Por que os ursos hibernam, mas os humanos não conseguem
Crack. Um galho seco se quebra debaixo dos seus pés. Ô ou. Você sente o suor frio escorrendo pelas suas costas e vira a cabeça devagar, tentando não mexer outras partes do corpo. Ufa. Que sorte — aquele urso grandalhão que está atrás não ouviu nada. Ele está em sono profundo. Então, você passa a andar na ponta dos pés, fazendo de tudo para dar o fora dali sem provocar barulho algum.
Os ursos, assim como muitos outros animais, dormem praticamente o inverno inteiro para sobreviver à fome. Eles comem não só peixes e carne, mas plantas também. E é desafiador encontrar frutinhas e bolotas debaixo daquela camada grossa de neve. Então, o inverno é uma época bastante difícil pra eles. Mas a evolução deu a esses animais a capacidade de pular essa época de fome... dormindo! Isso é chamado de hibernação. Quando fica frio, eles procuram uma toca confortável pra ficar. Geralmente, cobrem o chão dela com palha ou galhos. Depois, se deitam confortavelmente e adormecem.
Os ursos chupam o pata enquanto dormem. Mas não por estarem com fome. A pele deles se renova, e coça por causa disso. Então, quando eles a lambem, estão simplesmente se coçando. O sono deles é muito sensível. É fácil acordá-los. E se você fizer isso, é melhor tomar cuidado. Quando um desperta, está com muita fome e mal-humorado, então pode vê-lo como um jantar. Às vezes os ursos que acordam acidentalmente durante a hibernação não conseguem voltar a pegar no sono. Então, são forçados a ficar vagando pela floresta em busca de comida. Mas isso é quase impossível no inverno, pois ficam exaustos.
Normalmente, os ursos dormem sozinhos em suas tocas. Mas se uma fêmea deu à luz recentemente, leva os filhotes consigo. Enquanto a mãe dorme, os bebês sugam seu leite. E quando a hibernação chega ao fim, eles saem da toca já grandinhos, com pelagem grossa e tudo.
Esses bichos podem ficar até seis meses sem comida. Tudo graças a seu metabolismo. Os animais comem para repor suas reservas de energia, que são gastas para manter a temperatura normal do corpo. Então, se essa temperatura baixar, a quantidade de energia para mantê-la também cairá. Quando um urso dorme, a temperatura corporal cai para 30 graus. A respiração e frequência cardíaca também diminuem significativamente. E isso faz com que ele aguente passar mais tempo sem comer.
O corpo começa a usar a energia armazenada na gordura. Durante a hibernação, um urso pode perder até metade de seu peso! O despertador dele é o calor da primavera e uma sensação extrema de fome. A gente já sente fome se ficar quatro horas sem comer... imagine como esses caras se sentem após passarem seis meses em jejum!
Mas os recordistas absolutos de hibernação são os esquilos-do-ártico. Eles conseguem dormir do começo de agosto ao fim de abril. Ou seja, passam grande parte do ano e de suas vidas dormindo. Enquanto fazem isso, viram gelo. A temperatura corporal cai de 36 para 3 graus negativos, e a temperatura do cérebro fica pouco acima do ponto de congelamento.
Os esquilos e os ursos não precisam de um órgão especial para dormir por longos períodos — nem os humanos. Na verdade, já conseguimos baixar nossa temperatura corporal. Ela cai um pouquinho durante as noites normais de sono. Mas isso não é suficiente para desacelerar nosso metabolismo e nos manter dormindo por muito tempo. Então, precisamos resfriar as coisas ainda mais.
Mas sabia que nosso corpo não gosta de quedas de temperatura? Vamos ver como isso funciona com a ajuda de nosso voluntário, o Bruno. Quando faz frio, o corpo dele começa a redistribuir o calor por ordem de prioridade. As mãos e os pés são os últimos da lista. Todo o calor se concentra nos órgãos vitais, deixando as extremidades desprotegidas. Em vez de desacelerar, a respiração e a frequência cardíaca do Bruno ficam mais rápidas. Isso acontece para levar calor para todos os órgãos importantes.
Então, abaixamos o termostato ainda mais. Agora, o corpo tira o calor da superfície e o direciona para dentro. Isso faz a pele do bruno ficar pálida como a de um boneco de neve. Oh, agora ele sentiu uma súbita vontade de ir ao banheiro. Sim, por causa do rápido fluxo sanguíneo, o corpo do Bruno está produzindo mais resíduos, e ele quer se livrar deles urgentemente.
A temperatura desce ainda mais! Ok, agora ele mal consegue se mexer. Isso porque os humanos têm uma camada fina de gordura — bem, algumas são ainda mais finas que as outras. Então, nosso isolamento térmico é bastante fraco. Assim que o frio chega aos músculos, eles congelam e viram pedra.
Só agora a frequência cardíaca do Bruno começa a ficar lenta. Mas isso acontece dramaticamente, e não é esse o efeito que estamos procurando. Se continuarmos abaixando a temperatura corporal desse pobre jovem, ele perderá a consciência e em breve seus órgãos internos simplesmente vão parar de funcionar. Ok, já chega! Vamos subir a temperatura aqui, e dar ao nosso voluntário roupas quentinhas, uma xícara de chá e aplausos por ter sido tão forte!
Além de pular a estação fria, a hibernação possui aplicações práticas, e a NASA vê isso como uma possibilidade real. Leva cerca de 9 meses para voar até Marte. E cada quilo de carga custa muito dinheiro. Então, naturalmente, os cientistas querem descobrir uma forma de os astronautas comerem menos. Colocá-los em cabines de hibernação é uma ótima ideia! Isso exige que um dos membros esteja acordado, para monitorar as condições de seus outros colegas. Quando o sistema de navegação espacial avisar que chegaram a seu destino, esse astronauta acordará os dorminhocos. Mas temos que tomar cuidado para que o computador não receba o nome de Hal 9000.
Mas isso ideia não deu muito certo. Até agora, os cientistas não sabem como abaixar nossa temperatura corporal de forma segura, mas nada nos impede de imaginar como seria nosso processo de hibernação. Então, pense que todas as pessoas do nosso planeta se trancaram no conforto de suas casas. Precisamos de cortinas grossas para que a luz do sol não chegue até nós. Ah, e não esqueça de deixar alguma comida perto da cama: você acordará absurdamente faminto! Feito isso, a soneca começa.
Como praticamente todo mundo na Terra está dormindo agora, ninguém está mantendo as cidades vivas, então elas começam a mudar. Após 24 horas de paradeira, as usinas de energia do mundo todo começam a fechar, e as luzes de muitas cidades se apagam. Agora, não há TV, nem Internet. Mas tem um lugar que ainda brilha feito um diamante: Las Vegas. A cidade é abastecida por uma usina hidrelétrica gigante, e consegue funcionar sozinha por um bom tempo. Mas ninguém precisa das luzes de Las Vegas — o mundo está vivendo outros sonhos.
Após uma semana se sono, nossas casas são invadidas por intrusos. Guaxinins rastejam para dentro de latas de lixo, e reviram geladeiras. Aparentemente, eles encontraram a chave que abre a porta de entrada. Sem eletricidade, os refrigeradores de supermercados e restaurantes param de funcionar. Os alimentos estão começando a estragar, e esse cheiro atrai diferentes roedores e pestes. Já passou um mês desde que nossa hibernação começou. Os animais selvagens buscam refúgio nas cidades vazias. E as ovelhas que antes eram vistas apenas no campo, agora vagam livremente pelas ruas.
Três meses se passam. Geralmente tiramos a neve que cai nas ruas. Mas ninguém está fazendo isso agora. As estruturas urbanas não conseguem suportar tamanha carga e quando a neve começa a derreter, causa alagamentos. A água entra nos metrôs e porões. E aí a primavera chega. Seu despertador o faz acordar abruptamente. Nossa, você sente um frio terrível, e quer se aquecer logo. A próxima coisa que faz é pegar a comida que preparou para si mesmo para quando acordasse. Tomara que não tenha estragado nesses três meses.
As pessoas saem de suas casas e começam a lidar com as consequências da hibernação. Agora elas precisam espantar os animais, que já estão acostumados a correr pelas ruas vazias. Depois, vem o problema da eletricidade, e a internet precisa ser restaurada. Após algumas semanas, nosso mundo volta ao normal, e todas as pessoas ficam felizes, pois conseguiram pular a estação mais difícil do ano.
Há uma opção para quem deseja dormir mais do que qualquer animal do mundo. Na verdade, é apenas uma viagem para o futuro. É uma passagem só de ida, pois esta opção é o congelamento. Os cientistas de hoje conseguem fazer isso com o corpo a temperaturas extremamente baixas. Esse tipo de congelamento é feito para interromper o processo de envelhecimento. Congelado, o corpo pode durar muito mais tempo.
O único problema é que a tecnologia atual ainda é muito prejudicial ao nosso corpo quando ele está muito congelado. Esse é o grande problema. Tudo o que nos resta é torcer para que os cientistas e médicos do futuro resolvam isso. Nos anos que ainda estão por vir, eles podem conseguir regenerar tecidos danificados e podem trazer pessoas congeladas de volta à vida. Já pensou acordar milhões de anos depois e ver um mundo novo cheio de carros voadores, viagens intergalácticas e andróides vivendo entre nós?!