Mudanças climáticas fazem raposa-do-ártico atravessar três continentes em velocidade recorde
A raposa-do-ártico é um animal originário das geladas tundras do extremo norte do planeta, e uma de suas principais características é a capacidade de percorrer longas distâncias em busca de alimentos. Foi justamente o que fez uma fêmea da espécie, que realizou uma longa viagem da Noruega até o Canadá, surpreendendo os pesquisadores que a rastreavam.
Neste post, o Incrível.club compartilha a impressionante jornada do animal que procurava comida, forçado pelos efeitos das mudanças climáticas que vêm atingindo o Polo Norte.
1. O ponto de partida
A protagonista desta aventura é nativa da ilha Spitsbergen, no arquipélago Svalbard, Noruega. Diferentemente das raposas brancas, essa espécie de pelagem azul-acinzentada evoluiu para se alimentar de animais marinhos, já que vive em regiões costeiras. Mas ela pode comer também restos de focas caçadas por ursos polares.
Segundo O Instituto Norueguês de Pesquisa Polar, que passou anos realizando estudos sobre a espécie, as migrações são muito mais frequentes entre as raposas brancas do que entre as azuis. Isso se deve sobretudo à escassez de roedores, sua principal fonte de alimento. O que eles não imaginavam era o que uma raposa fêmea seria capaz de fazer pouco tempo depois de começar a ser rastreada com ajuda de um equipamento colocado em seu corpo.
2. 1º de março de 2018
Desde 29 de julho de 2017, quando o rastreador foi colocado, até 1 de março de 2018, a raposa permaneceu na região onde havia sido encontrada. Porém, possivelmente forçada pelos efeitos das mudanças climáticas em Svalbard, que são ainda mais intensos que no resto da Noruega, ela começou uma longa viagem em busca de alimentos.
A diversidade genética nas raposas do norte indica se tratar de uma espécie capaz de viajar aproveitando as pontes de gelo que surgem durante o inverno, e que diferentes comunidades mantêm contato umas com as outras de maneira frequente. E apesar de não ser a primeira vez que uma raposa-do-ártico chega a uma região diferente daquela onde nasceu, os estudiosos ficaram surpresos com a velocidade com a qual aquele animal se movimentava.
De acordo com o rastreamento por satélite, depois de apenas 25 dias percorrendo o litoral da ilha de Spitsbergen e de ter apenas o alto mar em seu caminho, aquela fêmea de raposa-do-ártico se deparou com uma ponte de gelo que permitiria sua primeira parada internacional: a Groenlândia.
3. Atravessando o gelo
Após sair da ilha, o animal continuou sua jornada rumo ao noroeste, sobre o gelo marinho, e depois em direção ao norte da Groelândia. Começava ali a parte mais longa de uma viagem internacional realizada em meio a uma paisagem branca dominada por geleiras.
Por um momento, os especialistas acharam que o animal teria perdido o colar com o rastreador, ou que a raposa-do-ártico estava sendo levada de navio em direção ao norte, já que a média de distância percorrida por ela era de 46,3 quilômetros, só que nenhuma embarcação conseguiria chegar naqueles pontos tão congelados do mapa.
Aparentemente, a pequena carnívora aproveitou as placas de gelo como plataformas para se movimentar com rapidez durante mais 21 dias. Durante o período, ela fez apenas duas paradas longas, que podem ser explicadas pelo derretimento temporário do gelo marinho, acontecimento que teria sido aproveitado pela raposa-do-ártico para se alimentar. O mau tempo é outra hipótese considerada para explicar as interrupções na viagem. No entanto, após as pausas, o animal passou a seguir seu caminho nas velocidades mais altas desde o início da jornada.
4. Groenlândia
Em 16 de abril de 2018, a jovem fêmea tinha percorrido 1.512 quilômetros durante um mês e meio de viagem. Contudo, ela estava apenas na metade de sua travessia. Já no território da Groelândia, o animal passou a se dirigir ao norte.
Ela trafegou rapidamente em meio ao gelo, chegando aos 85° de latitude, bem perto do círculo polar ártico. Porém, é provável que ela não tenha encontrado muitas ofertas de alimento naquele ambiente, por isso voltou para onde a camada de gelo era mais fina, no litoral norte da Groelândia. Ela permaneceu por lá até o início de junho. Só que a parte mais incrível de sua viagem estava apenas começando.
O norte da Groelândia foi a região onde o animal atingiu as velocidades mais altas de todo seu trajeto. Nessa parte da viagem, a raposa-do-ártico chegou a percorrer 155 quilômetros em apenas um dia. Os especialistas supõem que tal façanha, a mais impressionante já registrada entre indivíduos da mesma espécie, pode decorrer do fato de o animal ter usado o gelo como plataforma para se movimentar naquela área da Groelândia.
5. Um novo continente
Em 6 de junho de 2018, nossa protagonista aproveitou uma ponte de gelo para deixar a Groelândia e chegar a um arquipélago próximo. Em apenas quatro dias, ela já estava com as patinhas em território canadense. Era a ilha Ellesmere, a décima maior do mundo.
Em 10 de junho, a raposa-do-ártico completava 76 dias desde que tinha deixado o arquipélago norueguês. Entre essa data e o dia 1 de julho, quando o estudo do Instituto Norueguês de Pesquisa Polar foi encerrado, a fêmea de raposa-do-ártico percorreu o litoral do novo território até chegar ao norte, na Península de Fosheim. Em apenas 4 meses, o incansável animal percorreu nada menos que 3.507 quilômetros.
Pelo visto, a longa viagem teve final feliz: a fêmea se adaptou com facilidade ao novo ecossistema, substituindo sua alimentação à base de animais marinhos por uma dieta formada basicamente por pequenos roedores conhecidos como lêmingues. O caso daquela raposa-do-ártico que percorreu uma longa distância representou um recorde na história dos estudos já realizados sobre a espécie. E pelo menos até fevereiro de 2019, a ilha Ellesmere era o novo lar da nossa heroína. Após essa data, o rastreador deixou de emitir sinais aos estudiosos, então o paradeiro do animal hoje é indeterminado.
Será que a fêmea decidiu voltar à sua Noruega natal seguindo o mesmo caminho por onde havia vindo? No momento em que ela chegou ao Canadá, o gelo em volta do arquipélago de Svalbard estava totalmente derretido, eliminando tal possibilidade. No Polo Norte, o degelo tem acontecido cada vez mais cedo, e o gelo demora para se regenerar durante o inverno.
Os efeitos das mudanças climáticas são mais intensos no Ártico do que em qualquer outra parte do planeta. E a história da raposa-do-ártico é um ótimo pretexto para que entendamos o tamanho da importância que o gelo tem para a vida selvagem naquelas áreas da Terra. Sem ele, populações inteiras de animais ficariam isoladas, e os ecossistemas passariam por drásticas alterações, com consequências imprevisíveis.
Você imaginava que uma raposa poderia empreender uma viagem de proporções tão grandes? O que acha que aconteceu com ela após o rastreador parar de funcionar? Deixe seu comentário e não se esqueça de compartilhar esse curioso post com seus contatos!