Sou uma mulher taxista e compartilho as histórias mais engraçadas sobre o meu trabalho

Histórias
há 3 anos

Me chamo Kátia e sou taxista. Trabalhava como jornalista, mas quando minha agência de notícias me demitiu, precisei tomar uma decisão: trabalhar em uma pequena agência de comunicação ou escolher outra coisa. Por incrível que pareça, o que me fez decidir foi uma simples conversa com um taxista. Descobri que a profissão não pagava mal e resolvi testar a novidade até encontrar outra atividade.

Quase toda corrida pode ser uma verdadeira aventura, por isso decidi criar o canal “Ela é taxista”. Especialmente para o Incrível.club, escolhi as histórias mais interessantes que aconteceram comigo.

Amigas de infância

Tive uma cliente que era uma ex-colega de classe. Daquelas que você não lembra o nome, mas na hora sorri e faz cara de surpresa. Ela parecia animada ao me ver e fomos batendo papo o caminho todo.

Chegamos ao destino, finalizei a corrida. Ela recebeu uma mensagem e abriu o celular:
— Ei, espera, parece que fui cobrada aqui.
— Sim, a corrida terminou.
— Nossa, pensei que éramos amigas e que me levaria de graça.
Fiquei sem palavras. Não sabia como sair daquela situação sem insultos ou xingamentos.

Disse: “Olha, você não é manicure? Pode fazer minhas unhas. Deve dar o mesmo valor que você gastou na corrida. Então, ficamos quites”. Ela respondeu: “Ficou louca? Esse é o meu trabalho! Não vou oferecer serviço de graça!”

E ainda dizem que os amigos da infância são os mais fiéis...

Solidariedade feminina

Peguei um cliente de uns 35 anos. Começamos a andar e ele disse: “Moça, você poderia me deixar no metrô e continuar o caminho até o destino marcado? Pagarei a mais”.

O pagamento era por cartão, aceitei. Ele complementou: “Basta continuar o caminho, vou acompanhar pelo aplicativo”. Desceu no metrô e eu continuei. Recebi uma ligação: “Alô, moça, você é a taxista? Fui eu que fiz o pedido, meu marido está no seu carro. Pode passar o telefone para ele, por favor?”

Pelas barbas do profeta! Como iria passar a perna no cliente que me deu dinheiro a mais? “Está dormindo”, respondi. Mas ela não se deu por vencida: “Moça, não minta. Ele não consegue dormir em carros. Disse para mim que apareceu um imprevisto no trabalho. Mas para garantir que está indo para lá, falei que eu mesma pediria o táxi para acompanhar o trajeto pelo celular. Onde ele saiu?”

A solidariedade feminina falou mais alto que o dinheiro. “No metrô”, soltei. A mulher agradeceu imensamente. Quando terminei a corrida, ganhei a gorjeta máxima e cinco estrelas.

Confusão semântica

Um bom motivo

Uma passageira entrou no carro: uns 35 anos, cabelos verdes e presos num penteado alto e bem diferente. Não podia se sentar reta por conta do cabelo, por isso se sentou levemente inclinada. Olhava para o relógio o tempo todo — parecia estar nervosa e com pressa.

A curiosidade tomou conta de mim, mas estava com vergonha de perguntar. Cada vez mais nervosa, olhando para o relógio mais e mais:
— Moça, não podemos ir mais rápido?
— Você está vendo que o trânsito está ruim, não tenho o que fazer.
— Desculpe, estou muito atrasada.

Olhava para mim, para o trânsito, para o relógio. “Moça, posso pintar meu rosto aqui no carro? Não vou derrubar nada, mas de qualquer forma é fácil de limpar caso caia alguma coisa. Não vou ter tempo de fazer depois”. Fiquei com dó e disse: “Tudo bem, mas pelo menos me explique o que está acontecendo”. Ela sorriu e respondeu: “Hoje minha filha vai fazer uma peça e eu serei a cebola”.

Espero que tenha chegado a tempo.

Cabeça de vento

O “dono do mundo” não foi páreo para mim

Entrou um homem de meia-idade vestindo uma roupa bastante requintada. Olhou para mim e disse:

— Moça, você trabalha como taxista há muito tempo?
— Quase três anos.
— Antes trabalhava com o quê?
— Comunicação digital.
— Não pensa em voltar? Gosta do seu trabalho de agora? Horários flexíveis, pode ser sua própria chefe, né?

Concordei.

— Na verdade, você não tem valor para ninguém e mente para si mesma que está feliz. Nunca vai conseguir um trabalho normal! — olhava como se fosse um “ser” superior.

— E você tem tudo o que deseja, não é? É diretor de algum banco? Troca de mulher como troca de roupa? Na verdade, elas que devem te largar, pois descobrem que você é vazio e arrogante. Que criança merece ter um pai assim?!

Não sou nenhuma vidente. Já conhecia o cara. Sabia que ele tinha traído uma amiga minha dois anos antes. Bem no dia em que foi promovido para diretor de departamento. Ele não se lembrava de mim.

“Ah, vai se lascar! Você é apenas uma taxista e vai passar a vida inteira como tal! Ainda vai ganhar apenas uma estrela pela grosseria”. Fiquei calada, pois sabíamos quem era o insignificante dos dois.

No dia seguinte, contei a história para minha amiga e ela pediu para eu contar os detalhes umas cinco vezes.

A história de uma opinião

Passageira, 27 anos. Estava agitada e com lábios tensos — parecia nervosa ou irritada com alguma coisa. Começamos a corrida. Ela olhou para a janela e se virou para mim: “Me diga uma coisa, todos os homens são horríveis assim?”

Queria sorrir e, ao mesmo tempo, abraçá-la. Todas passamos por essa situação, irmã. Ela queria alguém para desabafar naquela hora.

Concordei: “Não todos, mas muitos”. “Todos”, respondeu. Fiz parecer que estava pensando: “Olha, talvez você esteja certa”. Tive a impressão de que ela precisava de um ombro amigo que apenas concordasse com a opinião dela. Suspirou fortemente e voltou a olhar pela janela, calada.

Silêncio pelo resto do percurso até chegarmos ao local de destino.

A garota, então, pôs o telefone de lado, olhou para mim com seriedade e exclamou: “Sabe, você está certa. Nem todos os homens são péssimos!”

Vida de mãe não é fácil

Dois em um

Passageiro de uns 30 anos. Estava com um semblante de dor.

Olhei para o endereço de destino: centro de emergência. Me virei assustada e perguntei: “Senhor, aconteceu alguma coisa ou você trabalha lá?” Melhor esclarecer de antemão caso aconteça algo com ele no carro.

“Bom, os dois: trabalho lá, mas parece que fraturei a costela”. Ele sorriu e logo pôs a mão ao lado do corpo.

Quando todo cuidado é pouco

Levava uma mulher mais velha. Não lembro quantos anos tinha, mas claramente não era uma garota.

Começou a tocar uma música no rádio: um pop terrível. Não lembro o nome da música, mas o sentido do refrão era algo assim: “Eu te amei, mas você me largou. Como viver sem você?”

Troquei de estação e a mulher de repente exclamou: “Ei, você não gosta dessa música?” Respondi: “Posso colocar de volta, não sabia que estava ouvindo”. Ela, então, complementou: “Não precisa, é só porque fui eu que escrevi a letra”.

Só com taxistas

Somos todos um pouco “hispters”

Entrou um rapaz barbudo e com um penteado bem “hipster”. Ele tentou olhar para o retrovisor lateral, mas não conseguiu se ver bem. Abaixou, então, o quebra-sol (parece que é assim que se chama aquela peça fixada no teto) e começou a se admirar.

Depois de algum tempo, se virou para mim: “Moça, o que acha do meu corte? E da barba?” Nessa hora, estava focada no trânsito e apenas respondi: “Está bonito!” Longa pausa. Olhei para o rapaz e ele estava com os olhos tristes, como os de uma criança sem brinquedo: sobrancelhas franzidas, laterais da boca pra baixo... “Mas você nem olhou!”, ele disse.

Fiquei com pena do pobrezinho. Já estive muitas vezes na situação dele.

Sem comentários

Não julgue um livro pela capa

Levava um homem com um estilo bem social: terno e gravata, pasta de couro. Falava com alguém somente com o fone de ouvido. Não prestei muita atenção, pois estava ocupada com meus próprios pensamentos. De repente, porém, me distrai e comecei a notar que ele parecia estar dando instruções a alguém:

— Sua responsabilidade é encontrar as peças. Vá à cidade imediatamente e procure em todos os lugares. Pergunte a quem for necessário. Você ficou louco?! Com o cavalo não vai chegar nunca, pegue logo o dragão!

Se vocês vissem os meus olhos pelo retrovisor, se assustariam com a minha reação. Foi o que aconteceu com o homem quando me viu. Depois, começou a rir e me explicou que estava ajudando um amigo a passar de fase em um jogo de computador.

Por quais bocados você já passou em corridas de táxi? Compartilhe suas histórias!

Comentários

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Kátia,

Parabéns. Histórias escritas com muita objetividade sem perder o senso cômico. Ler suas é como chupar balas .Vicia e não conseguimos parar. Publique um livro.

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