O russo que não conseguiu entrar em um curso de artes na universidade e agora desenha para Hollywood

Arte
há 4 anos

Muitas pessoas se queixam da falta de condições para o crescimento profissional. Max Kostenko, de Podolsk, cidade próxima de Moscou, na Rússia, prova o contrário. Ele percorreu um longo caminho, começando como empacotador em uma fábrica até chegar ao trabalho como ilustrador em grandes projetos de Hollywood.

Nós, do Incrível.Club, estamos emocionados com a história de Max e sugerimos que você a conheça para que veja que muitas coisas são possíveis para aqueles que vão atrás dos próprios sonhos.

Vamos começar com o principal: o artista freelancer, atualmente contratado pela DreamWorks, não possui formação especializada. A paixão de Max por desenhar permaneceu, por muitos anos, sendo apenas um hobby. Após a escola, o futuro ilustrador tentou uma vaga em um curso de artes de uma universidade local, mas não obteve a pontuação suficiente para ingressar no curso. Como o próprio Max diz “não havia base suficiente”.

Ele entrou, por fim na faculdade de Direito, mas o curso não lhe trouxe nada, além de tristeza. Afinal, não há muita criatividade no meio jurídico. Ao longo da sua jornada, trabalhou como empacotador em uma fábrica e como operário em canteiros de obras para manter-se financeiramente. Mas, mesmo durante esse período, Max não parou de desenhar e começou a estudar o Photoshop de forma independente. Por fim, seu entusiasmo e persistência ajudaram-no a encontrar um emprego num pequeno estúdio de publicidade como designer.

Seu trabalho para o filme “Animais fantásticos e onde habitam” (2016)

Com o tempo, a ambição levou o nosso herói a um estúdio maior, onde descobriu a pintura digital. Inspirado por essa tendência, Max começou a desenhar e publicar seus desenhos online. Tornando-se também um artista independente (mas, ao mesmo tempo, trabalhando para a agência), muitas vezes ele teve seu trabalho recusado por clientes devido à falta de experiência. Mas isso apenas o incentivou a seguir em frente.

Aprimorando-se como ilustrador, Max, por fim, conseguiu montar uma boa base de clientes como freelancer e deixou a agência. Foi um passo ousado, mas, segundo o artista, depois de 10 anos de trabalho em casa, àquela altura, essa já era uma atitude que faria sentido. De fato, uma longa lista de clientes satisfeitos (entre eles, Volkswagen e Mercedes) levou Max a Hollywood.

A essa altura, provavelmente alguns leitores torcessem para ver Max passar por maus bocados antes de se firmar em Hollywood. Ok, isso realmente daria mais charme à sua saga. Mas não foi o que aconteceu. Max procurou por clientes interessados em trabalhos minuciosos. Após uma série de encomendas bem-sucedidas, foi contactado pessoalmente por um agente da França, que reuniu o ilustrador com grandes empresas internacionais. Depois disso ele mesmo teve contato com agentes nos EUA e na Grã-Bretanha e entrou na indústria do cinema. “O segredo é simples: seja um bom profissional em sua área e o próprio trabalho o encontrará”, diz ele.

Conceitos e versão final do monstro feito para o filme “Monster Truck” (2016)

Seu primeiro grande trabalho no cinema foi com o filme “Monster Trucks”. Na fase de desenvolvimento do conceito, o estúdio não conseguia encontrar um ilustrador que sentisse plenamente qual era a intenção do diretor. Um dos produtores do filme lembrou-se de Max e ofereceu-se para contactá-lo. O russo, naquele momento, não tinha qualquer experiência anterior em grandes projetos cinematográficos. E sua missão não seria das mais simples: ele teria de transformar monstros assustadores em personagens atraentes para crianças, mantendo neles alguns traços de “monstruosidade”. E deu certo.

“A criação de personagens para o cinema é uma área bastante restrita, onde todos se conhecem. Quando você faz um bom trabalho a informação se espalha rapidamente”.

O próximo grande desafio para o jovem ilustrador foi trabalhar na primeira parte de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”. De acordo com Max, muitas das criaturas do filme têm alguns traços dele, já que a equipe de ilustradores que trabalhou nos conceitos dos personagens era grande. Mas o encantador Seminviso (Demiguise) é 95% criação sua. Somente o nariz foi ligeiramente alterado.

Conceito e versão final de Seminviso para o filme “Animais fantásticos e onde habitam” (2016)


E ainda mais: o russo trabalhou no filme “Kong: A Ilha da Caveira” e na segunda parte de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”. Desta vez, a conquista de Max no universo de Harry Potter foi a criação do “gato” Zouwu, cujo design os ilustradores não conseguiam decidir como seria. Max aproximou o design do animal da mitologia chinesa e seu conceito foi aceito. Porém, como invariavelmente ocorre nesse tipo de projeto, a versão final da criatura foi ligeiramente alterada.

Conceito e versão final de Zouwu do filme “Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald” (2018)

Recentemente, Max trabalhou no filme “Pokémon: Detetive Pikachu” e viajou para a Califórnia para encontrar-se com o diretor de Piratas do Caribe, Gore Verbinski, para desenvolver em conjunto esse novo projeto para o estúdio Paramount Pictures. Ele também realiza cursos especializados e tem um blog. Em suma, uma vida profissional bastante agitada.

Max Kostenko (à direita) e o diretor Gore Verbinski (“Piratas do Caribe”, “Rango”)

Trabalhar de casa com parceiros estrangeiros, segundo Max, possui muitas vantagens: ninguém controla o processo, você fica livre para inspirar-se e não há excesso de interferência sobre os resultados. Há prazos claros, boa remuneração e, em geral, confiança no profissional.

Mesmo depois de uma viagem à ensolarada Califórnia, a ideia de mudar-se da Rússia para a cidade dos EUA não foi aceita.

“Fiquei um pouco envergonhado por todo mundo ter a sensação de que, se você está obtendo algum tipo de sucesso, precisa estar fisicamente onde as coisas estão ocorrendo. Não vejo motivo para mudar. Sempre vivi em Podolsk, tenho amigos e família aqui. Moro perto de uma floresta onde há muito ar fresco. Em geral, tudo aqui combina comigo”.

Conceito para o filme “Pokémon: Detetive Pikachu” (2019)

E por fim, um conselho do Max aos novatos que querem conquistar Hollywood e o mundo das artes gráficas e audiovisuais:

“É importante fazer aquilo de que se gosta. Você não deve motivar-se apenas por fatores financeiros ou pelos benefícios da carreira: cedo ou tarde algo vai dar errado”.

E você, deixaria nosso país para trabalhar com algo que ama ou para mudar de vida? Se já fez isso, conte sua história nos comentários!

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