Qual a verdade sobre o desaparecimento de Agatha Christie

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há 8 meses

Se você pegasse todas as edições dos Estados Unidos do livro A Casa do Penhasco e as empilhasse uma sobre a outra, elas chegariam à Lua! Esta famosa autora é a escritora mais traduzida de todos os tempos — seus livros foram lidos em mais de 100 idiomas. Ela também foi destaque no Guinness World Records como livro mais grosso — uma edição de um só volume das histórias completas de Miss Marple.

Você certamente já adivinhou, estou falando de Agatha Christie. Ao longo de sua surpreendente carreira de escritora, publicou 66 romances de detetive e 14 coleções de contos sob seu próprio nome, além de muitas outras histórias sob pseudônimos. Ela também nos deu alguns dos personagens mais amados de toda a literatura internacional, como o arrogante detetive Hercule Poirot, Miss Jane Marple ou Tommy e Tuppence. A peça mais encenada, A Ratoeira, também é de sua autoria.

Seu nome de batismo era Agatha Mary Clarissa Miller, nascida em Torquay, Devon, Inglaterra. Muitas pessoas não sabem que ela poderia ter permanecido analfabeta se não fosse por seu amor pela leitura e sua ambição: sua mãe pensava que ela não precisava saber ler, pelo menos não até completar 8 anos. Mas ela era tão curiosa e gostava tanto de ler que aprendeu aos 4 anos de idade! Agatha foi educada em casa sob a supervisão de seus pais e irmã e adorava ler, escrever e também de matemática básica. Ela amava música, muitas vezes se divertindo com o piano e o bandolim. Em 1901, quando tinha apenas 10 anos, escreveu seu primeiro poema chamado The Cow Slip.

Torquay era uma cidade costeira na Inglaterra e, durante o verão, Agatha gostava de nadar no mar quase todos os dias. Era um resort à beira-mar elegante, cheio de europeus ricos e até mesmo pessoas da realeza! Era muitas vezes apelidado de Riviera Inglesa. As memórias desse tempo foram frequentemente descritas em seus livros, assim como em sua autobiografia. Ela costumava ir à praia com sua família. Enquanto sua mãe e sua avó gostavam de tomar sol e desfrutar de um piquenique, Agatha ficava ansiosa para entrar na água o quanto antes. Mas para fazer isso, ela primeiro precisava vestir o seu maiô. Naquela época, esta praia não podia ser desfrutada por homens e mulheres ao mesmo tempo. É por isso que até o conselho local ficava de olho na maneira como as pessoas se banhavam no mar. Tanto que os homens não podiam se banhar a menos de 45 metros da máquina de banho de uma mulher — onde as mulheres podiam vestir suas roupas de banho e ser transportadas para a água.
Caso você esteja se perguntando, as mulheres naquela época também não ficavam muito confortáveis para nadar. Elas tinham que estar completamente vestidas, com calças e um vestido com babados, que as cobria quase completamente.

Mas vamos voltar para as máquinas de banho: eram pequenas cabines sobre rodas, com entradas de ambos os lados. Depois de encontrar uma, na praia, você poderia entrar nela e se trocar. A pequena cabine seria então transportada para águas mais profundas, seja por um homem ou por um cavalo. Ao chegar ao local desejado, você podia sair pela porta oposta e mergulhar no mar, longe de qualquer olhar curioso. Após relaxar na água, você simplesmente voltava para a máquina de banho e levantava uma bandeira, sinalizando que estava pronta para voltar para a praia.

De volta à história da escritora, em 1905, Agatha foi enviada para Paris e matriculada em um internato, onde, surpreendentemente, se concentrou mais na música do que na escrita. Ela logo descobriu que uma carreira na música não era necessariamente a melhor opção para a sua personalidade ou talento, mas secretamente nutriu o desejo de se tornar uma cantora de ópera pelo resto de sua vida.

Quando tinha apenas 18 anos, Agatha escreveu seu primeiro conto, originalmente chamado House of Beauty, mas, quando publicado, seu nome foi alterado para “House of Dreams” ou A Casa dos Sonhos. Na mesma época, também começou a escrever seu primeiro romance, chamado A Neve Sobre o Deserto, escrito sob o pseudônimo Monosyllaba. Todas as seis editoras para as quais ela enviou o livro recusaram a publicação. Em 1912, ela conheceu o homem que logo se tornaria seu marido. Seu nome era Archibald “Archie” Christie e ele se casaram em 1914. Logo, em 1916, ela escreveu seu primeiro romance policial chamado O Misterioso Caso de Styles. Seria o romance que apresentou Hercule Poirot ao mundo. Ele foi descrito como um ex-policial belga com um bigode muito imponente e uma cabeça em forma de ovo.

Apesar de sua adorável vida familiar e sua crescente carreira de escritora, na sexta-feira, 3 de dezembro de 1926, Agatha simplesmente desapareceu. Os jornais da época noticiariam extensivamente: era a reviravolta perfeita para a vida de uma romancista policial. A verdade por trás de seu desaparecimento ainda pode estar oculta até hoje... mas vamos dar uma olhada em alguns dos fatos. Em abril de 1926, sua mãe, Clare, faleceu. Foi um momento difícil para a escritora, pois as duas tinham um vínculo próximo. Em agosto do mesmo ano, o marido de Agatha veio até ela com um pedido chocante: ele queria a separação, alegando que estava apaixonado por outra mulher. Meses depois, em dezembro, eles tiveram uma briga que parece ter sido a gota d’água. Mais tarde naquela mesma noite, a autora deixou sua única filha na companhia da empregada e desapareceu de sua casa em Sunningdale. No dia seguinte, seu carro foi encontrado acima de uma pedreira, meio escondido por alguns arbustos, a vários quilômetros de sua casa. Dentro havia algumas roupas e sua carteira de motorista vencida. Os faróis ainda estavam acesos. Foi um acidente de carro?

Naquela época, Agatha não era tão popular quanto hoje. Mas já que uma recompensa considerável foi oferecida a qualquer um que pudesse dar informações sobre onde ela estava, sua história logo se tornou uma sensação nacional. Seu marido se tornou o principal suspeito. Um número considerável de pessoas começou a procurá-la, tanto policiais quanto voluntários. Dias se passaram e não havia sinal dela, então medidas extremas tiveram que ser tomadas: um lago local foi dragado para caso algo tivesse acontecido e ela tivesse caído. Os políticos começaram a pressionar a polícia para ajudar a encontrá-la o mais rápido possível. Até seu colega escritor Sir Arthur Conan Doyle se envolveu na busca, mas de uma maneira mais criativa... pra dizer o mínimo. Ele recorreu aos serviços de uma cartomante, na esperança de descobrir o paradeiro dela usando uma das luvas de Agatha.

Dez dias depois, quando a esperança de encontrá-la viva já estava acabando, um garçom do Hydropathic Hotel em Harrogate, Yorkshire, procurou a polícia com uma informação intrigante: uma hóspede sul-africana estava hospedada no hotel e seu nome era Theresa Neale. Nada incomum, mas ela se parecia com a autora. Seu marido viajou rapidamente até lá, acompanhado pela polícia. Ele manteve a sua presença um segredo, sentando-se no canto da sala de jantar do hotel. Logo, Agatha entrou, despreocupadamente, na sala e começou a ler o mesmo jornal que noticiava o seu próprio desaparecimento na primeira página! Ele decidiu se aproximar dela, mas ela não parecia reconhecê-lo. No entanto, ficou claro para todos os outros que Agatha Christie havia sido encontrada.

As pessoas se perguntam há anos o que pode ter causado esse comportamento incomum. Alguns disseram que a perda de sua mãe e a dissolução de seu casamento colocaram uma pressão significativa em sua saúde e ela simplesmente teve um colapso. Outros sugeriram que essa trama pode ter sido o melhor golpe publicitário já conhecido, criando uma história de crime em torno de sua própria vida para promover as histórias que escrevia há tantos anos. Uma outra teoria alegou que Agatha poderia realmente estar com amnésia, e é por isso que não conseguiu reconhecer seu marido no hotel naquele dia. O que é óbvio é que este foi um evento que ela queria esquecer. Ela nunca mais mencionou nada sobre essa história, nem mesmo em sua autobiografia, publicada depois que ela faleceu em novembro de 1977.

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