Uma criança é um hóspede em nossa vida (um artigo que explica por que não se deve dedicar toda a vida aos filhos)

Todo pai sabe que seus filhos são seu maior tesouro. No entanto, boa parte deles demora para se dar conta de que um dia toda criança cresce, se torna adulta e vai viver a própria vida. Muitas vezes, esse momento parece muito difícil e emocionante para os pais. A escritora, psicóloga e professora russa Irina Govorukha, uma especialista no assunto, escreveu um artigo no qual explica os desafios desse momento de transição e mostra como enfrentá-los.

Nós, do Incrível.club, apresentamos, em primeira mão, suas recomendações.

Conheço uma certa família há muitos anos. De vez em quando vamos juntos ao cinema, supermercado ou a um concerto. Se casaram quando ainda estavam na universidade porque se amavam. Mas tinham objetivos diferentes na vida. Ele sonhava com uma carreira e ela, com filhos. Então, cada um deles lidava com seu próprio sonho. Ele viajava ao exterior para vender tecidos e ela se dedicava à criação da filha que tiveram. Como resultado, o marido conseguiu iniciar um negócio lucrativo e abriu um salão de beleza, enquanto sua esposa seguia ensinando a bebê. Ela acompanhou seus primeiros passos, suas primeiras palavras, a primeira vez que conseguiu contar. Passava o tempo todo com a filha. A bebê cresceu, se tornou uma menina e, depois, uma adolescente. E foi à Inglaterra para estudar, seguir seus sonhos. E a mãe ficou com nada. Então, aos 35, para preencher esse vácuo, deu à luz o segundo filho. Hoje, ela tem 50 anos e o filho irá aos EUA no ano que vem para estudar. E, claro, ela já não tem mais idade para dar à luz um terceiro filho. O marido está feliz com seu próspero negócio, que vai de vento em popa. E o que restou a ela? Nada. Apenas as memórias e os desenhos de seus filhos.

As crianças não são nossa propriedade. Elas são visitantes que chegaram para comer, tomar litros e litros de leite, usar uns 100 pares de sapatos, quebrar alguns copos, deixar crescer a barba (ou começar a usar sutiã) e, claro, finalmente abandonar o ninho. As crianças nos ensinam como navegar na Internet e usar o Facebook e, logo, aprendem a cumprir promessas, manter a calma, lidar com os sogros e com gatos. E nós, quando nos damos conta de que as crianças já aprenderam todas as lições da vida, restamos sozinhos, com nossos cabelos brancos e nossas rugas. Claro que nossos filhos vão nos visitar muitas vezes para tomar um cafezinho, para celebrar o dia das mães ou o aniversário do pai, mas nunca vão voltar para sempre. É por isso que não devemos passar todo o tempo livre com os filhos para preencher o vazio de nossas vidas ou melhorar as relações com nossos cônjuges. Sem dúvida alguma, as crianças são uma parte integrante de nossa vida, mas elas não são a nossa vida. Por isso é necessário dedicar algum tempo ao seu desenvolvimento pessoal. Viaje, estude, inicie um negócio, leia artigos científicos sobre o Espaço, sobre saúde ou sobre informática e assim por diante.

Quando estava grávida, uma noite, tive um sonho muito estranho. Minha filha falou comigo e disse o seguinte: “Não tente viver a minha vida, porque um dia eu vou me separar. Escolhi seu corpo para entrar no mundo. Escolhi sua família para ter um bom início de vida. Prometo que vou ajudá-la a se erguer sobre a rotina e sobre a terra.” Parece cruel, né? Mas é a verdade.

A sabedoria popular indiana diz que os filhos são os hóspedes em nossa casa, é preciso alimentá-los, educá-los e deixar que vivam a própria vida. Um filho não é um escravo, mas um companheiro e um professor. Ele não é uma cópia nossa. Não deve seguir nosso roteiro de vida, estudar na universidade, se casar e tudo isso. Cada criança que entra no mundo tem seu próprio caminho. E a tarefa dos pais é prepará-la e ajudá-la no caminho.