“Ajudar ou não nas tarefas domésticas?” — um texto franco sobre o papel das crianças nas atividades da casa

Psicologia
há 1 ano

Desde que me entendo por gente, existe uma cultura de limpeza muito forte na minha família. Minha avó limpava o fogão e os banheiros todos os dias, o piso brilhava tanto que você podia comer em cima. O problema foi que quiseram me criar para ser a “dona de casa perfeita”, daquelas que nunca passam vergonha ao receber uma visita inesperada.

Contarei um pouco aos leitores do Incrível.club sobre a minha experiência. E no final, um bônus com opiniões dos internautas sobre esse assunto. Acompanhe!

Para começar, meus pais acreditavam que já nasci com a capacidade de lavar pratos e limpar o chão. Naturalmente, nos meus 6-7 anos, deixava marcas de sujeira nos copos e não limpava bem os cantos.

Mas em vez de me explicar como fazer corretamente ou apenas ajudar no início, me diziam algo como: “Você é preguiçosa, vai ter de fazer cada tarefa por pelo menos uma hora para aprender como se faz e memorizar”.

Então, fiz daquilo uma brincadeira para me divertir de alguma forma durante a limpeza: conversava com os garfos, jogava a água de copo em copo, tampava o ralo da pia e deixava inundar até os pratos flutuarem. E se tivesse de limpar as portas e janelas, primeiro esfregava toda sujeira e depois ficava desenhando na superfície com os panos.

Como você deve imaginar, mesmo fazendo isso, não contribuiu em nada no meu amor em fazer faxina.

Não posso dizer que cresci como uma criança preguiçosa. No início, até fiquei entusiasmada: “Vou fazer trabalhos domésticos como os adultos fazem!”, pensava. Mas, na verdade, estavam tentando fazer de mim, uma menina em fase de crescimento, não apenas uma ajudante, mas literalmente uma pequena faxineira, transferindo quase todas as tarefas domésticas para minhas costas. Os adultos faziam apenas o papel de supervisão, e eu só deveria fazer, fazer e fazer.

Me lembro bem de quando era criança, minha avó costumava andar pela casa com um pano branco verificando se eu tinha limpado a poeira direito. E minha mãe, quando fiz 12 anos, me disse que o único papel dela agora era ganhar dinheiro, e que todas as tarefas do lar seriam responsabilidade da “filha adulta”. Além de tudo, tinha de ir bem na escola e apenas tirar 10 em tudo.

Restava entender por que minha mãe podia se limitar somente a trabalhar, enquanto eu tinha de cumprir minhas obrigações como estudante e como dona de casa.

Um dos principais problemas que enfrentei como adulta foi uma incapacidade crônica de descansar. Eu tinha de provar constantemente a alguém (provavelmente a mim mesma antes de tudo) que eu não era uma preguiçosa. Mesmo durante merecidas férias, eu me preocupava em fazer toda a programação da família para a semana seguinte: “Hoje vamos fazer uma excursão, amanhã vamos a um museu, depois de amanhã vamos visitar outras atrações”. Estava fora de questão ficar deitada em uma espreguiçadeira perto da piscina.

Comecei a alocar tempo para relaxar e literalmente forçar o meu corpo a ficar ocioso. No início, não por muito tempo, 5-10 minutos tomando uma xícara de chá vendo algum vídeo na internet. Agora, consigo ficar na cama até às 11h da manhã no domingo e não sentir remorso. No meu caso, foi um grande avanço.

Quando meu filho entrou na adolescência e começou a ficar deitado na cama com um livro ou tablet por várias horas seguidas, me peguei pensando em soltar uma indireta. Tipo, “Não tem nada melhor para fazer? Vá lavar a louça”.

E nesses momentos percebo que isso são as vozes dos meus pais na minha cabeça, que sempre me faziam tremer de raiva me chamando de “folgada” ou “preguiçosa”. Por alguma razão, eles pensavam que uma criança deveria permanecer ocupada o tempo todo. E não com qualquer bobagem, mas com algo útil. Caso contrário, ela seria um membro inútil para a sociedade.

Acho que isso refletiu em nossa geração. Muitas das mães que cresceram nos anos 80 e 90 não despejam mais todas as tarefas domésticas em seus filhos. Mas conseguiram manter seus pequenos ocupados de outra forma: matriculando-os em um milhão de clubes e atividades.

Mesmo psicólogos dizem que uma criança deve ter tempo livre para fazer o que quiser sem que ninguém a incomode.

Sim, ainda tenho uma postura complicada em relação à limpeza e não gosto muito de lembrar da minha infância como uma pequena Cinderela. Dito isso, na minha opinião, todo mundo tem de fazer algum pequeno esforço para ajudar na organização da casa.

Na minha família, a regra é simples: todos nós vivemos no apartamento, portanto devemos contribuir para mantê-lo limpo e arrumado da melhor maneira possível. Acho que é muito mais honesto do que transferir toda atividade doméstica para a criança, justificando que está trabalhando.

Bônus: diferentes pessoas, diferentes opiniões

  • Meus pais acreditavam piamente que as crianças deveriam apenas estudar e brincar. Dessa forma, nunca nem arrumei minha cama ou joguei o lixo fora. Vou lhe falar sobre as consequências disso: quando eu me mudei para estudar, meus colegas de quarto começaram a dizer que eu era desleixado. Dividir um quarto comigo naquela época era realmente insuportável: roupas espalhadas por toda parte, pratos e copos sujos. Mesmo hoje em dia, uma mulher casada, odeio trabalho doméstico, e em algum lugar dentro de mim sinto que é o dever de outra pessoa. Estou criando meu filho de uma forma diferente. Ele me ajuda a lavar roupas, a tirar o lixo e aspirar a casa desde os 2 anos de idade. © Ranjini Shankar / Quora
  • Aqui está uma lista das responsabilidades do meu filho: alimentar o cachorro, cozinhar o jantar uma vez por semana, lavar a louça, guardar as roupas e levar o lixo para fora. Em troca, compro roupas novas e material escolar, levo-o para fazer viagens, pago suas atividades esportivas e permito-lhe convidar os amigos. Se ele se recusar a fazer qualquer um dos seus deveres, corto qualquer um dos benefícios. © Brooke Epps / Quora
  • Quando eu tinha 5 anos, era considerada velha o suficiente para ajudar em casa. Lavava minha roupa, limpava a casa todas as noites e não podíamos assistir desenhos animados no fim de semana antes que a casa ficasse impecável. Eu, com meus irmãos e irmãs, era responsável por preparar o jantar, pôr a mesa e depois lavar a louça depois do jantar. © Joyce Frankel / Quora
  • Quando eu tinha 6 anos, meu pai comprou uma fazenda. Minhas irmãs e eu éramos obrigadas a varrer o chão, lavar a louça e aspirar os dois andares da casa. Também tínhamos tarefas sazonais, como jardinagem, ajudar a colher frutas, capinar, arranjar lenha, cuidar do gramado, ordenhar as vacas e cuidar dos bezerros. A propósito, as irmãs da minha mãe disseram a ela que trabalhávamos muito, mas ela não deu ouvidos. Sim, crescemos e nos tornamos pessoas de sucesso. Mas muitas vezes me pego pensando que não me importo comigo mesma e faço tudo pelos outros. © Leah Spencer / Quora

Você acha que o seu filho deve ajudar em casa ou pensa que ele deve aproveitar o tempo livre e se dedicar às suas atividades de criança? Conte para a gente na seção de comentários.

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