Perdida e Sozinha: A adolescente que sobreviveu 11 dias na Floresta Amazônica após um acidente de avião

Histórias
10 horas atrás

Juliane Koepcke foi a única sobrevivente do acidente aéreo ocorrido com o voo 508 da companhia aérea LANSA. A aeronave caiu na floresta amazônica em 1971. Aos 17 anos, ela despencou 3 mil metros presa ao seu assento e suportou 11 dias sozinha na selva antes de ser finalmente resgatada.

O conhecimento da selva ajudou Juliane a sobreviver

Juliane Koepcke, nascida de pais alemães em 1954, foi criada na selva peruana, ambiente do qual mais tarde precisou deixar. Seu pai ganhou fama como zoólogo, enquanto sua mãe era uma cientista especializada no estudo de aves tropicais.

O casal estabeleceu uma estação de pesquisa biológica chamada Panguana, com o objetivo de se envolver profundamente com o ecossistema diversificado da exuberante floresta tropical. Por ter crescido na estação, Juliane se descreveu como uma “criança da selva”, adquirindo percepções profundas sobre a vida na floresta tropical.

“Aprendi muito sobre a vida na floresta tropical, que não era tão perigosa”, contou ela à BBC em 2012. “Não é o inferno verde que o mundo sempre pensa.”

E no fim das contas, o conhecimento adquirido por ela ajudou-a a sobreviver.

O avião se desfez em vários fragmentos

Na noite anterior ao trágico voo, Juliane e sua mãe haviam comparecido a uma cerimônia de formatura do ensino médio em Lima, capital do Peru. Ansiosas para voltar ao lar no Natal, elas garantiram assentos em um voo programado para 24 de dezembro com a problemática companhia aérea LANSA.

Pouco tempo depois, a aeronave começou a tremer e um forte raio atingiu a asa direita do avião, impulsionando-o instantaneamente a uma rápida descida em direção à terra.

De repente, Juliane percebeu que estava fora do avião. Ela entrou em queda livre, presa ao seu assento e de ponta-cabeça. O único som ouvido por ela era o leve sussurro do vento.

O avião havia se desfeito em fragmentos a cerca de três quilômetros do solo. Ao acordar no dia seguinte, Juliane olhou para a copa das árvores. Seu pensamento inicial foi: “Sobrevivi a um acidente de avião”.

No solo e em meio à floresta, Juliane avaliou seus ferimentos, sentindo-se tonta e desorientada. Ela suspeitava de uma concussão, uma clavícula quebrada e cortes no ombro e na panturrilha.

Mais tarde, sem conseguir encontrar a mãe, a jovem percebeu que estava completamente sozinha.

Sua mãe, uma apaixonada por animais, havia passado à filha o conhecimento necessário para salvá-la. Apesar do estado mental confuso, Juliane reconheceu ao seu redor os sons de sapos e pássaros de Panguana, percebendo que estava na mesma selva.

Ela não estava longe de casa, mas uma curva errada poderia levá-la mais fundo na vasta floresta tropical, a maior do mundo. “Não havia quase nada que meus pais não tivessem me ensinado sobre a selva. Eu só tinha que encontrar esse conhecimento em minha cabeça, atrapalhada pela concussão”.

Ela decidiu seguir o rio

Em certo momento, ela conseguiu sair de seu assento no avião e seguir em frente, tropeçando sem enxergar direito à sua volta. Ela encontrou um pacote de doces que estava no avião e seguiu um rio, como seus pais haviam ensinado.

Caminhar pela floresta amazônica durante a estação chuvosa significava muita umidade, impossibilitando a tarefa de acender uma fogueira ou encontrar frutas comestíveis.

“Muito do que nasce na selva é venenoso, por isso mantenho minhas mãos longe do que não conheço”, escreveu Juliane.

No quarto dia, Juliane se deparou com uma visão assustadora: três passageiros, ainda presos a seus assentos, parcialmente soterrados pelo impacto.

Finalmente, ela foi encontrada por pescadores locais

Após dias de caminhadas solitárias na selva, a esperança surgiu quando ela avistou uma pequena cabana com telhado de folhas de palmeira, situada em uma curva do rio.

Lá dentro, ela encontrou uma lata de gasolina. Como tinha um ferimento no ombro que estava infectado por larvas, a jovem resolveu jogar gasolina na região, lembrando-se do tratamento que seu pai havia dado a um animal de estimação da família.

“A dor era intensa, pois as larvas tentavam penetrar ainda mais na ferida. Retirei cerca de 30 larvas e fiquei muito orgulhosa de mim mesma. Decidi passar a noite lá”, disse ela.

No dia seguinte, ela acordou com o som de vozes de homens e saiu correndo da cabana. Graças a pescadores peruanos locais, Juliane foi finalmente resgatada.

Ela conseguiu realizar o objetivo de estudar biologia

Juliane prosseguiu seus estudos em biologia e, por fim, obteve seu doutorado. Retornando ao Panguana, ela se concentrou em escrever sua tese, voltada a pesquisar morcegos. Após o falecimento de seu pai, em 2000, ela assumiu o cargo de diretora da estação de pesquisa. A protagonista deste artigo descreveu o lugar como seu “santuário”, assim como havia sido para seus pais.

Apesar de ter descoberto um propósito em sua vida e carreira, o acidente e suas consequências permaneceram dentro dela ao longo das décadas.

“É claro que tive pesadelos por muito tempo, por anos, e é claro que a tristeza pela morte da minha mãe e das outras pessoas voltou várias vezes”, disse. “O pensamento sobre o porquê de eu ter sido a única sobrevivente me persegue. Isso sempre acontecerá”.

Mesmo diante de histórias como a de Juliane, sabemos que aviões são, na verdade, um dos meios de transporte mais seguros do mundo. No entanto, existem diversos mitos que fazem as pessoas acreditarem no contrário. Essas crenças populares geram medo e desconfiança, mesmo quando as estatísticas provam o contrário. Mas será que todos esses mitos têm alguma base?

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