Como modelo abandonada pelos pais superou as dificuldades e se tornou sucesso no mundo da moda
Pessoas com albinismo sofrem uma série de preconceitos, sendo até mesmo isoladas da sociedade. Contudo, a modelo Xueli Abbing tem feito sucesso com uma beleza incomum e uma impressionante história de superação. Seu impacto na indústria da moda e seus esforços por inclusão de pessoas diferentes ou com deficiências nos fazem acreditar que um mundo mais justo e menos preconceituoso é possível. Confira sua jornada!
O albinismo é uma desordem genética na qual há um defeito na produção de melanina do organismo. Esse defeito é a causa de uma ausência parcial ou total de pigmentação dos olhos, pele e cabelo da pessoa afetada. O albinismo afeta humanos e animais, é hereditário e se manifesta apenas com a combinação de genes recessivos da mãe e do pai.
Pessoas com albinismo têm alto risco de desenvolver câncer de pele quando não têm informações suficientes sobre como se cuidar ou não têm acesso a protetor solar, ou roupas apropriadas, para se proteger do sol. Também têm mais chances de enfrentar diminuição da acuidade visual, nistagmo (movimentos oculares involuntários) e fotofobia. Eles também podem ter um risco maior de desenvolver certas condições oculares, como estrabismo ou astigmatismo. Também estão mais propícios a desenvolver cegueira.
Em 13 de junho é celebrado o Dia Internacional da Conscientização do Albinismo, para esclarecer a sociedade acerca dos direitos das pessoas com albinismo. Ele é importante para trazer visibilidade a esses indivíduos, assim como incentivar a inclusão e combater a discriminação. A história que trazemos hoje é sobre uma modelo que usa sua visibilidade para tentar tornar o mundo mais inclusivo para pessoas com albinismo. Continue lendo!
Abandonar um bebê no chão, na porta de um orfanato, é algo impensável para a maioria das pessoas, mas foi isso que aconteceu com Xueli Abbing, abandonada por ser um bebê com albinismo. Os pais biológicos da menina acreditavam que o albinismo era uma maldição.
Os três primeiros anos de sua vida foram dentro desse orfanato e lá ela recebeu o nome de Xue Li. Xue significa neve e Li significa lindo. Aos 3 anos, a menina foi adotada e foi morar com a mãe e a irmã na Holanda. Sua mãe manteve seu nome por considerar perfeito para a filha e para manter a referência às suas raízes.
Os pais biológicos de Xueli não deixaram nenhuma informação sobre seu nascimento, de forma que, até há poucos anos, a menina não sabia seu aniversário ao certo. Após alguns exames, em 2020, os médicos chegaram ao consenso de que ela tinha 15 anos.
A carreira de modelo começou quando ela tinha 11 anos: “Minha mãe tinha contato com uma estilista de Hong Kong. Ela tem um filho com lábio leporino e decidiu desenhar roupas bem estilosas para ele, para que as pessoas não ficassem apenas olhando sua boca. Ela nomeou a campanha de ‘Imperfeições Perfeitas’ e perguntou se eu queria participar de seu desfile em Hong Kong. Foi uma experiência maravilhosa”.
Depois disso, Xueli foi chamada para ensaios fotográficos, assinou contrato com uma agência de modelos e sua carreira está em ascensão, tendo trabalhado em campanhas de estilistas conhecidos e fotografado para a revista Vogue. “Eu amo ser modelo porque gosto de conhecer pessoas novas, praticar inglês e ver as pessoas felizes com as minhas fotos. Quero usar minha carreira para falar sobre o albinismo e esclarecer que é uma desordem genética, não uma maldição”.
“A forma correta de se referir a alguém com albinismo é ‘pessoa com albinismo’, porque se referir a alguém como ‘albino’ passa a ideia de que o albinismo define quem a pessoa é”. Ainda segundo ela, ter uma aparência diferente na indústria da moda é uma benção e não uma maldição: “Me deu uma plataforma para que eu possa trazer conscientização acerca do albinismo”.
Ela afirma também que, apesar de ainda existirem modelos altas e magras, pessoas com deficiências ou diferenças aparecem mais na mídia: “Isso é ótimo, mas deveria ser algo normal. Modelos com albinismo muitas vezes sofrem com estereótipos, quando são colocados para retratar anjos ou fantasmas em sessões de fotos, e isso me deixa triste. Principalmente porque perpetua crenças que colocam em risco a vida de crianças com albinismo, em países como Tanzânia e Malawi”.
Por causa do albinismo, Xueli tem entre 8 a 10% de visão e não consegue olhar diretamente para a luz, pois machuca seus olhos. Portanto, na maioria das fotos, ela aparece com os olhos fechados: “Às vezes, se estou em um ensaio fotográfico e o ambiente está muito claro, eu peço para fechar meus olhos ou que coloquem a iluminação mais suave. Ou então, eu falo: ’Você pode tirar apenas três fotos minhas de olhos abertos usando flash’”.
“Minha deficiência visual faz com que eu me importe menos com a perspectiva tradicional de beleza. Talvez por não conseguir enxergar direito, me concentro mais nas vozes das pessoas e no que elas têm a dizer. A beleza interior é mais importante para mim.”
Xueli tem aproveitado sua plataforma para espalhar conscientização: “Eu quero mudar o mundo. Quero que outras crianças com albinismo — ou qualquer deficiência, ou diferença — saibam que podem fazer e ser o que quiserem. Me considero diferente em alguns aspectos, mas igual em outros. Eu amo esportes e praticar escalada, e faço isso tão bem quanto qualquer um. As pessoas podem dizer que você não pode fazer as coisas, mas você pode, apenas tente”.
No Brasil, a Ilha de Maré, na Bahia, é um dos locais com maior incidência de nascimento de pessoas com albinismo, segundo estudo do programa de Genética e Sociedade do Instituto de Biologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia). Nos últimos 35 anos, 10 pessoas nasceram com albinismo na Ilha de Maré. O registro de nascimentos de pessoas com albinismo por lá é de um caso a cada 700 habitantes.
A condição genética demanda cuidados específicos, mas o isolamento de determinadas regiões dificulta o acesso ao tratamento e prevenção das doenças causadas pelo albinismo. Na Ilha de Maré, que não tem ligação por terra com o continente, as pessoas sofrem para conseguir o básico, como protetor solar ou consultas oftalmológicas especializadas.
Com sua beleza única e perseverança, Xueli está se tornando um ícone para pessoas com albinismo em todo o mundo. Ela tem provado que a diversidade é algo a ser celebrado e que a inclusão de pessoas de todas as raças, etnias e condições físicas é essencial na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Sua história inspiradora é um lembrete de que, mesmo em uma indústria muitas vezes obcecada com a aparência e a conformidade, a beleza verdadeira e duradoura é encontrada na singularidade e na autenticidade.
Xueli tenta trazer visibilidade e informação para que todas as pessoas com albinismo de qualquer realidade tenham acesso a seus direitos e possam ter uma vida plena, o que só é possível com os cuidados e acessos necessários. Ainda bem que a indústria da moda tem se tornado cada vez mais inclusiva com outros tipos de beleza e até com deficiências, afinal, moda é para todos e nenhuma existência deveria ser invisibilizada.