Uma moça que compra e resgata cavalos rejeitados pelos donos

Animais
há 4 anos

No abrigo “Uma Chance de Viver” vivem cavalos que já foram amigos de uma pessoa ou trabalharam para alguém, mas que se tornaram desnecessários por causa de alguma doença ou velhice e, por isso, foram rejeitados. A dona desse abrigo compra e resgata esses cavalos que estão em condições deploráveis por todo o país, ela cuida e os ensina a confiar nos seres humanos novamente.

Nós, do Incrível.club, pedimos a Anastasia e aos voluntários que trabalham com ela que contassem mais sobre o trabalho que estão fazendo e que compartilhassem algumas histórias dos animais que já foram salvos. Confira!

Anastasia teve a ideia de construir o abrigo em 2011, quando uma mulher desconhecida ligou para ela pedindo para que salvasse o seu cavalo. O estábulo foi construído na chácara de Anastasia e de sua família que fica na região de Moscou. Os seus parentes e amigos a ajudaram com a construção. No início, foram construídos apenas 8 lugares para os animais. Naquela época, Anastasia tinha 17 anos, ela estava estudando para ser médica veterinária e desejava prestar assistência e prover tratamento aos animais por conta própria. Antes do abrigo, ela ia ao estábulo de um conhecido, pois essa era a sua única oportunidade de ter contato com esses animais.

Os funcionários do abrigo disseram que os primeiros animais que chegaram vieram de um matadouro. “Nós os compramos com dinheiro arrecadado por voluntários. Com o tempo os animais cresceram, e já não havia espaço suficiente no terreno”. No começo o abrigo passou por duas mudanças de local, e a última delas foi em maio de 2019. Agora, conta com mais de 50 cavalos e éguas, possui um terreno enorme que foi alugado pelos voluntários, os quais estão atualmente cuidando de tudo. Os animais têm 2 campos enormes na costa de uma lagoa, onde eles podem pastar até que tais terrenos sejam vendidos pelos donos.

O abrigo salva os cavalos, mas não os dá para ninguém. Anastasia explica isso pelo fato de que esses animais já passaram por um grande estresse e pela traição de seus antigos donos. Eles precisam aprender a confiar nas pessoas de novo. Após a fase de adaptação, os cavalos já não têm mais medo, não são agressivos e não representam perigo para as pessoas. Mudanças e trocas de donos seriam um novo estresse para eles, especialmente para animais doentes e velhos.

Em vez disso, no abrigo existe um sistema curatorial. Se uma pessoa escolheu um certo cavalo e decidiu se tornar seu curador, ele recebe todos os direitos e as obrigações como qualquer outro dono (exceto o transporte do animal para outro lugar). Essas pessoas pagam pelo lugar dos animais, pela ração e vitaminas, assistência de veterinários e também pelos medicamentos. Em troca, eles podem ir ao abrigo e ter contato com os animais, alimentá-los, cavalgar, participar de competições (se o animal estiver saudável e não tiver contraindicações). Assim, o animal se acostuma com a pessoa, com sua voz, passa a ficar menos estressado e o curador conhece suas características, o que ajuda na adaptação.

“Uma Chance de Viver” funciona com dinheiro arrecadado pelas forças de seus ativistas, também com ajuda de sites, redes sociais e de financiamentos coletivos. O estábulo oferece lugar para cavalos, aluguel de estábulos, aulas de equitação e passeios a cavalo (em animais saudáveis e totalmente curados). O que é arrecadado eles usam para pagar o aluguel, os serviços de veterinário e o ferreiro, para comprar alimentos, remédios, serragem raspada e equipamentos em geral. Além disso, os antigos donos dos cavalos doentes e aleijados os vendem para o abrigo, e não os dão de graça.

Voluntários e curadores cuidam dos cavalos e o abrigo também tem seus próprios veterinários e um ferreiro profissional, e todos prestam assistência aos animais. Para os cavalos é muito importante receber atenção, por isso o estábulo está sempre de portas abertas para visitas. Qualquer um pode vir e alimentá-los com cenoura e açúcar, se comunicar com eles, mesmo que a pessoa não tenha a oportunidade de ajudar financeiramente.

Grucha é uma égua da raça russa Don, ela tem 5 anos de idade. Antes do abrigo, ela morava em um haras. Ela teve um parto difícil e ninguém deu assistência veterinária a ela. O potrinho não sobreviveu e o abrigo comprou a égua após um mês do ocorrido. Os voluntários dizem que quando Grucha chegou ao abrigo, ela estava em estado grave, e tinha poucas chances de sobreviver ou de andar normalmente. Mas graças aos cuidados de 3 curadores, a égua começou a melhorar. Agora ela está totalmente saudável, e a sua dona, que foi uma das curadoras entre os 3 mencionados acima, a ama muito.

“Na nossa história também há vários casos de resgate de cavalos Budyonny. Essa raça foi criada em 1948 na União Soviética para uso militar, mas depois se tornou uma raça de cavalo de competições. Infelizmente, agora o número de Budyonny está diminuindo, e graças às histórias de nossos animais, Anastasia está pensando em como popularizar e reviver essa raça em extinção com base no estábulo”, disseram os funcionários do abrigo sobre seus futuros planos.

Na primavera de 2018 surgiriam avisos de que os cavalos de pelagem alazão, como Don e Budyonny, têm a sua carne comercializada.

Com ajuda de ativistas que estavam preocupados com essa situação, quase todos os animais foram resgatados. Inclusive, duas éguas que chegaram ao abrigo de Anastasia que foram rejeitadas, pois não podiam procriar. Um anos depois, na manhã de 1º de janeiro, uma delas, a égua Gondola deu à luz uma potrinha de pelagem alazão, que foi chamada de Glória.

A égua Barca foi resgatada de um matadouro. Ela entrou no abrigo com um trauma nos olhos e feridas no corpo. Com o tempo, ela se transformou em uma bela égua. Agora é bem difícil de reconhecê-la, pois até a sua pelagem mudou, mas essa é uma característica de sua raça.

Dezembro, cavalo capão da raça Orlov Trotter, tem 10 anos de idade. O seu ex-dono o comprou especificamente para participar de competições e queria que o cavalo pulasse uma altura de 120 cm. Mas ele se recusava a fazer isso, mordia e dava coices. O homem então decidiu não torturar o cavalo e o doou ao abrigo.

Os voluntários lembram que quando Dezembro chegou, eles descobriram que seus músculos das costas estavam inflamados. “A causa mais provável foram selas colocadas incorretamente, então nós o liberamos de qualquer exercício físico por 6 meses”, disseram. Agora Dezembro é obediente, está treinando nas praças e nos campos, mas isso com um cavaleiro experiente.

No abrigo não vivem somente cavalos, nele é possível encontrar vacas e até um camelo. Anastasia sonhava com um animal de estimação bem incomum desde a infância.

Sônia e mais uma camela foram compradas por uma mulher para serem alugadas por turistas para realizar passeios, mas os animais permaneceram por 5 anos em um celeiro apertado sem a possibilidade de se mover normalmente. Quando souberam da história, as pessoas pediram a ajuda de Anastasia. A moça contou a história aos seus pais e para alguns conhecidos, e no final conseguiu arrecadar uma quantia de 6.600 reais para comprar os animais. “Um transportador de cavalos conhecido nosso topou em nos ajudar a transportar o camelo por um preço acessível, mas quando chegamos para pegar Sônia, descobrimos que ela tinha medo de carros. Parece que em uma das vezes em que Sônia foi transportada, acabou sofrendo um acidente. Durante o caminho para o abrigo o transportador estava muito preocupado com Sônia por causa do seu trauma, e nós também estávamos com medo por ela”, disseram os funcionários.

Após Sônia se acostumar um pouco com o abrigo, começaram a deixar ela sair para passear junto com as vacas. Entre elas, ela até encontrou amigas, e agora Sônia considera as vacas como sua família e sempre está ao lado delas.

Durante os 8 anos de trabalho do abrigo “Uma Chance de Viver”, foram salvos mais de 100 animais. Os voluntários tentam tirar fotos deles no estado em que chegam ao abrigo, para depois poder comparar sua transformação. Eles observam como o animal está mudando, se tornando um cavalo mais forte, de pelagem brilhante e com um olhar feliz, como ele encontra amigos no rebanho e começa a viver uma vida sem estresse, sem medo ao ver um ser humano.

Os voluntários confessam que um dos momentos mais especiais é quando, depois de muito tempo não conseguindo se aproximar do animal assustado, pois ele perdeu toda a confiança nas pessoas, acontece um milagre e, de repente, ele vem até você e encosta a cabeça dele em seu ombro.

A missão do abrigo é fazer com que as pessoas não abandonem aqueles que dedicaram a eles toda a sua vida — cavalos de companhia. Pois, eles não sabem viver sem uma pessoa desde o nascimento, trazem vitórias aos donos nas competições ou ajudam com tudo que podem no trabalho. Nossa sociedade chegou ao ponto de que quando um gato ou cachorro fica doente, os donos os levam a um veterinário e cuidam, mas quando adoece um cavalo que foi fiel a vida inteira, o levam ao matadouro. Se nós vamos tratar os animais com amor e cuidado, então tratemos todos da mesma forma. Os voluntários acreditam que a cada nova história e a cada vida salva, eles fazem do mundo um lugar melhor. E eles têm toda razão.

Incrível.club agradece aos funcionários do abrigo “Uma Chance de Viver” pela entrevista e deseja a eles sucesso em sua missão difícil, porém nobre.

Comentários

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Ontem eu vi na reportagem um cavalo de 40 mil reais. Eu n tinha ideia q eles pudessem chegar a esse valor

o ser humano estraga tudo mesmo

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