Morei na África do Sul e resolvi contar os choques culturais que mais me surpreenderam

Curiosidades
há 1 ano

Quando decidi fazer um intercâmbio em outro país, muitas pessoas esperavam que eu escolhesse os Estados Unidos ou a Irlanda. Todas elas se surpreenderam quando contei que escolhi a África do Sul. E eu posso dizer com toda a certeza que não me arrependi! Minha experiência foi tão rica e as diferenças culturais com o Brasil tão grandes, que resolvi compartilhar tudo o que vi e vivenciei quando morei lá.

Muitas pessoas estranharam eu escolher a África do Sul para fazer intercâmbio, estes são os meus motivos

O principal motivo que me fez escolher a África do Sul para aperfeiçoar meu inglês foi o meu interesse pela cultura do país. Desde criança, quando assisti O Rei Leão, fiquei fascinado pelas paisagens e os animais da África, então foi uma escolha natural para mim. Outro motivo que pode ser decisivo para as pessoas é que o intercâmbio para lá é mais barato e o custo de vida é bem baixo. Além disso, diferentemente dos outros países, na África do Sul, eu aprendi inglês em uma universidade e não em escolas de inglês.

Além do inglês, o país tem outros 10 idiomas oficiais, incluindo um muito curioso

Em minha busca por conhecer o máximo possível de culturas que não estamos habituados, procurei ter contato também com outros idiomas, que não fossem o inglês ou os que meus colegas de intercâmbio falavam. Então, descobri a existência da Xhosa, uma das 11 línguas oficiais da África do Sul. Me interessei por essa em especial porque ela tem uma característica muito marcante, um estalo que eles fazem com a boca no meio das palavras.

Procurei até encontrar alguém que falasse essa língua e encontrei um professor. Ele é descendente de ingleses, mas nasceu na África do Sul mesmo e estudou essa língua. Ele me explicou que o país tem a maioria das pessoas que falam a Xhosa, são milhões de pessoas, mas o Zimbábue também a tem como uma das línguas oficiais. O filme Pantera Negra também tem cenas nas quais esse idioma é falado. O professor falou algumas frases nesse idioma como “amostra” e eu fiquei morrendo de vontade de aprender.

O povo sul-africano é supercaloroso, inclusive com os estrangeiros que vivem ou passam férias por lá

Se os brasileiros são alegres e receptivos, talvez seja uma herança dos africanos, já que encontrei a mesma receptividade na África do Sul. Quando eles conversam, olham no seu olho e sorriem muito. Até mesmo em filas, eles costumam puxar conversa com qualquer um, mesmo que sejam estranhos. Os homens cumprimentam com apertos de mão e, com poucos minutos de conversa, já estão até abraçando. Já as mulheres costumam cumprimentar apenas com um aceno de cabeça e um sorriso.

Fiz questão de provar o típico churrasco sul-africano e me surpreendi com o que vi no meu prato

A culinária de outros países sempre chamou a minha atenção, então não via a hora de comer na África do Sul. Soube que eles têm o costume de comer o braai, que é como eles chamam o churrasco, e decidi provar, já pensando no churras brasileiro. Fiquei surpreso primeiramente com os sabores, já que as carnes lá ganham bastante tempero e ficam muito picantes — eles adoram pimenta. Por outro lado, são servidos legumes assados, como tomates e cebolas, e eles são adocicados, com açúcar mesmo.

A outra surpresa ficou por conta da variedade de carnes. Sim, eles comem carne de frango, de boi e de porco, além de linguiças, como nós. Mas também provei carne de javali, cervo, impala, avestruz, antílope e até de crocodilo. Essa foi uma experiência bem curiosa porque, para mim, a carne de crocodilo é bem gordurosa, branca e com um sabor que lembra peixe, porém, mais consistente, como a de uma ave. A de avestruz também é como frango ou peru, só que mais dura.

Mas não foi só churrasco que comi no país, também provei iguarias bem “diferentonas” da culinária africana

Também me surpreendi com um prato chamado salada africana, que não tem nada a ver com a salada que conhecemos. Ela é servida como se fosse um molho, acompanhando as carnes, e tinha em todas as refeições. Os sabores são muito diferentes do que estamos acostumados e eu não curti todos eles. Mesmo assim, fiz questão de provar um pouco de tudo, porque não poderia perder essa oportunidade. Aliás, a experiência se completa com apresentações de dança e música típicas durante a refeição.

Diferente também é o biltong, uma das comidas que mais vi os sul-africanos comendo. Os biltongs parecem chips, mas são feitos de carne. Mais precisamente de carnes de boi ou de caça, como o gnu e o avestruz, mas também existem biltongs de frango e até de peixe. São tiras de carne seca e curada, como o charque do Brasil, temperadas com sal, pimenta, coentro e vinagre. Os sul-africanos comem esse petisco em todo lugar, como um salgadinho mesmo, e também à mesa, com as refeições.

Alguns restaurantes exibiam placas que me deixaram curioso e me fizeram prestar mais atenção nos pés das pessoas

Andando pelas ruas e observando o comércio, notei que alguns restaurantes tinham placas na entrada com os dizeres “sem calçados, sem serviço”. Foi notando essas placas que eu acabei percebendo que muitas pessoas andam descalças e que isso é supernormal por lá. Bem, exceto para os restaurantes, que preferem atender apenas a clientes calçados. Fora isso, descobri que muitos sul-africanos, principalmente em cidades menores, vão descalços a escolas, shoppings, cinemas, etc.

Andando pelas ruas, muitas vezes me senti em casa, com poucas coisas diferentes do Brasil

Sendo a capital do país, a Cidade do Cabo tem ruas muito cheias e movimentadas. Notei uma forte presença de artistas de rua. Praticamente em todos os quarteirões era possível encontrar músicos, dançarinos e outros artistas disputando a atenção dos passantes. Um deles ganhou a minha atenção e eu gravei um vídeo para nunca mais esquecer. Como parte do intercâmbio, nós também fizemos aula de tambor, típico do continente africano, o que também foi emocionante e inesquecível.

Além disso, havia muitos vendedores, tal como nas grandes cidades do Brasil cheias de camelôs. Eles abordam as pessoas para vender de tudo, desde joias, passando por capinhas e carregadores de celular, até roupas. Os vendedores estavam por toda parte, como os artistas, mas preferiam fazer ponto nos semáforos. Aliás, uma curiosidade é que os sinais de trânsito na África do Sul se chamam robôs.

Entretanto, o que mais me impactou mesmo foi a mão inglesa, que me rendeu um mico no meu primeiro dia na África do Sul. Assim que saí do aeroporto, chamei um motorista para me levar para a minha acomodação. Sem me lembrar de que o país adota a mão inglesa, abri a porta para entrar no carro, mas era o lado do motorista. Ele ficou me olhando com uma cara estranha, provavelmente pensando se eu queria dirigir no lugar dele.

Um dos maiores choques culturais que tive foi observando os dentes das pessoas da África do Sul

Isso pode despertar as mais variadas reações nas pessoas, assim como despertou em mim primeiro o estranhamento e depois a curiosidade. Notei que várias pessoas na Cidade do Cabo não tinham os dentes da frente, justamente os que ficam no meio do maxilar superior. Dessa vez, fiquei com vergonha de perguntar o motivo, mas descobri mais tarde que esse é realmente um costume por lá, que ganhou o apelido de “lacuna do amor”.

Algumas pessoas da África do Sul removem os dentes da frente de propósito, por estética. Não existe apenas um motivo específico e muitos pesquisadores dão explicações diferentes. Contudo, quando se pergunta a um jovem por que ele ou ela removeu os dentes, a resposta quase sempre é “eu gosto, acho bonito, quero ficar na moda”. No entanto, esse costume está desaparecendo e considerado mal visto, inclusive por empregadores.

Sendo fã de O Rei Leão, eu não poderia deixar de conhecer as belezas naturais do país e, claro, fazer um safári!

Como falei lá no início, eu tinha muito interesse em conhecer as paisagens e a fauna africana, por isso, aproveitei todo o tempo disponível para visitar alguns pontos. Um dos mais inesquecíveis foi a Montanha da Mesa, que tem esse nome pelo cume plano e é o símbolo da Cidade do Cabo. Ela tem mais de mil metros de altura, mais de 250 milhões de anos e a vista de lá do alto é incrivelmente bela. Para quem curte a natureza, é uma visita obrigatória.

E como eu poderia dizer que fui à África e não fiz um safári? Claro que procurei um desses passeios para fazer e ter contato visual com os animais que tanto admirava na infância. Eles têm diversas opções para os turistas, várias delas são bem acessíveis. De dentro de um carro, fiz um passeio por uma reserva ambiental e pude ver animais como rinocerontes, avestruzes, zebras, elefantes e leões. Uma curiosidade é que os leões ficam isolados dos outros animais, assim eles não viram almoço.

As praias da África do Sul também são lindas, mas com diferenças que despertam a curiosidade dos brasileiros

Quando fui à praia da Cidade do Cabo, a primeira diferença que notei foi a areia, fina e branca. O mar é de um azul muito claro e o contraste com as montanhas ao fundo formam uma paisagem digna de uma pintura. Mas a água é muito, muito fria! Notei algo muito curioso entre os sul-africanos. Alguns costumam dirigir os seus carros com a família até a praia no fim da tarde, estacionar no calçadão e ficar admirando a paisagem lá mesmo, dentro do carro, conversando e comendo.

O tempo que passei na Cidade do Cabo foi uma experiência incrível, em que pude ver de pertinho os cenários e animais que, antes, só via pela TV. Conheci pessoas maravilhosas de vários países e aprendi a ser mais tolerante com as diferenças culturais. E para completar a minha experiência, foi justamente quando eu estava na África do Sul que assisti ao remake do clássico da minha infância, O Rei Leão. Tinha como ser melhor?

Seria muito legal se todas as pessoas tivessem a oportunidade de conhecer outras culturas, como eu tive. No seu caso, você já visitou algum país? E, se não, qual país você gostaria de conhecer e por quê?

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