Quebrando a rotina: por que deixar as crianças faltarem pode fazer bem
Faltar à escola é errado. Essa frase é repetida como uma verdade absoluta, acompanhada de avisos de que qualquer falta levará o aluno a tirar notas baixas. Nossa protagonista lembra de como sua filha se esforçava para ter as melhores notas e nunca faltava uma única aula. Até que, em certo momento, decidiram juntas deixar essa pressão de lado — e por um motivo que vale a pena conhecer. E, no final do artigo, há histórias de outras pessoas com experiências semelhantes.
Minha visão sobre o ensino mudou completamente quando minha filha entrou no 7º ano. As matérias na grade só aumentavam, mas as horas do dia continuavam as mesmas. Minha filha, que sempre deu conta de tudo sem reclamar e nunca faltava uma aula, começou a enfrentar dificuldades quando começaram as aulas de física. As notas baixas surgiram — até tirou alguns 7 e 5 — e, por mais que se esforçasse, nada parecia ajudar.
Isso nunca havia acontecido nos seis anos anteriores. E o pior: eu e meu marido não conseguíamos ajudar. Nossas áreas de trabalho não têm nada a ver com física, e mal lembramos o que aprendemos na escola. Meu marido ainda tentou ensiná-la, mas sem sucesso. No fim, a física virou uma pedra no caminho. Ela mal conseguia fazer os deveres das outras matérias porque gastava todo o tempo e energia tentando entender física. E no boletim, tudo o que conseguia era um 7 com muito esforço.
Foi aí que me dei conta de que algo estava errado. Não fazia sentido que uma aluna que tirava nota máxima em matérias complexas como álgebra e biologia de repente deixasse de entender uma matéria. Imaginei que o professor talvez não estivesse explicando bem ou não dedicasse tempo suficiente ao conteúdo. Resolvi ir conversar com o professor de física. Mas ele se mostrou bem desagradável. Mostrou-me seu plano de aula e disse que dedicava, no máximo, 15 minutos para explicar o conteúdo novo; depois disso, cada um que se virasse. Não ia dedicar mais tempo a nenhum aluno e nem permitia que fossem tirar dúvidas no intervalo.
Por curiosidade, perguntei o que deveriam fazer os alunos que realmente queriam entender a matéria, mas não conseguiam absorver tudo em 15 minutos. Afinal, nem todos têm um raciocínio tão ’técnico’ — alguns precisam de mais tempo para processar o conteúdo. Ele respondeu: ’Não tem nada de difícil no meu assunto. Dá pra entender tudo em sala de aula. Não estamos numa faculdade de física, é só uma escola comum. Se a criança não entende, que se vire em casa. Que fique estudando três, quatro, cinco horas, o tempo que precisar.’ Quando perguntei como ficariam as tarefas de outras matérias nesse caso, ele disse que isso não era problema dele.
Conclusão: não consegui nada de útil com o professor. No máximo, ele permitiu que minha filha refizesse os trabalhos mais de uma vez. Mas a situação continuava absurda. Minha filha não queria se contentar com uma nota baixa, mas também não fazia sentido sacrificar outras matérias, descanso e sono por causa de uma só.
Vamos pular alguns meses de aulas intensivas com o professor particular de física. Isso consumiu não apenas os dias de semana, mas também parte dos fins de semana. Também não vou mencionar que, além das aulas da escola, minha filha frequentava uma oficina de desenho e não queria abandoná-la por causa da física. Vamos direto ao fim do 7º ano, quando, com muito esforço, minha filha conseguiu fechar o ano com uma nota 4 em física. A única nota 4, vale dizer, em meio a todas as notas máximas.
Chegou o verão, e minha filha estava exausta, completamente esgotada. O professor ao menos elogiou o esforço dela? Não. Deu um 8 com sarcasmo. Adiantando um pouco: será que a física vai ser útil na profissão futura dela? Difícil. Agora ela está no 10º ano e se prepara para entrar em uma faculdade de linguística. Mesmo que, em algum momento, precise de conhecimentos de física, certamente não será em um nível que justifique todo o tempo e nervos gastos com essa matéria.
Foi ali, na transição entre o 7º e o 8º ano, que percebi o quanto crianças que dedicam tanto tempo e energia aos estudos correm o risco de se esgotar e perder o interesse por tudo. Durante essa fase em que minha filha lutava com a física, vi várias vezes o cansaço quase sufocar até o amor que ela tinha pelas matérias favoritas: línguas, literatura. Muitas vezes, precisei incentivá-la, pedindo que aguentasse só mais um pouco para corrigir as notas. Só o imenso senso de perseverança dela impediu que desistisse de tudo.
E tudo poderia ter sido tão mais simples. Todos nós precisamos de descanso e tempo para recarregar as energias. Até os adultos têm direito a um dia de trabalho de oito horas e dois dias de folga. Então por que achamos que crianças devem funcionar como robôs, indo à escola por seis horas, fazendo tarefas em casa por mais três ou quatro — e assim cinco dias por semana? E nem estou contando os fins de semana, já que o dever de casa para a segunda-feira nunca desaparece.
Percebendo que era hora de mudar o ritmo e reorganizar o horário de estudos, comecei a ler artigos de especialistas sobre o assunto. Descobri que a quantidade de tarefas de casa que nossas escolas atribuem quase não afeta o aprendizado. Pelo contrário, acaba prejudicando a saúde, pois priva as crianças de descanso e, em alguns casos, até de uma boa noite de sono. O cansaço tira qualquer motivação.
Além disso, encontrei vários artigos em que os próprios educadores afirmam que, em algumas situações, é bom que as crianças faltem à escola. Primeiro, isso pode ajudá-las a desenvolver autonomia. Quando escolhem um dia para não ir à aula, elas começam a refletir sobre quais matérias são realmente importantes para elas e quais não exigem tanta atenção. Pode-se considerar isso uma forma de orientação vocacional. No mínimo, a criança passa a entender o que realmente desperta seu interesse.
A independência também aparece quando elas tentam por conta própria recuperar o conteúdo perdido. Muitos professores acreditam que essa aprendizagem autônoma é mais eficaz do que a forma rígida e repetitiva da escola. Afinal, a criança pode explorar o tema no próprio ritmo e realmente entender o conteúdo. Isso é especialmente valioso quando o método do professor não é tão eficiente. Eu e minha filha comprovamos isso na prática.
Em segundo lugar, faltas periódicas permitem que as crianças descansem e aliviem o peso do dia a dia, não apenas fisicamente, mas também emocionalmente. Afinal, uma carga intensa não só cansa, mas também causa estresse. E, com o tempo tão tomado, a criança quase não tem chance de desenvolver seu lado intelectual. De onde vai tirar ao menos meia hora para ler um livro, se passa a noite inteira atolada de tarefas — que nem sempre são interessantes? Chega um ponto em que tudo o que ela quer é rastejar até a cama.
Por fim, em terceiro lugar, essas faltas oferecem a crianças e adolescentes a chance de experimentar a tão desejada liberdade. Com a rotina tão apertada, a possibilidade de ter um dia só para fazer o que gostam gera uma sensação incrível. Os especialistas garantem: se nós, pais, permitirmos que eles façam uma ‘folga’ de vez em quando (não todo mês, claro), é provável que eles próprios deixem de ter vontade de faltar. Esse dia será suficiente para recarregar as energias e criar novas memórias, de modo que, depois, eles voltem aos estudos com mais disposição.
Depois de analisar todas essas informações, conversei com minha filha, e decidimos tentar um novo ritmo. Não me preocupava com o desempenho escolar — ela é uma excelente aluna. Uma vez por mês, mais ou menos, permito que ela falte à escola para poder descansar e dormir até mais tarde. Sempre envio uma justificativa formal, tudo dentro das regras.
Em uma dessas faltas, a professora dela deu um sermão: ‘Já cansei dessas desculpas falsas para faltar!’ E ainda me ligou para reclamar. Então eu disse: ‘Há algum problema com o desempenho da minha filha? Ela está atrasada em alguma matéria? Ou faltando semanas seguidas? Se está tudo em ordem, então, por favor, não fale com ela nesse tom, nem acuse de trazer justificativas falsas.’
Não me arrependo nem um pouco dessa conversa. Tampouco da decisão de dar à minha filha um tempo de descanso da escola e das tarefas de casa. Suas notas não mudaram. Mas agora ela tem mais energia e interesse pelos estudos. Além disso, aprendeu a distribuir sua carga de maneira mais equilibrada, priorizando as matérias importantes para o futuro e reduzindo o tempo dedicado a outras. E o melhor de tudo: hoje ela vai para as aulas com mais brilho nos olhos. As lições não são mais uma obrigação para ela, e isso me deixa profundamente feliz.
Para mim, ficou uma lição: transformar a educação em um culto obsessivo é não só ingrato, mas também perigoso. Hoje, coloco o bem-estar físico e mental da minha filha, junto de seus desejos e interesses, no mesmo nível da educação. E, às vezes, até acima.
Bônus: o que dizem outras pessoas
- Eu tinha um colega de classe cujos pais, religiosamente, o tiravam da escola duas vezes por ano, por uns 10 dias, para levá-lo à praia. Ele descansava, pegava sol e voltava para os estudos enquanto todos nós ficávamos pálidos e já quase sem energia. E sabe de uma coisa? Ele terminou a escola muito bem. Hoje ele trabalha numa posição excelente na indústria aeronáutica e alcançou muito sucesso. Então, já naquela época, percebi que faltas ocasionais não afetam em nada o desenvolvimento intelectual.
- Meu filho não fez a lição de matemática. Não porque seja desleixado, mas porque, depois da escola, correu para a aula de esportes. E ainda passou a noite mergulhado nos deveres de outras matérias. Simplesmente não deu tempo. E eu, sem pensar, briguei com ele. Ele saiu chorando, e então me veio uma lembrança: quando criança, eu estava esgotada ao final de um longo semestre, e minha mãe tirou um dia de folga no meio da semana. Naquele dia, não fui para a escola. Passamos o dia passeando pela cidade, tomando sorvete no café, olhando vitrines, e ela me deu um presente. Acho que nunca fui uma criança tão feliz quanto naquele dia. Depois dessa lembrança, passei a noite sem dormir, com um peso no coração. De manhã, você precisava ver o olhar do meu filho quando, de repente, disse que tinha exagerado. E mais: que ele não precisava se preocupar com o dever de casa e que tiraria um dia de folga da escola para descansar.
- Minha filha terminou o 3º ano do ensino médio. Estava prestes a ser laureada, mas a professora de geografia resolveu não lhe dar nota máxima. Passamos muito nervoso com isso. Minha filha passava horas estudando a matéria dela — tudo em vão. Já havíamos desistido, quando, no final do ano, a professora se aproximou com um sorriso sarcástico e perguntou por que eu não tinha contado sobre a laurea. Disse que teria ajudado a corrigir a nota. Fico me perguntando o que ela esperava. Que a menina chegasse até ela e dissesse: “Por que a senhora está me dando notas baixas? Está me impedindo de ser laureada, ou algo assim?”
- Minha filha sempre teve boas notas e participava de todas as atividades da escola. Mas, quando entrou no ensino médio, começou a ter problemas com o novo professor de matemática, que claramente pegou antipatia por ela. Ele a pressionava tanto que ela passou a odiar a matéria e parou de fazer as tarefas. Fui falar com o diretor para resolver a situação, mas ele logo se esquivou, dizendo que não tinha nada a ver com isso, que o professor não tinha feito nada de ilegal e que ele não podia interferir no trabalho dos docentes. Depois disso, minha filha e eu reavaliamos completamente nossa abordagem aos estudos e decidimos parar de investir tanto tempo e energia neles.
Todos nós passamos pelos tempos de escola e faculdade. E agora, de vez em quando, relembramos essa época e até pensamos em fazer um grande encontrão de ex-alunos. Uma mulher foi a um desses encontros e compartilhou o motivo pelo qual nunca mais pretende voltar.