me desfazer do animal, mas sinto pena dele”.
Por que sou contra dar animais de presente
Acredito que adquirir um animal de estimação deveria ser um passo consciente dado por quem realmente o deseja. Observo que nem mesmo assim existem garantias de que uma pessoa não se arrependerá mais tarde de sua escolha, então, o que dizer sobre bichinhos dados de presente. Nesse caso, é importante refletir sobre o seguinte:
- Será que a pessoa realmente quer um pet? Os desejos nem sempre coincidem com nossas condições de vida e, quando necessário, deveriam ser realizados em momentos melhores.
- Alguns são da opinião de que, se não agora, então quando? Na minha opinião, esse modo de pensar só é justificado em relação ao estudo de uma língua estrangeira, um novo estilo de vida e todos os outros aspectos referentes ao crescimento pessoal. No entanto, quando o assunto é a vida de outro ser vivo, é importante tomar decisões de cabeça fria. Isso vale tanto para uma criança quanto para um animal.
Será que o destinatário de um presente tão inusitado está mental e financeiramente preparado para tal responsabilidade? Conheço casos em que o bichinho acabou se tornando um fardo e teve de viver uma vida parecida com a de um vira-lata desabrigado. Será que a nova família terá tempo para um novo membro? Já vi situações em que o pet ficou muito tempo sozinho e deprimido. Há donos que ainda reclamam de sapatos e móveis roídos, deixando seus supostos amigos de quatro patas sem atenção. Por fim, será que a pessoa sabe como cuidar de um animal de estimação? Costumo conversar com donos que, mesmo trazendo um cachorro ou gatinho para casa em plena consciência, não sabem o que fazer com ele. Nem estão cientes de que um filhote de 1 mês ainda é muito novo para ser desmamado e entregue para um novo lar. O que falar daqueles “sortudos” que receberam um animal de presente?
Infelizmente, animais doados e comprados por impulso com frequência se tornam um peso. É muito triste ouvir sobre esses casos. Acho o mesmo quando falam sobre furões, ratos e outros peludinhos, que ficam populares de tempos em tempos. Pessoas que gostam de seguir o zodíaco chinês, por exemplo, tendem a presentear outros com um rato no Ano do Rato, mesmo que ninguém precisasse ou sequer quisesse o bichinho. O que normalmente acontece é que o pet fica na família durante alguns meses e depois, na melhor das hipóteses, acaba sendo doado. Por que não dar ratos de cerâmica então?
É claro que também há muitas histórias com final feliz. Vários donos procuram fazer seu animal de estimação se sentir alegre e acolhido, seja por meio de informações encontradas nos livros ou na internet, consultas com especialistas ou simplesmente interagindo com o peludinho. Na sua opinião, é importante cuidar dos nossos amiguinhos de quatro patas e dar o máximo de conforto para eles?