18 Tradições da aristocracia que já foram normais, mas hoje parecem surreais

Curiosidades
há 2 dias

Com tantas opções disponíveis hoje, muitos pais enfrentam o desafio de escolher a melhor forma de criar seus filhos, seja seguindo métodos tradicionais, priorizando a individualidade ou apostando em um estilo mais flexível. No entanto, há 150 ou 200 anos, mesmo nas famílias aristocráticas, a criação das crianças seguia regras rígidas e, muitas vezes, impensáveis para os dias de hoje.

A criança precisava conquistar o afeto dos próprios pais

Anna Karenina / Mosfilm, © Two Women / Film Base Berlin
  • As relações familiares eram estruturadas de forma que a criança precisava fazer por onde merecer demonstrações de amor e atenção. Decepcionar os pais era visto como uma falha grave. “Você não é digno da minha amizade”, disse certa vez o pai de um escritor clássico do século XIX, expressando sua insatisfação com o comportamento do futuro literário.
  • A vida de uma criança da nobreza era completamente separada da de seus pais. O espaço pessoal do pai e da mãe não podia ser desrespeitado sob hipótese alguma, e muitas famílias aristocráticas organizavam a casa de forma que os quartos das crianças ficassem em uma ala distante, especialmente do escritório do pai, para não atrapalhar seus afazeres. Esse tipo de relação entre pais e filhos é bem ilustrado na cena do retorno do príncipe Andrei Bolkonsky à casa do pai, no romance Guerra e Paz, de Tolstói. Ao chegar em casa durante o momento reservado para o descanso do patriarca, Andrei simplesmente fica aguardando até que seu pai tenha um horário livre para recebê-lo.

Os estudos começavam desde cedo

  • A partir dos 7 anos, a criança já era tratada como um pequeno adulto. Nessa idade, passava a conviver mais com os mais velhos, sendo autorizada a participar de conversas sérias e a ler a mesma literatura dos adultos. Brincadeiras começavam a ser desencorajadas e, muitas vezes, até punidas, pois considerava-se que um indivíduo crescido não deveria perder tempo com jogos infantis.
  • No início do século XIX, quando a literatura era uma dos principais hobbies da nobreza, os jantares e almoços frequentemente se transformavam em competições de poesia. Olga Muravyeva, descendente de uma antiga família aristocrática, contou ter recordações de que, em sua infância, os verões na casa de campo eram marcados por jogos de rimas, nos quais todos se divertiam. Já adulta, tentou recriar a brincadeira com amigos, mas a experiência falhou — ninguém mais sabia rimar como antigamente.
  • Desde a infância, tanto meninos quanto meninas aprendiam o significado das condecorações. Sem precisar de ajuda, eram capazes de identificar e descrever cada medalha ou insígnia exibida nos retratos de seus ancestrais. Nas propriedades aristocráticas, era comum haver galerias dedicadas aos retratos de familiares que se destacaram em batalhas.

Era preciso conter as emoções

  • Liev Tolstói usava a expressão “verniz da alta sociedade” para descrever a capacidade da aristocracia de ocultar emoções e sentimentos, assim como o verniz esconde as imperfeições da madeira. Esse autocontrole não era apenas uma característica valorizada, mas algo ensinado desde a infância aos jovens nobres.
  • Conter-se emocionalmente era visto como uma vantagem social, pois permitia manter as aparências e evitar demonstrações indesejadas de sentimentos como irritação ou raiva. Além disso, acreditava-se que uma pessoa bem-educada não deveria sobrecarregar os outros com seus problemas e preocupações, preservando sempre uma aparência de controle e equilíbrio.
  • O tutor do futuro imperador Paulo I relatou em suas memórias um episódio marcante da infância do seu aluno. Quando tinha 10 anos, o jovem príncipe, ansioso pelo baile de máscaras do dia seguinte, queria dormir mais cedo e quase chorou de impaciência. Seu cuidador, então, o acompanhou até o quarto, mas o repreendeu severamente por sua falta de autocontrole. Na manhã seguinte, o tutor tentou mostrar ao garoto toda a “indecência” de seu comportamento da noite anterior, e o pequeno príncipe, envergonhado, reconheceu seu erro.

As aulas de dança eram tão rigorosas quanto um treinamento de atleta profissional

  • Para que um jovem aristocrata se movimentasse com naturalidade e elegância na frente da alta sociedade, a dança era um elemento essencial na educação desde a infância. As aulas começavam por volta dos 5 ou 6 anos de idade e, muitas vezes, eram exaustivas, mais parecendo um treinamento rigoroso de atleta. A precisão e leveza na execução dos movimentos não eram apenas uma questão estética, mas um sinal claro de refinamento e boa educação.
  • Todo nobre conhecia as regras de etiqueta dos bailes. Durante danças como valsa ou quadrilha, era comum discutir assuntos cotidianos e eventos sociais, mas conversas românticas eram consideradas inadequadas. Já outras, como a mazurca, por outro lado, marcavam o momento em que declarações de amor podiam acontecer. Esse simbolismo é evidente em Anna Karenina, de Tolstói, quando a princesa Kitty, já tendo dançado a valsa e a quadrilha com Vronsky, depositava grandes esperanças na mazurca, acreditando que tudo se resolveria nesse momento. No entanto, sua expectativa acabou frustrada. Da mesma forma, na peça O Casamento de Krechinsky, o protagonista escolhe justamente a mazurca para pedir sua amada em casamento, reforçando a importância desse momento nos bailes aristocráticos.

As crianças eram incentivadas a serem fortes e destemidas

  • As jovens aristocratas se orgulhavam de sua habilidade de andar a cavalo. Na famosa cena de caça no romance Guerra e Paz, Natasha Rostova monta com firmeza e confiança seu cavalo negro, demonstrando resistência e vigor, e impressionando todos ao seu redor. “Isso sim é uma jovem condessa!”, exclama seu tio com admiração. “Passou o dia todo cavalgando como um homem, e nem parece cansada!”
  • Fomentar a coragem e a força de espírito era considerado essencial. A aristocrata Ekaterina Meshcherskaya relatou em suas memórias que foi criada sob a supervisão de seu irmão mais velho. Sabendo que ela tinha medo de tempestades, ele a colocou no parapeito de uma janela aberta, bem no meio de uma chuva torrencial. Apavorada, Ekaterina desmaiou. Ao recuperarr os sentidos, encontrou o irmão secando seu rosto com um lenço enquanto perguntava: “E agora, ainda vai ter medo de tempestade?” Segundo ela, depois desse episódio, nunca mais sentiu medo do mau tempo.

A fragilidade física não era bem vista entre os jovens aristocratas

  • A coragem exigida dos jovens nobres vinha acompanhada de uma rigorosa preparação física. No Liceu onde estudou o escritor Alexandre Pushkin, as atividades diárias incluíam exercícios físicos, que iam desde equitação e remo até esgrima. Além disso, os alunos eram obrigados a acordar cedo e fazer caminhadas ao ar livre, independentemente do clima, para fortalecer tanto o corpo quanto o espírito.
  • Embora as exigências de resistência física para as meninas fossem mais brandas do que para os meninos, a fragilidade ainda assim não era incentivada. Anna Kern, uma aristocrata do século XIX, recorda em suas memórias que sua governanta a fazia caminhar no parque todos os dias, independentemente do clima. Ao anoitecer, a obrigava a deitar-se no tapete do chão para corrigir a postura e manter as costas retas.

As meninas foram preparadas física e psicologicamente para as dificuldades da vida

A Cruel Romance / Mosfilm
  • Desde cedo, as jovens nobres aprendiam a administrar uma casa. Se a família passava por dificuldades financeiras, era preciso encontrar formas de contornar a situação, e as mães transmitiam às filhas lições valiosas sobre como manter as aparências e evitar crises. A princesa Ekaterina Meshcherskaya escreveu, aconselhando sua filha: “É essencial evitar dívidas. Melhor abrir mão não só dos caprichos, mas até do essencial, do que se endividar”. Essa mentalidade também é retratada no filme A Cruel Romance (sem versão para o português), no qual uma viúva empobrecida faz de tudo para garantir um bom futuro para as filhas no final do século XIX. Enquanto isso, sua caçula, Larissa, em uma das cenas mais marcantes, se esconde para saborear um doce de elite da aristocracia: um simples pote de geleia, símbolo da necessidade de ocultar privações sob uma fachada de normalidade.
  • Para as aristocratas, a gravidez era encarada como um estado natural, tanto fisiologicamente quanto emocionalmente. Como a maternidade fazia parte constante de suas vidas, era comum passarem por múltiplas gestações ao longo dos anos. Quando a saúde permitia e o casamento era estável, uma nobre poderia ter entre 15 e 20 filhos. Esse cenário é exemplificado logo no início de Guerra e Paz, quando Tolstói menciona que a família Rostov tinha 12 filhos.
  • No entanto, as jovens aristocratas que estavam prestes a se casar raramente recebiam qualquer orientação sobre a intimidade da vida conjugal. Muitas entravam no casamento sem compreender completamente o que significava a maternidade, e a gravidez frequentemente as pegava de surpresa. Uma mulher nobre relatou em suas memórias que, devido à sua falta de experiência e conhecimento, passou toda a gestação sem procurar um médico sequer e não fazia a menor ideia de quando daria à luz.
  • Alguns homens mais instruídos acompanhavam o ciclo menstrual de suas esposas. Quando a gravidez era confirmada, tanto a futura mãe quanto o pai iniciavam o hábito de escrever diários detalhados, registrando cada etapa da gestação.

As formas de criar os filhos estão sempre evoluindo, e muitas práticas que eram comuns no passado hoje parecem, no mínimo, impensáveis. Mas o que realmente funciona na educação das crianças? Reunimos aqui dicas valiosas de pediatras para ajudar você a educar seus filhos de acordo com a idade e com mais equilíbrio e segurança.

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