Sereias: A Verdade por Trás do Mito
Uma das coisas mais interessantes sobre as lendas é que geralmente elas parecem ser mesmo reais. Como partes totalmente diferentes do mundo podem descrever ter visto exatamente a mesma coisa durante séculos?! Será que é mesmo tão ridículo perguntar: “será que as sereias não passam de um mito?” Será que essas criaturas metade-humanas e metade-peixe realmente existiram ou existem? Será que elas são bonitas como a sereia ruiva que a Disney apresentou para o mundo em 1989, ou são menos glamorosas?
Por incrível que pareça, cientistas e historiadores têm se interessado pela existência das sereias por anos. Hoje, vamos recorrer à pesquisa deles para descobrir a verdade!
Os dicionários definem a sereia como “uma fabulosa criatura marinha metade mulher e metade peixe que, pela suavidade do seu canto, atraía os navegantes para os rochedos”. Tem até a versão masculina, o sereio. E os dois têm aparecido muito em livros, tirinhas, desenhos e filmes. A mais popular para a nossa geração é, claro, a adorável Ariel da Disney, que aparece em A Pequena Sereia. Mas esse desenho foi uma adaptação do conto de fadas escrito pelo autor dinamarquês Hans Christian Andersen, em 1837.
No A Pequena Sereia de Anderson, nós não temos um final ‘feliz para sempre’, mas sim um trágico! Sinto muito por estar acabando com a sua infância... enfim, voltando ao nosso assunto, A Pequena Sereia não é a primeira história que abriu nossos olhos para o mundo das criaturas metade peixe, metade gente.
Segundo as lendas, a Pequena Sereia é Atargatis, a antiga deusa síria do mar. Mas ela não começou como sereia. Era uma poderosa sacerdotisa que, assim como a Pequena Sereia, se apaixonou por um humano. Mas o corpo mortal dele não conseguiu aguentar seus poderes divinos na cama, e ele acabou morrendo. Ela ficou grávida dele, mas nunca conseguiu superar a morte do seu amado. Depois que Atargatis deu a luz à criança, resolveu se afogar no oceano. Mas os deuses ficaram com pena devido à sua beleza e transformaram ela em uma sereia. Até hoje ela é reverenciada como a deusa da fertilidade, da proteção e do bem-estar dos que a veneram.
E tem também o Ea, deus mesopotâmico da água, da sabedoria, da mágica e da criação. Ele era um sereio. E qual é sua história? Segundo a lenda, Ea salvou a humanidade, que ele próprio tinha criado, de um dilúvio enviado pelo deus Enlil. Enlil queria destruir as pessoas por que elas faziam muito barulho e não o deixavam dormir. Que reação exagerada, hein? Isso foi contado no mito da Babilônia chamado Atrahasis e na Epopéia de Gilgamesh.
Assim como a maioria das lendas, essa da sereia se espalhou por todas as culturas. No folclore japonês, tem a Ningyo, que é um peixe gigante com rosto humano e boca de macaco. Se você conseguir superar a monstruosa aparência dela, saiba que incluir Ningyo em sua alimentação vai fazer você ficar jovem e belo para sempre. Você só será amaldiçoado depois de comer uma, mas... não é nada demais.
Em grande parte da África, eles têm a Mami Wata, que vem do inglês “mommy water”. Se ela gostar de você, você será transformado em um médium para interceder seus poderes especiais. Se não, bem, você vai virar comida de peixe. Elas sempre têm algum truque, né?
As sereias Merrows, da Irlanda, são bonitas e têm longos cabelos verdes. Os sereios, nem tanto. Os Merrows têm que vestir uma coisa chamada “cohuleen druith”, que é um chapéu mágico que ajuda-os a viverem debaixo d’água.
No Brasil, temos a Iara, também conhecida como mãe d´agua. O seu nome vem da palavra indígena Iuara, que significa “aquela que mora nas águas”. Ela é uma linda sereia morena de cabelos longos e olhos castanhos que vive no rio Amazonas. Seu canto atrai os homens que passam por perto levando-os ao fundo do rio. Acredita-se que se o homem consegue escapar dos cantos de Iara, ele fica louco e somente um pajé pode curá-lo.
Na Rússia, eles têm a Rusalka, uma ninfa das águas da mitologia eslava que tem sido representada como bondosa e também diabólica. Na versão mais leve, as sereias Rusalka são generosas e ajudam a regar as plantações. O lado mais obscuro do mito diz que elas eram garotas que morreram de forma cruel, e arrastam suas vítimas para morrer na água.
Na Noruega e em parte da Escócia, existem os Finfolk, que eram metamorfos do mar. Gostavam de prata e costumavam escravizar os humanos. Os esquimós também têm histórias de sereias, principalmente a história da Sedna. Ela é o espírito guardião dos esquimós e a mãe de todos os mamíferos marinhos.
As Ilhas do Caribe e outras partes das Américas abrigam um espírito marinho chamado Lasirn, que deriva do francês “la sirène” que significa ‘a sereia’.
Por falar nisso, não dá pra esquecer das Sirens da mitologia grega. Lindas por fora e terríveis por dentro, essas famosas criaturas parecidas com sereias tinham um confronto com Ulisses e seus companheiros em A Odisséia, de Homero. Por sorte, Ulisses e seus homens protegeram suas vidas colocando cera dentro de seus ouvidos para que não ouvissem o canto sedutor e hipnótico das sereias.
Mas as sereias não são apenas uma coisa das lendas antigas. A fama delas continua até hoje. Aparições não confirmadas (e provavelmente falsas) têm sido registradas em todo o mundo nos últimos anos.
Em 2013, o Animal Planet colocou lenha na fogueira, quando fez um documentário fictício chamado Sereias: O Corpo Achado, que acumulou 3,6 milhões de visualizações! Isso só prova que o fascínio que as pessoas têm por essas criaturas míticas do mar ainda persiste, mesmo em pleno século XXI.
A farsa do Animal Planet (embora eles tenham sido honestos e disseram que tudo foi inventado) não é a primeira. Em 1842, P.T. Barnum criou uma sereia falsa costurando a cabeça e o tronco de um macaco e um rabo de peixe como parte do seu show de circo.
Ele a chamou de A Sereia Feejee, e alegou que ela tinha sido capturada perto das Ilhas Fiji. Milhares de pessoas acreditaram, e até hoje essa história é considerada uma das maiores farsas de sereia de todos os tempos.
Mas uma coisa é certa: ninguém jamais viu, encontrou ou pegou uma sereia de verdade, viva ou não. Até a história de que Cristóvão Colombo viu uma sereia em 1493 foi desmentida por especialistas. Ele descreveu a que ele viu como “...não tão bonita como disseram que era, pois seu rosto tinha alguns traços masculinos”. Então, o que será que Colombo realmente viu?
Historiadores, folcloristas, e cientistas estão convencidos de que não era uma sereia. O que Colombo viu foi um peixe-boi. Sim, ele misturou as identidades! Algumas espécies mais velhas, como a extinta vaca-marinha de Steller, poderiam ter até 10 metros de comprimento. Porém, o peixe-boi de hoje e seu primo do Oceano Índico, o dugongo, só tinha de 2,7 a 3 metros de comprimento.
E aqui vai uma curiosidade: os peixes-boi e os dugongos, que pertenciam à ordem Sirênia, são parentes próximos dos elefantes! Além disso, eles são os únicos mamíferos marinhos que são totalmente herbívoros.
Mas como é que Colombo conseguiu confundir um peixe-boi com uma sereia? Bem, de longe, os peixes-boi são mais ou menos do tamanho de um humano, as barbatanas da frente deles podem parecer um braço, se vistas de longe, e a vértebra do pescoço deles permite que virem suas cabeças do mesmo jeito que nós fazemos. E mais: a cabeça redonda, o nariz protuberante e os bigodes que possuem, poderiam ser confundidos com os de um homem, principalmente um homem de bigode!
E o biólogo marinho Dr. James Powell, que tem estudado e observado peixes-boi por mais de 30 anos, concorda plenamente! Segundo ele, dependendo da iluminação e do ângulo, a cabeça de um peixe-boi se parece com a de uma pessoa.
Além disso, para navegantes solitários que ficaram longe do contato humano por tanto tempo, quando eles viram a cauda achatada do peixe-boi, parecida com a de uma sereia fazendo manobras lá longe, eles poderiam facilmente acreditar que se tratava da criatura mística.
Para reforçar essa teoria, até o esqueleto de sereia descoberto na ilha de Mombaça e que foi trazido para a cidade inglesa de Portsmouth para ser investigado pela Philosophical Society foi classificado mais tarde como o de um dudongo. A descoberta foi publicada na Revista de História Natural, em 1830.
Agora, vamos considerar a pergunta sobre se a estrutura do corpo delas poderia ou não funcionar. A resposta é que é impossível. A parte humana das sereias não conseguiria resistir à uma vida nas águas geladas do oceano. A não ser que tivessem uma grossa camada de pelos como as lontras marinhas, ou banha, como outros mamíferos marinhos.
Em termos evolucionários, os humanos e os peixes são espécies totalmente diferentes. Isso significa que uma sereia não pode ter o melhor dos dois mundos. Até a reprodução seria mais complicada: será que elas iriam parir como os humanos ou botariam ovos como os peixes? Como elas iriam digerir a comida? O sistema digestivo de uma pessoa não tem nada a ver com o de um peixe! Fisiologicamente, juntar os dois simplesmente não daria certo.
Mas quem sabe elas realmente existem e a gente só não teve a chance de encontrá-las ainda? Quer dizer, é possível, se considerarmos o fato de que, de acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, dos EUA, “mais de 80% do nosso oceano ainda não foi mapeado, observado ou explorado”. Até agora, a única evidência da existência de sereias é só um caso de troca de identidade; elas não são nada além de vacas-marinhas!
E por enquanto, as sereias continuam sendo personagens de ficção e o assunto místico que as pessoas mais gostam de discutir!
E aí, você acredita que a sereias existem? Conte pra gente nos comentários!