9 Coisas que parei de fazer para conseguir comprar um carro

Histórias
há 4 anos

Na primavera de 2018, estabeleci um objetivo: comprar um carro de R$ 90 mil até 2020. Os cálculos não mentiam: para atingir minha meta, eu deveria juntar pelo menos cerca de R$ 5 mil por mês. Considerando que não pretendia que minha família passasse fome, juntar essa quantia parecia algo impossível. Mas eu não desisti da ideia.

Especialmente para o Incrível.club vou contar os hábitos “desnecessários” dos quais decidi abrir mão para conseguir comprar o carro dos meus sonhos.

Introdução

Me chamo Polina e moro em São Petersburgo, na Rússia. No momento em que decidi comprar um carro, eu e meu marido já tínhamos um veículo com 10 anos de idade, que exigia demais da nossa atenção: tossia, espirrava, ficava doente e precisávamos “tratá-lo” com frequência. Uma vez ele quebrou a caminho do aniversário da minha mãe, que acontecia em outra cidade. Acabamos perdendo boa parte da festa tentando reviver nosso amigo de quatro rodas.

Além do mais, estávamos esperando um filho e, por isso, precisaríamos de um carro maior, de cinco portas em vez de três. Mas a decisão foi a de que compraríamos à vista, mesmo que o veículo não fosse novo: o importante era caber no nosso bolso.

Para conseguir alcançar qualquer meta financeira, é preciso compreender o quanto de dinheiro se tem disponível

“Gastos essenciais. Entretenimento. Emergências. Dia a dia”

Hoje consigo dizer exatamente o quanto temos de dinheiro e no que estamos gastando, além de planejar corretamente as despesas do mês. Há dois anos, não sabia o quanto minha família gastava nem com produtos. Tudo acontecia espontaneamente: se precisássemos de algo, comprávamos. Se não tínhamos dinheiro, não comprávamos. Essa era toda a matemática. Desde que estabeleci minha meta, passei a anotar os gastos diários em um caderno. Criei quatro categorias:

  • Essenciais: contas da casa, gasolina, celular, internet de casa.
  • Dia a dia: comida, produtos de limpeza, ração para os animais, cuidados com o corpo.
  • Entretenimento: saída com amigos, museus, restaurantes, entrega em domicílio.
  • Emergências: saúde, obras.

Passei um mês fazendo a análise financeira e só depois ficou claro para onde iam nossos esforços. Aliás, o próprio processo de anotar as finanças foi útil para que começássemos a nos perguntar se valia ou não a pena comprar determinada coisa. Passei a poupar dinheiro como se estivesse em uma competição e fosse ganhar algum prêmio no final. O importante era não prejudicar a qualidade de vida, pois precisaríamos economizar por muito tempo.

Mau hábito № 1: zerar o salário

Implementei uma regra de “pagar a mim mesma” mensalmente e ativei o pagamento automático pelo aplicativo do meu banco. No mesmo dia em que recebesse meu salário, uma parte significativa seria direcionada a uma “poupança” — cerca de R$ 1.200. O dinheiro não ficaria apenas parado, estaria gerando lucros. Isso serviu como um bom estímulo para não retirá-lo, caso contrário perderia todo o juros.

A forma que encontrei para não abandonar a ideia foi pensar que era como se estivesse pagando a prestação do carro. A única diferença era que o dinheiro estaria na minha conta, eu apenas o escondia de mim mesma. Não pense que foi fácil, muito pelo contrário. Decidi que o resto do salário seria gasto como eu quisesse, mas passei a me controlar mais. Quando pensava na pouca quantia que me restava, não tinha vontade de gastar com compras supérfluas, roupas ou restaurantes.

Houve meses em que foi possível economizar mais do que o estipulado inicialmente e, assim, consegui juntar cerca de R$ 24 mil em seis meses. Cerca de R$ 1 mil foram devidos às porcentagens do banco em cima do valor que ficava na conta.

Mau hábito № 2: ignorar a possibilidade de economizar com os gastos essenciais

Sempre achei as contas da casa muito caras, mas descobri que era perfeitamente possível reduzir os gastos. Instalamos contadores de luz e água, trocamos todas as lâmpadas pelas de LED e usávamos água somente quando necessário. Além disso, fizemos o seguinte:

  • À noite passamos a ligar luzes menores em vez da lâmpada principal.
  • Máquina de lavar louça e roupa eram acionadas apenas depois das 23h.
  • Escolhia o modo de lavagem com mais atenção. Aquecimento de água até 60 ºC requer mais eletricidade do que até 30 ºC, por exemplo. Isso também ajuda a terminar a lavagem mais rápido.

Graças a esses hábitos mais conscientes, começamos a pagar de R$ 80 a R$ 100 a menos em contas cada mês. Essa diferença era adicionada à poupança e, em um ano e meio, o que pude juntar em razão da economia em contas foi de cerca de R$ 2 mil.

Mau hábito № 3: não controlar os gastos diariamente

Comecei a arredondar diariamente meu saldo no cartão e o dinheiro que mantinha na carteira. Isso significa que, ao final do dia, se tivesse R$ 1.360 na conta, eu depositaria 360 na poupança. Quanto ao dinheiro na carteira, a mesma coisa. Com isso, consegui economizar cerca de R$ 250 a R$ 400 todo mês. Mas, por vezes, acabava usando essa economia para pagar as contas da casa ou pagar por algum evento que quiséssemos ir. Em um ano, foi possível reservar cerca de R$ 5 mil somente com o arredondamento dos valores.

Mau hábito № 4: comer fora com frequência

Uma opção mais rentável e saudável é preparar comida para guardar em porções pequenas em recipientes plásticos no congelador. A fórmula é simples: guarnição + carne vermelha ou peixe + legumes podem ser armazenados por uma semana ou mais. Antigamente, quando não tinha tempo para cozinhar, ia para algum restaurante ou comprava comida. Mas, agora, apenas retiro uma porção do congelador, como almôndegas, brócolis cozidos ou batatas assadas, por exemplo, e o prato já está pronto. Rápido e nutritivo!

É muito conveniente congelar sopas, e elas não perdem o sabor. Se decidir levar sopas congeladas para o trabalho, tenha certeza de que não vai derramar. O que eu não pude evitar foram os olhares tortos dos colegas quando viam meus recipientes de plástico. Na cozinha do escritório, também me cansei de responder as perguntas: “veio esquentar a sopa de novo?” Mas eu estava satisfeita de não ter de recorrer ao fast food.

Além de sopas, levava outros pratos congelados e bastante saudáveis para o trabalho. Com essa prática consegui economizar cerca de R$ 500 por mês (ou cerca de R$ 9 mil em um ano e meio). Isso também afetou nossas escolhas de passeios. Em vez de restaurantes, passamos a ir mais para parques, praças e entretenimentos gratuitos.

Como economizar em comida? Comprávamos os produtos com data de validade longa em grandes quantidades (dentro dos limites, claro): chá, açúcar, macarrão, comida para o gato e cachorro. Se encontrasse algum produto em promoção, levava quatro ou cinco pacotes de uma vez (pasta de dente, sabão em pó, shampoo, etc).

Comprava frutas e legumes de acordo com as necessidades, pois os congelados são normalmente mais caros. Em comparação com o primeiro mês do experimento, quando eu apenas começava a analisar os gastos, a diferença foi de cerca de R$ 300. Isso adicionou mais uns R$ 7 mil à poupança do carro em 18 meses.

Mau hábito № 5: não se aproveitar dos benefícios e bônus dos bancos

Tenho alguns cartões bancários: num deles recebo o salário, no outro reservo dinheiro por conta da porcentagem adicionada ao valor, no terceiro uso benefícios e descontos e, no quarto, tenho privilégios que me permitem tomar café de graça em alguns restaurantes.

Um banco me ofereceu receber cashback em determinadas categorias de produtos. Por exemplo, nos próximos três meses eu poderia ter cashback em “farmácia”, “cinema” e “transporte”. Isso significa que usaria exatamente esse cartão para compras do tipo. Normalmente, as categorias mudavam a cada três meses. Outro banco também me ofereceu cashback de 30% em cafés e restaurantes e, assim, acabei recebendo “de volta” uma quantia considerável.

Minha dica é: hoje muitos bancos oferecem benefícios diferentes e cartões com vantagens. Não tenha medo de testar algo novo, pois fazendo a escolha certa é realmente possível tirar proveito financeiro da situação. Ao pagar compras com o cartão correto, eu pude ganhar seguro viagem anual, milhas em passagens aéreas, aulas de dança gratuitas e descontos em cinemas. E, lembrando, tenho vários cartões.

Mau hábito № 6: não procurar por produtos ou serviços mais acessíveis

Decidi realizar experimentos em mim mesma, fazendo máscaras caseiras para o cabelo e rosto somente com os produtos que encontrava na geladeira. Tudo era usado: leite, iogurte, ovos. Tentei até fazer uma cera de depilação com açúcar e ácido cítrico. As soluções caseiras só me deram de presente acne, cabelos secos e vermelhidão na pele. A depilação, então, nem se fala, gastei quilos de produtos e não consegui alcançar o objetivo desejado. Ou o resultado era fraco demais ou simplesmente não tinha a consistência ideal. Gastei muito tempo e não tive satisfação com os produtos finais, por isso voltei aos métodos tradicionais.

Encontrei uma forma de reduzir os gastos: parei de me maquiar e de usar perfumes. Passei a usar produtos para o cabelo e rosto com preços mais acessíveis em vez das marcas caras. Mas, de uma forma geral, não consegui economizar muito com isso: cerca de R$ 200 por mês e, aproximadamente, R$ 3 mil por todo o período.

Outra decisão difícil, mas muito rentável, foi parar de comprar roupas, com exceção de peças íntimas e meias-calças. Deixar fazer isso tornou a minha vida entediante demais. Por vezes eu ia ao shopping somente para passear e “ver as novidades”, mas não levava nada. Meus amigos me convidaram para um casamento e, pouco tempo antes da cerimônia, encontrei um vestido fabuloso, que simplesmente ficou “martelando” na minha cabeça.

Estava desesperada e sem conseguir dormir por conta dele. Por um lado, tinha o dinheiro para pagar, mas, por outro, estava no modo de economia total. Novamente fui à loja, provei o vestido e me dei conta de que ele havia sido costurado de uma forma bastante simples. Minha avó me ensinou o básico da costura quando eu era pequena e, por isso, decidi aplicar os ensinamentos de família. Avalio o meu trabalho como mediano — a costura ficou aceitável, mas o que salvou o look foi o cinto e uma blusa branca longa. Dessa forma, não gastei nada, pois costurei minha roupa com o tecido de uma cortina velha que tínhamos em casa. E, voilà, Scarlett O’Hara!

Deixei de ficar triste por conta da ausência de shoppings na minha vida. Resolvi propor às minhas amigas trocar peças de roupas e também entrei em sites de troca de bens. Por ano, costumava gastar cerca de R$ 3.500 em roupas, mas com esse sacrifício, consegui juntar um total de R$ 5 mil em um ano e meio.

Mau hábito № 7: não procurar oportunidades de renda extra

Poupar em produtos cosméticos me levou a criar minha própria “linha” de cuidados pessoais: cremes, loções e sabonetes. O último se tornou um verdadeiro hobby ­— comecei a pesquisar sobre os ingredientes necessários e estudar mais sobre ervas e óleos. Inicialmente, dava de presente aos amigos e recebia sempre um feedback positivo.

Em um belo dia, postei um anúncio na internet dizendo que fazia sabonetes artesanais. Recebi o primeiro pedido depois de alguns dias e então o negócio deslanchou. Enviava sabonetes para outras cidades e até países diferentes. Meu novo hobby se tornou uma fonte de renda, que gerava um lucro de R$ 1 mil por mês. Vale ressaltar que eu fazia os sabonetes somente no meu tempo livre, pois ainda trabalhava no escritório.

Mau hábito № 8: pagar mais naquilo que se pode pagar menos

  • Passei a cometer menos infrações de trânsito: se antes eu gastava cerca de R$ 100 a cada dois meses por exceder a velocidade, passei a gastar 0. O lucro total foi de R$ 800.

  • Trabalhos pequenos com a casa podem ser resolvidos de formas diferentes. Se precisássemos fazer algum conserto pequeno, procurávamos profissionais em sites de anúncios de serviços — saia mais barato do que se contratássemos uma empresa. Também comecei a lavar e passar todas as roupas por conta própria em casa. Dessa forma conseguimos economizar R$ 500 em 18 meses.

  • Abastecíamos o carro em postos de gasolina mais acessíveis (onde o litro da gasolina era mais barato) ou usávamos cartões de desconto, e a economia foi de R$ 400.

  • Fazíamos compras online de produtos e coisas pequenas para a casa sempre com desconto e, assim, foi possível juntar R$ 700. Dica: se em algum site há a opção de colocar um código ou cupom de desconto, muitas vezes é possível entrar em contato com a empresa para se aproveitar dessa oferta ou basta pesquisar no Google. Desse jeito, pude fazer o seguro do apartamento, comprar passagens aéreas e ingressos para shows. Gastávamos 10 minutos pesquisando, mas os descontos eram valiosos.

Com tudo isso, a poupança “do carrinho” cresceu em cerca de R$ 3 mil em despesas pouco óbvias.

Mau hábito № 9: manter coisas desnecessárias em casa

Quando consegui juntar a maior parte do dinheiro, comecei a vender coisas que não usávamos mais. Descobri que as pessoas precisavam do meu aspirador de pó, do telefone fixo que não utilizávamos havia 10 anos, do ferro de passar e da casinha do gato. Os valores eram simbólicos, mas nos “livramos” de uma cômoda retrô, quadros antigos, materiais de construção e de um colchão velho.

Em outras palavras, ganhamos espaço nos armários e nas estantes. Também vendi roupas que não cabiam em mim ou que não usava mais. Percebi que não precisava mais do meu vestido de casamento e o vendi com lágrimas nos olhos por R$ 1 mil. A carteira ficou feliz com os lucros dos itens usados, o que totalizou R$ 2 mil.

Resultado dos meus esforços

Pode parece que me transformei em uma pessoa mesquinha, que contava os mínimos centavos, mas não era bem assim. Eu não abri mão completamente dos prazeres da vida, apenas diminuí a quantidade deles. E, no tempo estabelecido, economizei mais de R$ 70 mil. Depois vendi nosso carro antigo e, finalmente, consegui comprar o dos meus sonhos. O dono anterior cuidou muito bem dele: enviou junto um conjunto de pneus de inverno, sistema de áudio e sinalização modernos, tapetes e capas para os assentos novos em folha.

Imagine só, durante um ano e meio conseguimos separar R$ 1.200 por mês e economizar com as despesas do dia a dia. Durante esse experimento, comecei a entender como o meu dinheiro estava sendo gasto, e nossa família parou de viver dependente do salário do mês. Eu passei a ter uma renda extra com meu novo hobby e desenvolvi meu potencial criativo (não durou muito tempo, mas isso é irrelevante). Esse tempo foi muito bom para avaliar o que é realmente essencial na vida e o que é fruto das nossas fraquezas capitalistas e necessidade de simplesmente gastar dinheiro.

Além de tudo, aprendi também a calcular os gastos de tempo e o que aquilo se traduziria em finanças, de forma a usar melhor meus recursos de acordo com as necessidades. Agora, depois de atingir meu objetivo econômico, posso respirar aliviada e relaxar um pouco. Mas, de qualquer forma, agora sou mãe e, tanto meu salário quanto meu tempo livre não pertencem mais só a mim (mamães entenderão).

Quais as despesas diárias que você poderia abdicar para comprar aquilo com que tanto sonha? Deixe seu comentário!

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