Os vários tipos de feijoada ao redor do mundo em receitas incríveis e bem diferentes da nossa
Temos orgulho da nossa feijoada e não é para menos. Se um amigo estrangeiro quiser conhecer algo realmente especial da culinária brasileira, vamos logo sugerir que prove esse prato rico, cheio de substância e muito sabor.
Mas a ideia de cozinhar feijão com carnes, verduras, legumes, tubérculos e outros ingredientes é mais antiga do que normalmente imaginamos. Um tipo de feijoada espanhola já havia sido descrita em 1570, quando o Brasil ainda era um “bebê”.
O Incrível.club reuniu feijoadas de outras culturas, para você se inspirar e, quem sabe, sair do comum na próxima vez em que atacar como chef de cozinha.
Feijoadas à portuguesa
Vários historiadores da gastronomia brasileira concordam que a origem da nossa feijoada é portuguesa. Na terra de nossos descobridores, há receitas diferentes, típicas de cada região.
Na feijoada trasmontana (foto), usa-se pé, orelha e focinho de porco defumados, bem como o feijão vermelho (ou encarnado, como se diz lá). Linguiças feitas com carne e com sangue (morcela) são bem aceitas. Vegetais como couve e cenoura também podem entrar na composição.
É comum preparar a feijoada alentejana com feijão branco, carne de vaca, chouriços, alho, cebola, cenoura e couve.
Na região do Porto, fazem sucesso as tripas à moda do porto, com feijão branco, tripas de vitela, toucinho, chouriço de carne e muitos temperos.
A feijoada poveira, da região de Póvoa de Varzim, aceita a mistura de carnes de porco e de boi.
Cassoulet (França)
O cassoulet é uma feijoada típica da região de Languedoc-Roussillon, sul da França. É perfeita para os meses mais frios do ano. Tem feijão branco e as carnes podem variar de acordo com a disponibilidade: ganso, pato, porco, linguiças, perdiz ou cordeiro.
O cassoulet servido com uma perna de pato, gratinado numa terrina de barro, costuma fazer bastante sucesso nos restaurantes franceses.
Feijoadas espanholas
A Espanha é outro país que tem vários preparos de feijão e carnes em diferentes regiões.
O cocido montañes (foto), típico de Cantabria, norte da Espanha, leva feijão branco, linguiças de carne e de sangue, barriga de porco e uma boa quantidade de couve.
A olla podrida (que pode ser traduzida como “panela podre”) é uma iguaria original de Burgos, cidade central da Espanha. Cheia de substância, tem como base um feijão vermelho grande chamado alubia. Mistura carnes suína e bovina e linguiças. A receita encantou Bartolomeo Scappi, cozinheiro do Papa Pio V, que a reproduziu no livro Opera dell’arte del Cucinare, publicado em 1570.
A fabada asturiana, própria de Astúrias, norte da Espanha, leva feijões brancos grandes, linguiças de carne e de sangue, presunto e barriga de porco.
Cholent (Israel)
O cholent (ou tcholent) é um prato caudaloso e muito substancioso cozinhado lentamente pelas mães judias em grossas panelas de ferro. Fica no forno, em fogo mínimo, da sexta-feira para o sábado, quando é servido no almoço.
Um cholent típico pode misturar feijões (branco e fradinho, por exemplo) e tem carne de peito de boi, batatas, cenoura, cevada. Os ovos são colocados inteiros para cozer, com casca, e assimilam todos os sabores da receita depois do longo tempo de preparo.
Ghormeh sbazi (Irã)
A base do ghormeh sbazi, a feijoada iraniana, é um refogado com muitas ervas: salsa, alho-poró, cebolinha, coentro e feno-grego. Essa mistura de verdes pode variar de acordo com a disponibilidade de ingredientes ou o gosto dos convidados (tem sempre alguém que não tolera coentro).
O refogado então é cozido com feijão vermelho, cebola, limões desidratados e carne de boi ou de cordeiro temperada com cúrcuma. Pela quantidade de ingredientes aromáticos, é de se esperar um prato bem cheiroso, servido com arroz, verduras e legumes picados.
Fasole cu cârnaţi (Romênia)
O fasole cu cârnaţi — ou simplesmente feijão com linguiça — é o prato nacional da Romênia. Consiste em feijão branco cozido com linguiças defumadas típicas do país e muito bem temperado: alho, cebola, cenoura, louro. Para acompanhar, cebolas roxas cruas e picles.
No dia 1 de dezembro, feriado nacional em que os romenos comemoram o Dia da União, o exército prepara o fasole e o distribui gratuitamente nas ruas das cidades.
Cachupa (Cabo Verde)
Os colonizadores portugueses também levaram a feijoada a Cabo Verde, país insular formado por dez ilhas. Lá nasceu a cachupa, que pode ser rica (com vários tipos de carnes, misturando porco, linguiças, boi e frango) ou pobre (com peixe). Além do feijão, normalmente branco, o milho cozido é adicionado ao guisado.
A cachupa pode ser servida com caldo ou seca, refogada numa frigideira. Os acompanhamentos vegetais são variados: couve, repolho, batata doce, batata, abóbora, banana e o que mais houver de bom na quitanda. As receitas variam muito de acordo com as tradições de cada família.
Em Moçambique, outro país africano colonizado por portugueses, a feijoada à moda do ibo mistura carne de frango com camarões.
Frijoles rancheros (México e Colômbia)
Os frijoles rancheros (também conhecidos como frijoles charros) são mexicanos, mas tornaram-se muito populares também na Colômbia. Como em quase todos os casos, é um tipo de feijoada que permite muitas variações.
Basicamente, a receita leva feijão fradinho, mas são aceitas as versões com feijão branco ou vermelho. As carnes são toucinho, presunto e linguiça — há quem também use salsicha. A preparação costuma ter bastante caldo.
Cebola, tomate e coentro fazem parte dos temperos. Algumas pessoas não dispensam a adição de uma boa pimenta mexicana, especialmente a do tipo jalapeño.
Nos Estados Unidos, o prato é comum em estados de tradição rural, como o Texas, onde ganhou o apelido de cowboy beans (feijão do caubói). Normalmente, é feito com carne moída. A versão mais simples, preparada apenas com salsicha, é comum nos lares texanos.
Feijoada de frutos do mar (Brasil e Portugal)
O Brasil tem outra receita de feijoada, popular no litoral de Santa Catarina, onde há abundância de pescados e frutos do mar. Sua origem também é de Portugal, onde é chamada de feijoada de mariscos.
Lula, polvo, lagosta, camarões, mariscos e postas de peixe são ingredientes comuns no preparo da feijoada de frutos do mar. O feijão é branco e os temperos incluem louro, coentro, salsa, cebolinha, cebola, tomate, pimenta e pimentão. Uma boa dose de vinho branco seco também entra na receita.
Nos últimos tempos, este prato tão rico tem ultrapassado os limites catarinenses. Hoje é comum encontrá-lo no cardápio de restaurantes de outras cidades de praia, como o Rio de Janeiro.
Feijoada brasileira completa
A tradicional feijoada brasileira é um prato que exige tempo para ser preparado e consumido. Além do feijão preto, a receita completa leva costela suína, lombo suíno, orelha, rabo, pé, focinho, carne bovina seca, bacon, linguiça calabresa, paio, cebola, alho...
Isso sem contar acompanhamentos como a laranja, a farofa, o caldinho (que deve ser apimentado), o arroz branco, os torresmos crocantes servidos de entrada e a batida de cachaça com limão para abrir o apetite. Um acontecimento!
Há muitas teorias sobre a origem deste prato tão apreciado em todo o território nacional. A tese mais aceita é a de que se trata de uma adaptação dos cozidos com feijão de Portugal, sobre os quais falamos no começo do post. Como o feijão preto e o porco eram ingredientes mais comuns no Brasil colonial, o prato assim foi feito, agradou e tem a cara e o sabor que conhecemos hoje.
Você já provou alguma destas feijoadas diferentes? Qual delas deu mais água na boca? Ou prefere continuar fiel à feijoada completa brasileira? Conte sua história e dê sua opinião nos comentários!