Por que os Cartógrafos Colocam Cidades Falsas nos Mapas
Imagine que você decidiu fazer uma viagem de carro à moda antiga. E com isso eu quero dizer que será sem a ajuda de qualquer tecnologia. Então, você vai à loja de conveniência mais próxima e compra um mapa de cada estado pelo qual planeja passar. Você os prende no assento do passageiro ao seu lado e sai em sua aventura!
Durante a sua primeira semana, você chega ao estado de Nova York, abana para a Lady Liberty, come uma fatia de pizza e segue para o norte do estado. Perto de Catskills, percebe que está ficando sem gasolina e decide parar na cidade mais próxima para encher o tanque. Você confere o mapa e parece que o lugar mais próximo é uma pequena vila chamada Agloe, bem no próximo cruzamento.
Você dirige por alguns minutos e passa por uma placa que diz “Welcome to Agloe: Home to the Agloe General Store”. Deve ser aqui, você pensa consigo mesmo. Mas a cidade está estranhamente vazia. É impossível encontrar a loja ou o posto de gasolina que estava procurando. Não há casas. Você começa a pensar que tem algo errado. Agloe não parece existir.
Essa história pode parecer inventada, mas poderia ter acontecido com qualquer pessoa que passasse por Nova York há alguns anos. Na verdade, a tal cidade de Agloe é o que é chamado de cidade de papel. Existem várias dessas em todo o mundo, mas Agloe é talvez a mais famosa.
Cidades de papel são basicamente cidades falsas, ou seja, elas não existem. São “Ovos de páscoa” colocados lá por cartógrafos como uma espécie de armadilha de direitos autorais. Mapas são difíceis de fazer. Para criar um mapa do zero, são necessários anos de trabalho de campo ou análise de fotos de satélite. É por isso que o plágio sempre foi muito comum entre os cartógrafos. É muito mais fácil redesenhar as mesmas características geográficas de um mapa para um novo mapa, e é difícil ser pego. As pessoas estão, afinal, desenhando exatamente o mesmo mundo.
É por isso que os cartógrafos inventaram uma maneira de pegar indivíduos roubando os seus dados. Alguns cartógrafos podem incluir uma montanha maior do que realmente é. Outros podem adicionar uma ligeira curva em uma estrada onde, na realidade, não tem.
Por exemplo, no início da década de 1970, um pico de montanha falso apareceu em alguns mapas do Condado de Boulder. A adição desse pico anteriormente desconhecido chamado Monte Richard aos mapas locais começou a confundir os alpinistas do Colorado na época.
Descobriu-se que o Monte Richard era uma dessas armadilhas de direitos autorais, colocada lá por um cartógrafo local chamado Richard Ciacci. Digamos que ele deve ter decidido prestar uma homenagem a si mesmo com essa pequena adição.
Agora, adicionar uma cidade de papel é talvez uma das soluções mais extremas. Uma que os cartógrafos esperam que passe despercebida. Mas não é isso que geralmente acontece, o que nos leva de volta à história de Agloe.
Os cartógrafos Ernest Alpers e Otto Lindberg, da GDC, General Drafting Corporation, faziam parte das maiores editoras de mapas da década de 1930. Naquela época, a empresa recebeu a encomenda para a criação de um mapa do estado de Nova York. Foi quando os dois homens tiveram uma ideia para evitar a violação de direitos autorais: eles criariam uma cidade fantasma combinando partes de seus nomes. Eles inventaram o estranho nome Agloe e adicionaram a cidade falsa ao longo da Rota 206, perto do reservatório de água de Catskills, no norte do estado de Nova York. A área deveria ser, na realidade, uma estrada de terra.
Anos depois, Rand McNally, outra empresa de design de mapas, produziu um mapa de Nova York que incluía uma cidade chamada Agloe no mesmo local onde a CDG a havia colocado originalmente. Lindberg estava convencido de que poderia processar seu concorrente por um caso de direitos autorais, mas a história ficou mais complicada. Ambas as empresas foram resolver o caso no tribunal. Mas, ficou provado que McNally tinha uma razão legítima para adicionar Agloe à sua versão de mapa de Nova York.
A fim de fabricar seus mapas, McNally fez uma pesquisa completa sobre imóveis e estabelecimentos localizados em cada cidade existente. E como se viu, Agloe não era uma cidade vazia quando eles desenharam no mapa. Os registros mostraram que a cidade abrigava um estabelecimento chamado Agloe General Store. Claro, era o único prédio da cidade, mas isso foi o suficiente para os cartógrafos acreditarem que tal cidade realmente existia. Eles colocaram Agloe no mapa como adicionariam qualquer outra cidade com estabelecimentos físicos.
Parecia que eles não estavam infringindo nenhum direito autoral se essa cidade de papel, de alguma forma tivesse saído do papel. A reviravolta da trama é que Alpers e Lindberg da GDC nunca poderiam ter previsto que alguém decidiria ocupar uma cidade inventada. Mas aconteceu! Um dia, alguém comprou um mapa em um posto de gasolina regional que tinha Agloe marcada. A pessoa queria abrir uma loja mais ou menos onde Agloe existia, então decidiu nomear a loja em homenagem à cidade. Eles confiaram na precisão do mapa que compraram e chamaram o seu estabelecimento de ’Agloe General Store’. Afinal, por que haveria uma cidade inexistente em um mapa oficial?
A loja não durou muitos anos — apenas o suficiente para transformar essa história em uma bagunça. Contudo, essa confusão toda transformou Agloe em uma cidade fictícia superfamosa. Ela se transformou até em um ponto turístico, com pessoas vindo de todos os Estados Unidos para tirar uma foto na placa de boas-vindas da cidade.
Agora, como dissemos antes, as cidades de papel são abundantes ao redor do mundo e ao longo do tempo também. Um documentário da BBC de 2005 revelou que a cidade de Londres sozinha tinha mais de 100 pequenas ruas falsas ou ruas de papel. Por exemplo, a chamada Moat Lane é supostamente uma estrada curva em Finchley, norte de Londres. Mas se você decidir conhecê-la, não encontrará nada além de árvores e jardins.
E quanto a Argleton, uma cidade no norte da Inglaterra? Ou, mais precisamente, um campo vazio no nordeste da Inglaterra? Argleton existiu por um tempo no Google Maps. Havia listas de hotéis e apartamentos para alugar na cidade. Bom, a única coisa é que eles não ficavam realmente em Argleton, mas sim em vilas próximas.
Acredita-se que o Google Maps importou essas ruas falsas para seu banco de dados, pois eles usaram atlas de renome, protegidos por direitos autorais, como fontes. Mas à medida que a verdade sobre essas ruas de papel surgiu, a empresa mais tarde as excluiu.
Se voltarmos no tempo algumas centenas de anos, encontraremos outra história misteriosa envolvendo uma possível cidade de papel. No entanto, esta não é uma cidade pequena em um cruzamento. Mas sim uma ilha inteira.
A ilha de Bermeja foi considerada uma pequena ilha habitada. Apareceu em muitos mapas dos séculos XVI e XVII e foi um ponto de acesso para os exploradores espanhóis. Sua localização às vezes variava ligeiramente de mapa para mapa, e ocasionalmente seu nome aparecia como Vermeja, mas sua existência parecia certa.
Foi apenas no século XVIII que a ilha parou de ser adicionada em mapas. A sua última aparição remonta a uma edição de 1921 de um atlas mexicano e depois, puuf! Ela saiu completamente do horizonte.
O caso da ilha desaparecida do México levantou muitas questões: ela afundou? Foi destruída? Será que estão procurando no lugar certo? Três investigações oficiais ocorreram em 2009 para localizar a ilha. Foram usadas tecnologias de ponta, vasculhando os oceanos e os mares do México. No entanto, Bermeja não foi encontrada. É impossível não se perguntar se a ilha algum dia existiu.
Assim como os cartógrafos modernos, os cartógrafos dos séculos XVI e XVII tinham sua maneira de enganar os usuários de mapas. Em vez de armadilhas de direitos autorais, essas cidades falsas ou até mesmo ilhas falsas serviram como uma maneira de enganar e confundir inimigos e viajantes indesejados.
Como já passou muito tempo, é difícil saber se Bermeja era apenas mais uma ilha de papel. Parou de ser retratada em mapas, mas esse caso misterioso ainda deixa as pessoas perplexas e confusas.