O terrível naufrágio que não foi do Titanic || SS Arctic

Curiosidades
há 8 meses

O ano era 1854, e o SS Arctic, o transatlântico de passageiros mais rápido de sua época, partiu para cruzar o Atlântico. Enquanto navegava pelo nevoeiro, lentamente desapareceu no horizonte. A Collins Line, uma companhia de navegação americana, iniciou suas operações em 1818 e só começou de fato o transporte transatlântico em 1835. Seus navios a vapor cruzavam o Atlântico de Liverpool a Nova York em apenas 10 dias. Não parece uma grande velocidade hoje, eu sei. Mas naquela época, a mesma distância levava várias semanas para outras embarcações.

Leves na água com seus cascos de madeira, impulsionados por uma poderosa máquina a vapor, esses monstros eram a escolha favorita de muitas pessoas importantes. Elas pensavam: afinal, o que poderia dar errado com uma embarcação tão avançada? Isso me lembra de uma outra que todos acreditavam ser “inafundável”. Mas de qualquer maneira, de volta à Collins Line. Ela se tornou uma grande operadora nas rotas transatlânticas, com apenas outra concorrente, a Cunard’s Line. Era uma empresa britânica que também pretendia ser a principal operadora na travessia do Ártico. Em 1835, a companhia recebeu um novo navio que viajou para Liverpool e voltou para Nova York com a maior carga até então. A partir daí, a Collins Line foi crescendo constantemente. Parecia que só poderia haver um futuro de sucesso para ela.

Infelizmente, seus navios luxuosos tornaram-se caros para operar com a quantidade de carvão usado. Muita força combinada com cascos de madeira fracos significava que precisavam de muitos reparos após cada viagem. Então, toda viagem acabava sendo cara. Mas como as embarcações eram seguras e tinham boa reputação, as pessoas estavam dispostas a pagar o preço, e a empresa definitivamente não estava em crise. Ela havia conseguido algo que ninguém havia feito antes. Como eu disse, os navios dela cruzavam o Atlântico em 10 dias. E Edward Collins, o proprietário, estava muito determinado a manter o ritmo. Seus cinco transatlânticos ultrapassaram facilmente a Cunard’s Line, que tinha apenas três. Com esse grande prestígio, atraía ainda mais atenção.

Embora seus navios com cascos de ferro fossem mais lentos, a Cunard acreditava que ainda tinha lucro, independentemente de quão devagar fosse a navegação. Entre as embarcações da Collins, o Arctic, o terceiro a ser lançado, era o maior, chegando a 85 metros de comprimento, com dois motores a vapor de alavanca lateral, cada um com 1.000 cavalos de potência. As rodas de pás faziam 16 rotações por minuto na velocidade máxima. Na época de seu lançamento, a imprensa o chamou de “o navio mais estupendo já construído nos Estados Unidos”. Mas o glamour e a fama não conseguiram evitar o que viria a seguir. No dia 27 de setembro, o Arctic estava em sua viagem de Liverpool a Nova York, seguindo em ritmo acelerado através da neblina espessa. É possível que, naquele momento, após 4 anos de recordes de viagens, a tripulação estivesse superconfiante com a navegação e com o navio.

A apenas 80 km de Newfoundland, eles seguiram descuidados através do nevoeiro, sem contato de rádio, sonar ou qualquer outra forma de identificação de objetos, equipados apenas com código Morse. Uma embarcação menor, o SS Vesta, que funcionava como pesqueiro, operava em Newfoundland. Ela estava passando pelo mesmo caminho que o Arctic e houve uma colisão. Chocado com o acidente, o Capitão do Arctic ofereceu ajuda ao pequeno Vesta. Mas logo ficou claro que o dano aparentemente pequeno era muito pior. Abaixo da linha d’água, por um buraco, a água entrava no casco de madeira, que apesar de muito mais rápido agora, parecia menos valioso. A tripulação foi em direção à terra tentando tapar os buracos. Mas não estava dando certo, e a água do mar continuava a entrar, enchendo mais e levando o navio para baixo.

E, por fim, quando a sala de máquinas estava cheia, a água apagou as caldeiras, tirando a enorme força pela qual o Arctic havia sido lendário. Ele se moveu lentamente até parar completamente. Enquanto continuou afundando, a ordem era abandoná-lo. Na época, a lei marítima permitia que o Arctic carregasse apenas 6 botes salva-vidas, capazes de salvar apenas 180 pessoas. A tripulação e alguns dos passageiros conseguiram entrar a bordo e ocuparam a maioria dos assentos desses barcos. Os ânimos estavam muito alterados e todos se esqueceram das boas maneiras, não deixando as senhoras e os mais novos embarcarem primeiro. Levou quatro horas para o transatlântico afundar. Havia 150 tripulantes e 250 passageiros a bordo. Aqueles que não conseguiram encontrar um bote salva-vidas fizeram uma tentativa desesperada de construir suas próprias jangadas com partes do navio.

Dois dias depois, apenas três barcos chegaram com segurança à costa, os outros três nunca foram encontrados. Acredite ou não, a equipe de resgate também salvou algumas pessoas que estavam agarradas aos destroços por dois dias. Ao contrário da tripulação, o capitão afundou com o Arctic, e surpreendentemente sobreviveu. Ele foi apenas uma entre as 85 pessoas que fizeram isso, fora as 400 a bordo. Quando a notícia chegou, duas semanas depois, o público reagiu com grande tristeza às perdas. A enorme raiva logo se seguiu em relação às péssimas medidas de segurança e à tripulação. A imprensa publicou demandas para mudar as leis, exigindo mais botes salva-vidas. Fazia sentido ter o suficiente para cada pessoa a bordo de um navio. Mas esses pedidos foram ignorados. Essa negligência levaria a mais desastres no futuro. Botes salva-vidas suficientes só entrariam na lei marítima cerca de 60 anos mais tarde, após o desastre do Titanic.

A esposa e os dois filhos de Edward Collins também estavam a bordo e não retornaram. Ele ficou arrasado, mas não parou de administrar seus negócios. A Collins Line ainda tinha uma reputação a zelar: a maior, a mais rápida e a mais luxuosa do Atlântico. Collins agora construiria um navio ainda melhor do que qualquer outro. Ele foi chamado de Adriatic e era o maior do mundo, com 105 metros de comprimento e duas máquinas a vapor alternadas que nunca haviam sido construídas com esse tamanho. Esses motores a vapor na época estavam no auge da engenharia, embora hoje só possam ser vistos em modelos e em brinquedos. Com a nova adição de dois mastros, o Adriatic também poderia navegar, se necessário. Felizmente, algumas lições foram aprendidas com o desastre do Arctic. Mas antes que seu novo navio, o ’Adriatic’, fosse construído, outro desastre ocorreu. O irmão do Arctic também submergiu.

Acredita-se que este segundo transatlântico estava desesperado para ultrapassar o da Cunard’s Line e atingiu um iceberg em algum lugar durante a corrida. Essa estranha disputa tirou a vida de 141 pessoas. O desespero de Collins e seus cascos mal feitos levaram a empresa à falência em 1858. O recém-construído Adriatic, custando mais de US$ 1.000.000, fez apenas uma viagem no final. E mesmo essa foi considerada um desastre. A embarcação colidiu com um rebocador, mas ainda conseguiu terminar sua viagem inaugural em um tempo adequado. Depois que a empresa faliu, precisou vender o navio por apenas US$ 50.000. Os motores gigantes foram removidos, sendo substituídos apenas por velas. Embora já tenha sido o maior barco em alto mar, foi apenas 30 anos depois que ele foi abandonado, rotulado como irreparável e ancorado em um rio.

Os outros navios restantes também foram vendidos e usados apenas para retirada de peças. Edward Collins deixou a indústria completamente, procurando trabalho em terra firme. Como a Collins Line não estava mais no ramo, a Cunard cresceu com força. Sem concorrência, ela ganhou o prêmio Fita Azul pelos 30 anos seguintes. E 180 anos depois, após produzir centenas de navios, ainda tem uma presença constante nos mares, fazendo travessias transatlânticas, viagens pelo mundo e cruzeiros de lazer. Até hoje, a Cunard Line é a única a operar transatlânticos entre a Europa e a América. E é a grande prova de que nem sempre o mais rápido é o melhor.

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