As frases que não devemos dizer ao criar um filho, segundo uma experiente psicóloga
“Todos os problemas começam na infância”. Essa frase já se transformou em uma espécie de clichê, mas ainda assim são raras as vezes em que os pais param para pensar em que eles mesmos criam as dificuldades para os seus filhos. Pais carinhosos e mães amorosas costumam soltar frases aparentemente inofensivas, mas com sérias consequências no longo prazo.
Meu nome é Natalia Barabash, sou pedagoga e psicóloga. Trabalho há mais de 20 anos com pais e crianças, e após tanto tempo montei uma lista com afirmações que não ajudam na criação de um filho.
Gostaria de mostrar quais são as frases que os pais deveriam excluir do seu dia a dia na comunicação. Elas costumam ser usadas de maneira automática, mas trazem muitos estereótipos e são um grande obstáculo para que um filho consiga alcançar a tão sonhada felicidade.
“Você é o meu (minha) gordinho (a)”
Existem muitas outras palavras que poderiam vir no lugar de ’gordinho’, como bolinha, fofinho, magricela, etc. Todos esses apelidos costumam ser ditos com ternura e, portanto, as pessoas acham que são inofensivos.
Acontece que a ênfase constante em aspectos fisiológicos de uma criança faz com que ela crie artificialmente alguns tabus difíceis de eliminar. Esses processos podem levar ao desenvolvimento de problemas complicados, como obesidade, bulimia, anorexia, fanatismo pelo esporte, etc. Em geral, um filho nunca esquece a maneira como seus pais o chamavam quando ele era pequeno, e isso pode acabar em memórias muito desagradáveis.
“Você é uma mocinha” ou “Você é um homem”
Esses tipos de afirmações costumam vir acompanhadas de outras frases, como: “sente-se como uma mulher” ou “não chore, você é homem”, e por aí vai. Realmente é necessário vincular o comportamento ao gênero?
Se uma menina quiser sentar com os pés sobre a cadeira, ou com as pernas levemente abertas, isso a torna menos mulher? E se um homem começar a chorar, realmente é isso que faz dele um homem? Esses comentários criam uma grande confusão na cabeça das crianças, fazendo com que elas se transformem em adultos que vivem se esforçando para corresponder às expectativas em relação ao seu gênero. Ou então pessoas que exageram na maneira de se comportar.
“Isso é normal, é apenas uma criança”
Na hora de educar uma criança, o problema não está apenas na rigidez excessiva, mas também na maneira exagerada de permitir algumas coisas. Muitos pais optam por não recriminar os filhos homens que fazem barulho demais, ou que se comportam como verdadeiros vândalos. Por outro lado, muitas filhas podem ser caprichosas porque isso é normal em uma mulher.
Quando chegam na fase adulta, essas pessoas acabam tendo dificuldades em aceitar as regras sociais. Um jovem que, quando criança, podia quebrar tudo acha que pode bater em outra pessoa apenas porque é um homem. E uma garota que conseguia tudo por meio das lágrimas e dos gritos pode acabar recorrendo a essa mesma técnica na fase adulta. Isso não funciona.
“Se você tirar uma nota ruim você vai se dar mal na vida”
Quando falamos sobre educação nesses termos, invertemos as prioridades e passamos a dar menos importância ao autodesenvolvimento e mais importância às qualificações.
Além de se esforçar para tirar as melhores notas na escola usando todos os meios possíveis — alguns bastante questionáveis -, essa maneira de agir afeta a vida adulta da pessoa, fazendo com que ela seja completamente dependente da opinião das outras pessoas. Como resultado, existe o risco de que o adulto não tenha uma opinião própria sobre a própria vida, sobre seus gostos e seus interesses.
“Por que você bateu nele?”
Ou ao contrário: “Por que ele te bateu?” Claro que é importante entender o que levou duas pessoas a começarem a brigar, mas ao usar uma pergunta como essa estamos falando que a violência pode ser justificada. Ou seja, fale por que você usou métodos violentos e eu vou te dizer se ela é ou não é justificável. Isso faz com que o castigo venha apenas quando não tenha havido motivo (porque se a pessoa merecia a violência, quem atacou não precisa ser castigado). Ou seja, nesse caso, quem agrediu agiu bem.
O estereótipo da violência possivelmente merecida cria na criança uma futura vítima de agressores. Aqui é importante saber que uma criança vítima pode assumir o papel de agressor, e os 2 papéis são igualmente tóxicos.
“Mas você é inteligente”
Qualquer elogio que comece com ’mas’ é perigoso. Sim, é uma maneira de mostrar para a criança quais são os seus pontos fortes, mas, ao mesmo tempo, enfatizar o que ela não tem e que, normalmente, os adultos acreditam que jamais terá.
O adulto cujos pais durante a infância o apoiaram com ’mas’ lidam mal com as suas características ’problemáticas’. Os inteligentes corrigem o mundo todo, os fortes acham que sempre podem mais do que os outros, e por aí vai. Essas pessoas costumam ser muito irritantes pelo excesso de autoconfiança, mas, na verdade, se escondem atrás deste sentimento.
“O principal para uma garota é um bom casamento”
Aqui vemos quase a mesma história que o ’mas’, entretanto um pouco pior. O enfoque positivo não está em um traço da personalidade, mas na outra pessoa. A filha, nesse caso, não tem valor nenhum, e nem sequer tem a necessidade de desenvolver as suas habilidades para atrair um bom marido.
Ao formar este tipo de valor, a mulher passa a relacionar o sucesso com o casamento. E mesmo se encontrar um bom marido, nunca vai conseguir olhar para as suas ações de maneira justa consigo mesma, sempre aturando todo tipo de injustiça. Será que é isso que os pais querem para as filhas?
“O principal em um homem é ser macho”
Para começar, homens e mulheres precisam de amor, de carinho, de afeto e de compreensão. Apenas em um contexto calmo uma criança consegue entender quem ela é, sem ficar ansiosa ou com medos. Muitos pais que acabam criando os filhos homens como machos não percebem que seus eles viram pessoas intransigentes e cruéis.
Tudo isso afeta a formação do seu caráter. A insensibilidade e a brutalidade acabam sendo encaradas como normais. Quando um filho recebe uma educação assim, ele simplesmente não aprende como demonstrar as suas emoções. Algumas pessoas podem chamar isso de um ’caráter duro’, mas é importante saber que muitas vezes isso leva a uma incapacidade de sentir e de olhar para os sentimentos dos outros e de si mesmo.
Resumindo
É impossível comentar todas as expressões que afetam negativamente a vida de um filho ou de uma filha. Hoje, trouxemos alguns pontos e queremos que você acabe essa lista a partir de seus próprios conceitos sobre o que é mais apropriado. Como foi possível ver, na maioria dos casos o efeito negativo de uma frase tóxica é fácil de prever, basta pensar com um pouco de lógica, sempre mantendo vivo o desejo de criar um filho saudável e feliz.
Um conselho: comece com aquelas frases que foram ditas a você pelos seus pais. Olhe para elas e pense se o seu filho é ou não é capaz de compreender os seus significados. Lembre-se de como você se sentia quando ouvia essas frases durante a sua infância e pense se você quer que o seu filho ou a sua filha sintam a mesma coisa.
Compartilhe a sua opinião sobre este tema nos comentários. Conte pra gente que frases você acha que um pai e uma mãe deveriam eliminar do dia a dia na hora de criar um filho. Nós, do Incrível.club, adoraríamos conhecer um pouco a sua experiência em relação a este tema.