Como os livros de desenvolvimento pessoal se tornaram o negócio mais lucrativo da década e por que eles não o ajudarão na vida

Psicologia
há 4 anos

O mercado de “autodesenvolvimento” foi estimado em 9,9 bilhões de dólares em 2016. Estes são os lucros gerados por webinars, workshops, livros, treinamentos e outros produtos de instrutores, coaches e palestrantes motivacionais. Qual é o valor desses eventos? Eles valem o dinheiro e o tempo investidos?

Incrível.club decidiu descobrir quais são as razões para a popularidade das oficinas de crescimento pessoal e livros de motivação.

Quais são as origens de todos esses treinadores?

A literatura moderna sobre o autodesenvolvimento vem de obras filosóficas. Antes da chegada de Dale Carnegie a este mercado, em 1902, o jornalista James Allen publicou o livro Como um Homem Pensa. Em seu trabalho, ele descreveu o impacto dos pensamentos sobre a personalidade, as circunstâncias da vida, a saúde física e a realização dos objetivos.

Aqui você pode ler o livro, e talvez tenha o efeito de déjà vu, se estiver familiarizado com a escrita moderna deste tipo. “Tudo o que uma pessoa alcança é um resultado direto de seus próprios pensamentos”, escreve Allen. “As pessoas não atraem o que querem, mas o que são”. Uma ideia semelhante pode ser encontrada no livro O Segredo, de Rhonda Byrne: “Nós atraímos o que acontece em nossas vidas”.

O crescimento da popularidade dos livros sobre crescimento pessoal vem em um momento de preocupação e crise. A glória de Dale Carnegie no século XX veio no final da Grande Depressão. Em 2018, o recorde de vendas de livros de psicologia no Reino Unido foi estabelecido durante o período de incerteza econômica.

O gráfico mostra o número de livros de desenvolvimento pessoal vendidos no Canadá em diferentes anos. Cerca de 400 mil cópias foram vendidas em 2017. Observe o aumento na demanda por livros que prometem ajudar a ser mais feliz.

O desenvolvimento da tecnologia facilitou ainda mais o trabalho dos profissionais de crescimento pessoal. Anteriormente, era necessário fazer um grande esforço para publicar um livro, mas agora todos os meios de produção estão sobre a mesa.

Portanto, o número de blogs dobra a cada seis meses, e muitos deles parecem conter as mesmas informações em palavras diferentes. A saturação excessiva do mercado de literatura de autoajuda levou ao surgimento de um grande número de livros sobre como perder peso e estabelecer relações.

Inclusive, uma nova variedade de livros apareceu: dicas de celebridades — mas essas pessoas, pelo menos, têm experiência em ter sucesso em um campo diferente de vender treinamentos milagrosos.

Como eles conseguem vender tantos livros e cursos?

Cinco mil palestrantes motivacionais trabalham apenas nos Estados Unidos. As pessoas gastam aproximadamente 800 milhões de dólares por ano em audiolivros e o mesmo valor em edições impressas. E quase um bilhão de dólares em treinadores pessoais. Mas a maior demanda foi registrada no campo dos programas de perda de peso: esse nicho gera 4,7 bilhões de dólares por ano.

É por isso que as vendas nesse mercado estão crescendo:

Marketing e publicidade. Comprar alguma coisa é muitas vezes uma decisão emocional que é influenciada não apenas pela qualidade do produto em si, mas também pela sua apresentação: portanto, estamos mais dispostos a comprar produtos nas lojas com uma vitrine atraente.

Solução rápida do problema. Os cientistas acreditam que administramos nossas emoções através de compras. Quando você está triste, pode levantar o ânimo comprando algo, como o livro Como Ficar Rico em 6 Passos Simples.

Gerenciando o atendimento ao cliente. Existe um conceito chamado “fadiga de decisão” (decision fatigue). É expresso no fato de que, após uma série de decisões tomadas, sua qualidade se deteriora. Por causa disso, por exemplo, no final do expediente custa mais fazer coisas simples, mesmo que a pessoa não se sinta fisicamente esgotada.

Independentemente de quão racional uma pessoa seja, ela não pode tomar muitas decisões sem pagar um preço biológico por elas. As pessoas que estão estressadas podem ser forçadas a comprar um livro que promete resolver seus problemas.

Por que livros e treinamentos de autodesenvolvimento são inúteis?

A identidade do coach/autor de livros. O atualmente famoso Tony Robbins começou sua carreira como assistente do treinador motivacional Jim Rohn. Ele também trabalhou com John Grinder, o criador da PNL, e depois se dedicou a ensinar essa técnica, assim como a hipnose Ericksoniana.

O próprio Jim Rohn trabalhou como distribuidor de tecnologia de “venda direta” (MLM) e, quando conseguiu, começou a ensinar seus próprios métodos para obter resultados.

Robert Kiyosaki tornou-se especialista em investimentos depois que dois de seus negócios faliram. E Napoleon Hill, o autor best-seller Pense e Enriqueça, foi acusado de fraude várias vezes.

Portanto, se você realmente quer participar de um workshop ou comprar um livro, é melhor escolher o autor ou coach cujo modo de vida seja claro, pareça interessante e semelhante ao seu.

Modelo simplificado da realidade. Vivemos na era da explosão da tecnologia da informação: a cada ano, a quantidade de dados aumenta em um terço. Em meio a todo esse caos, o cérebro se esforça para alcançar clareza e coerência, e até mesmo o processo de limpeza da casa é capaz de reduzir o estresse.

Esta é, em parte, a razão pela qual, em livros sobre motivação e desenvolvimento pessoal, a realidade é simplificada: pessoas e organizações são segmentadas em tipos que são frequentemente inúteis. O caminho para o sucesso é dividido em etapas, a bem dizer, bastante exageradas.

Livros dão padrões de comportamento inflexíveis. Não está claro como o leitor deve agir em uma situação incomum. Hoje em dia, a resolução de problemas complexos, inteligência emocional e flexibilidade são habilidades prioritárias, mas os livros não nos ensinam a desenvolvê-las, uma vez que apenas dão instruções centradas em um pequeno número de aspectos.

Alívio emocional. O cérebro não distingue as coisas imaginárias da realidade, o que é confirmado pela pesquisa científica. Representando-nos como bem-sucedidos, perdemos apenas nossa motivação: o cérebro percebe o sonho como um fato realizado. Durante o treinamento, as técnicas são frequentemente usadas para ajudar a aliviar as emoções, e a sensação de alívio é suficiente para perceber “mudanças” no nosso interior.

A ilusão do desenvolvimento. Investe-se tempo na obtenção de informações, mas com que frequência usamos isso? Os problemas reais não desaparecem, mas o sentimento de culpa diminui, porque você faz algo: ouve, lê, assiste.

Ler livros não é um movimento, mas uma procrastinação. Existe uma definição de “procrastinação ativa” (proactive procrastination). Ela é expressa na ocupação de assuntos menores em vez dos realmente importantes. Ler literatura motivacional em vez de agir se encaixa nessa definição.

O que você acha de cursos de motivação, treinamentos e livros? Conhece pessoas que conseguiram melhorar suas vidas graças a esses recursos sobre crescimento pessoal?

Imagem de capa sharoyob / pikabu

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