Por que os testes de DNA são importantes e o que podemos fazer com eles além de exames de paternidade

Psicologia
há 4 anos

Segundo especialistas, o mercado mundial de exames de DNA deverá movimentar, em 2022, um valor aproximado de 10,4 bilhões de dólares. Hoje já é possível adquirir kits para testes caseiros ou realizar análises em qualquer laboratório a preços bastante acessíveis. Os exames de DNA nos permitem investigar, com uma enorme margem de segurança, questões como a nossa árvore genealógica ou eventuais predisposições a doenças. E a ciência segue avançando. Será que já fomos longe demais nessas descobertas?

Incrível.club decidiu investigar melhor essa questão e entender como os testes de DNA são capazes de nos ajudar a resolver diversos problemas. Também avaliamos quais os benefícios reais desses exames e quais os supostos benefícios que, na realidade, não nos ajudam em nada. Acompanhe conosco.

1. Predisposição para doenças

Em 2013, em um caso bastante polêmico, a atriz Angelina Jolie decidiu retirar as próprias mamas com o objetivo de diminuir o risco de câncer. Tudo por causa de um exame de DNA, que revelou que a estrela possuía um “gene defeituoso” que aumentava o risco de sofrer problemas oncológicos (ligados ao câncer) e que, por sua vez, foram as causas das mortes de sua mãe e de sua tia. Uma publicação da prestigiada Universidade de Harvard (nos Estados Unidos) se refere, inclusive, ao “efeito-Angelina”. Segundo o texto, após o caso envolvendo a famosa atriz, a demanda por exames de DNA para avaliação de risco de câncer de mama aumentou cerca de 64%. Alguns especialistas questionam se seriam necessárias medidas tão radicais quanto a retirada do busto.

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A presença de marcadores genéticos que indicam a predisposição para determinadas doenças não é, em si, um diagnóstico, mas evidentemente serve de base para adotar atitudes que ajudem a prevenir determinados fatores de risco. É importante destacar, também, que a relação de determinadas doenças comuns, como as autoimunes, o diabetes ou problemas cardiovasculares, com certos genes e suas mutações, não está totalmente comprovada, sendo ainda objeto de pesquisas. Ou seja, os exames de DNA determinam riscos e possibilidades, mas não são, por enquanto, provas conclusivas sobre o possível surgimento de algumas doenças.

2. Talentos e potenciais

A jornalista Rebecca Robins, da publicação Stat, especializada em Medicina e Saúde, realizou um teste curioso. Ela experimentou cinco exames genéticos diferentes, todos eles indicados para determinar seu potencial nos esportes. Como resultado da experiência, cada teste indicava um diagnóstico diferente. No entanto, na maioria dos casos, as recomendações foram genéricas, bem parecidas com aquelas que poderiam ser passadas a qualquer pessoa. Ou seja, nada específico para o seu caso. As frases constantes nos resultados eram do tipo “você pode praticar vários esportes para melhorar sua força ou resistência, mas não possui vantagens significativas em nenhum desses esportes.” Na verdade, a jornalista se sai bem no softbol. “Ao ler os resultados, muitas vezes parecia que eu estava diante de um horóscopo no qual eu mesma tentava interpretar os resultados tentando encontrar as características que se encaixavam melhor à minha descrição”.

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Há algum tempo, os cientistas vêm pesquisando o DNA de atletas de altíssimo rendimento e vencedores em diversas modalidades esportivas, assim como pessoas com elevado quociente intelectual (QI), revelando seus marcadores genéticos mais comuns. São esses resultados que, muitas vezes, são comparados com os dados dos clientes que solicitam exames. E é importante lembrar sempre que o talento, por si só, não leva uma pessoa a ser craque em qualquer esporte ou a se tornar PhD em uma universidade de ponta. O sucesso, como todos nós sabemos, está ligado não só à inspiração, mas também à transpiração, como diz um ditado. Ou seja, a combinação de genes, sozinha, é só uma parte da receita do sucesso.

3. Origem

Hoje em dia, mesmo pessoas (e não só os astros e endinheirados) têm acesso a exames de DNA relativamente baratos para descobrir quem foram seus antepassados. Um americano, por exemplo, procurou, por meio de algumas empresas especializadas em testes, descobrir a história de sua família — e elas mostraram que seu avô, embora filho de imigrantes pobres vindos do México era, na verdade, descendente de sírios e com um elevado porcentual de ascendência originária do Oriente Médio. Um aspecto curioso é o de que uma mesma amostra de DNA avaliada em diferentes laboratórios chegou a resultados completamente distintos. Cada empresa oferecia sua própria versão. Alguns dos resultados sequer mencionaram a existência de ancestrais no Oriente Médio.

Segundo os especialistas, os testes que identificam a origem das famílias com base em DNA não são mais que puro entretenimento. A amostra analisada é comparada com a de outras pessoas para identificar coincidências. E é importante ter em mente que esses exames são sobre pessoas que estão vivas hoje, em pleno século 21, e não que viveram muitos e muitos séculos atrás. Portanto, a informação que as pessoas obtêm sobre quem seriam seus verdadeiros ancestrais nada mais é do que pura conjectura.

4. Nutrição e dieta

Pesquisadores da famosa Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, realizaram uma pesquisa de dois anos com 600 pessoas. Os participantes foram divididos em dois grupos e, para cada um deles, foi selecionado um tipo específico de dieta: baixa em gorduras ou baixa em carboidratos, de acordo com a sensibilidade dos pesquisados em relação a esses macronutrientes, identificada por testes de DNA. O resultado mostrou que não houve qualquer mudança significativa quando as pessoas passaram a consumir somente os alimentos que haviam sido prescritos pelos resultados dos exames.

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Há algumas reações corporais (como aquelas ligadas à intolerância à lactose) cuja relação com questões genéticas foi investigada a fundo. Não se pode, no entanto, dizer o mesmo de uma série de outros problemas. Ou seja, você provavelmente obterá boas recomendações com base nos exames genéticos quando o assunto é reduzir o consumo de lácteos. Mas não se pode dizer o mesmo em relação aos regimes muito detalhados que teoricamente foram criados com base no DNA.

5. Planejamento familiar

Durante a gravidez, a jornalista Bonnie Rochman, especializada em genética e autora do livro The Gene Machine: How Genetic Technologies Are Changing the Way We Have Kids — And the Kids We Have (A Máquina de Gene: Como as Tecnologias Genéticas Estão Mudando a Maneira como Temos Filhos — E os Filhos que já Temos, em tradução livre) decidiu realizar um teste genético. Um exame de ultrassom havia indicado resultados atípicos, o que a levou a solicitar a coleta de DNA fetal para avaliar o caso. A extração do material, bastante invasiva, é realizada por meio da inserção, na mãe, de uma agulha longa e fina. Embora os resultados não tenham acusado qualquer risco de doença genética séria, foram detectadas pequenas alterações nos cromossomos, o que, segundo Bonnie, afetaram a saúde de sua filha, atualmente com 11 anos.

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Os especialistas consideram os exames genéticos realizados nessa fase da gravidez bastante importantes. Ocorre, no entanto, que nem todos os pais são conscientes da importância dessas avaliações e os médicos não costumam dar orientações a respeito do assunto. Aqui, é importante destacar que mesmo um resultado negativo para o risco de uma determinada doença não é capaz de dar uma garantia de 100% de que essa enfermidade não afetará a criança. Além disso, os testes genéticos estão sujeitos a um resultado falso negativo. Portanto, o fato de considerar esse tipo de informação para tomar determinadas decisões em relação à gravidez é uma decisão pessoal e uma responsabilidade dos futuros pais.

6. Escolha de medicamentos

Nora, de 33 anos, realizou um teste genético na esperança de identificar o medicamento mais adequado para tratar uma Tensão Pré-Menstrual (TPM) grave. Surpresa, ela descobriu que os medicamentos indicados eram os mesmos que já tomava havia muito tempo e que não estavam fazendo efeito. A mulher também tomou um outro remédio indicado com base no mesmo exame, mas, em vez de melhorar, seu problema piorou ainda mais.

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Quando se trata da escolha de medicamentos com base em testes genéticos, o maior interesse tem sido em relação aos que são indicados para tratamentos psiquiátricos. A questão é que os médicos, mesmo os mais qualificados, ainda têm dificuldade de encontrar o remédio mais adequado para cada caso em particular. A chamada farmacogenética é um campo da ciência que vem se desenvolvendo rapidamente, mas que, como se pode imaginar, é uma área relativamente recente. Até por isso, ainda há poucos estudos que comprovem que os tratamentos feitos com base nos medicamentos selecionados a partir de testes de DNA sejam mais efetivos que os outros.

7. Paternidade

A questão dos testes de paternidade e de parentesco é bem conhecida no mundo dos astros da TV, do cinema e dos esportes e até das pessoas comuns. Alguns casos bastante conhecidos são os de Eddie Murphy, Marc Anthony, Jude LawSylvester Stallone. E, aqui no Brasil, o mais famoso talvez seja o de Pelé. Voltando aos astros internacionais, graças a um exame de DNA que deu negativo, o ator Keanu Reeves ganhou uma questão na Justiça. Uma mulher do Canadá entrou com uma reclamação nos tribunais alegando que o astro era pai de seus quatro filhos. Ela exigia uma pensão mensal de 150 mil dólares (para as despesas com os filhos), mais uma indenização de 3 milhões de dólares.

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O DNA das pessoas é 99,9% idêntico e o que nos faz únicos é apenas 0,1% de variação no código genético. A questão é que, quanto maior o grau de parentesco entre duas pessoas, maiores as probabilidades de que seus marcadores genéticos coincidam. São justamente essas as coincidências buscadas em um exame desse tipo. Os resultados da análise de DNA para determinar o grau de parentesco são tão confiáveis que são amplamente aceitos como provas nos tribunais.

Você já fez um teste de DNA? Gostaria de fazer? Se sim, para que? Qual sua opinião sobre o assunto? Conte para nós na seção de comentários.

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