“Sinto muito por você”. Um texto que explica que às vezes é melhor não espalhar nossas lamentações

Psicologia
há 3 anos

A primeira vez que ouvi a frase “Sinto tanta pena de você” foi de uma colega de classe quando eu tinha apenas nove anos. Eu acabara de voltar de uma festa de Natal, onde fui vestida de princesa, com vestido bordado de lantejoulas, dancei muito, comi doces à vontade, fui presenteada com um conjunto de chá em porcelana para minha casa de bonecas e ganhei uma sacola enorme com guloseimas. Além disso, fui ver a árvore de Natal no parque. Enfim, um dia maravilhoso! Porém, essa colega, ainda assim, sentiu pena de mim só porque eu não tirei uma boa nota de comportamento na escola.

Eu nunca decepcionei as pessoas. Mas elas sentem pena de mim por estar em processo de divórcio, por perder o emprego, começar um novo projeto, mudar drasticamente a minha vida, por me apaixonar. Elas perdem tempo e humor sentindo pena de mim em situações que eu mesma não sinto. Recentemente, uma mulher ficou com pena de mim porque moro em um apartamento alugado e, na sua opinião, na minha idade já deveria estar me preparando para a velhice.

Mas minha velhice ainda está bem distante! Sou uma mulher jovem, bonita, independente, sem problemas de saúde e com uma boa renda. Alugo um apartamento de 90 metros quadrados em um condomínio de alto padrão e amanhã irei para a praia, onde ficarei durante um mês. Meu marido é jovem e bonito. Tenho vários planos, ideias e ofertas de emprego, trabalho em um roteiro de um longa-metragem com uma equipe de bons profissionais. Planejo passar o inverno na Flórida. Mas essa mulher sentiu pena de mim, simplesmente porque minha vida não é como a dela.

Eu podia sentir pena dela em troca, mas estou com preguiça. Não acabei de preparar meu jantar, não terminei o quadro que estou pintando, não passei meus vestidos de férias​ e também não posso deixar de assistir Game of Thrones.

Minha amiga viaja o mundo com um laptop e uma câmera. Esses equipamentos custam o mesmo que um apartamento de dois quartos. Seus honorários permitem que ela viva da maneira que deseja, suas fotos são publicadas em revistas famosíssimas. Ela namora um homem há cinco anos e ele a apoia em tudo. Mas existem pessoas que sentem pena dela. Pasmem: porque ela não tem um emprego fixo e nem família e, na opinião dessas pessoas, o objetivo principal da vida de uma mulher não foi cumprido. No final, o que elas queriam é que as crianças quebrassem suas câmeras, rasgassem todas as suas fotos e que ela finalmente levasse uma vida “normal”.

O mundo está cheio de pessoas solidárias. Elas sentem pela Monica Bellucci porque seu marido a deixou: é um pesadelo ser a mulher mais bonita do mundo e divorciada. E sentem muito. Elas sentem pena da Scarlett Johansson por sua celulite quase imperceptível nas coxas, mas que, mesmo assim, pobrezinha, é a atriz favorita de Woody Allen. Essas pessoas sentiam pena de Stephen Hawking, embora ele tenha vivido da maneira que a maioria das pessoas “saudáveis” nem ao menos pode sonhar. Sentem pena de Quentin Tarantino porque ele tem uma “imaginação doentia”. Como ele chegou ao 12º lugar no ranking dos melhores diretores de todos os tempos? Sentem muito por ele também.

Algumas pessoas têm um sonho simples de conseguir pagar por uma quitinete, já outras, sonham com Hollywood. Alguém quer apenas se casar e ter três filhos. Tem pessoas que compram botas novas e vão fotografar pássaros no Peru. Alguém está terminando seu primeiro livro. Outro quer saber quem é o pai do filho da celebridade do Instagram. Tem gente que faz novela e há quem se dedique à ciência. E há pessoas que sentem pena de quem vive de uma forma diferente. É difícil para elas aceitar que existe outra vida, outros sonhos, outras prioridades e outros valores.

Não perca seu tempo julgando a vida das outras pessoas. Aceite o mundo em toda a sua diversidade e não tenha medo de se arrepender. Seja generoso, porque só uma pessoa generosa pode aceitar uma vida diferente da sua e não opiniar. Afinal, esse mundo tem lugar para tudo e todos. E sim, todos têm o direito de escolher por si mesmos e por seus desejos.

Isso é tudo que eu queria dizer a vocês hoje. Abraço.

Incrível.club publica esse texto com a permissão da autora — psicóloga e blogueira Elena Pasternak.

Comentários

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Evitem publicar qualquer outra coisa que essa criatura escreva por favor! Nunca vi um libelo tão grande de uma mulher frustrada e mal-amada, assexuada (daí todos os seus problemas ninguém come!) querendo que todo mundo faça parte do buraco que ela chama de seu mundo! Arre!

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Resposta

Acho que ela se importa demais com o que os outros pensam dela. Se não, por que é que ficaria embandeirando as coisas que tem? "Sou jovem, tenho um marido jovem e bonito, vou para a Flórida, alugo um apartamento enorme"... Isso, sim, me deu MUITA pena dela. Ela precisa ficar apregoando aquilo que considera feliz para PROVAR que está bem, que está feliz, que "não precisam" ter pena dela e que ela "não precisa PROVAR nada para ninguém"! Bastava dizer que suas escolhas a fazem feliz, que é uma pessoa com outros valores, que sabe agradecer por todas as coisas que tem.

Sei lá, esse texto, escrito assim, me incomodou. Talvez eu esteja errada. Tenho que pensar um pouco mais, mas, por agora, realmente não me deixou contente.

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