TERRA MAIO NÃO DEUATO
Se a Terra e Saturno se cruzassem, qual planeta ganharia?
Este planeta é chamado de “A Joia do Sistema Solar”. Composto principalmente de gases, ele poderia flutuar na água — se você encontrasse um reservatório com 120.700 km de largura e com a mesma profundidade. Mas o que torna o planeta tão reconhecível são seus belos anéis — nas cores cinza e bege. Eles são feitos de poeira, pedras e gelo. Alguns pedaços são tão pequenos quanto grãos de areia, outros — tão grandes quanto arranha-céus. O planeta de que estou falando é Saturno e, neste momento, a Terra está avançando em sua direção a uma velocidade vertiginosa.
Tudo começou em um dia normal há mais de meio ano. De repente, a Terra mudou o curso que vinha seguindo por vários bilhões de anos. Mas, em vez de correr em direção ao Sol, ela começou a se afastar da sua estrela. Pensando bem, pode ser para o melhor — temos mais tempo para encontrar uma solução.
A Terra costumava se mover ao redor do Sol a uma velocidade de 108.000 km/h. Por alguma razão misteriosa, quando saiu de sua órbita, a velocidade permaneceu a mesma. Isso significa que cobriremos um bilhão e duzentos mil quilômetros separando nosso planeta de Saturno em um ano e três meses.
No início, ninguém percebeu o que havia acontecido. Mas, algumas horas depois, tornou-se óbvio. Apesar do pânico que envolveu os habitantes da Terra, nada parecia fora do comum. Mas, muito em breve, começou a ficar cada vez mais frio. As previsões dos astrônomos eram pessimistas. As pessoas começaram a deixar suas casas nos polos e a se aproximar da linha do equador. A maioria das espécies vegetais e animais estava passando por momentos difíceis. Algumas delas foram extintas — embora estivéssemos tentando salvá-las em estufas e parques de conservação especial.
O céu mudou drasticamente. Em uma semana, conseguíamos ver Marte claramente — parecia uma grande esfera avermelhada pairando baixa sobre nossas cabeças. Júpiter se tornou tão brilhante quanto a lua. Uma vez que a Terra estava tão longe do Sol quanto Marte, os dias tornaram-se duas vezes mais escuros do que costumavam ser.
No início, a atmosfera do nosso planeta agia como uma barreira entre as pessoas e o espaço. É por isso que não sentimos frio imediatamente. Mas, sete dias depois, todos que ousaram sair de casa precisaram fazê-lo protegidos por roupas pesadas de inverno. Naquele momento, as temperaturas já haviam caído para noventa e oito graus Celsius negativos. Ficou ainda mais frio quando nosso planeta passou por Marte e correu pelo cinturão de asteroides.
É uma das regiões mais perigosas no nosso caminho até agora. Sim, as pessoas podiam admirar chuvas de meteoritos impressionantes riscando o céu. Mas, vários corpos espaciais conseguiram passar pela atmosfera da Terra. Eles bateram no chão, achatando montanhas e deixando para trás crateras gigantescas. Eles causaram tsunamis e provocaram terremotos.
Agora, a maior parte do planeta, incluindo os oceanos, já se transformou em um deserto gelado. Faltam alimentos e recursos naturais. Construímos cidades subterrâneas e túneis conectando-as. Nossos cientistas trabalham dia e noite para encontrar uma maneira de sair dessa situação. Se não a encontrarem, é isto que vai acontecer.
Quanto mais próximo nosso planeta estiver de Saturno, mais o planeta anelado aparecerá no horizonte e maior ele parecerá. Em breve, ele já brilhará mais forte do que a lua cheia. A enorme orbe marrom-amarelada será visível mesmo durante o dia. Mas vai parecer especialmente impressionante à noite. Em vez de dormir, milhões de pessoas passarão horas vendo Saturno parecer cada vez maior.
Um dia, a distância entre os dois planetas se tornará a mesma que a distância entre a Terra e Marte costumava ser. O disco de Saturno terá cerca de um quarto do tamanho da Lua Cheia. Seus anéis terão até dois terços do tamanho do nosso satélite natural.
Logo depois disso, a velocidade do nosso planeta começará a aumentar sob a influência da atração gravitacional de Saturno. O planeta anelado é 9 vezes mais largo que a Terra e sua massa é quase 100 vezes maior. É por isso que, em vez de nos movermos a uma velocidade de 46 km por segundo, estaremos correndo pelo espaço a quase 64 km por segundo. Isso é duas mil e quatrocentas vezes a velocidade média de um carro.
A gravidade de Saturno influenciará a Lua mais do que a da Terra. Em pouco tempo, perderemos nosso satélite. Ele será catapultado para o espaço sideral, provavelmente entrando em uma órbita elíptica ao redor do Sol. Se a Terra não estivesse prestes a colidir com Saturno num futuro próximo, a Lua poderia um dia cruzar o caminho do nosso planeta novamente. Nada de bom resultaria de tal encontro.
Mas como estão as coisas para Saturno?
Saturno é um dos maiores planetas do Sistema Solar, perdendo apenas para Júpiter. Mesmo que os anéis ao redor do planeta sejam enormes, eles são bastante finos — com menos de um quilômetro de espessura. Ainda assim, os anéis principais são grandes o suficiente para se estender da Terra à Lua. Mas, como o planeta conseguiu esses acessórios de tirar o fôlego?
Além da borda externa dos anéis principais A, B e C, há algo que os astrônomos chamam de anel F. Com vários milhões de anos, ele é o mais estranho. Este anel em constante mudança é feito de material gelado e é incrivelmente complexo. Suas curvas, torções e aglomerados de substância mais brilhantes fazem com que pareça trançado.
Saturno tem mais de 50 luas confirmadas. Duas delas, Pandora e Prometeu, flanqueiam o anel F em ambos os lados. Elas entram e saem do anel, agindo como pastores. Elas agrupam partículas de gelo em uma faixa de 96 quilômetros de espessura. Mas por que elas estão realizando essa dança elaborada? Ninguém sabe.
O que os cientistas sabem é que, quando os anéis de Saturno estavam evoluindo, o material gelado se agrupou e formou pequenas luas. Algumas delas cresceram e se transformaram nas maiores luas do planeta. Mas duas delas colidiram — foi assim que o misterioso anel F surgiu. Se as miniluas fossem feitas apenas de pequenas partículas de gelo, a colisão espacial teria deixado um anel e nada além disso. Mas elas tinham núcleos rochosos densos. Esses permaneceram intactos e se transformaram em Pandora e Prometeu.
As pessoas não têm nenhuma evidência de que Saturno já colidiu com outro grande corpo espacial — a nossa Terra pode ser o primeiro. Mas, antes de colidir com o planeta em si, teremos que passar por seus anéis, incluindo o anel F! E não, nosso planeta não vai apenas fazer um buraco neles.
Os anéis de Saturno são feitos de pequenas partículas. A gravidade da Terra começará a puxar alguns deles para fora de sua órbita quando estivermos perto o suficiente. Isso resultará em uma longa pluma que alcançará nosso planeta. E mais tarde, quando nos espremermos por entre eles, a nuvem de partículas de gelo se arrastará atrás da Terra. Contudo, não terá energia suficiente para livrar Saturno de seus anéis completamente. Eles continuarão a se mover ao redor do seu planeta natal. Mas suas órbitas mudarão e se tornarão mais alongadas.
Não haverá mais bandas impressionantes. Com o tempo, os anéis provavelmente podem se estabelecer novamente — mas a Terra não lhes dará essa chance. A colisão com nosso planeta não deixará Saturno ileso.
Se ainda houver a possibilidade de dar uma espiada no céu, as pessoas poderão ver os anéis desaparecerem no nada — mas não por muito tempo. Em breve, os pedaços grandes de rocha começarão a atingir a superfície do nosso planeta, deixando para trás terras sem vida pontilhadas de crateras. Na pior das hipóteses, a Terra pode até colidir com uma das numerosas luas de Saturno.
Mas vamos imaginar que passamos por esta região intactos e agora nosso planeta está muito perto de Saturno. O gigante gasoso pode parecer arejado. Mas é impossível a Terra voar através da enorme esfera e sair do outro lado. A gravidade é o que mantém todo esse gás unido. A mesma gravidade que fará o nosso planeta acelerar. Quanto mais próximo ele estiver desse corpo espacial, muito maior e mais forte será a atração. Isso fará com que as falhas na Terra sejam arrebatadoras. Também causará poderosas erupções vulcânicas em todo o mundo.
E então, com uma força enorme, nosso planeta colidirá com Saturno. As atmosferas dos planetas serão comprimidas. Isso causará um aumento dramático e rápido da temperatura — e em pouco tempo, o ar estará em chamas!
Os cientistas afirmam que o núcleo de Saturno é denso, feito de ferro e níquel e cercado por uma camada rochosa. Mas nunca chegaremos lá. A Terra queimará na atmosfera do planeta maior após ser literalmente dilacerada. Nosso belo mundo verde-azulado se transformará em bilhões de trilhões de toneladas de rocha vaporizada. Uma pena. Talvez a Terra se torne mais um anel de Saturno — no lugar dos que destruiu.
Parece sombrio, eu sei. Mas isso é apenas um sonho ruim. Então, talvez possamos fazer esse esforço e nos salvar de uma ameaça real: a mudança climática. Só estou sugerindo.