Uma viagem inusitada pelo deserto levando um bloco de gelo que, de alguma forma, resistiu

Curiosidades
há 1 ano

As baixas temperaturas do Círculo Polar Ártico. Um percurso off-road intenso no calor escaldante do Deserto do Saara. Sem falar nos animais selvagens prontos para atacar sem avisar. Assim foi a jornada de um gigante bloco de gelo. Ele foi transportado do Círculo Polar Ártico até a escaldante linha do Equador na parte de trás de um caminhão.

Vamos voltar ao ano de 1959, quando o mundo passava por tempos difíceis, e um refrigerante custava um trocado. A Rádio Luxemburgo apresentou um desafio aos seus ouvintes. Era para transportar três toneladas de gelo do Círculo Polar Ártico para o a Linha do Equador. Qualquer pessoa poderia participar desta aventura. A única condição (difícil por sinal) era que nenhum refrigerador poderia ser usado durante a viagem.

Para esquentar ainda mais o desafio, eles ofereceram uma recompensa para aqueles que conseguissem. Incríveis 100.000 francos para cada quilo de gelo que restasse no final da viagem. O que seria algo em torno de dezoito mil dólares por quilo hoje em dia! E se alguém conseguisse entregar o bloco inteiro, poderia receber cerca de cinquenta e quatro milhões de dólares!

Assim que o desafio foi anunciado, o pessoal da rádio simplesmente relaxou e esperou que as risadas começassem. Mas o ouvinte Birger Natvik não riu. Naquela época, ele precisava de dinheiro para desenvolver seu negócio, que era fabricar lã de vidro para isolamento térmico. Se obtivesse sucesso, poderia ajudar sua família e seus funcionários. Então, sua empresa, a Glassvatt, com sede na Noruega, aceitou o desafio e surpreendeu a todos. Principalmente a estação de rádio.

Parecia ser uma tarefa impossível. Ninguém jamais havia realizado uma façanha dessas. A distância total era de cerca de oito mil quilômetros — toda sob um sol escaldante. O bloco de gelo provavelmente derreteria completamente antes mesmo de chegar na costa da Europa! Mas Birger era um homem inteligente e tinha um plano brilhante na manga.

Quando a rádio descobriu o que o homem iria fazer, percebeu o quanto perderia se ele obtivesse sucesso. O resultado? Toda a recompensa em dinheiro foi cancelada.
Quando Birger ouviu a notícia, ficou perplexo. Ele já tinha ido até o Círculo Polar Ártico e se preparado para escavar o gelo. Felizmente, antes que ele soubesse, a situação atraiu tanta atenção da mídia que patrocinadores de 8 países diferentes fizeram fila para apoiar sua jornada. A famosa empresa de petróleo Shell forneceu o combustível para sua expedição. E a fabricante de meios de transporte Scania, deu a ele um caminhão.

Birger Natvik e sua equipe começaram então a cortar o gelo. Claro, eles não conseguiram obter uma única peça que pesasse 3 toneladas. É por isso que picaram vários blocos de gelo de duzentos quilos cada. E então eles transportaram todos aqueles blocos de helicóptero até o centro da cidade. Aí, os derreteram para fazer um pedaço gigante de gelo.

Depois disso, o gelo deveria ser colocado na carroceria de uma caminhonete grande. Mas isso não era o suficiente para evitar que ele derretesse! E a equipe não podia usar nenhum método de refrigeração. Birger decidiu colocar o gelo em um recipiente de ferro especialmente construído, isolado com lã de vidro e madeira. Isso manteria o gelo mais ou menos intacto, sem quebrar as regras do desafio.

Esta foi uma forma muito inteligente de isolamento. A lã de vidro é feita de fibras de vidro derretidas. O ar fica preso entre os finos fios de vidro e não consegue sair. Dessa forma, não há grandes mudanças temperatura. Junto com o enorme pedaço de gelo, o caminhão também carregava cerca de trezentos quilos de medicamentos. Eles tinham que ser entregues a um hospital que ficava no caminho da expedição.

No dia 22 de fevereiro de 1959, começou a incrível viagem pelos continentes. Tudo iniciou na Noruega. Em seguida, a equipe passou por Copenhague, Hamburgo, Bruxelas, ParisMarselha. Na Europa, quase todo mundo sabia da viagem inusitada. Natvik e sua equipe eram saudados com aplausos e saudações enquanto passavam por grandes e pequenas cidades. As estradas estavam bem pavimentadas e as condições climáticas não trouxeram problemas.

As notícias se espalharam ainda mais para o sul quando a expedição chegou a Paris. Naquela altura, eles já tinham virado celebridades. A polícia até os acompanhou por algumas das ruas mais movimentadas para abrir caminho para o caminhão que carregava o gelo. O prefeito convidou Birger e sua equipe para almoçar.

O gelo estava em boas condições até chegar ao porto de Marselha. Foi quando as coisas começaram a parecer desafiadoras. A equipe teve que usar um guindaste para levantar o caminhão e carregá-lo no navio, que deveria levá-los até a costa da Argélia.

Natvik e seu pessoal perceberam que estavam prestes a começar a parte mais difícil da viagem. Adeus, belas paisagens da Europa. Eles agora teriam que suportar o sol escaldante do deserto antes de poder terminar a jornada. Logo, eles estariam a caminho do destino final. Mas o gelo estava derretendo muito mais rápido do que antes. É por isso que a expedição se movia a uma velocidade cada vez maior. Mas era um grande desafio. Era quase impossível não ficar preso na areia.

Naquela época, o Saara não tinha estradas pavimentadas por quilômetros a fio. Então, Birger e sua equipe tinham que escavar para tirar da areia o caminhão fortemente carregado, sob um sol extremamente quente. A cada dia que passava, as temperaturas ficavam cada vez mais altas. Às vezes, passava de cinquenta graus Celsius! O caminhão ficava preso com cada vez mais frequência. O gelo estava derretendo mais rápido do que antes. Parecia ser apenas uma questão de tempo até que tudo o que transportavam pelo Saara virasse uma grande piscina de água fria.

Mas ainda assim, ninguém estava pronto para desistir e voltar para casa. Eles acampavam no deserto durante a noite e continuavam dirigindo durante o dia. A linha de chegada estava logo ali! Eles encontraram muitas tribos nômades amigáveis ​​que viajavam nas costas de camelos. Esses habitantes do deserto ajudaram a expedição com alguns alimentos. Em troca, eles lhes ofereceram a água mais original que os habitantes locais jamais provariam: gelo derretido do Ártico.

Os nômades sabem como sobreviver às temperaturas extremas do deserto do Saara. Eles estão acostumados a este estilo de vida tão incomum. Mas seria muito mais difícil sem os camelos. Frequentemente chamados de navios do deserto, esses animais especiais armazenam gordura em suas corcovas. Quando os camelos não conseguem encontrar comida e água no deserto, transformam essa gordura em energia.

De qualquer forma, depois de muitos dias sob o sol quente, Natvik e seu pessoal finalmente saíram do deserto e entraram na selva do Gabão. Logo, eles chegaram em Libreville, que era seu destino final. Muitos moradores se reuniram para testemunhar a história acontecendo, além de uma das viagens rodoviárias mais bizarras de todos os tempos. O gelo ainda estava inteiro. Birger e sua equipe estavam inteiros. E levaram apenas 27 dias para ir da Noruega até Libreville. Nada mal!

Mas a questão principal era quanto gelo havia derretido. Eles pesaram e fizeram todos os cálculos necessários, e o resultado foi de cair o queixo! No início da viagem, o peso do bloco de gelo era de 3.040 kg. E depois, o gelo pesava 2.700 kg! O que significava que apenas cerca de 340 kg do gelo derreteu, mesmo depois de ter atravessado a metade do mundo, por diferentes países e climas!

O mundo inteiro ficou chocado ao saber do resultado da expedição. Aparentemente, se você transportasse um bloco gigante de gelo do Círculo Polar Ártico até a linha do Equador, perderia apenas 11% desse gelo ao longo do caminho! O Natvik distribuiu a maior parte do gelo aos moradores. Essas pessoas nunca tinham visto ou tocado em água congelada antes. O resto do gelo foi levado de volta para casa, na Noruega. Em seguida, ele foi usado para colocar em bebidas em várias conferências com a imprensa.

A viagem de volta foi muito mais fácil: os membros da expedição simplesmente voltaram de avião. Charles de Gaulle, que era o presidente da França na época, se ofereceu para cumprimentar a Natvik e sua equipe pessoalmente em Paris se eles voltassem de caminhão. Mas a equipe que estava exausta recusou. Nada os faria dirigir pelo deserto novamente.

A viagem foi um sucesso, embora não houvesse recompensa em dinheiro pelo desafio. A expedição atingiu seu objetivo, e Birger atraiu a atenção mundial para sua empresa e seus produtos.

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