Como as princesas da Disney mudaram ao longo dos anos e quais os planos da gigante da animação para o futuro

Psicologia
há 4 anos

Por mais que muitas pessoas não se deem conta, o fato é que as animações e os filmes muitas vezes refletem as características e as normas sociais de um determinado período. Se você olhar atentamente para as princesas, por exemplo, poderá entender quais eram as ambições das mulheres em uma determinada época e o seu lugar na sociedade na qual a história é ambientada. E os filmes da Disney são uma ótima forma de entender isso. Em mais de 80 anos de histórias sobre princesas, houve uma enorme evolução na imagem da mulher, sempre refletindo o “espírito” do período em que as animações foram produzidas.

Incrível.club decidiu assistir a todos os filmes com as princesas da Disney e entender por que elas mudaram tanto com o tempo. Confira!

Branca de Neve, Cinderela e a Bela Adormecida

Em 1937, a Disney apresentou ao mundo sua primeira obra de animação completa. Uma das características marcantes da Branca de Neve é que ela conhece bem as atividades domésticas. Reparem que a princesa deixa a casa dos anões em perfeito estado, mesmo não os conhecendo bem. Além disso, ela é ingênua e passa confiança, de forma que até os animais da floresta se curvam diante dela. No mais, a primeira princesa da Disney faz de tudo para não se envolver em uma luta: foge da Rainha e acaba indo parar na floresta, não se preocupando em contra-atacar. E, no fim, acaba sendo salva da morte por um príncipe que ela só tinha visto uma vez na vida.

Cinderela sofre opressão dentro de casa, é explorada, mas não luta para mudar sua realidade. Ela apenas foge secretamente para o baile, mas tem medo de que sua madrasta e suas irmãs acabem descobrindo. Como na história de Branca de Neve, sua libertação vem através de um príncipe que ela, até então, nunca tinha visto.

A terceira princesa, Aurora, é salva da morte pelo beijo de um homem desconhecido, que, claro, é um príncipe. Ao mesmo tempo, é importante entender que o destino de Aurora é sempre controlado por outra pessoa: seus pais, as fadas, Malévola, o príncipe, nunca por ela mesma.

Aurora, Cinderela e Branca de Neve são bonitas em sua ingenuidade, gentileza e passividade. Mas essas imagens clássicas para alguns espectadores se tornaram, de certa forma, um tanto anacrônicas, levando em consideração a forma como muitas mulheres de hoje vivem: casar-se com a primeira pessoa que conhece, dormir com os ratos no sótão, ter a oportunidade de escapar das pessoas que lhe fazem mal e não fazer isso ou ainda morar em uma casa com estranhos que você mal conhece.

As primeiras princesas da Disney são, de certa forma, o estereótipo da mulher ideal de suas épocas: obedientes, discretas, sem iniciativa, cujo objetivo principal na vida é ter um casamento de sucesso. Todas as três histórias são baseadas na mesma fórmula de enredo: uma garota incrivelmente bonita sofre com as circunstâncias da vida e espera ser resgatada. Na verdade, o problema da heroína só se resolve graças à sua aparência e doçura, e não por suas iniciativas e ações. Histórias lindas, mas, como mencionamos, bastante anacrônicas para os dias atuais.

Ariel e Bela

A Disney começou a mudar, e em 1966 seu fundador, Walt Disney, faleceu, justamente em uma época em que a sociedade experimentava mudanças drásticas. A imagem das heroínas também passava por transformações, de forma que Ariel foi um grande sucesso nas telonas. A pequena sereia é rebelde, obstinada, confiante, ama uma aventura e age contra a vontade do seu pai, que também é o rei do mundo subaquático. Mas, como suas antecessoras, ela se apaixona loucamente pelo primeiro homem que encontra, que previsivelmente é um príncipe. No entanto, a princesa é quem salva o seu amado e assume os riscos dos seus próprios desejos.

Dois anos após o lançamento de A Pequena Sereia, o mundo conheceu Bela, uma jovem que se recusa a se casar com o homem mais popular entre as mulheres de sua vila e é obcecada por livros. Apenas se dedicar aos cuidados com o lar não é o objetivo de vida da garota. Bela corajosamente sai em busca do seu pai, decide ficar no castelo com a Fera e, no final, defende a Fera na frente de uma multidão furiosa. A propósito, a Fera é tradicionalmente um príncipe, embora esteja enfeitiçado. Mas pela primeira vez uma heroína da Disney se apaixona pela personalidade do seu amado, e não pela sua aparência externa.

Entre as décadas de 1960 e 1980, as mulheres lutavam por igualdade social e as ideias sobre o papel da mulher na sociedade já estavam mudando. As princesas agora tinham suas próprias aspirações e o direito de escolha. E passaram a ser mais proativas, tendo desejos e aspirações além do casamento, embora o “viveram felizes para sempre” ainda tivesse um papel significativo em suas vidas. No entanto, a independência e determinação são visíveis nos filmes dessa época.

Jasmine, Pocahontas e Mulan

Tendo como plano de fundo a luta pelo empoderamento feminino, o foco agora eram a raça e a identidade cultural. Antes de Jasmine, todas as princesas tinham um perfil mais ou menos parecido. Com origens que remetem ao Oriente Médio, ela lançou as bases para que os desenhos animados com personagens de diferentes origens pudessem aparecer nas telonas. Além disso, foi a primeira princesa que não se apaixonou por um príncipe.

Pocahontas é a jovem filha do chefe da tribo indígena Powhatan. Ela é teimosa e corajosa, assim como o resto das princesas dessa época. E até o significado do nome dela significa “criança mimada”, por causa do seu jeito divertido e rebelde de ser.

Mulan é uma garota chinesa que se disfarça de menino para provar que uma mulher guerreira pode ser tão boa quanto um homem.

Tiana, Rapunzel, Merida

No início do filme, Tiana trabalha como garçonete em dois empregos com o objetivo de economizar para realizar um sonho — abrir seu próprio restaurante (ela vira princesa apenas no final, quando se casa com um príncipe). A jovem é extremamente determinada e trabalha arduamente para realizar seu sonho. E no final, o espectador percebe uma lição interessante: todos os acontecimentos da animação levam a heroína a perceber que seus objetivos de vida são tão importantes quanto a família e o amor.

Ao contrário das primeiras princesas, Rapunzel não se apaixona de primeira pelo primeiro homem que vê. Na verdade, ela bate na cara dele com uma frigideira e tem um objetivo: ver de perto o que são as misteriosas lanternas voadoras que brilham no céu. Como em A Princesa e o Sapo, a personagem principal segue um sonho e o amor não é a principal prioridade em sua vida.

Nesse filme, o foco principal não está na arrogância da jovem Merida, mas sim em sua atitude em relação aos homens. Ela faria qualquer coisa para não se casar, até participar de um torneio com seus pretendentes e ganhar de todos, atirando flechas nos alvos com precisão. A grande lição do filme diz respeito ao amor e à compreensão, não entre um homem e uma mulher, mas entre uma mãe e sua filha. A partir desse verdadeiro marco, nos filmes da Disney, as princesas passam a seguir seus sonhos. E a relação com os homens ocupa um lugar secundário na trama.

Nas animações das primeiras princesas do século XXI, essa tendência de as princesas lutarem por seu próprio destino segue forte.

Moana, Elsa e Anna — “As não princesas”

Nem todas as heroínas da Disney são consideradas princesas. Existe uma lista limitada das personagens que ganharam esse “título” — todas listadas acima —, mas essa relação está mudando, excluindo e adicionando novas protagonistas.

Moana e as irmãs Anna e Elsa não são consideradas princesas oficiais pela Disney. Não há uma explicação definitiva para isso, mas existem vários pressupostos. Um deles é que os espectadores passaram a ser mais críticos em relação ao conceito de “princesa” e as novas heroínas não estão nessa lista exatamente por causa disso. No entanto, essa é apenas uma suposição. Talvez elas sejam adicionadas mais tarde, mas vale muito a pena falar sobre elas agora.

Entre Anna e Elsa se passa uma verdadeira história de amor. Anna só poderia ser salva pelo amor verdadeiro que existe precisamente entre as irmãs, e não pelos sentimentos do criador de renas Kristoff ou pelo príncipe mentiroso.

As heroínas da Disney não são mais perfeitas e boazinhas. Elsa se torna perigosa para si mesma e para os outros, incluindo sua própria irmã. No entanto, ela luta contra seus medos e anseios. No fim, a bondade vencerá, mas apenas se as heroínas se autoconhecerem e superarem seus medos.

A história de Elsa é um grande exemplo para as meninas de hoje em dia. Afinal, a princesa de Arendelle procura por uma resposta que quase todos nós (mulheres e homens) procuramos: “quem sou eu?”

O único objetivo de Moana, filha do líder de uma tribo, é salvar seu povo. Curiosamente, ela acaba perdida no oceano aberto sozinha em um barco com um semideus musculoso e tatuado, Maui, e nenhuma paixão surge entre eles. A curiosidade aqui é que o enredo coloca a garota no centro da narrativa, mas não estabelece uma história de amor, nem mesmo em segundo plano.

É importante notar também que a figura de Moana não tem a silhueta esguia e alta, clássica das princesas da Disney. Essa é uma mudança na percepção de beleza dentro da nossa sociedade refletida no enredo. Moana dá a impressão de ser uma menina jovem, alegre e cheia de força, que é imperfeita, mas luta contra seus medos e inseguranças. E, no final, ela dá um corajoso passo para enfrentar o oceano.

Quem é a próxima?

Para o ano que vem, está programado o lançamento de mais uma animação da Disney cujo personagem principal é uma guerreira oriental solitária chamada Raya. E ela vai sair em uma aventura para salvar seu reino e buscar por dragões.

Kelly Marie Tran, a dubladora que fará a voz de Raya, destacou que a guerreira oriental é tecnicamente uma princesa. Mas ela mesma questiona “o que é ser uma princesa hoje em dia?”

As princesas da Disney inspiram gerações de crianças a sonhar alto e a acreditar em si mesmas”, disse Marianthi O’Dwyer, vice-presidente de Franquias da Disney. Talvez essa seja a resposta à pergunta de Kelly. E o que exatamente significa “sonhar alto” e em qual de suas facetas acreditar, só o tempo deve mostrar.

Afinal, como temos visto com a própria evolução das princesas da Disney ao longo de quase um século, a sociedade muda e as aspirações são diferentes dependendo da época.

Qual a sua princesa favorita da Disney? Como deve ser a princesa do futuro para você? Conte para a gente na seção de comentários.

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