E se, um dia, aranhas gigantes ocupassem sua cidade
Bom Dia! Você acorda e liga a TV. É um barulho de fundo enquanto você continua com sua rotina matinal. Um programa de notícias está passando e você ouve o apresentador falando sobre aranhas, autoridades da cidade e invasão, enquanto queima sua torrada. Hã? Parece ficção científica demais e você não presta muita atenção a isso. Provavelmente estão falando sobre um novo filme de ação.
Uma hora depois, você entra no carro e liga o rádio. A recepção é surpreendentemente fraca, e você só consegue entender palavras soltas: “...aranhas... ...cuidado... ...sem precedentes... ...tome cuidado... ...em casa até...” Você começa a se sentir nervoso — sobre qual perigo estão alertando?
Você está dirigindo pelo seu bairro em direção ao centro da cidade. Mas, quando está prestes a entrar na estrada principal, seu pé pisa no freio e sua mente congela. A criatura é enorme. Oito patas grossas e peludas. Oito olhos esféricos enormes dispostos em duas fileiras — vários deles do tamanho de bolas de futebol. Não há como negar — o monstro do tamanho de um carro é uma aranha gigante.
Infelizmente, essa descoberta não faz seu cérebro voltar à ação. Você ainda está paralisado no local, observando a criatura se aproximar cada vez mais. Você não tem medo de aranhas — até costumava ter uma quando era criança. É por isso que você sabe muito sobre elas. Mas, droga! Elas não eram tão grandes assim!
Como se estivesse enfeitiçado, você olha fixo para o corpo da aranha. Ele é dividido em duas partes, unidas por uma cintura fina. Você nota órgãos com seda girando em seu abdômen e não consegue deixar de se perguntar: “Sua teia será tão grossa e forte quanto uma corda de náilon?” A aranha chega ainda mais perto e você pode ver suas duas mandíbulas enormes com presas terríveis — elas devem ser positivamente perfeitas para perfurar presas. E isso é um monte de "P"s.
Esse último pensamento o ajuda a sair do seu estado de choque. Você muda freneticamente de marcha e lentamente vai para trás, tentando não provocar o monstro. Assim que a distância é segura o suficiente, de alguma forma você consegue dar meia-volta e pisar no acelerador. Os pneus do seu carro estão cantando, seu coração está acelerado e suas palmas estão suadas.
De volta à segurança da sua casa, você começa a se acalmar — mas só um pouco. Você corre para a sala e liga a TV. É quando descobre que isso não é um pesadelo supercomplexo que você está tendo — a “Aranha Gigante” é a realidade!
As primeiras criaturas entraram sorrateiramente na cidade durante a noite. Especialistas, cientistas e autoridades não têm ideia de onde vieram e por que são tão grandes assim. No momento, a cidade inteira está paralisada. Você vê carros abandonados no meio da estrada e pessoas em pânico gritando e correndo para se abrigar. “Parece um filme de ficção científica sobre invasão alienígena”, você pensa. “Mas espere! Isso É uma invasão!”
A imagem muda — você vê uma aranha gigante escalando um dos poucos arranha-céus no distrito comercial. Isso lembra você de quando sua aranha de estimação escapou do seu terrário e deu uma volta pela casa. Os gritos da sua irmã ainda ecoam nos seus ouvidos. De qualquer forma, aquele acidente deixou você curioso.
Depois de pesquisar na Internet, você finalmente aprendeu como as aranhas podem andar de cabeça para baixo em superfícies verticais. O segredo do sucesso delas está em milhares de minúsculos pelos nas pontas de suas patas. É isso que ajuda a criatura da TV a conquistar a torre de vidro.
BANG!
Você dá um pulo. Esse barulho veio da cozinha? Sua mente urge para que você vá investigar, ignorando seu desejo quase irresistível de se esconder debaixo da cama. Você avança lentamente ao longo da parede em direção à cozinha e espia para dentro dela com cautela. Aaaaah! Uma enorme pata de aranha está cobrindo metade da sua janela! Bang! Outra pata se junta à primeira. Você está se perguntando em que momento a sua vida se transformou em um filme de terror de baixo orçamento. As pernas se afastam — mas, por algum motivo, isso não faz você se sentir melhor.
Você passa vários dias no seu sofá em frente à TV. As aranhas ocuparam a cidade. Muitos cidadãos ficam dentro de casa — a maioria deles está assustada demais para arriscar até mesmo uma viagem ao supermercado mais próximo. Ao mesmo tempo, as coisas ainda não parecem tão horríveis — muitas pessoas continuam trabalhando, e a produção não parou. O único problema é entregar mercadorias nas lojas — leva muito mais tempo do que antes, por causa das teias de aranha.
Superfortes e espalhadas por dezenas de metros, elas são quase impossíveis de destruir. A seda em si não é pegajosa — sua viscosidade vem de pequenas gotas de cola produzidas pelas aranhas e deixadas ao longo dos fios. O centro é geralmente “livre de cola” para que as aranhas possam se mover com facilidade. E quando viajam ao longo dos fios, garras especiais em suas patas evitam que elas fiquem presas.
Um dia, o inevitável acontece. Um motorista de caminhão não percebe uma teia de aranha recém feita, e o enorme veículo, que pesa não menos que 10 toneladas, fica preso. Você pode ver o desastre se desenrolando bem diante dos seus olhos — os repórteres de TV estão sempre à procura de uma chamada sensacionalista.
Uma aranha está rastejando em sua teia, cada vez mais perto da cabine — você pode ver o rosto aterrorizado do motorista. Mas então, algo extremamente bizarro acontece: a aranha perde o interesse e deixa o caminhão em paz! É assim que as pessoas descobrem que, por algum motivo misterioso e inexplicável, as aranhas não se interessam por humanos de forma alguma.
Já se passaram várias semanas desde que as aranhas apareceram na cidade. Durante esse tempo, você descobriu que esses animais eram grandes corredores. Mesmo uma aranha de tamanho normal é superveloz: seu ataque geralmente dura menos de um quarto de segundo. E uma aranha em fuga pode acelerar até 50 cm por segundo.
Você também se acostumou com o fato de que precisa ter muita atenção ao dirigir; caso contrário, existe o risco de atingir um dos exoesqueletos espalhados pelas ruas. As aranhas têm conchas duras que não podem crescer. Portanto, quando uma aranha precisa aumentar de tamanho, ela perde seu antigo exoesqueleto.
Vários distritos da cidade têm tido problemas na recepção de telefones celulares quando muitas aranhas tentam se aninhar em uma mesma torre de celular. A maioria das torres desabou sob tal pressão. Alguns parques no centro da cidade foram alterados e estão irreconhecíveis. Com árvores, arbustos e bancos completamente cobertos por teias de aranha, eles se transformaram em lugares bastante hostis.
Algumas pessoas — principalmente aquelas com aracnofobia — deixaram a cidade. Dezenas de psicólogos profissionais começaram a trabalhar com aqueles que não podem deixar a cidade por algum motivo.
Quatro meses depois, sua vida está mais ou menos normalizada: você vai ao trabalho e ao supermercado, pede entrega de pizza e se encontra com seus amigos todas as sextas-feiras. A única diferença é que agora você tem que verificar um aplicativo especial antes de sair — ele mostra novas teias de aranha que surgiram durante a noite. Algumas delas bloqueiam as ruas, e o aplicativo mostra caminhos alternativos para chegar ao seu destino.
Você também pode usar o mesmo aplicativo para rastrear as aranhas. Mesmo que elas tentem ficar longe das pessoas, ainda é melhor evitar essas criaturas. Houve vários casos em que aranhas correndo acidentalmente esbarraram em pessoas e as derrubaram.
Uma ou duas vezes, você voltou para casa e a encontrou sob o véu de seda de aranha. Contudo, isto não é grande coisa. Você só precisa ligar para um serviço de remoção de teia e, em instantes, sua casa está como nova.
Certa noite, você até se pega pensando em domesticar uma das aranhas gigantes. É quando você percebe que os humanos podem se acostumar com quase tudo.
Não é à toa que as autoridades já começaram a construir novos hotéis para acomodar milhares de turistas do mundo todo — eles estão ansiosos para visitar sua cidade assustadora, porém única.